O Circo de Pennywise – Capítulo 3 – O Circo chegou na cidade

O Circo de Pennywise

Capítulo 3

O Circo chegou na cidade

_ Quem é ele? – Perguntou a menina bonita para Beto.

_  Sobrinho de Dona Maria Tereza.

Ela sorriu. Que alívio!

O Circo continuou descendo a rua. O tilintar do carro de som era brega, do tipo anos 1950.  Não que eu conhecesse muitos circos, mas aquele me dava arrepios. Era muito colorido e cheio de luzes esquisitas. Um designer forçado, saca? Feito pra te  enganar. Tudo nele era sombrio (apesar da falsa alegria): desde as roupas dos artistas ao sorriso dos malabares. Le Dio inteira saiu às ruas para vê-los passar. Mostravam os dentes para cada brincadeira sem graça dos artistas e seus trejeitos elaborados. Dois anões caminhavam pela calçada entregando folhetos e ingressos grátis para a estreia. Eu e a menina bonita recebemos um. O anão me cheirou nos cabelos. Lembrei daquele filme de terror em que o monstro farejava à presa e passava o filme inteiro tentando comê-la. Não sei por que mamãe me deixou ver aquilo. Fiquei “mortinho da silva” de medo por semanas.

Peguei o folheto e o ingresso. Não havia nada de diferente neles. Só eram coloridos tipo vermelho sangue, saca? Beto correu atrás dos anões para pegar o seu. Com muito custo conseguiu ganhar um do anão de olhos esbugalhados. Sorriu para nós como um menininho de cinco anos. Aquelas coisas o fascinavam. Já a menina não tava tão animada assim, parecia enfastiada.

_ Você não gosta de Circos? _ Perguntei.

_ Tanto faz _ ela deu de ombros para mim.

Seguimos o circo até o descampado. Uma pequena apresentação nos foi dada como aperitivo para à noite de estreia. As bolas nas mãos dos malabares se pareciam com crânios. Pisquei duas vezes para deixar de lado a cisma. Mas quando abri os olhos, elas continuavam parecendo crânios nas mãos dos malabares. Virei estátua. Por que não conseguia me divertir naquele lugar? Eu não sabia a resposta. Tava todo mundo rindo, menos eu.

_ Tudo bem? _ A menina me perguntou.

_ Acho que sim.

_ Você tem coulrofobia?

_ O que é isso?

_ Coulrofobia? Medo de palhaços.

Não havia palhaços naquele lugar. Outra coisa estranha, visto que uma bandeira com cara de palhaço balançava nas duas torres do circo.

_ Não – disse para ela. _ Eu não tenho medo de palhaços.

Continuamos a ver os malabares. Os anões haviam desaparecido na multidão e Beto também. De repente, ele reapareceu com três sacos de pipoca nas mãos.

_ Onde conseguiu isso? – A menina perguntou recusando o seu. Eu também dispensei o meu.

_ Os anões me deram.

Demos de ombros para as pipocas. Não há nada de estranho em receber pipocas de um circo, né?

_ Senhoras e Senhores! _ O Apresentador parecia saído do filme “O estranho mundo de Jack”. Suas pernas alcançariam o céu se crescessem mais um pouquinho. _ Venham ver as atrações do Circo Lahetô _ as dançarinas circulavam o Jack como se flutuassem numa bruma. _ Direto da França para sua cidade.

As pessoas aplaudiam o apresentador esquisito com voz anasalada. Eu olhei desconfiado. Direto da França? Sei.

***

_ Quem é ela? _ Perguntei para Beto.

_ Minha irmã _ ele comia o segundo pacote de pipocas.

_ Ela é bonita

Beto balançou a cabeça. Acho que nem prestou atenção no que falei (tô interessado na sua irmã, cara pálida). Parecia hipnotizado pelo circo. A menina conversava com outra menina do outro lado do descampado. Os artistas circenses estavam se recolhendo para dentro da tenda quando ela voltou. O apresentador foi o último a desaparecer. Mas antes de entrar olhou para mim e apontou seu dedo comprido. Balancei o ingresso dando ao entender que apareceria por lá. Ele sorriu. Tinha dentes afiados ou era impressão minha?  As luzes se apagaram. Comecei a sentir frio, acho que a menina também, por que cruzou os braços sobre o peito. O carro de som continuava com seu tilintar brega, sem que ninguém estivesse dentro dele para desligá-lo. O motor ligou com um arranque. Fui na direção dele, curioso como um furão (acredite: os furões são curiosos).

_ Rafa! _ Alguém me chamou. Virei para ver quem era. _ Você vai ficar?

Era Beto e sua irmã. Olhei para o carro. As luzes se acenderam e se apagaram de novo, assim como o motor. Dei de ombros para o assunto.

_ Me espera, gente!

Já estavam descendo a rodovia quando consegui alcançá-los.

_ Você vai ficar muito tempo nos Estado Unidos? _ Perguntou a menina.

_ Não sei. Depende da minha mãe. Ela tá se separando do meu pai.

_ Poxa, que pena.

Que pena nada! Graças a Deus.

_ Vocês não acharam esse circo estranho? _ Perguntei.

_ Como assim? _ Beto comia seu último pacote de pipocas.

_ Sei lá, tipo macabro.

Beto e a menina franziram a testa.

_ Eu achei legal _ Beto mastigava a pipoca com gosto.

_ Para mim tanto faz _ Percebi que Isa era marrenta. A menina fazia questão de ser gótica no estilo power.

_ Eu não gostei não _ quando nervoso esfrego as mãos. _ Viram o tamanho das pernas dos malabares?

_ Eram pernas de pau, Rafa _ Beto jogou no lixo o que restara da pipoca.

_ Ninguém se equilibra daquele jeito em pernas de pau.

Isa me tocou nos ombros.

_ Acho que você tem coulrofobia.

_ Não tenho não _ neguei minha indignação com os dedos. _ Mas já que a senhorita tocou no assunto, alguém viu o palhaço?

Beto e a irmã trocaram olhares divertidos.

_ Eu não disse que ele tem coulrofobia.

_ I do not have it, man!   

Eles riram de mim. Não de forma zombeteira, mas pelo meu sotaque carregado.

_ Tudo bem, garoto _ a menina chutou uma pedra do chão. _ O palhaço fez falta, admito. Talvez ele seja a atração principal do circo. Estão guardando o melhor para a estreia. É assim no showbizz.

_ Aquilo tá longe de ser um show.

_ Isso quer dizer que você não vai? _ Beto pegou uma lata de refrigerante do chão e colocou-a na lixeira.

_ Vocês estão pensando em ir? _ Esbugalhei meus olhos de jabuticaba.

_ Claro! Por que não iríamos? _ Beto subiu no meio-fio. _ Eles são legais! Os anões são os melhores de todos. Parecem com aqueles do Senhor dos Anéis.

-Grande coisa. São parecidos com os monstrinhos do banco de Harry Potter.

_ Deve tratar sua coulrofobia _ Isa me provocou ao me ver aborrecido.

_ Eu não tenho isso.

Nos três gargalhamos.

_ Qual é o seu nome? _ Beto havia me falado, fingi que havia me esqueci.

_ Isadora, mas pode me chamar de Isa.

_ Eu sou Rafa.

_ Eu sei. Lembro de você quando era desse tamanhinho.

Meu ser conquistador derreteu como uma vela num pires. Uma garota que lembrava de você nas fraldas não era nada romântico.

_ Legal.

_ Vamos ou não na estreia? _ Beto gritou da calçada de casa balançando seu ingresso.

_ Preciso falar com Tia Maitê.

_ Conhecendo Dona Maria Tereza, ela vai deixar.

Isa piscou para mim. Fiquei vermelho como um  pimentão. Ela era bonita demais.

A despeito da beleza de Isadora, me atentei para algo que me fez correr para o banheiro. Não importava o lugar onde você estivesse. Quando olhava na direção do descampado, conseguia ver o Circo.

***

Vou contar do jeito certo, como me fora contado por Le Dio.

Havia um homem na cidade chamado por todos de Big John. Ele acordava com o nascer do sol e corria para o trabalho. Era vendedor de carros na cidade de Derry. Diziam ser corpulento, mas eu nunca o vi. Beto me contou que no dia da chegado do Circo na cidade encontrava-se com as filhas no meio da gente. Eu não me lembro de tê-lo visto, e nem Isa. Só sei que tudo mudou na noite em que Big John e sua família se tornaram notícias no Maine.

No dia posterior a chegada do Circo na cidade, Big John acordou cedo como sempre fazia. Depois de tomar seu banho frio; fez o café, fritou ovos e bacon. Em seguida acordou suas meninas e a mulher pedindo para que se juntassem a ele na mesa. As meninas comeram apressadas, preparando suas coisas para a escola.

Big John lavou as vasilhas e beijou a esposa no rosto. Ela estranhou o beijo, porque o marido não era de carinhos. Ele subiu as escadas assobiando um rock antigo e pegou na gaveta do seu guarda-roupa seu revolver calibre 38. Ainda assobiando, carregou-o com as balas que tinha guardado no armarinho do banheiro (bem escondidas das filhas). As meninas desceram em seguida para esperar por Big John. Elas se despediram da mãe e foram para o jardim. O carro da família estava estacionado na rua, do mesmo jeito que fora deixado no dia anterior. Big John então parou, olhou para as duas meninas, assobiou seu rock antigo e acertou-as na cabeça com as balas do seu revólver calibre 38. Me contaram que os miolos delas ficaram esparramados pela grama do jardim. Os vizinhos ouviram os tiros e o grito da mulher de John. O pai assassino virou para o carro e apontou a arma para sua própria cabeça. Ouviu-se mais um tiro. Seus miolos também ficaram esparramados pela grama do jardim.

Patrícia, a mãe de Beto e Isa, contou que a polícia chegou poucos minutos depois, levando a mulher de Big John em estado de choque para o hospital. Não encontraram nada de diferente na casa, nem mesmo uma lata de cerveja na geladeira. Big John segurava um folheto do Circo Lahetô na mão esquerda e a arma na direita. A polícia teve dificuldade para pegar o folheto. O assassino o apertava com tanta força que suas unhas machucaram a palma de sua mão, sujando o folheto de sangue. E o mais estranho de tudo isso, é que no dia seguinte uma tempestade chegou sorrateira em Le Dio. Houve vento forte e trovoadas. O clima se tornou sombrio num piscar de olhos.

Na cidade de Derry, sua vizinha, um sol escaldante típico do verão do Maine.

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