“OUTRO EU”
CENA 01. ORFANATO GIRASSOL. COZINHA. DIA. INT.
Legenda: Rio de Janeiro, Brasil. Junho de 1912.
Domênia e Carlos continuam olhando para Agatha, ambos surpresos. Agatha e Meire trocam olhares e aguardam uma resposta das crianças.
AGATHA
Então, meninos, o que vocês acham da ideia?
Domênia olha para Carlos. Ambos se encaram.
MEIRE
Se quiserem podem pensar um pouco.
AGATHA
Isso. Não precisam tomar uma decisão agora. Tenham o tempo que precisarem.
DOMÊNIA
Por quê? Por que quer que moremos com você?
AGATHA
Bem… (olha para Meire) …eu me apeguei a vocês, crianças. (a Carlos) Quero proporcionar um lar de verdade a vocês.
Domênia olha para mesa, Meire percebe o jeito estranho que ela ficou.
DOMÊNIA
Um lar? (séria) Eu já tenho um lar! Eu não quero que ninguém substitua o meu lar.
Domênia se levanta de cabeça baixa e sai da cozinha. Agatha e Meire estranham o modo que a garota saiu.
AGATHA
Deixa, irmã. Eu vou atrás dela.
Agatha sai atrás de Domênia. Meire olha para Carlos, sorri com a intenção de deixá-lo confortável depois da conversa.
CORTA PARA
CENA 02. ORFANATO GIRASSOL. PÁTIO. DIA. EXT.
Domênia sai do orfanato chorando. Corre em direção a uma árvore, senta-se ao lado dela e limpa as lágrimas que insiste em sair de seu rosto.
DOMÊNIA(chora)
Ninguém vai substituir a senhora. Ninguém!
Agatha surge ao lado da árvore, se aproxima lentamente até Domênia, continua em pé.
AGATHA
Oi.
DOMÊNIA (séria)
Eu quero ficar sozinha.
AGATHA
Eu entendo, menina.
Domênia por um breve momento estranha o modo que Agatha falou com ela.
AGATHA (cont.)
Eu não quero tomar o lugar da mulher que criou você. Longe disso. (se encosta na árvore) Eu quero apenas proporcionar a vocês, o que toda criança merece. Um lar! (olha para o orfanato) Apesar do cuidado que minha irmã tem com esse lugar, ele está longe de ser considerado um lar de verdade. (a Domênia) Aqui está mais para um lugar temporário para as crianças.
Domênia escuta tudo aquilo de cabeça baixa, olhando para algumas flores pequenas à sua frente.
AGATHA
Vocês parecem ser crianças especiais. Algo dentro de mim quer estar perto de vocês. (próxima a Domênia) E eu quero cuidar de você.
DOMÊNIA
Por quê?
AGATHA
Não sei. Simplesmente quero. (olha para o céu) Você me lembra alguém, na verdade. Alguém que eu perdi a muitos anos atrás. (a Domênia) E também não espero que vocês me chamem de mãe, nem nada. Pode me chamar pelo meu nome, não tem problema. Ou do que preferir me chamar. (sorri) Eu só quero que vocês tenham um futuro.
Domênia olha para o lado, observa algumas folhas caídas no chão.
DOMÊNIA
Por que não adota só o Carlos?
AGATHA
Eu não encontrei só o Carlos! Encontrei vocês dois. Então onde um estiver, o outro terá que estar.
Domênia a observa e sente uma sensação estranha ao ouvir aquelas palavras. Se levanta, fica em frente a Agatha.
AGATHA
Vamos voltar? Você não terminou o seu café da manhã. (sorri)
Agatha vira-se em direção ao orfanato, caminha alguns passos até ele.
DOMÊNIA (tom alto)
Quais garantias você tem de que não irá nos abandonar?
Agatha para de andar, vira-se para Domênia e esboça um pequeno sorriso.
AGATHA
Eu sempre estarei ao seu lado, menina! Não importa onde estiver. (sorri)
Domênia, por um breve segundo, vê a imagem de Bridget no lugar de Agatha. A garota fica emocionada, caminha até ela e a abraça.
Agatha fica surpresa com aquela reação, retribui o abraço, sorri.
CORTA PARA
CENA 03. CASA DE CARLOS. SALA. NOITE. INT.
Legenda: Maringá, Brasil. Novembro de 2021.
Lisa e Cardoso chegam juntos em casa, ambos felizes. Domênia entra na sala, em direção a eles.
DOMÊNIA
Que belo casal.
LISA (envergonhada)
Mãe!!! (se afasta de Cardoso) Somos apenas amigos, tá.
DOMÊNIA
Eu não disse nada demais, filha. Realmente vocês formam um belo casal.
Cardoso caminha um pouco envergonhado até o sofá, senta-se.
LISA
Papai já chegou?
DOMÊNIA
Ele está chegando. No jantar vamos tratar dos preparativos do Natal.
LISA
Verdade. Dezembro é na semana que vem. Temos que começar a enfeitar a casa.
CARDOSO
Já estamos em Dezembro? (baixa brevemente a cabeça) Já tem quatro meses que estou aqui?!
Comovida, Lisa caminha até o sofá, senta-se ao lado de Cardoso. Um pouco distante, Domênia apenas os observa com um pequeno sorriso em seu rosto.
CARDOSO
Não acredito que vou passar o Natal longe da minha família. (a Lisa) Longe da Aurora.
LISA
A gente tentou, Cardoso. Mas sem o cubo ou a viagem no tempo se tornar real, não podemos fazer nada.
CARDOSO
Eu sei, não estou dizendo isso. Mas do que ninguém, sei o quanto vocês têm me ajudado desde que cheguei aqui. (baixa a cabeça) É que às vezes a saudade de casa aperta, entende? (a Lisa)
DOMÊNIA
Oh, querido… (caminha até o sofá) …mas você está em casa.
Domênia senta-se ao lado dele, segura a mão de Cardoso. Lisa, do outro lado, apenas observa.
DOMÊNIA
Você faz parte da nossa família agora. E, como a Lisa falou, a gente tentou de tudo. Eu não quero ser pessimista, longe disso. Torço muito para que você consiga voltar para a sua família, lá em 1947. Mas, na atual situação em que estamos, é improvável que consiga.
Carlos baixa a cabeça, parece triste.
DOMÊNIA
Apesar disso, você terá sempre um lar aqui com a gente.
Domênia o abraça, Cardoso se sente bem ali.
LISA
Também quero um abraço!
Domênia sorri. Lisa se aproxima deles e os abraça. Com o rosto próximo do ouvido de ambos, Domênia cochicha algo em latim. A expressão no rosto de Lisa e Cardoso muda por um breve segundo. Ficam sérios.
Domênia encerra o abraço, se levanta e os observa. Cardoso e Lisa trocam olhares um para o outro e um singelo sorriso aparece em seus rostos.
CORTA PARA
CENA 04. CASA DE AURORA. COZINHA. DIA. INT.
Legenda: São Paulo, Brasil. Maio de 1986.
Carlos e Domênia tomam café da manhã quando Paulina entra no cômodo carregando consigo alguns livros.
PAULINA
Eu vou indo, crianças. O ônibus da mamãe está previsto para chegar às 08 na rodoviária. Logo mais ela chega aqui. Ah, e quando voltar, preciso conversar com você, Domênia.
DOMÊNIA
Aconteceu alguma coisa?
PAULINA
Quando eu voltar, eu digo. Mas é importante.
Carlos e Domênia trocam olhares.
PAULINA
Quando terminarem, lavem as louças.
Caminha apressada, sai do cômodo. Domênia fica reflexiva com o que Paulina tem a conversar com ela.
CARLOS
Não fica assim. Como a vovó está voltando, talvez ela só queira apresentar vocês duas.
DOMÊNIA
Não sei. Ela disse muito bem que gostaria de conversar comigo. Ela não mencionou nada da mãe dela.
CARLOS
Relaxa. Vai ver que não é nada. Talvez, ela queira te colocar na escola, sei lá.
DOMÊNIA
Será?
CARLOS
É a primeira coisa que veio na minha cabeça. (ri)
Domênia também ri e o observa por alguns segundos. Fica corada e desvia sua atenção para seu café da manhã.
CORTA PARA
CENA 05. CASA DE CARLOS. COZINHA. NOITE. INT.
Legenda: Maringá, Brasil. Novembro de 2021.
Carlos, Domênia, Cardoso e Lisa estão reunidos à mesa, jantando. Ambos conversam entrosados entre si, como uma família feliz.
DOMÊNIA
Pensei em reaproveitarmos a árvore do ano passado. Verifiquei ela hoje e ainda me parece boa.
CARLOS
Quanto menos gastos, melhor. Porque lembro muito bem o tamanho da conta que tive que pagar no Natal passado.
CARDOSO
A minha tia Flores, ela todo ano enfeita uma árvore enorme na pensão dela. Coloca bem no centro da recepção, chamando a atenção de todos que vão se hospedar nessa época. Enchia de adereços, enfeites coloridos e brilhantes, como se quisesse competir com a cidade inteira. (sorri)
DOMÊNIA
Sua tia parece ser uma mulher adorável.
CARDOSO
Ela é sim.
Carlos sorri brevemente. Baixa a cabeça ao lembrar de sua família.
LISA
E sua mãe? Ela tem o mesmo hábito?
CARDOSO
Não, não. (a Lisa) Por algum motivo, mamãe não gosta de Natal. Não dá festa em si, porque meu pai sempre adorava reunir a família enquanto estava vivo.
CARLOS
Verdade, você havia dito que seu pai faleceu. De que foi mesmo?
CARDOSO
Acidente de carro. O veículo dele bateu em um outro de um casal de idosos e ambos morreram. (fica triste)
LISA
Poxa!
CARDOSO (triste)
Minha mãe provavelmente irá passar o Natal sozinha.
Domênia toca na mão dele, Cardoso a observa.
DOMÊNIA
Tenha certeza de que sua mãe vai estar sempre perto de você. (sorri)
Cardoso se sente confortável com aquele aperto.
CARLOS
Sabe, olhando bem a senhora agora, é incrível a sua semelhança com a minha mãe.
Domênia solta a mão de Carlos, fica desconfortável.
DOMÊNIA
Jura?
CARLOS
É, sim. Reparando bem agora, o seu rosto é praticamente idêntico ao de minha mãe. (fica pensativo, olha para o lado) E agora que me toquei… o nome dela também é Domênia?
LISA
Sério? Domênia?
CARLOS
Quanta coincidência.
DOMÊNIA (preocupada)
De novo, não.
CARLOS
De novo não o que amor?
CARDOSO
Sim. (a Domênia) Estou me lembrando agora.
LISA
O que você se lembrou?
CARDOSO
Como isso é possível? (a Domêmia) Como duas pessoas podem ter o mesmo nome e serem tão parecidas?
Todos a mesa olham para Domênia, a percebem aflita.
DOMÊNIA
Muito bem. Preciso que todos se acalmem. Eu vou resolver tudo.
Ali mesmo Domênia pronuncia algo em latim, causando estranheza em todos. Carlos, Cardoso e Lisa ficam brevemente imóveis, olham para frente, até o término do feitiço.
Ao retornarem ao normal, os três se entreolham, de um modo estranho.
CARLOS (confuso)
Estávamos falando sobre o que mesmo?
DOMÊNIA (naturalmente)
Sobre os enfeites de Natal. Eu estava dizendo que a árvore do ano passado, pode ser reaproveitada.
CARLOS
Sim, verdade. (volta a agir normalmente)
LISA
Será que dá pra reaproveitar alguns enfeites também? A senhora tem todos guardados em uma caixa, não é?
DOMÊNIA
Tenho sim. Amanhã, quando você voltar da faculdade, vai me ajudar.
LISA
Tá.
Todos voltam a conversar naturalmente, com exceção de Cardoso que continua sentindo uma sensação estranha em seu corpo. Apesar de Domênia, ninguém repara o estado do rapaz.
CORTA PARA
CENA 06. ORFANATO GIRASSOL. ÁREA EXTERNA. DIA. EXT.
Legenda: Rio de Janeiro, Brasil. Junho de 1912.
Domênia está sentada sozinha no último degrau da pequena escada na entrada principal. Ela observa as folhas da árvore a sua frente, se movendo devido a leve brisa que passa por ali. Carlos sai do orfanato e caminha até ela.
Carlos senta-se um pouco distante, observa o chão. Ambos ficam em silêncio. Domênia desvia sua atenção para a escada ao perceber a presença de Carlos ali.
CARLOS
Você estava tão concentrada olhando para a árvore, não queria te atrapalhar.
Domênia não responde, se atenta à árvore.
CARLOS
Você saiu da cozinha hoje mais cedo daquele jeito estranho. Quer conversar sobre isso?
DOMÊNIA
Eu fui mandada pra este lugar para recomeçar uma nova vida. Algo que era impossível no lugar que eu vim. (desvia sua atenção para o chão) Essa era a vontade da minha senhora. Escolher um novo tempo e recomeçar uma nova vida.
CARLOS
Então foi por isso que você veio parar aqui?
DOMÊNIA
Sim.
CARLOS
Ao menos você sabe o porquê de ter vindo parar aqui. Não está perdido que nem eu, que estava brincando em seu quarto e no segundo seguinte foi parar em um lixão.
DOMÊNIA
Foi assim que veio parar aqui?
Carlos acena que sim com a cabeça. Domênia estranha, fica pensativa.
CARLOS
O cubo apareceu em meio aos meus brinquedos, uma luz intensa preencheu meu quarto e de uma hora pra outra, estava em pé no lixão.
DOMÊNIA (intrigada)
O cubo simplesmente apareceu em seu quarto? Sem mais, nem menos?
CARLOS
Foi isso. Que bom que voltamos a este assunto, você está com o objeto, não está? Você disse que saberia como encontrar a minha mãe?
DOMÊNIA
Eu menti. Na verdade, eu estava apavorada naquele momento. Estava em um lugar completamente diferente de onde vim, perdida, com fome e com medo.
Carlos baixa a cabeça brevemente. Compreende o que ela está dizendo.
DOMÊNIA
Na verdade, não tenho ideia do que seja aquele objeto.
CARLOS
Só que de uma forma ou de outra… (a Domênia) …ele nos trouxe pra cá. Então, ele pode nos levar de volta.
DOMÊNIA
Ou para um outro tempo aleatório. (a Carlos) Como eu disse, eu não sei o que é aquele objeto, muito menos do que ele é capaz. Não é bom tentar usá-lo, sem antes estudar o seu real poder.
CARLOS
Enquanto isso, ficamos presos aqui?
DOMÊNIA
Não temos outra opção. (a árvore) Começaremos uma nova vida.
CARLOS
Você quer morar com a Agatha?
DOMÊNIA
Ou ela ou este lugar.
CARLOS
Você não gostou daqui desde que chegou, não é mesmo? (ri brevemente) Mas eu tenho uma mãe. Não posso aceitar que uma mulher venha e ocupe o lugar dela. Por mais bondosa que seja a Agatha.
DOMÊNIA
Também ninguém poderá ocupar o lugar de minha senhora. No entanto, ela garantiu que dará um lar pra gente. Um lar longe de toda essa bagunça que é esse orfanato.
CARLOS
O seu motivo então é sair daqui?
DOMÊNIA
Se queremos voltar para nossos lares, precisamos da Agatha. (se aproxima de Carlos) Eu sou a única que posso estudar o cubo. E eu não vou conseguir fazer isso, rodeada de crianças bagunceiras e bisbilhoteiras.
CARLOS
Usá-la para nós tirarmos daqui é a sua solução?
DOMÊNIA
Não vejo por que não? (se afasta dele) Eu vou aceitar ela me levar daqui. Se você não quiser, problema seu. Mas não aguento mais ficar nesse lugar.
Carlos olha para frente, pensativo. Fica alguns segundos em silêncio.
CARLOS
Tudo bem. (a Domênia) Desde que chegamos aqui, sempre um esteve ajudando o outro. Então não vou deixar você agora.
DOMÊNIA
Ótimo. (se levanta) Então vamos dizer a ela que já temos uma resposta.
Carlos se levanta, fica frente a frente com Domênia.
CORTA PARA
CENA 07. ORFANATO GIRASSOL. SALA. DIA. EXT.
Agatha e Meire estão sentadas lado a lado no sofá. Carlos e Domênia estão em pé, em frente a elas.
DOMÊNIA
Já temos uma resposta.
Troca olhares com Carlos, que abaixa a cabeça, indo poucos centímetros para trás dela.
DOMÊNIA
Aceitamos! (um sorriso cresce no rosto de Agatha) Adoraríamos morar com você.
AGATHA
Oh, crianças. (emociona-se) Vocês não sabem o quão feliz estou em ouvir isso. (se levanta) Será que eu posso dar um abraço em vocês?
Domênia consente que sim com a cabeça. Agatha se aproxima emocionada da garota. A abraça. Carlos observa aquela cena, finge um pequeno sorriso.
Agatha pede para ele se aproximar. Carlos abraça as duas. Meire observa aquela cena, também emocionada. CAM se aproxima de Domênia, destacando uma seriedade em seu rosto.
CORTA PARA
CENA 08. SEQUÊNCIA DE CENAS.
Cena 01.
Domênia e Carlos se mudam para a casa de Agatha. Entram na sala e admiram o amplo espaço decorado com vários móveis e objetos da década atual.
Cena 02.
Os dois são apresentados a seus quartos. Carlos é deixado no dele, entretido com alguns brinquedos. Domênia entra no dela, admira-se com a quantidade de bonecas de pano colocadas sobre prateleiras presas à parede.
Cena 03.
Em duas telas, Carlos e Domênia observam um pequeno roupeiro, repleto de roupas para eles. Domênia mexe em alguns vestidos coloridos, admirada que aquilo tudo é para ela.
Cena 04.
É noite. Domênia está sozinha em seu quarto com o cubo mágico em suas mãos. Ela está de olhos fechados, concentrada. CAM destaca o objeto que brilha aumentando gradativamente sua luz.
Cena 05.
Agatha, Domênia e Carlos estão passeando em um parque. Param próximo a um lago, observam. Dão alimentos para alguns patos. As crianças sorriem, correm e são observadas por Agatha.
Cena 06.
Domênia está sozinha no quintal da casa. Está sentada ao chão, encostada em uma árvore, com os olhos fechados e as mãos sobrepostas uma na outra, com a palma virada para cima. Ela abre os olhos e concentrada um círculo de luz branca surge em suas mãos. Ela se levanta e começa a brincar com o círculo, jogando-o de uma mão a outra.
Cena 07.
Agatha leva Carlos e Domênia ao novo colégio onde os dois foram matriculados. Na sequência, ambos estão ao lado de uma sorveteria, cada um com um sorvete em mãos.
Cena 08.
Sozinha no quintal, Domênia está em pé ao lado da mesma árvore da noite anterior. Ela estende os braços sobre alguns arbustos mortos. Concentrada, ela fecha os olhos e imediatamente os arbustos ganham vida.
Cena 09.
Domênia está sentada no chão com o cubo em suas mãos. Ela observa o objeto com um jeito hipnotizante no olhar. Ela fecha os olhos e pensa em sua tutora. Concentrada, ela começa a girar aleatoriamente alguns lados do cubo. Domênia contínua de olhos fechados e pensando em Bridget. Ao abrir os olhos, a esfera no centro do objeto aumenta o seu brilho. Em instantes todo o local fica preenchido com uma luz branca. Ao retornar ao normal, Domênia e o cubo haviam desaparecido dali.
CORTA PARA
CENA 09. FLORESTA. TARDE. EXT.
Legenda: Bamberg, Alemanha. Junho de 1371.
Domênia aparece em meio a algumas árvores. O cubo diminui a intensidade de seu brilho. Ela imediatamente reconhece o local e sorri ao descobrir onde está. Caminha entre as árvores, não acreditando que conseguiu voltar.
Após um tempo de caminhada, Domênia escuta o som de água corrente. Segue em direção ao som e logo adiante, vê um riacho. Ao dar alguns passos em direção a ele, repara que há alguém à beira do riacho. Se esconde atrás de uma árvore e começa a observar.
Do seu ponto de vista, é possível ver o corpo de uma mulher dentro d’água. Ela está de costas para Domênia, mas parece estar segurando algo nos braços.
CAM destaca frontalmente o corpo da mulher, registrando Domênia ao fundo da cena, atrás de uma árvore. A mulher está segurando uma criança nos braços, e com uma das mãos, joga uma pouca quantidade de água sobre o corpo da criança.
CAM se aproxima mais da mulher, revelando ser Lisa dentro do riacho. A criança que ela segura, é uma garotinha. CAM destaca o rosto da criança. A menina observa o rosto de Lisa e expressa um sorriso. Lisa também sorri, parece feliz ali.
CAM destaca Domênia atrás da árvore. Ela ouve passos vindo do outro lado, se agacha e tenta observar quem é. Do seu ponto de vista, ela vê Bridget (27 anos) bem mais nova. Domênia se levanta e pensa em ir atrás dela, mas continua no lugar ao perceber que sua tutora caminha em direção a mulher que está dentro do riacho.
BRIDGET (tom alto)
Vamos, menina. Chega de banho.
Lisa vira-se para Bridget.
LISA
Ela gosta da água.
BRIDGET
Eu sei, mas temos que voltar. Seu ritual ainda não acabou. Sua passagem será em breve e a criança precisa ser preparada.
Lisa não diz mais nada. Sai do riacho e caminha em direção a Bridget.
CAM destaca Domênia, que continua agachada e está confusa com aquilo que viu.
DOMÊNIA
Ritual? A criança precisa ser preparada?
Domênia se levanta e observa Bridget recebendo a criança das mãos de Lisa.
DOMÊNIA (confusa)
O que está acontecendo aqui?
CORTA PARA
CENA 10. SALA CIRCULAR. INT.
Legenda: Em algum lugar do tempo.
Domênia continua com o cubo azul erguido em direção a Carlos, que está perplexo com o que acabou de ouvir.
DOMÊNIA
Todos os universos espelhados foram criados por mim a muito tempo, dentro do universo original.
CARLOS
Não. Não, isso não pode ser verdade. (fecha o livro) Não tem como criar um universo inteiro. Isso é surreal. É maluquice.
DOMÊNIA
Abra a mente, Carlos. (desce do altar, continua erguendo o cubo azul) O universo em si não surgiu do acaso. Há uma força extraordinária além de qualquer compressão, que o criou e que o mantém até este momento.
CARLOS
Isso já está beirando a loucura. (olha para a sala, para as pinturas no teto) Eu só quero sair daqui. Só quero voltar pra casa. Pro lado da minha família, da minha filha.
DOMÊNIA
Enquanto você estiver com essa fenda nos olhos, você não enxergará a verdade.
Carlos entrega o livro para Domênia e se afasta dela, um pouco assustado.
CARLOS
Eu não quero enxergar verdade nenhuma. Eu não quero mais saber de linhas temporais, versões de crianças de mim, de você. Eu só quero sair daqui. Eu só quero voltar pra vida que eu tinha, antes de encontrar este cubo com aquele garoto de rua.
DOMÊNIA
Será que nem isso você percebe que foi planejado? Você ter ido parar em 1947 não foi por acaso. Cardoso ter pegado o cubo, também não. Eu ter ido parar em 1912 muito menos. (se aproxima de Carlos) Compreenda que todas as peças foram movimentadas com o único propósito.
Carlos começa a ficar assustado com o jeito que Domênia se aproxima dele.
DOMÊMIA (obsessiva)
Cardoso e Lisa precisavam se conhecer. Nossos filhos precisavam se envolver. Porque só assim, eu poderia existir!
CARLOS (apavorado)
Você é louca. Isso doentio. Me tira daqui. Eu quero sair daqui.
Vira-se e sai correndo em meio a sala. Ao se distanciar de Domênia, um círculo brilhante surge a poucos metros em sua frente, o fazendo parar de correr.
Carlos observa o círculo e antes que pensasse em atravessá-lo e sair daquele lugar, um homem atravessa o círculo. O homem fica frente a frente a Carlos.
CARLOS (pasmo)
Não é possível?
Carlos está de frente com ele mesmo. O homem que saiu do círculo, é uma versão dele mesmo.
DOMÊNIA (sorri)
Olá, Carlos! Chegou bem nem hora.
Os dois Carlos continuam frente a frente. Um está sério e o outro está em choque com tudo aquilo.
FIM DO EPISÓDIO.