“O Reino dos céus é ainda como uma rede que é lançada ao mar e apanha toda sorte de peixes.

Quando está cheia, os pescadores a puxam para a praia. Então se assentam e juntam os peixes bons em cestos, mas jogam fora os ruins.”

                                       Mateus 13: 47-48.


 

JARDIM DO PRÉDIO DO TORNEIO- 2 HORAS ANTES.

 

Magnus dá prosseguimento à roda de conversa com os amigos na fogueira.

— Alguém quer falar mais alguma coisa?

Glaus responde:

— Eu acho que vou deixar pra próxima fogueira, Magnus.

— Tem certeza?

— Sim, tenho. Já está ficando tarde.

— E você, Daian?

— Eu também, acho que é bom a gente processar primeiro e entender a história de cada um e depois a gente fala mais sobre nós, hoje eu só queria escutar.

— Bom, sendo assim…

Ele pega o alaúde. Kira diz:

— Espera, Magnus, mas e você?

— Eu?

— Sim, claro. Ouvimos todos uns aos outros, mas gostaríamos de saber também mais sobre você, não é, galera?

Todos concordam.

— Acontece que… É uma história meio chata de se contar e com certeza vocês vão dormir.

— Temos meia hora antes da Niel vir nos escorraçar, então se você conseguir contar tudo em meia hora, estamos no lucro.

— Bom… Ok. Lembre-se que foram vocês que pediram. Essa poderia ser somente mais uma história de pescador, mas… É muito mais do que isso. A família Eiferd sempre prezou pelos princípios da igualdade, do amor e do respeito mútuo.


 

TRIBO DA ÁGUA- 7 ANOS ANTES.

 

Um barco se aproxima da baía na tribo da água. Uma mulher de aparentemente 35 anos, cabelos castanhos escuros e longos, branca, usando um vestido roxo, está com um cesto na mão. Ela está tapando o excesso do sol com a mão pra tentar enxergar quem está vindo no barco, essa mulher é Dominika, a mãe de Magnus.

O barco finalmente chega ao pequeno porto e de lá sai um Magnus de 12 anos, eufórico e sorridente.

— MAMÃE! MAMÃE!

— Cuidado onde pisa, Magnus.- Disse o seu pai, Theodoro, nesta época com 38 anos, moreno claro, alto, formato do nariz pontiagudo, usa calças largas e o típico chapéu de pescador.

Magnus corre para abraçar a mãe.

— Oi, meu filho! Como foi hoje?

— Foi muito bom, mas o papai não quis dividir comigo nenhum dos peixes que ele pegou.

— Ora, ora, terei uma conversa com o seu pai sobre isso.

Mais tarde, a família Eiferd está na mesa de jantar, a mãe de Magnus serve na mesa, os peixes que seu esposo havia acabado de pescar. Magnus, um pouco levado, tenta beliscar um pedaço do peixe. Seu pai o repreende.

— Ei, ei! Agora não, como devemos fazer primeiro?

— Agradecer pela comida?

— Exatamente, filho. Temos sempre que agradecer antes pela refeição que iremos consumir. Lembre-se que nem todo mundo a esta hora pode ter uma refeição decente.

— Querido, releve, o Magnus aprende rápido, é só a euforia da adolescência.

— Falando em adolescência, já tenho que começar a ensinar o Magnus a pescar. O peixe que estamos comendo aqui, meu filho, nós homens que precisamos sair por aí caçar, pra que a mamãe possa pegar, limpar, preparar, cozinhar o peixe e assim nós podemos comer.

— Por que a mamãe não pode pescar?

Silêncio na cozinha.

— Porque… A mamãe é uma mulher boa e tem as mãos delicadas, e não seria legal pra ela fazer esse trabalho pesado.

— Mas a sacerdotisa da água faz coisas muito mais pesadas do que pescar.

— Bom, é que…

— … Querido, a sacerdotisa da água possui outras habilidades, e geralmente elas são grandes guerreiras, e não são donas de casa como eu.

— Mas se o papai disse que as mãos da senhora são delicadas, então por que não é ele que prepara o peixe? A senhora pode se machucar com os espinhos, cortar o dedo com a faca, é perigoso.

A mãe de Magnus olha para o seu esposo e ambos admiram a inocência do garoto.

— Quer saber, campeão? Você tem razão, nós homens precisamos proteger as nossas mulheres, e quando você crescer, será um homem respeitador com a sua futura mulher. E quer saber de uma coisa? Amanhã mesmo eu vou começar a te ensinar a pescar como fazemos aqui na nossa tribo.

— É sério? Obrigado, papai!

Magnus dá um beijo no rosto de seu pai e, em seguida, parte para comer o peixe.

Horas mais tarde, Theodoro está colocando lenha na lareira e Dominika se aproxima.

— O Magnus já dormiu.

— Olha, pensei que ele não iria desligar hoje.

— Sim, ele estava bem mais animado que o normal, certamente são os hormônios.

Ele estende a mão pra ela se aproximar dele.

— Vem cá… Você não ficou chateada com o que eu falei não, né? Sobre as mulheres não pescarem, porque…

— … Querido, claro que não. Eu sei que você não é como os homens da tribo do fogo, eu sei bem o homem que eu me casei.

— Sim, eu sei, é que… Não quero deixar nenhuma interpretação errada de que estou ensinando o meu filho a ser um machista mal educado.

— É claro que não, eu sei que você está ensinando ao Magnus o que é certo.

Ele a abraça por trás e segura suas mãos.

— Você nunca mais usou os seus poderes.

— Não é necessário. Quando você se torna dona de casa e mãe, isso se torna irrelevante.

— Magnus nunca viu você usar magia, não é?

— Não, ao menos não que eu saiba.

— Você teria sido uma ótima sacerdotisa, sabia?

— Não é pra tanto… Sou apenas uma mulher normal da tribo da água.

— Sim, mas… Eu já vi as coisas que você já fez. Já vi o tanto que você já lutou para proteger o nosso filho.

 

12 ANOS ANTES…

 

Uma tempestade tropical está desolando algumas casas na tribo da água. Theodoro não havia conseguido voltar a tempo, Dominika tentava proteger o bebê Magnus que chorava sem parar. A casa estava alagada e pra descer com a criança dali e sair, era praticamente impossível.

— Calma, filho, calma. A mamãe tá aqui.

Ela olha para os lados, sabe que se descer as escadas, pode não conseguir passar com o seu filho. Então têm uma ideia.

— Me desculpa, filho. Só vai levar um minuto.

Ela coloca Magnus no chão perto da escada enrolado em um cobertor, onde a água ainda não alcançou e, em seguida, se levanta e concentra o seu poder naquele lugar.

Seus olhos brilham de coloração azulada, ela estende suas mãos e algo “milagroso” acontece. Ela divide as águas ao meio começando pela sua casa até chegar na rua.

Ela pega o bebê Magnus, desce as escadas, e passa pelo meio das águas segurando Magnus no colo. Do lado de fora, finalmente o pai chega correndo tentando se desviar da água. As pessoas ali estão desesperadas, e perceberam o movimento das águas se alterarem e dividir um lado para o outro.

— DOMINIKA! MAGNUS!

Ele avista sua mulher passando pelo corredor que ela fez com o seu filho no colo.

— Meu De… Dominika?

12 anos após este evento, o pai de Magnus o está ensinando a pescar com a rede.

— Pai, por que eu nunca consigo pegar os peixes? Eles fogem de mim!

— Quando estamos com medo ou pensando coisas negativas, filho… Atraímos também coisas negativas.

— Mas por quê?

Intercalamos com o presente, no momento em que o espectro apanha Magnus e o leva para o alto.

— MAGNUS!- grita Kira.

As lembranças de Magnus sobre o seu pai o dominam.

 

— Agora tenha fé, filho! E lance a rede ao mar mais uma vez!

Magnus lança a rede, em questão de minutos, a mesma começa a se encher de peixes.

Magnus fica alegre. Minutos depois, seu pai tenta dar mais um recado.

— Escute, Magnus. Sua mãe não foi sacerdotisa, mas foi uma das mulheres mais poderosas que já se passaram pela tribo da água.

Intercalamos novamente com Magnus no alto sendo sufocado por aquela criatura demoníaca.

— POR QUE VOCÊ NÃO ME MATA LOGO?

Voltando à lembrança, o pai de Magnus dá o último veredito.

 

— Quando você crescer, será tão poderoso como a sua mãe e espero que honre a uma mulher verdadeiramente como eu me esforço pra honrar também, meu filho. As nossas mulheres precisam da nossa proteção, nós temos que garantir a segurança delas!

— Tá bom, papai… Quando eu crescer… Quero me tornar sacerdote da tribo da água.

 

Novamente, no presente, Magnus nas mãos daquela criatura.

 

— O QUE ESTÁ ESPERANDO? ME MATA DE UMA VEZ!

 

A criatura desenrola o seu manto negro no pescoço de Magnus e o solta. Ele cairá de uma altura de mais de 30 metros, Kira se desespera. Magnus fecha os olhos esperando o seu fim.

 

— Pai, mãe… Eu sinto muito.


 

OPENING:

 

 


         EPISÓDIO 6:

“LANCE A REDE E PESQUE!”


 

Magnus está caindo, ao chegar a poucos metros do chão, Kira da galeria observa algo incomum. Vemos apenas os olhos de Magnus fechados, como se já estivesse esperando pela morte. Quando ele abre, vê que está há um metro do chão sendo protegido por uma espécie de nuvem aquática. Uma nuvem que ele mesmo forjou, ainda que involuntariamente.

Magnus fica sem acreditar. Imediatamente ele consegue tocar os seus pés no chão novamente, aquela nuvem de água se dissipa, mas o perigo ainda não acabou.

O espectro volta para a galeria, e neste momento Ali aparece no corredor.

— Gente, o que tá acontecendo?

O espectro passa por Ali, ela se assusta, fica batendo na cabeça tentando tirar qualquer coisa que o espectro possa ter deixado. Ela se desequilibra do batente da galeria. Kira e Fie do lado, se manifestam.

— ALI!

Ali prestes a cair, Kira chega a tempo e agarra a sua mão.

— SEGURA FIRME!

Ali a princípio estranha ao ver sua maior rival a ajudando.

— Vamos, segura a minha mão!

Magnus do lado de baixo, sente a urgência da situação.

— KIRA, TOMA CUIDADO!

— Eu estou tentando. Fie, me ajuda!

Kira começa a escorregar, Fie chega em seguida e tenta puxá-la.

— Segura firme, gente!

— EU NÃO QUERO MORRER! EU NÃO QUERO MORRER!

— Você não vai morrer, Ali! Não pensa nisso.

Logo em seguida, Munique também aparece e ajuda elas a puxarem Kira e Ali de volta para a galeria.

Ao retornarem com segurança, Niel aparece no pátio com outros soldados.

— Magnus, o que foi aquilo que aconteceu contigo? Você está bem?

— Estou, mas… Eu não sei o que fazer.

— Como esses espectros invadiram o prédio? PRECISAMOS DE CONJURADORES DE LUZ AQUI, URGENTE!

As crianças começam a sair dos quartos desesperadas tentando entender o que está acontecendo. Niel mais uma vez, questiona a Magnus.

— Magnus, me tira uma dúvida: Qual é o seu sobrenome mesmo?

— Eiferd, Magnus Eiferd.

Niel arregala os olhos.

— Meu Deus, você é filho de Dominika Eiferd, a mulher que dividiu as águas.

No corredor da ala do trovão, Eloy continua no chão desesperado, Vladimir tenta se levantar para enfrentar o espectro.

— Desgraçado! Por que estão aqui? O que querem?

Tin chega pelo corredor de trás e testemunha aquela situação.

— ELOY? Por que existem espectros aqui?

Vladimir diz:

— Tira o Eloy daqui e leve-o para um lugar seguro, rápido!

— Beleza. Vem, Eloy.

Tin pega Eloy nos ombros e o leva para outro lugar.

No lado de baixo, perto da fonte, os amigos de Magnus chegam até ele e Niel.

— MAGNUS, O QUE TÁ ACONTECENDO?- Pergunta Glaus.

Vindo do céu, um terceiro espectro surge e cai na direção dos garotos. Niel vê a criatura e se manifesta.

— CUIDADO!

Niel usa a sua magia aquática fazendo com que a água da fonte suba e atrapalhe a visão do espectro.

— Garotos, não é seguro ficarem aqui!

Na galeria, Kira, Fie, Ali e Munique estão mais uma vez a mercer de um dos espectros.

Ele está prestes a atacá-las quando a poderosa Minerva surge no pátio causando uma ventania e sobrevoa até a galeria.

— PÉSSIMA HORA PRA VOCÊS TIRAREM A MINHA PACIÊNCIA!

Minerva sopra o seu poder na criatura, as 4 garotas caem no chão.

Pablo, da tribo da terra, aparece naquela galeria.

— MENINAS! VENHAM COMIGO!

As 4 se levantam para acompanhar Pablo. Munique os detém.

— Espera! Precisamos ajudar o meu irmão.

— O quê?- Pergunta Pablo.

— O Vladimir! Precisa ajudar ele.

No contraponto, Vladimir está sendo cada vez mais recuado por conta do poder sombrio daquele espectro. Seus poderes de luz já não estão fazendo tanto efeito como esperava. Todo o cuidado é pouco.

— Eu não vou morrer aqui por sua causa.

Um trovão corta o céu, todos ficam sem entender o que está acontecendo. Uma luz se aproxima do pátio. É Telmar, o sacerdote do trovão.

— Acho que cheguei a tempo para a festa.

Telmar lança seus raios contra o espectro que está atacando Vladimir.

Do outro lado da galeria, Ícaro e Frida estão correndo para tentar chegar ao pátio.

Mas um dos espectros surge na frente deles.

— Aaaaaahhhh!

Ícaro fica na frente. O espectro fica, de algum modo, tentando persuadi-lo.

 

 Vem… Vem para as sombras…

 

Ícaro fica a princípio hipnotizado com a persuasão daquele espectro. Eis que Willa aparece e usa a sua magia do ar para afastá-lo.

— Gente! VAMOS!

No pátio, Kira e as outras garotas chegam por ali. Ela abraça Magnus.

— Magnus! Você está bem?

— Sim, estou e você?

— Sim, eu acho que… GLAUS, DAIAN, CUIDADO!

O espectro vem na direção de Glaus e Daian para atacá-los. Daian empurra Glaus para o lado e o espectro o agarra e sobrevoa com ele sob o pátio.

— Aaaaaaah socorro! Socorro!

— DAIAN!- grita Magnus.

O espectro segura-o pelo pescoço olhando diretamente pra ele.

— Por favor, não…

Sem piedade, o espectro o arremessa contra a parede e ele cai de uma altura de 3 a 5 metros.

— DAIAN!!- Grita Magnus, que vai na direção do amigo.

Kira olha para o telhado, e vê que uma pessoa se esconde nas sombras.

— NIEL, TEM ALGUÉM ALI NO TELHADO!

— O quê?

— EU VI! ESTAVA NOS OBSERVANDO.

— MINERVA! Suba ao telhado. Tem alguém espionando.

— Deixa comigo!

Minerva voa até o telhado. Seja lá quem foi a pessoa que Kira viu ali, já não está mais entre eles.

A situação cada vez mais caótica, o medo tomando conta das crianças, aqueles três espectros extremamente poderosos. Niel tenta reunir todas as crianças. Os dois sacerdotes fazem o possível e o impossível para deter as criaturas.

Quando tudo parecia perdido, um enorme clarão como se fosse uma explosão cósmica invade todo aquele lugar. Todos se agacham fechando os olhos, os espectros ficam totalmente desarmados diante daquela enorme luz, até serem totalmente destruídos.

Quando a luz começa a diminuir e chegando para um determinado ponto, a pessoa que chega ali é Bartiel, o sacerdote da luz.

— Não se preocupem! O mal foi contido. Pelo menos por enquanto.

A ameaça aparentemente acabou, mas as consequências foram inevitáveis.

Magnus e Glaus estão no chão ali com Daian, que está agonizando.

— Irmão, fica com a gente, por favor.

— Magnus… Sabe por que eu não quis contar pra vocês sobre mim lá na fogueira? Porque eu não queria que ninguém soubesse ainda que… Eu tenho uma filha.

Magnus fica impressionado com o que Daian lhe revela.

— Você tem uma filha?

Neste momento, nas lembranças de Daian, vemos ele com uma bebê no colo em sua casa dando carinho pra ela e, em seguida, entregando para a suposta mãe.

Ele deixa de pensar e responde Magnus.

— Sim, vai fazer 1 aninho, eu prometi que iria voltar e iria trazer o melhor pra ela. Eu não me casei e nem nada, eu só… Não queria expor essa parte da minha vida.

— Não tinha problema me contar, meu amigo, eu guardaria segredo, e o Glaus também. Você sabe disso.

— Eu sei, vocês foram bons amigos. Magnus…

— Sim?

— Se você se tornar sacerdote… Promete que vai garantir que minha filhinha não passe fome?

— Não, Daian, eu não posso fazer isso, você vai ficar bem, você mesmo vai fazer isso por ela.

— PROMETE!

Magnus já em lágrimas.

— Tá bom… Tá bom, eu prometo.

— Valeu, amigo! Queria muito poder sair para pescar com vocês… Mas quem sabe um dia? Quem sabe… Em outra vida?

Ao falar essa última frase, Daian fecha os olhos e morre.

Magnus segurando suas mãos, na esperança dele apenas ter fechado os olhos para descansar a vista, começa a sacudi-lo.

— DAIAN! Daian, acorda, por favor! ACORDA, DAIAN!

Glaus tenta consolar Magnus.

— Magnus, desculpa, eu acho que…

— NÃO, ME SOLTA! DAIAN!

Kira e os demais observam de longe. Magnus abraça Daian fazendo de tudo pra reanima-lo.

— Por favor, me perdoa! Me perdoa! A culpa foi minha, foi toda minha!

Os guardas seguram Magnus pelas costas fazendo com que ele saia de cima de Daian.

— NÃO, ME SOLTEM! ME SOLTEM!

Magnus se arrasta pelo chão, tenta alcançar o falecido amigo, os guardas o seguram pelos braços e o leva dali arrastado.

— NÃO PODEM DEIXAR ELE ASSIM! NÃO PODEM! DAIAN!

Magnus é levado, as crianças tentam se recuperar daquele terrível pesadelo.


 

TRIBO DAS SOMBRAS- MANHÃ SEGUINTE.

 

Eric se encontra em seu lar tomando um chá até receber uma visita inesperada.

— Majestade?

— Eric… Nós precisamos muito da tua ajuda.

Eric fica intrigado.

 

PRÉDIO DO TORNEIO- GABINETE DO REITOR.

 

As portas se abrem para dar passagem à Niel, e lá dentro se encontram o reitor Maldonado, Bartiel, Vladimir e Munique.

Niel já entra dizendo:

— O rei Orfeu deve chegar aqui mais tarde, o que resolveram?

Munique diz:

— Estou falando para o Bartiel para não comentar isso com o meu pai e muito menos pedir para cancelarem o torneio.

— Eu estou dizendo a eles, Niel, que agora todos estão correndo perigo ficando expostos aqui. Em todo esse tempo, eu nunca ouvi falar de espectros entrando em território protegido por magia.

— O senhor não conhece o nosso pai, Bartiel.- Diz Vladimir.

— É claro que eu conheço o senhor Andreas, quem na tribo da luz não o conhece?

— Mas não o conhece como nós, o meu pai é um dos patrocinadores do torneio e se souber que tais coisas estão acontecendo aqui, ele vai ser o primeiro a espalhar para a mídia.

— O Vlad tem razão, nosso pai pode ser implacável quando lhe convém ser.

— Vocês dois estão se ouvindo? Quase morreram esta noite, e isso porque vocês dominam a magia da luz há muito tempo, e apanharam feio pra aquelas coisas. Imagine uma pessoa sem magia nenhuma? O que vão dizer pra aquele garoto da tribo da água que morreu bem debaixo dos teus narizes?

Niel diz:

— Bem, de todos os modos, precisamos aguardar o rei Orfeu pra ele decidir. A verdade que eu acho que deveriam ter adiado o torneio por conta do que já estava acontecendo. Nem que quebrasse uma tradição, mas pra pelo menos garantir a segurança de todos.

Maldonado diz:

— O problema é que agora, Niel… As crianças estão com medo. E nem eu sei se elas vão querer continuar com o torneio.

 

ALA MÉDICA

 

Eloy está recebendo os cuidados necessários até Kira chegar juntamente com Fie.

 

— Eloy? Eloy, amigo. Você está bem?

Tin está ali por perto e conversa com elas.

— Seria melhor que ficassem um pouco com ele. Já está melhor, mas ainda está muito impressionado com tudo o que houve, deixarei vocês a sós.

Tin sai da sala. Kira se assenta na cama e segura na mão dele. Fie continua em pé apoiada no ombro de Kira.

— Ficamos tão preocupados com você, Eloy.

— Eu senti tanto, mas tanto medo. Eu achei que eu fosse morrer, achei que… Eu, eu não vim até aqui pra isso. Eu vim pra me tornar sacerdote. Se meus pais souberem o que aconteceu aqui, souberem que eu fui um fraco, eles vão continuar achando que eu fui um erro na vida deles, vão continuar dizendo que era melhor eu nunca ter nascido.

— Não fale isso, Eloy.

— Eu sou apenas um garoto de 17 anos burro, elétrico, que não pensa direito, e talvez seja o meu destino ficar assim pra sempre… Vocês… Vocês tem sorte de serem amados pelos pais de vocês duas. E eu tenho certeza que o pai da Kira amava muito ela quando era vivo, e tenho certeza que o seu pai deve sentir muito orgulho de você, Fie. Se eu for eliminado antes do torneio acabar… Eu vou voltar a ser o que eu sempre fui para os meus pais… Um nada.

Kira e Fie abraçam Eloy tentando fazer de tudo para consolar o amigo.

Em outra ala, Willa se aproxima de Ícaro e Frida.

— Vocês estão bem, gente?

— Estamos bem, eu acho que… Acho que o susto foi grande.- Disse Frida.

— Eu queria dizer que estou bem, mas na verdade não estou não. Quando aquele espectro olhou pra mim, eu podia ouvir uma voz de dentro dele me chamando.

— Uma voz? Como assim uma voz? – Pergunta Willa.

— Não sei, era uma voz estranha, como se tivesse me chamando pra ele.

— Misericórdia! Só de lembrar me dá arrepios, aquelas coisas são horríveis.- Diz Frida.

— Eu espero não ter que encontrar outro espectro novamente. Foi a experiência mais horrorosa que eu já tive na minha vida.

Mais tarde, no gabinete do reitor Maldonado, o rei Orfeu finalmente chega ao recinto. Todos o cumprimentam.

— Majestade!

— Saudações a todos! Antes de continuarmos, quero trazer a vocês uma pessoa muito especial que irá nos ajudar.

Orfeu dá espaço para que Eric entre.

— Bom dia, senhores!

— Eric? Eric, é você? – Pergunta Niel.

— Olá, Niel. Já faz um bom tempo, não é?

— Ai, meu Deus! Me dê um abraço, querido. Como você ficou bonito! Um homão!

— Também não precisa exagerar.

Vladimir e Munique perguntam:

— Tá, mas…

— Quem é ele?

Orfeu responde:

— Este é Eric Vanderveelt. O oitavo sacerdote das sombras.

Bartiel se aproxima dele.

— É verdade, agora eu me lembro, você estava na final do meu torneio, não foi?

— Sim, eu estava. Era necessário para eu poder passar o sacerdócio para o meu sucessor que… Bom, vocês sabem o que aconteceu.

Niel questiona:

— Mas o que você está fazendo aqui, Eric?

— Bom, eu…

Orfeu interrompe.

— Eu convidei o senhor Vanderveelt para se tornar… Conselheiro dos candidatos do torneio.

Todos ficam impressionados.

Maldonado pergunta:

— Mas… Mas eu receio que ele…

— … Não se preocupe, senhor Maldonado, o Eric mesmo me assegurou que durante esse tempo não reconstituiu família e que estaria livre para nos ajudar no que for preciso. Precisamos de um sacerdote das sombras de qualquer maneira, alguém precisa passar o sacerdócio para um daqueles garotos.

— Eu ficarei aqui ajudando no que for preciso até o torneio acabar. E nada como enfrentar sombras com sombras, não acha?

— Eric, você ainda domina seus poderes?

— Sim, Niel, ainda dou pro gasto.

Bartiel diz:

— Tá, mas agora precisamos definir o mais importante daqui pra frente. Iremos cancelar o torneio ou não?

— Eu, como rei de Vanidian, acharia por bem sim decretar o fim desse torneio e devolver todas essas crianças para os seus lares. Mas como ficarão os pais delas? O que a mídia vai falar? E como ficarão as suas tribos sem um novo sacerdote?

— E com todo o respeito, majestade… Acho que não falo por mim quando digo que nós não queremos ficar muito tempo no sacerdócio… Foram 10 anos muito extensos, eu estou ficando de cabelo branco e só tenho 32 anos. Qualquer um de nós, Minerva, Telmar, Silvya e os outros já estariam surtando em saber que poderiam ficar por mais não sei quantos anos durante o sacerdócio de sua tribo.

— Eu te entendo, Bartiel, eu te entendo. Bom, alguém pode me dar sugestões?

Niel diz:

— Minha opinião sincera, é que possamos reduzir uma prova, deixando somente 4. Todo torneio dura 7 dias e possuem 5 provas dentro desses 7 dias. Podemos usar dois dias para treinamento com as crianças nesse meio tempo, o Eric estando aqui vai ajudar muito a gente. Então para não cancelar de vez o torneio e evitar mais desgaste físico e mental… O mais coerente é excluir uma prova e dar continuidade a partir de amanhã. Hoje ninguém está em condições de fazer prova.

Orfeu diz:

— Hummm… Todos concordam?

Maldonado e Bartiel concordam. Vladimir e Munique também consentem, dizendo:

— Só não deixa meu pai saber do que aconteceu aqui, por favor.- Disse Munique.

— Faremos o possível, senhorita Andreas.- Disse Orfeu. Bem, agora vou me retirar, por favor, Niel, acompanhe Eric até suas instalações, creio que ele vai querer ficar na ala das sombras, suponho.

— Claro, majestade. Venha comigo, Eric.

Maldonado diz aos Andreas:

— Crianças, podem voltar, e nenhuma palavra aos demais candidatos sobre o que foi falado aqui.

Vladimir e Munique saem.


 

Minutos mais tarde, Kira e Fie terminam de conversar com Eloy e estão saindo da ala médica, quando Ali aparece no corredor.

Um clima tenso entre as três fica, ninguém sabe o que dizer, até que Ali quebra o silêncio.

— Escuta… Por que me salvou naquela hora? Mesmo… Mesmo depois das coisas que eu já te fiz?

— Bom, eu… Eu não sei. Foi o meu extinto. Te vi em perigo, então… Decidir agir.

— Eu só vim aqui esclarecer que isso não significa que seremos amigas depois disso.

— Tudo bem… Eu não esperava nada disso mesmo.

— Ótimo!

Ali dá as costas para as duas e começa a andar rápido. Em seguida ela para, e muito envergonhada, vira pra elas novamente e diz:

— Obrigada!

Kira e Fie se entreolham uma para a outra sem acreditar na cena que acabaram de ver.

Na ala das sombras, Ícaro e Frida estão conversando. Willa havia acabado de sair. Niel chega no corredor juntamente com Eric.

— Ícaro? Frida? Gostaria de apresentar uma pessoa muito especial pra vocês.

Os dois se recompõem para serem apresentados.

— Este é Eric Vanderveelt. Ele… Foi o oitavo sacerdote das sombras, esteve no mesmo torneio que eu participei e… Veio aqui para nos ajudar.

Eric estenda a mão.

— Muito prazer, meninos.

Ícaro e Frida ficam segundos olhando para Eric, os olhos de ambos começam a encher e, em seguida, os dois o abraçam de uma vez.

— Opa! Eu não estava esperando essa recepção.

— Meninos, quase vocês derrubaram o E… Vocês estão chorando? Por que estão chorando?

— Ei, o que se passa com vocês dois?

Frida e Ícaro não soltam Eric de jeito nenhum. A primeira, choramingando diz:

— A gente tá cansado! Todo mundo odeia a gente por sermos da tribo das sombras.

— Eu estou com saudades de casa, e você é a primeira pessoa de lá que eu vejo aqui.

— Meninos, não precisam chorar. Sei que o que vocês dois estão passando não é fácil. Serem os únicos da tribo das sombras em um torneio de 100 crianças não é fácil, mas vejam! Chegaram até aqui! Estão mais próximos de chegarem na final do torneio do que vocês mesmos imaginam. Sejam fortes! Vocês vão conseguir vencer, eu acredito!

No gabinete, Orfeu conversa com Maldonado. Bartiel já havia partido.

— Estou me sentindo culpado, senhor Maldonado.

— Mas por que, majestade?

— Por estar enganando a essas pessoas sobre o que está acontecendo aqui dentro. Três de nossas crianças morreram, eu mal me recuperei da notícia do segundo e já fiquei sabendo do ataque ontem à noite aqui. Se três de nossos sacerdotes não tivessem vindo, o que teria acontecido com essas crianças?

— Sim, foi… Foi bem tenso, e uma coisa que me deixa intrigado é de como esses espectros entraram aqui. Bartiel e eu estávamos conversando antes do senhor chegar, que não há a menor possibilidade de um espírito opressor como um espectro entrar em um ambiente que é regido por magia.

— Sim, mas entraram… E antes tivesse sido só um, mas foram três.

— A Niel contou que uma das candidatas disse ter avistado alguém nos observando no telhado enquanto os espectros atacavam. Eu não posso afirmar a veracidade disso, mas há grandes chances de serem verdade. Mas queria perguntar ao senhor, vossa majestade, uma pessoa conseguiria, de repente, quebrar um sortilégio de magia pra fazer um espectro entrar?

— Uma pessoa com um imenso poder das trevas, conseguiria. Por quê?

— Estou aqui me perguntando… E se a pessoa que fez isso não viesse de fora?

— Como assim?

— Eu posso estar ficando caduco, mas… E se essa pessoa no qual anulou a magia da luz pra que os espectros passassem… Já não estivesse aqui dentro?

Orfeu fica intrigado.

— Mas… Quem poderia ser essa pessoa?

 

ALA DA ÁGUA, QUARTO DE MAGNUS

 

Magnus está deitado na cama extremamente triste com o que aconteceu com Daian. Kira bate na porta.

— Magnus? Posso entrar?

— Oi, Kira. Entra!

Magnus se senta na cama. Kira entra.

— Normalmente é contra as regras eu entrar no quarto de um menino, mas acredito que hoje seja por um bom motivo. Como você está?

— Bom… Nada bem, nada bem mesmo, Kira.

— Olha… (sentando-se na cama ao lado dele) Quando eu vi você lá em cima sendo atacado por aquele espectro… Eu confesso que fiquei com tanto medo, sabe? Principalmente depois de tudo o que você nos contou sobre você lá na fogueira. Sobre o que você aprendeu com o seu pai da importância de ter fé, que quando temos fé e lançamos a rede, nós conseguimos pegar mais peixes. Do quanto a sua mãe é poderosa e dividiu as águas de uma enchente na sua tribo pra te salvar… Eu realmente fiquei com medo por você, Magnus.

— Naquele momento eu… Eu senti que realmente havia chegado o meu fim, que o jogo iria acabar definitivamente pra mim e não estou falando do torneio. Talvez teria sido melhor assim… Porque aí o Daian não teria morrido.

— Não fale assim, não estou dizendo que não lamento pelo o que aconteceu com o Daian, mas…

— O Daian tinha uma filhinha, Kira. Uma filhinha de 1 ano, imagine como vai ser pra essa garotinha crescer sem o seu…

Ele se detém por instantes, se lembra de que Kira não tem mais seu pai.

— Me desculpe, me desculpe, eu…

— Não tem que se desculpar de nada, Magnus. Eu sei que você está triste. Apesar do pouco tempo que nos conhecemos, acabamos criando laços. Acho que aquele momento na fogueira foi importante pra todos nós nos conhecermos melhor, conhecermos as nossas limitações e saber que nós não somos perfeitos e não precisamos ser.

— Eu poderia ter feito qualquer coisa pra impedir, qualquer coisa, mas eu fui muito inútil! Um inútil!

— Magnus, não diga isso!

— Claro que eu fui, Kira. Não consegui proteger meus amigos, era pra eu ter ido no lugar do Daian.

— NÃO! Eu… Eu, eu não saberia como reagir se você tivesse… Se você tivesse…

— Há muito tempo eu não me sentia dessa forma, eu, eu não sei o que fazer, estou triste, estou com raiva, com ódio, não quero fazer mais nada e ao mesmo tempo quero fazer tudo, eu, eu…

Vendo que Magnus está um pouco descontrolado, Kira, no impulso, segura o seu rosto e o beija.

Magnus fica paralisado. Kira se afasta de seus lábios e fica incrédula com o que acabara de fazer.

— Ai, meu Deus! Meu Deus, o que foi que eu fiz? O que eu fiz?

Kira se levanta completamente envergonhada.

— Eu não devia ter feito isso, eu não sei o que deu em mim.

— Kira, calma, tá tudo bem.

— Não, não, eu não deveria ter feito isso ainda mais você estando tão fragilizado, vou te deixar sozinho. Tchau!

— Não, Kira, espera… KIRA!

Kira sai do quarto de Magnus correndo e completamente nervosa, ela para em um dos batentes e fica respirando ofegante como se tivesse passando mal. Algumas garotas da tribo da água passam por ali.

— O que a garota do fogo faz aqui?

— Tá perdida, gata?

No quarto de Magnus, ele se senta novamente na cama com a expressão estática. Toca seus dedos nos seus lábios e sussurra:

— Kira?

 

SALÃO NOBRE- 2 HORAS DEPOIS

 

Os candidatos estão todos ali reunidos para que o rei Orfeu possa falar.

— Primeiramente gostaria de expressar as minhas condolências aos amigos e familiares dos três jovens que perdemos de maneira fatal nesses últimos dias. Também quero me desculpar às crianças que acabaram, por algum motivo, se machucando durante todos esses eventos. Houve pedidos até mesmo de nossos membros da diretoria sobre cancelarem o torneio para evitar que mais pessoas se machucassem.

Começam burburinhos entre as crianças.

— Porém entramos em um comum acordo e graças à mente brilhante de vossa líder Niel, decidimos apenas reduzir uma prova para que não exijam muito de vocês. A tradição é 5 provas durante o torneio, mas esse ano faremos apenas 4. Mas na contrapartida, trouxe uma pessoa que irá ajudar vocês durante esse período que não haverá provas, para que vocês possam aperfeiçoar suas habilidades, seja de luta, magia, inteligência ou trabalho em equipe. Quero apresentar a todos vocês: Eric Vanderveelt, o oitavo sacerdote das sombras.

Todos ficam impressionados com a decisão, as garotas mais ainda, pois Eric possui uma beleza formidável. Os cochichos entre elas são inevitáveis.

— Meu Deus, que homem é esse?

— Um príncipe negro feito a pincel!

— Onde você ouviu isso?

O rei Orfeu pede para que as crianças diminuam todo aquele burburinho.

Magnus olha e acena com a cabeça pra Kira no meio daquela multidão do outro lado. Ela fica sem graça, e disfarçando, prefere olhar para frente.

— Garotos, por favor! Façam silêncio. Eric se ofereceu para nos ajudar durante esses próximos dias de torneio, afinal de contas precisamos de um sacerdote das sombras. Ele também dará algumas aulas a vocês, então peço que, por favor, respeitem o senhor Vanderveelt. Hoje não haverá provas, mas amanhã Niel aguardará vocês pela manhã para iniciar a penúltima prova do torneio. Obrigado a todos!


 

 

JARDIM DO PRÉDIO- HORAS MAIS TARDE.

 

Eric já reuniu todas as crianças para começar a dar as suas aulas.

— Precisam entender, crianças, que se querem se tornar guerreiros, precisam muito mais que ter o título de um sacerdote. Um sacerdote é um líder, de fato, mas para chegar nesse patamar, vocês precisam aprender a se defender das adversidades. Creio que estamos cansados de apanhar pra espectros, não é? ENTÃO VAMOS!

 

Todos os 29 participantes estão fazendo posicionamento marcial treinando soco.

— Vamos lá, 1, 2, 3 e ataque! 1,2,3 e ataque!

As crianças passam a treinar durante a tarde.

— Vamos lá, vocês podem melhorar esse chute de vocês.

Em seguida, Eric trouxe um saco de areia para as crianças treinarem seus golpes. Ele vê Willa dando uma brilhante performance.

Ao terminar, ela sai e ele conversa com ela.

— Fez muito bem, já havia treinado antes?

— A minha família é artista marcial.

— Perfeito! Continue assim que chegarão longe.

Em outro momento, Eric está ensinando as crianças a manterem a posição de guarda.

— É importante que vocês flexionem bem os joelhos para conseguirem melhor equilíbrio, só não abaixem demais. Isso, crianças, mantenham os cotovelos juntos na altura dos ombros.

Ele observa todas as crianças treinando a sua guarda e percebe que Pablo, da tribo da terra, está um pouco fora da guarda. Ele se aproxima atrás dele e começa a instruí-lo.

— Flexiona um pouco os joelhos.

— Assim?

— Não muito, não muito.

— Desculpa, é que minhas pernas são compridas.

— Tá tudo bem, você consegue.

Pablo tenta manter a sua guarda. Eric segura com as duas mãos na sua cintura ajeitando a sua postura. Pablo olha de lado e fica um pouco envergonhado.

— Assim, agora você trava o tronco, coloca a barriga pra dentro, estufa o peito, cabeça sempre ereta, nunca olhando pra baixo e nem olhando pra cima.

— Ok… Assim?

— Isso, agora me dê aqui esses braços.

Eric ainda atrás de Pablo, segura em seus braços, deixando o jovem cada vez mais envergonhado.

— Levante- os na altura do queixo, junte os cotovelos, e… Perfeito! Essa é a tua guarda na hora de uma luta.

— É… Valeu!

Mais tarde, Eric está ensinando aos seus alunos a sentir toda a essência da magia.

— A magia ancestral nunca é adquirida, lembrem-se disso, nós já nascemos com ela. Concentre a energia de vocês, no interior de vocês, no coração de vocês… Deixe por alguns instantes, a magia dominar vocês sem se deixar descontrolar por ela.

Dessa vez, todos os seus alunos conseguiram, de alguma forma, mostrar um pouco de magia, uns ainda com mais dificuldades que outros, mas dessa vez nenhum deles ficou 100% sem conseguir expelir sua magia.

Frida que até então, não havia conseguido nada, conseguiu formar pequenas fagulhas cinzentas com suas mãos.

Ao terminar a aula, Eric já estava os dispensando, até Eloy interromper:

— Senhor Eric, por que não nos mostra um pouco da sua magia?

— Eu… Eu acho que não será necessário, vocês podem não gostar.

— A gente nunca viu alguém usar uma magia das sombras, por favor.

Ícaro e Frida o incentivam.

— Sim, eu também quero muito ver.

— Por favor, Eric, mostra pra a gente.

— Bom, está bem, mas só um pouco.

Eric movimenta suas mãos e forma uma pequena nuvem negra e nebulosa. Ele a levanta para o céu e amplia essa nuvem negra cobrindo todos eles com a escuridão. Apesar disso, as crianças não ficaram com medo e sim, impressionadas com o que pode fazer um sacerdote das sombras.

Já é noite, Eric e Niel estão caminhando e conversando pelo pátio.

— Confesso que estou adorando ver outra pessoa preta adulta aqui nesse prédio, Eric. Já estava me sentindo solitária.

— Não é pra tanto, Niel. Você é uma mulher de muita autoridade, estou gostando da forma que está liderando essas crianças.

— Falando nisso, você se lembra da Dominika Eiferd, que participou do nosso torneio?

— Vagamente, mas ela não foi a sacerdotisa, foi?

— Não, mas eu soube que ela abriu mão do sacerdócio porque descobriu que estava grávida. Um ano depois toda a tribo da água a conheceu como a mulher que dividiu as águas.

— É verdade, agora eu me lembro dessa história, foi um ano após o nosso torneio, não foi?

— Exatamente. E você nem imagina. O filho dela, Magnus, está participando do torneio esse ano.

— Sério?

— Sim, e depois do que eu vi ontem à noite, ele tem grandes chances de ser tão poderoso quanto a mãe, mas acho que nem ele sabe do potencial que tem.

— Interessante.

— Bom, eu vou indo, preciso me deitar, porque amanhã pela manhã teremos prova. Muito obrigada e seja bem vindo, Eric!

— Disponha, Niel. Eu estou indo deitar daqui a pouco.

Niel vai para a sua ala. Eric está andando para a escadaria principal e vê Pablo ali sentado do lado de fora olhando para a lua.

— Sem sono?

— Ah, me desculpa, senhor, já estou indo pro meu quarto, é que…

— Relaxa, relaxa, pode sentar aí mais um pouco. Posso me assentar ao seu lado?

— Claro, claro que sim.

Eric se assenta ao lado de Pablo.

— A propósito, o meu nome é Pablo, sou da tribo da terra.

— Prazer, Pablo (Cumprimenta-o com as mãos).

— Eu… Posso te fazer uma pergunta?

— Claro.

— Como você aprendeu isso tudo? Tipo, em um dia você conseguiu ensinar pra a gente mais do que 20 anos que passamos em nossas tribos, e você é um sacerdote das sombras, ou foi, ou é, enfim… Mas de alguma forma a nossa magia ficou mais forte com você por perto.

— As pessoas costumam ter um certo preconceito contra a magia das sombras, eles acham que é uma magia que sempre trará mau agouro ou coisa do tipo, mas não… Quando a gente pratica magia para o bem, isso acaba contagiando aqueles que estão por perto. E sobre tudo isso que eu sei, as minhas habilidades entre outras coisas… Sim, eu… Aprendi com uma pessoa muito especial.

— Sério? Foi com o seu pai, a sua mãe? Alguém da sua família?

— Não, não, meus pais são maravilhosos, mas… Não foi com eles.

— Então foi com quem?

— Alguém muito, mas muito especial pra mim, alguém que… Poderia passar anos e anos, eu nunca iria saber agradecer por tudo o que essa pessoa me proporcionou. Eu olho para as estrelas e me lembro, olho para a lua e me lembro, olho para as flores e me lembro de tudo. E foi por isso que eu decidi vim pra cá ajudar vocês, seria algo que… Essa pessoa especial teria feito.

— Por acaso essa pessoa, é… Um amor?

Eric sorri. Olha para o céu, respira fundo e com nostalgia diz:

— Muito mais que isso, Pablo. Muito mais que um amor.

Pablo, igualmente a Eric, olha para o céu estrelado. Os dois ficam apenas observando as estrelas por alguns instantes até que Pablo rompe o silêncio.

— Você acha que algum dia eu também vou ter uma pessoa especial assim como a tua?

— Ei! É claro que sim! Claro que vai, pode demorar uns dois anos, 5 anos, 10 anos, duas semanas, um dia ou… Uma noite.

Pablo olha diretamente para Eric, claramente o seu olhar e sua expressão facial mudam para um jovem nervoso e inseguro.

— Eu, eu vou deitar agora. Até amanhã!

— Espera, já vai?

— Sim, mas… Muito obrigado por essa conversa. Boa noite!

— Boa noite, garoto da terra.


 

Amanhece o dia, todos já estão devidamente posicionados para o local da próxima prova. Niel dá o direcionamento.

— CANDIDATOS! Sejam bem vindos à terceira e penúltima prova do torneio: CUBO AQUÁTICO.

As cortinas se abrem e os candidatos podem observar vários cubos gigantes cheios de água e que no fundo se parece com o cenário de um aquário, com areia, algas, pedras, conchas e outros.

— Como podem ver, existem 6 cubos gigantes de água ali. Essa prova, honestamente, favorecerá os candidatos da água, mas isso não é passaporte carimbado para ir pra final. Será um trabalho em equipe. Como vocês agora estão em 29 participantes, cada cubo terá um grupo de 5 pessoas e um grupo terá 4. A preferência é que cada grupo tenha um candidato de cada tribo. Bom, e para ditar quais são as regras dessa prova, quero chamar aqui a nossa atual sacerdotisa da água Silvya!

Todos eles ficam impressionados com a beleza radiante de Silvya. Eric, gentilmente, a segura em sua mão e a leva até o local da prova.

— Bom dia, queridos! É uma honra estar aqui com vocês, saudações a todos da tribo da água, mas também a todos vocês que estão aqui participando da décima edição do torneio. Bom, não quero me estender muito, então… Vamos para as regras do jogo.

Surge um telão na parte superior acima dos cubos.

— Os cubos funcionam como aquários, no fundo há areia e outras coisas como se fossem o fundo do mar, e também há várias bolinhas alaranjadas enterradas na areia. A tarefa é pegar o máximo de bolinhas dessas e coloca-las dentro de um recipiente que fica acima da superfície do cubo. Vocês poderão revezar da maneira que quiserem sobre quem vai mergulhar para pegar as bolinhas. Cada um de vocês usará uma roupa térmica e máscara de mergulho. Eu sei que nem todos sabem nadar, até por isso eu estou aqui para dar suporte caso necessitem, mas também temos profissionais treinados para interver se for necessário. Quando o tempo acabar, e o grupo que tiver pegado menos de 50 bolinhas, todos os membros do grupo estarão eliminados. E como um grupo terá apenas 4 pessoas, iremos selecionar primeiro ele de forma aleatória. Niel, por gentileza.

— Claro, Silvya. Computador! Iniciar o sorteio!

 

SELECIONAR CANDIDATOS… GRUPO 1.

 

No telão, as crianças observam a foto de cada um deles sendo passadas rapidamente como se estivesse em uma roleta.

A roleta digital para e já temos a primeira pessoa.

CANDIDATA LUCY EVANS, TRIBO DA ÁGUA.

Lucy é a primeira candidata do grupo 1, ela sobe na plataforma correspondente para o primeiro cubo e começa a ser vestida adequadamente para a prova.

A roleta digital volta a girar.

— CANDIDATO LYCARO SEAFRED, TRIBO DO AR.

Lycaro tem 20 anos, cabelo castanho e encaracolado, pele morena. Mais uma vez, a roleta gira.

— CANDIDATO VLADIMIR ANDREAS, TRIBO DA LUZ.

Vladimir se junta aos demais. Agora a roleta sorteará o último candidato.

CANDIDATA FRIDA ALBERS, TRIBO DAS SOMBRAS.

Frida vai na direção deles. Obviamente, Lucy não gostou nada disso, pois sabe que é a sua rival que estará lá.

Niel diz:

— Temos o grupo 1 formado por Lucy Evans, da tribo da água, Lycaro Seafred, da tribo do ar, Vladimir Andreas, da tribo da luz e Frida Albers, da tribo das sombras. Vamos continuar com a seleção.

A seleção continua e os grupos foram se formando. Os heróis ficaram quase todos separados.

GRUPO 1: Lucy, Frida, Lycaro e Vladimir.

GRUPO 2: Kira, Pablo, Willa, Tin e Villy.

GRUPO 3: Fie, Magnus, Ícaro, Collin e um candidato da tribo do ar.

GRUPO 4: Munique, Eloy, Glaus, Ali e um candidato da tribo da terra.

GRUPO 5: Um candidato da tribo do fogo, um candidato da tribo da terra, uma candidata da tribo da água, um da luz e um do trovão.

GRUPO 6: Um candidato da tribo do fogo, outra da tribo da luz, outra da tribo da água, um da tribo do ar e outro da tribo da terra.

Todos os grupos já estão formados e adequadamente vestidos e equipados, e agora eles se preparam para entrar nos cubos.

Eles são colocados de maneira cuidadosa lá dentro acompanhados de profissionais. Após alguns minutos de preparação, todos os 6 grupos já estão prontos para que a prova comece. Sylvia se prepara para dar o recado.

— Bem, queridos… Antes de mais nada, parabéns a todos vocês que chegaram até aqui, mas infelizmente somente 14 de vocês avançarão para a grande final. Só haverá vagas para duas pessoas de cada tribo para a prova final, o que significa que se houver mais pessoas da mesma tribo que passem nessa prova, terão que partir para a fase eliminatória.

Os garotos ouvem tudo de dentro dos cubos e ficam chocados, significa que vencer essa prova não é o bastante, eles precisam torcer para conseguir uma vaga para a final.

— Bem, desejo do fundo do meu coração que vocês tenham toda a sorte do mundo. Podemos começar!

O computador mostra no telão a imagem dos 6 cubos. E uma contagem.

— GRUPOS FORMADOS, TOTAL DE PARTICIPANTES: 29, TEMPO NA TELA: 5 MINUTOS. INICIANDO EM 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1…

 

JOGO AUTORIZADO!


 

OUÇAM JÁ O NOVO SINGLE DE VANIDIAN: “CORAÇÃO VALENTE”

 

 

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  • Achei muito bom saber um pouco mais sobre a história do Magnus (o que foi aquele beijo entre ele e a Kira???) e fiquei curiosa sobre quem pode estar deixando os espectros entrarem no local. Ótimo capítulo.

  • Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

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