Metido naquele quarto branco, estéril, enfadonho. Graças a Deus meu tédio foi quebrado pela visita de Carolina, minha assistente. Lara permanecia todo tempo ao meu lado. Estavam todos desolados com meu afastamento e minha condição de saúde. No intuito de amenizar a situação, tentavam me animar com ofertas e gracejos fúteis:
“Professor, o senhor precisa de alguma coisa? Gostaria de um suco, um cobertor? Não tenha receio de nos pedir nada.”
Aquilo me irritava. Precisava de alguém que desse minha vida de volta. Contudo, o desejo de prosseguir com o experimento permanecia forte, tão forte que eu nem notava a fraqueza. Aguardei que Carolina deixasse o quarto para que eu pudesse falar com André. Tentei recapitular e reorganizar o que havíamos descoberto:
— Acho melhor fazermos um balanço do que descobrimos até agora. Tem ideia do que está acontecendo?
– Se tenho?
– Estamos conversando com um embrião que possui uma inteligência que, pelo visto, é mais avançada do que a minha e a sua juntas. Não sei quanto a você, mas as informações me conduzem ao limiar de um novo enfoque existencial. E isso me coloca em crise. Sinto-me impotente, intelectualmente falando, pois não tenho como questionar um fenômeno desse tipo. Ele é real!
— Tenho certeza que não estamos delirando. De acordo com nossos registros, professor, fizemos contato com uma consciência inteligente e interativa em fase gestacional. Isso contraria completamente o conceito de vida como a conhecemos. Quanto à crise existencial, sei bem o que o senhor sente. Só penso nisso.
Lara prestava atenção, calada. André continuou:
— O fato de estarmos nos comunicando com uma consciência, em base biológica incompleta, nos impede de duvidar do que vimos e ouvimos… O fenômeno contraria todos os cânones acadêmicos que conhecemos!
— Prometo dar prosseguimento ao experimento, assim que sair daqui. Sim. É isso. Amanhã já estarei em casa. André, por favor, mantenha o equipamento devidamente ajustado para o próximo encontro com o embrião. E você, querida? O que acha de tudo isso? — perguntei a Lara, segurando sua mão fria. Lara delicadamente disse:
— Vocês falam, observam, analisam, registram tudo com interesse científico. Ambos interessados em justificar essas informações para o mundo acadêmico. Vocês se preocupam com o fenômeno. Eu me preocupo com o meu bebê, no seu momento mais delicado e vulnerável. Ele nos mostra algo muito maior que um fenômeno. Trata-se de um ser que nos ensina algo sobre a diversidade da manifestação da vida e sua grandiosidade em todas as suas formas. Mesmo que tudo isso contrarie a ciência ou qualquer outro conceito.
Ela foi dura. Nós nos sentimos reduzidos diante de seu ponto de vista de mãe.
— Acho que tem razão, querida. O mundo não está preparado para isso. Os interesses científicos se sobrepõem à vida, equacionando-a como se ela fosse uma coisa. — Complementei.
Ficamos em silêncio tentando elaborar, cada um à sua maneira, tudo o que havia sido dito. Finalmente, concluí:
— Bem, então, assim que sair daqui realizaremos mais um experimento. Manteremos tudo em segredo até chegar a hora certa.