Era finalzinho da tarde quando cheguei à casa. Estranhei a ausência de Lara. Liguei para seu celular. Caixa postal. Senti uma espécie de inquietação, um frio premonitório, sem explicação.

“Coisa estranha!”, pensei. Um pressentimento de não sei o quê. “Cansaço talvez.” Decidi então desviar a atenção para outra coisa. Desempacotei o aparelho que faria a transcodificarão neuronal e o coloquei sobre a mesa de jantar.

De repente, tudo ficou confuso. A vertigem voltou forte, juntamente com náusea e aquela sensação de cansaço. Despenquei na poltrona. Respiração aflita. Com dificuldade, fui ao banheiro. Olhei para o espelho, examinei os olhos, assim como fazem os médicos para verificar se o paciente está com anemia. A mucosa interna da pálpebra inferior de ambos estava branca. “Muito trabalho, má alimentação, estresse. É isso!”.

Ouvi alguém entrar. Pelo chacoalhar das chaves era Lara.

— Querido, já chegou? Onde está?

Apareci na sala pálido, escorando-me na porta. As pernas fraquejaram.

— Nossa! O que houve?

— Estou péssimo. — Respondi com dificuldade.

— Vamos para o pronto-socorro agora mesmo! Eu dirijo.

Lara aflitivamente se apressou. Enfim, chegamos ao pronto-socorro. Na mesma hora, o médico solicitou um hemograma completo. O resultado saiu depois de algumas horas. Então, ele nos chamou:

— Dr. Naggy, tenho uma notícia desagradável.

— (…)

— Pois bem: o hemograma apresenta alterações. A quantidade de plaquetas está alta. Temos que realizar mais exames. Suspeito que o senhor seja portador de leucemia mieloide aguda. Se der positivo, iniciaremos um tratamento o mais rápido possível.

Perdi o chão. Um buraco foi aberto bem debaixo de mim.

— Doutor, e qual é o prognóstico? — Lara arrancara a pergunta da minha boca.

— Difícil prever. O diagnóstico ainda não está fechado, mas levando em conta as alterações na contagem dos componentes sanguíneos, esse elevadíssimo número de leucócitos e a invasão de células imaturas no sistema, o prognóstico não é bom. Mas tenha fé. Tudo dará certo.

— Tenho consciência de que a coisa é grave. Seja lá como for…

Fui interrompido pela brusca saída de Lara da sala. Fui atrás dela. Chorava no hall de entrada do hospital. Aproximei devagar e a abracei.

— Vamos fazer o que for possível, não é mesmo? — Disse eu, na tentativa de nos dar uma esperança.

— Eu é que deveria te consolar. Invertemos os papéis — disse ela a conter as lágrimas. — Justo hoje que eu tinha uma notícia tão maravilhosa para te dar. Felicidade demais… por isso cheguei mais tarde em casa.

— Que notícia? Pois diga! Quem sabe ela ajude a equilibrar a situação. — Na verdade, sentia que minha vida tinha terminado naquele instante.

— Também estive no médico hoje. Ele pediu alguns exames.

— Médico? Está doente? Que médico?

— Nem sei como lhe dizer isso. Era para ser um dia tão feliz…

— Diga! — Insisti. Quem sabe Lara ajudasse a dissipar o terrível inferno no qual me encontrava?

— Estou grávida.

De um extremo ao outro, do inferno ao céu. Não sabia se morria de vez ou se explodia de alegria. Foram os sentimentos mais conflitantes que alguém poderia sentir em tão pouco tempo. No entanto, aos poucos, dei-me conta de que aquela situação não podia corresponder aos fatos. Uma nuvem escura me envolveu e fez os sentimentos oscilarem. Aí veio a raiva. O sorriso desmontou. Outro sentimento se apoderou de mim: Traição.

— Espera aí: co-como assim? O que você disse? Grávida? Como pode ser?

— Não sei, querido. Sei lá! A natureza encontra seus meios.

— Se não te conhecesse bem, pediria um teste de DNA. Aliás, a esta altura não sei se realmente te conheço.

— Acho que esse não é o momento para piadas. Sim, vou encarar como piada. E de muito mau gosto. Trate de pedir desculpas. — E Lara continuou a emendar um assunto no outro. — Temos agora de nos organizar para iniciar seu tratamento. Tudo dará certo. Estamos juntos na saúde e na doença, lembra? Esse foi nosso juramento. Venceremos juntos… — Não suportei mais e a interrompi.

— De quanto tempo?

— Quanto tempo o quê?

— De quanto tempo está grávida?

— Dois meses.

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  • Caraca…surpresas!! Adorei o capítulo. O mundo de Naggy parece estar desmoronando…ansioso pelos próximos capítulos!

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