O ACORDO

C1. DESCAMPADO. MOTOR-HOME. EXTERIOR. NOITE.

Plano geral. Valdivea sentado em uma cadeira de praia, atirado. Christian e Liége de joelhos diante dele. Alguns homens que trabalham para Valdivea estão em volta.

VALDIVEA —— (p/ Christian) Você caga no meu quintal e acha que vai ficar por isso mesmo?

CHRISTIAN —— Eu nunca faria uma coisa desse tipo com você, mano! Você sabe disso! Eu estava voltando pra //

VALDIVEA —— (corta) Pode me poupar desses descupinhas esfarrapadas. Não vou acreditar em nada do que você me disser! … Agora, uma coisa que me faz coçar a cabeça, que me deixa curioso, hum… (refere-se a Liége) quem é essa daí?

CHRISTIAN —— Li//

LIÉGE —— (forte) Porque não faz essa pergunta pra mim?

VALDIVEA —— Hu… (risinho) Imponderada!

Valdivea levanta-se da cadeira, vai até ela.

VALDIVEA —— Então vamos lá… Quem é você?

LIÉGE —— Meu nome é Liége. E sinceramente, esse cirquinho melodramático aqui não tá com nada. Vamos ser diretos. O que você pretende fazer com a gente, hum? Matar, torturar, entregar pra polícia…?

CHRISTIAN —— Liége, vo//

LIÉGE —— (rápida) não, cala boca! Deixa eu falar. (ao Valdivea) Porque se você não tiver nada melhor pra fazer, eu tenho, e não posso ficar perdendo meu tempo com esse papinho de “você cagou no meu quintal, e bla bla bla…” se for continuar com isso, pelo amor de Deus, dá logo um tiro na minha cabeça. (olha bem nos olhos dele) O que você quer?

Valdivea faz um sinal, um de seus homens joga uma pistola pra ele, ele encosta bem no rosto de Liége. Ele chega bem perto do rosto de Liége para falar em seu ouvido.

VALDIVEA —— Eu quero sua alma…

LIÉGE —— … Não prefere dinheiro?

VALDIVEA —— (olhar sério) Qual é a tua?

LIÉGE —— Podemos falar de negócios ou você pode atirar os nossos corpos em uma vala? Você não sabe os reais motivos de tudo isso estar acontecendo, você não sabe quem era aquele corpo que deixamos no seu freezer, você não sabe de nada… Mas quando souber, acredito que seus olhos vão de transformar em dois grandes cifrões! 

VALDIVEA —— Incrível o que as pessoas dizem pra sobreviver. E você é boa nisso. Foi um prazer te conhecer!

Valdivea engatilha a pistola e aponta para Liége. Christian fecha os olhos e olha para outro lado.

LIÉGE —— Cinco milhões!

Valdivea hesita em atirar.

LIÉGE —— Você prefere me matar, e matar junto a oportunidade única de ganhar cinco milhões de reais? Ora, vamos… Você nunca viu tanto dinheiro assim, viu?

VALDIVEA —— (aguçou sua curiosidade) Você vai tirar cinco milhões de onde, minha linda? Do cu?

LIÉGE —— Eu estou metida em coisa boa, coisa grande. Desvio e lavagem de dinheiro. Coisa que a gente jamais imagina… aquele cara que morreu estava no nosso caminho, estávamos a um passo que dar a cartada final. Cinco milhões era a parte dele, ele resolveu nos trair. Nada mais justo que você ficar com a parte dele. Pensa se isso não vale a pena… pensa se isso não é o negócio da China… Eu tenho certeza que o meu pessoal vai entender… Eu lido com pessoas do seu calibre o tempo todo. Eu vou te colocar no esquema apenas por teu ajudado a se livrar do corpo, por livrar a minha vida e a vida desse bosta aí. Você só tem quem confiar… Eu não posso dizer o nome de quem está envolvido, mas posso garantir que cinco milhões estarão em sua conta até final de semana…

VALDIVEA —— Vivo.

LIÉGE —— O quê?

VALDIVEA —— Eu quero o dinheiro vivo. Até o final de semana. Sendo mentira ou não, eu quero ver como você vai se sair dessa.

LIÉGE —— (esconde nervosismo) É claro, tudo bem. Estamos liberados então? Eu prometo que até o fi//

VALDIVEA —— (corta) Christian fica até você voltar com a grana.

LIÉGE —— Quê? Não… Ele tem que ir comigo, ele tem que me ajudar//

VALDIVEA —— Ele fica como garantia.

LIÉGE —— Mas eu//

VALDIVEA —— Se você não me trouxer o dinheiro até o final de semana… ele morre, garanto que não vai ser uma morte nada agradável. E eu vou sair a sua caça, até encontrar… E quando encontrar: vou arrancar seus olhos e enfiar uma faca no meio da sua barriga e erguer até o meio dos seus peitos só pra ver você estrebuchar no chão!

Liége e Christian se entreolham como fundo musical de Valdivea começando com um risinho até se transformar em uma gargalhada.

ABERTURA

NARRADOR —— O acordo.

C2. DESCAMPADO. MOTOR-HOME. EXTERIOR. NOITE.

Diante de Valdivea, agora Liége já está de pé (liberada), e Christian continua de joelhos.

CHRISTIAN —— Por favor, eu não posso ficar. Eu dou muito trabalho, eu faço muito barulho. Você não vai gos//

VALDIVEA —— Por que o pavor? Aqui, você vai ter uma estadia de luxo! Duvido você reclamar.

LIÉGE —— Infelizmente, eu odeio dizer, mas eu vou precisar desse idiota.

VLADIVEA —— É mesmo? E por quê? Qual é a utilidade de um inútil?

LIÉGE —— É que… é que… (balançando os braços pra Christian ajudar ela na mentira)

CHRISTIAN —— É que nós temos que terminar de fazer mais um serviço. A gente tá junto, veio aqui pra desovar o corpo de vez, e depois íamos fazer outro serviço, mais importante.

VALDIVEA —— É mesmo? O que?

LIÉGE —— Vai por mim, quanto menos dessa história o senhor Valdivea, estiver por fora melhor. No seu lugar eu apenas me concentraria na grana que vou ganhar.  

VALDIVEA —— Uh… uhum. Pois não há nada no mundo que possa fazer com que eu mude de ideia! Ele fica.

Liége respira fundo, abaixa a cabeça, como se estivesse tomando coragem, levanta a cabeça. Com um sorrisinho malicioso:

LIÉGE —— Nada mesmo?

VALDIVEA —— Uh… (risinho) É, nada é uma palavra muito forte.

LIÉGE —— (tom saliente) a gente pode rever esses conceitos em particular, o que acha?

VALDIVEA —— É, uma ideia um tanto… uh!… irresistível. Venha até meu escritório, vamos rever esses conceitos…

Valdivea e Liége vão indo em direção do motor-home.

VALDIVEA —— Meninos, fiquem de olho nesse pilantra, eu vou ficar de olho nessa dona. (p; Liége) Não repara a bagunça. Primeiro as damas.

LIÉGE —— Obrigada.

Ela entra; antes dele entrar ele dá um ruivo, tentando imitar um lobo. Bem idiota. Christian continua tenso e nem acreditando no que Liége está fazendo por ele.

C3. MOTOR-HOME. INTERIOR. NOITE.

Lugar é apertado, porém tem tudo que uma casa deveria ter. Valdivea se atira no sofá. Liége de pé analisa todo o ambiente em volta. Ele pega um baseado acende. Fumar e oferece.

VALDIVEA —— quer?

Liége recusa.

VALDIVEA —— Que está disposta a fazer pelo seu amiguinho, Liége?

LIÉGE —— (mudar assunto) Seu nome é diferente, achei legal. Valdivea.

VALDIVEA —— (fumar) Meus pais eram argentinos. Minha mãe veio pra essa terra fétida gravida de mim; (tosse) por isso esse nome. Direto de nossos hermanos.

LIÉGE —— Entendi. Achei bem legal…

VALDIVEA —— E aí, você vai ficar enrolando ou vai cair logo de boca no meu pau? A pressa é sua…

LIÉGE —— Nossa, que precoce. Calma, estamos apenas esquentando.

VALDIVEA —— Olha, ganhar cinco milhões e uma trepada é de se duvidar.

Valdivea tira uma arma que estava na sua cintura e põe do lado para intimidar. Liége entende o recado.

LIÉGE —— Ok… então, deixa eu logo tirar essa dúvida da sua cabeça.

Liége fica de joelhos e cortamos para próxima cena.

C4. DESCAMPADO. MOTOR-HOME. EXTERNA. NOITE.

Um plano geral de longe do motor-home. Apenas ouvimos os ruivos de Valdivea.

C5. DESCAMPADO. MOTOR-HOME. EXTERNO. NOITE.

Liége sai do motor-home se arrumando, ajeitando a blusa. Christian estava esperando do lado de fora a acompanha indo embora.

LIÉGE —— Vamos embora.

CHRISTIAN —— Liége, eu realmente não sei como te agradecer.

LIÉGE —— Só cala a boca e vamos embora.

Valdivea tira a cabeça pra fora do motor-home.

VALDIVEA —— Eu adorei o seu poder de convencimento! Espero negociar com você mais vezes, Liége Longaray!

Liége para instantaneamente! Christian continua caminhando.

CHRISTIAN —— Que foi? Vamos?

LIÉGE —— Ele sabe meu nome. Não, ele… ele sabe meu nome.

CHRISTIAN —— Liége…

Liége volta para falar com Valdivea.

LIÉGE —— Como você sabe meu nome?

VALDIVEA —— Trabalha como gerente numa loja do shopping de Miripituba. Mora com marido advogado Giovanni Longaray e dois filhos na rua Pedro Moreira, nº112… Esses meus meninos fazem o trabalho completo. Assim, como você fez hoje. (pisca) Até o final de semana eu quero o meu dinheiro. E por hoje é só… vou dormir como um passarinho. (risinho)

Valdivea bate a porta com força. Christian pega Liége pelo braço e a tira dali.

C6. CASA LONGARAY. CORREDOR. INT. NOITE.

Caminhando pelo corredor, madrugada, Thailyz. Zanzando pela casa, saindo de seu quarto e indo para o andar de baixo da casa.

C7. CASA LONGARAY. SALA. INT. NOITE.

Sequencia da cena anterior, Thailyz desce as escadas, esfrega o olho, com sono. E vai em direção da cozinha.

C8. CASA LONGARAY. COZINHA. INT. NOITE.

Primeira coisa que Thailyz nota ao entrar no ambiente é que a luz está acesa. Estranha isso.

THAILYZ —— Luz acessa? Tem alguém acordado?

Ninguém na cozinha. Ela constata. Porém, em cima da mesa tem um copo de saco, sanduiche pela metade, manteiga. Ela se aproxima da mesa. Olha em volta.

THAILYZ —— Comeram, e deixaram as coisas todas aqui encima da mesa. Só pode ter sido o Aleff. Amanhã…//

Um barulho de alguma coisa metálica caindo no chão assusta Thailyz.

THAILYZ —— Ai, gente… que isso? Quem taí?

Thailyz se aproxima da área de lavar.

THAILYZ —— Aleff, se você me assustar eu vou te matar!

Thailyz põe a cabeça pra fora, pra ver se vê alguém, e um vulto passa por trás dela, ela se assusta fecha os olhos e dá um grito, esbarrando em alguns talheres que tem ali perto, consequentemente caem no chão fazendo barulho. Ela abre os olhos. Ninguém, apenas as coisas no chão, e na mesa. Ela está assustada, ofegante.

THAILYZ —— Aleff, seu…

Thailyz sai correndo da cozinha.

C9. CASA LONGARAY. QUARTO ALEFF. INT. NOITE.

Tudo escuro. Aleff dormindo. Entrar Thailyz, brava. Acende a luz. E vai falar com ele.

THAILYZ —— Aleff, seu filho da mãe! Você quase me mata do coração! Você sabe muito bem que eu não gosto dessas coisas, seu idiota!

ALEFF —— Do que cê tá falando?

THAILYZ —— Não se faça de leitão pra mamar deitado! Você achou mesmo que ia me enganar lá em baixo? Eu sei que foi você, idiota!

ALEFF —— Thailyz, me deixa dormir! Eu  estava tendo o melhor sono que não tenho a dias, por causa do que me aconteceu, e você vem me dizer que eu estava te assustando, tá maluca?

THAILYZ —— Mas se não foi você..? Quem foi? Fantasma?

ALEFF —— Você é ridícula. Sai do meu quarto!

THAILYZ —— Deve ter sido o pai. A mamãe não tem cara de fazer essas coisas…

ALEFF —— Tá bom, então foi um fantasma. A loira da cozinha assombrada!

THAILYZ —— Como é que você sabe que foi na cozinha? Hã?!

ALEFF —— Você se levanta pra assaltar a geladeira toda noite a onde? No banheiro?

THAILYZ —— Eu não tô ficando louca, eu sei o que eu vi!

ALEFF —— Você não tá ficando louca! Você É louca! E CAI FORA, me deixa dormir em paz!

Aleff se cobre.

THAILYZ —— Aleff, eu vou dormir com você hoje! Eu vou…

ALEFF —— Nem pensar! Pode saindo…

THAILYZ —— Vou sim! Eu vou lá pegar minhas coisas, eu vou dormir aqui no chão mesmo. Eu tenho medo dessas coisas, eu vou dormir aqui.

Thailyz sai correndo do quarto.

ALEFF —— Aff…

Corte descontínuo:

Thailyz já instalada deitada ao lado da cama de Aleff, no chão.

ALEFF —— Não vai roncar!

THAILYZ —— Idiota! Eu não ronco!

ALEFF —— Ah não? Então quem é que estaciona o caminhão de 16 marchas ali no teu quarto toda noite?

THAILYZ —— Para, idiota! Eu não ronco nada! Eu nunca ouvi.

ALEFF —— Porque você não foi ao quarto da mãe e do pai?

THAILYZ —— O pai acorda cedo. A mãe anda muito nervosa, cansada. Deve ser menopausa. Hoje ela chorou na minha frente do nada. Eu não entendi. Deixa ela descansar.

C10. CARRO LIÉGE. EXTERIOR. NOITE.

Liége dirigindo atordoado por Valdivea saber quase tudo sobre ela. Christian nervoso também.    

LIÉGE —— Eu não acredito que isso tá acontecendo, não acredito. Isso não era pra estar acontecendo, droga!!

CHRISTIAN —— Tá bom, tá bom! Olha aí, não vai bater esse carro, se não vamos ficar ainda pior.

LIÉGE —— Vontade de enfiar esse carro num poste e acabar com tudo isso de vez!

CHRISTIAN —— Não viaja! Depois de tudo que a gente fez pra sobreviver, desperdiçar a vida assim seria no mínimo ridículo!

LIÉGE —— A gente fez? Que filho da puta! A gente fez? Eu fiz! Eu fiz! Você só fez chorar feito uma menininha!

CHRISTIAN —— Não é verdade, eu//

LIÉGE —— não! Por favor, cala a boca! Cala essa maldita boca, se não eu não sei do que eu sou capaz!

CHRISTIAN —— Você tinha que ter inventado aquela história absurda de cinco milhões? Tinha?

LIÉGE —— Se não fosse isso essa hora tua boca estaria cheia de formiga, imbecil! Você é um mal-agradecido do caralho!

CHRISTIAN —— Que feio, uma mulher tão bonita com a boca tão suja!

LIÉGE —— Se você vir com gracinha pra cima pra cima de mim de novo eu juro, eu juro por Deus, Christian que eu te mato e faço parecer um acidente!

CHRISTIAN —— Foi mal, eu vou parar. Vamos falar de coisa séria. Como vamos nos livrar do Valdivea?

LIÉGE —— Vamos pagar os cinco milhões.

CHRISTIAN —— (riso forçado) É. Agora, quem tá fazendo gracinha é você. Como assim? Você é milionária por acaso e eu não sabia?

LIÉGE —— O Iuri invadido a minha casa atrás de uma coisa muito valiosa. E eu tenho quase certeza que essa coisa vale muito mais que cinco milhões, estou certa?

Christian hesita, vira o rosto.

LIÉGE —— Você mais do que ninguém sabe que eu não nasci ontem, Christian. Quando eu chutei cinco milhões para o Valdivea, foi o valor mais baixo que aquela joia lá em casa poderia valer.

CHRISTIAN —— (caiu a ficha) Você fez tudo de caso pensado, não é sua cadela?!

LIÉGE —— Eu pensei em dar um cambão nele. Em fugir, e em nem aparecer. Mas ele me conhece, ele sabe da minha família. Ele sabe onde eu moro. Vamos ter que pagar.

CHRISTIAN —— Você deu um tiro no escuro porque eu não sei se o colar ainda tá lá. Eu… receio de que ele não esteja mais lá.

LIÉGE —— Por isso como não saiu da minha vida ainda? Porque você está com medinho que aquela bosta não esteja mais lá? … Panaca! Vou dar um jeito nisso.

C11. CASA LONGARAY. COZINHA. INTERIOR. DIA.

Liége tomando café com seus filhos Thailyz e Aleff. Vai entrar Giovanni com uma terrível dor de cabeça.

LIÉGE —— Fantasma, Thay? Ah, por favor…

THAILYZ —— Tô falando. Eu vi, aqui mesmo. Passou, que nem um vulto.

ALEFF —— Deve ter visto a própria sombra. Afinal, você tem uma sombra grande.

THAILYZ —— Cala boca, idiota!

GIOVANNI —— (entrando com a mão na cabeça) Nossa, que enxaqueca terrível. Parece que eu tomei uma paulada na cabeça.

LIÉGE —— Hum, toma um remedinho. Isso daí é porque você anda trabalhando demais, tem que ver isso.

THAILYZ —— Falando em dor de cabeça, eu vou levar o café-da-manhã da vó.

LIÉGE —— Não! Deixa que eu levo.

THAILYZ —— opa! A vontade!

GIOVANNI —— Cadê o café?

ALEFF —— Pai, a Thailyz viu assombração ontem.

GIOVANNI —— Ué! Como assim? Ela entrou no quarto da tua avó? (risadas) ai, minha cabeça.

C12. CASA LONGARAY. QUARTO IANE. INT. DIA.

Iane tomando o suco, põe na bandeja. Liége passou as informações da noite seguinte.

IANE —— Eu não tô acreditando que você fez isso. Mas você tem um fogo nessa xereca que é impressionante! Você transou com um qualquer, Liége, pra salvar a pele do cara que você mais odeia no mundo!?

LIÉGE —— É, mais ou menos. Ah, o cara era bonitão.

IANE —— Então quer dizer que se ele fosse feio, hoje, o teu genro estava fodido? Ah, vá cagar, Liége! Você sempre nessa fissura por macho. Coisa triste.

LIÉGE —— Vamos falar do que interessa, sobre a dívida que tenho com ele.

IANE —— Já não deu pra ele? Que mais ele quer.

LIÉGE —— Grana, muita grana!

IANE —— (começa a ficar fraca) É… e você, e você já começou a mexer… seus pauzinhos pra conseguir o…

LIÉGE —— Já, desde agora.

IANE —— Tá me dando uma bobeira, um cansaço fora do comum, como se eu estivesse… que tinha no suco? … Você, você me drogou? Você botou um sossega-leão no suco..? Por…? ai…

LIÉGE —— (ajuda-a se escorar) Aqui… isso, se escora aqui. Em breve você vai saber, quietinha, aqui… bom.

Iane apaga, Liége procura nas gavetas alguns remédios, acha uma cartela, lê.

LIÉGE —— Esse. Perfeito!

Liége vai até o banheiro, tira da cartela alguns comprimidos e despeja no ralo da pia, e abre a torneira. Volta até sua mãe, coloca a cartela de comprimidos vazia do lado, volta para o banheiro, desliga a torneira, se olha no espelho. Volta para sua mãe, pega a bandeja e joga no chão e começa a gritar escandalosamente!

LIÉGE —— Mããããeeeee!! Não!!! Giovanni!! Giovanni!! Pelo amor de Deus!! Mãe, porque você fez isso! Socorro, Giovanni!

Giovanni, Aleff e Thailyz entram no quarto correndo. Deparam-se com Liége tentando acordar Iane.

GIOVANNI —— Que isso?! Que tá acontecendo?

LIÉGE —— Olha aqui, Giovanni! Minha mãe tomou essa cartela inteira, ela tá tentando se matar!

THAILYZ —— Vó, minha avó! Gente!

ALEFF —— Tenta acordar ela!

GIOVANNI —— Vamos levar pro hospital, agora! Vão fazer uma lavagem! Vamos!

LIÉGE —— Meu Deus, meu Deus do céu! Mãezinha, porque você fez isso?! Por quê?

Giovanni pega Iane no colo, eles vão saindo do quarto.

GIOVANNI —— Pega as coisas dela!

C13. CASA LONGARAY. SALA. INTERIOR. DIA.

Giovanni carregando Iane, desce as escadas com cuidado, Aleff e Thailyz auxiliando. Liége vem correndo e tropeça na escada, cai em dois degraus.

THAILYZ —— Mãe! Cuidado!

LIÉGE —— Ai, eu tô nervosa… Minha pressão tá baixando! Eu preciso me acalmar! Giovanni, leva minha mãe, ajudem ele!  Eu preciso me acalmar!

C14. CASA LONGARAY. GARAGEM. INT. DIA.

Giovanni põe Iane no carro com a ajuda dos filhos.

ALEFF —— Mãe você tá bem?

LIÉGE —— Não! Mas eu me recupero! Minha mãe precisa de vocês agora gente! Entrar no carro, agora, vai me fazer mal… Eu me acalmo, tomo uma água e vou atrás de vocês… (chorando) Por favor, salvem minha mãe! Eu não posso conviver com essa culpa, por favor…

GIOVANNI —— Vai ficar tudo bem! Se acalma! Vamos voando pro hospital! Fica aí, e se acalma!

LIÉGE —— Vão, vão, vão…!

Giovanni e os filhos saem “salvar” a vida de Iane. Liége olha para eles indo chorando, eles saem da garagem, ela se recompõe.

C15. CASA LONAGARY. SALA. INTERIOR. DIA.

Liége vem da garagem, tranquila e serena. Entrar vindo da porta da frente Christian.

LIÉGE —— Pronto. Tirei todo mundo de casa. Era isso que você queria?

CHRISTIAN —— Precisava tudo isso?

LIÉGE —— Você não conhece minha mãe, ela nunca sairia dessa casa por livre e espontânea vontade. Chega de papo. Cadê o troço?

C16. QUARTO IANE. INTERIOR. DIA.

CHRISTIAN —— Aqui!

Liége olha em volta, e não consegue imaginar onde estaria a joia.

LIÉGE —— E cadê?

CHRISTIAN —— Ah… tô tenso.

LIÉGE —— O quê? Por quê?

CHRISTIAN —— é que… parece mentira. Todos esses anos, eu sonhando com esse momento, e finalmente ele chegou.

LIÉGE —— Eu não sei se você sabe, Christian, mas nós estamos correndo contra o tempo. Depois que você pegar essa porcaria, vender, e pagar aquele filho da puta você vai sumir da minha vida pra sempre! E finalmente minha vida vai ser o que era antes!

CHRISTIAN —— Que vida? Vida de merda que você tinha.

LIÉGE —— Muita mais merda é a vida que eu estou tendo com você hoje! Agora, chega! Chega de baitolagem e me fala longo onde tá essa porra!

CHRISTIAN —— Não vou falar.

LIÉGE —— Christian! (vai até a gaveta e pega uma tesoura) Pelo amor que você tem a suas bolas, você vai falar ou então considere-se um homem castrado!

CHRISTIAN —— Tá bom! Tá bom! Eu vou pegar, deixa eu ver se ela tá ali ou não.

Christian sobe encima da cama, de pé, ele vai até a grade do tubo de ventilação.

LIÉGE —— Ah, nunca pensei.

Christian consegue tirar a grade.

CHRISTIAN —— Cruze os dedos.

Música de suspense sobe para climatizar o momento de tensão em que Christian enfia a mão onde escondeu o colar a 10 anos atrás.

LIÉGE —— Fala logo! A joia está aí?

Christian faz um mistério.

 

FIM DESTE EPISÓDIO

A Widcyber está devidamente autorizada pelo autor(a) para publicar este conteúdo. Não copie ou distribua conteúdos originais sem obter os direitos, plágio é crime.

Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

Leia mais Histórias

>
Rolar para o topo