Jonathan
J.J sabia que teria problemas na segunda de manhã para passar seu uniforme da Escola Harper. E lá estava ele lutando contra o ferro de passar roupas enquanto sua irmã corria pelo pequeno apartamento.
– O que houve, agora? – perguntou J.J.
– Não acho a droga do meu sapato! Já era pra eu estar indo para a entrevista! – gritou Eleonor.
Eleonor, 23 anos e desempregada na grande Nova York. Ela tinha apenas 18 quando eles perderam seus pais em um grave acidente de carro, sobrando apenas o pequeno apartamento no Bronx. Ela estava em sua quinta entrevista de emprego do mês, e as contas não paravam de chegar.
– Passe logo esse uniforme, a conta de luz vai vir altíssima. – ela sentou-se no sofá para encaixar o sapato em seu pé.
– Ei! Não fale como se eu não fizesse a minha parte. – J. J resmungou. – Fico montando caixas de pizza a tarde inteira.
– Eu sei. – ela levantou e se olhou no espelho do corredor que levava da sala até os dois pequenos quartos. – Mas montar caixas não ajuda muito.
J.J respirou fundo e continuou lutando para passar seu uniforme, Eleonor o observou e disfarçou uma risada. Ela se despediu e saiu, deixando o irmão sozinho.
– Droga de escola. – ele murmurou. – Pra que fazer os alunos vestir uma droga de terno desse?
O celular dele tocou, era uma mensagem de Park, seu melhor amigo.
Park : Não reclame da Harper. Você deu sorte.
J.J : ???
Park : A minha escola é horrível. To pensando em levar uma faca escondido pra me defender de qualquer coisa. É sério.
Em outubro a antiga de J.J. e Park foi demolida por uma empresa, até hoje anônima, para a construção de um prédio. Assim, deixou vários alunos da periferia de Nova York sem estudo, então a prefeitura, para se “desculpar” do ocorrido, decidiu sortear 3 alunos para uma bolsa integral na Harper. J.J. recebeu a bolsa junto com uma menina e outro garoto, o trombadinha do Sam West.
J.J : Fizeram eu comprar a droga do uniforme. É a porra de um terno.
Park : Pelo menos tem que usar um uniforme, não uma arma na mochila.
J.J olhou o relógio na parede do corredor. 8 horas. 8h30 era o horário de sua primeira aula.
– Droga!
Ele desligou o ferro da tomada e começou a se vestir correndo, o terno e a calça ainda amassados.
O metrô estava absurdamente cheio naquela manhã. J.J odiava andar de metrô, mas era isso ou o transito caótico até o centro da cidade. Em 40 minutos, ele desembarcou na estação e correu pelas ruas até a escola. Eram 3 quarteirões até a enorme escadaria de mármore que levava até o portão da Harper.
– Quem é você? – quando J.J chegou ao portão, atrasado e suando horrores, um o segurança segurou-o pelas dobras do terno. – Onde vai?
– Sou aluno. Primeiro dia.
Ele o olhou de cima a baixo, J.J o reconhecia de algum lugar. Provavelmente de algum bar do Bronx.
– Nome. – o segurança o soltou.
– Jonathan Barnes.
O segurança surgiu com um pequeno tablet de dentro do seu terno enorme, ele passou o dedo pela tela incansavelmente e finalmente parou.
– Um dos bolsistas. – ele olhou para J.J
– É.
– Entra. – o segurança liberou a passagem.
J.J suspirou e caminhou em direção ao grande pátio.
Ao longo do caminho até a sala, J.J atraiu diversos olhares e ele tentou desvendar cada um deles. Os alunos da Harper pareciam ser tudo o que J.J já esperava : riquinhos estúpidos, uns diferentes e outros extremamente iguais. Ele também acabou encontrando os dois outros bolsistas de sua antiga escola, Maria e Sam.
– Ei, J.J! – gritou Sam, às suas costar.
J.J virou-se para olhar Sam, que estava acompanhado de Maria. Ela, como sempre, estava extremamente linda.
– Fala aí, pessoal. – J.J forçou um sorriso. – Somos os sortudos da vez, né?
– Sortudos. – Maria riu com ironia.
– Ah qual é! – Sam agarrou a cabeça de J.J e começou a esfregar seu punho no couro cabeludo do garoto. – Vai dizer que isso aqui não é o paraíso?!
– Er….não. – J.J conseguiu se libertar dos braços de Sam.
– Só vejo gente extremamente estúpida. – Maria murmurou. – Souberam que os irmãos Evans estudam aqui?
- J e Sam se entreolharam, quem diabos eram esses irmãos Evans?
– Vocês não sabem? Eles são filhos do maior empresário atualmente de Wall Street! A família mais famosa da internet? – Maria gesticulou com as mãos. – Eles são…
– Ricos e brancos como todos aqui? – J.J disse, rindo. – Não os conheço, mas deve ter um monte iguais a eles aqui.
– Não. – Maria revirou os olhos. – Eles são diferentes.
– Tá, Maria, beleza…deixando esse assunto de lado…J.J, viu as gostosas daqui? – Sam cutucou o braço de J.J. – Aquela Marina Perez é gata demais!
Maria suspirou e olhou para seu relógio de pulso.
– Vamos. Estamos atrasados!
Os três correram para a sala de Álgebra I, e como sempre, atraindo mais olhares. Ao abrirem a porta, a sala estava lotada de alunos e o professor dizia algo, mas foi interrompido.
– Olá. – o professor, alto e de cabelos grisalhos, interrompeu sua fala e observou os três parados na porta da sala. – Devem ser os alunos novos.
– Sim. – disse Maria, a turma inteira os observava. Uma pessoa chamou sua atenção, os cabelos castanhos e repletos de mechas loiras que ela sempre invejava no Instagram, os olhos azuis iguais duas piscinas no verão. Jade Evans estava em sua turma, e estava a encarando.
– Nomes? – o professor foi em direção a eles. – Ah, sou Professor Hugh Bock. Serei o professor de Álgebra desse ano.
– Sam.
– Maria. Maria Santiago.
– Jonathan. – J.J tentava respirar.
– Sejam bem-vindos, sentem-se, por favor.
Parecia difícil caminhar com todos aqueles olhares os observando friamente, como se fossem insetos repugnantes. J.J sentou-se na primeira cadeira que viu e finalmente conseguiu respirar, ele olhou ao seu redor e viu Maria em uma cadeira no outro lado da sala, e Sam estava há duas fileiras dele.
– Como eu dizendo…não esperem um ano tranquilo. Pelo menos na minha matéria. – continuou Bock. – Teremos muitas aulas, pesquisas, trabalhos e…
Em uníssono, vários celulares começaram a tocar seus toque de notificação.O Professor Bock franziu a testa e abriu a boca para argumentar o barulho, mas todos os alunos começaram a falar entre si, todos com expressões terríveis no rosto.
– O que está acontecendo? Silêncio!
O celular de J.J também havia notificado a entrada de uma mensagem. Com toda a confusão dentro da sala, ele acabou se esquecendo que também estava participando de tudo aquilo. Ele pegou o celular e leu a mensagem:
SEJAM BEM-VINDOS AO NOVO ANO NA ESCOLA HARPER
SEJAM BEM-VINDOS A UM NOVO COMEÇO
SEJAM BEM-VINDOS A UMA NOVA ERA
SEJAM BEM-VINDOS AO MELHOR ANO DE SUAS VIDAS
SEJAM BEM-VINDOS AO PIOR ANO DE SUAS VIDAS
SEJAM BEM-VINDOS AO ÚLTIMO ANO DE SUAS VIDAS
J.J arregalou os olhos e olhou ao redor, todos estavam falando ao mesmo tempo enquanto o professor tentava argumentar com a turma. Maria estava correndo em direção a J.J:
– O que é isso?
– Eu não sei! E parece que todo mundo recebeu…
– O que isso quer dizer?! – uma menina ao lado dos dois gritou.
– Se ACALMEM! – gritou Bock.
E assim, as luzes de toda a escola se apagaram, deixando todos na escuridão. E assim, vieram os gritos de desespero.
Harry
As arquibancadas do imenso campo de futebol da Escola Harper era o lugar favorito de Harry desde seu primeiro dia. O silencio e a privacidade eram reconfortantes, lá ele podia fumar seu cigarro sem ninguém perturbar.
E também era um dos poucos momentos que ele conseguia privacidade durante o dia. Sua mãe não conseguia deixa-lo sozinho nem por um momento quando ele chegava em casa, e na escola seus amigos do futebol sempre enchiam sua paciência.
– Por onde você andou? – Austin Evans, seu melhor amigo, perguntou em um dia, no ano passado, que Harry tinha sumido por mais de 3 horas. – Te procuramos por mais de 2 horas. Você perdeu a aula de Literatura.
– Hmm – Harry pensou em uma resposta. – Biblioteca.
Austin não tinha engolido aquela resposta, mas também não se importou muito com a mentira do amigo. Logo os assuntos de garotas e treinos voltaram e Harry não precisou se preocupar com a perturbação do amigo. Tudo aquilo não fazia mais sentido para Harry, ele estava cansado de toda aquela pressão. E também estava confuso.
Confuso de uma forma que ele temia em procurar respostas. Pois ele já sabia, ou talvez não, qual seria a conclusão daquilo tudo.
– Como vai a Bridgit? – perguntou Austin, um dia, nas férias.
Bridgit era a namorada, na verdade a ex-namorada de Harry. Os dois se conheceram no baile de inverno, no qual a bebida o ajudou bastante a levar uma conversa com ela e no final de tudo, os dois transarem no banco traseiro do carro do pai de Harry. Logo, depois de dois meses ou três, Harry e Bridgit estavam namorando. Ele gostava muito dela, mas não via futuro. E a confusão em sua cabeça embaralhava ainda mais a situação com Bridgit.
– Estamos…- Harry gaguejou. – Mal. Sei lá, tô de saco cheio dela.
– Sério? – riu Austin. – Já tava na hora de sairmos pra pegar umas gatas mesmo. Quando que vai terminar com ela?
– Não sei.
E na mesma semana, Harry terminou com Bridgit por mensagem. Foi horrível para ela, ele não se sentiu confortável mas foi uma alívio e tanto.
Bridgit : O que houve, benzinho?
Harry : Não me chame assim.
Bridgit : Vc nunca reclamou que eu te chamasse de benzinho. O que houve Harry?
Harry : Quero terminar com você.
Simples e direto. E assim era Harry, ele não conseguia medir as palavras. Foram horas de desespero de Bridgit e Harry tentando se explicar, e no final, ela xingou ele de todos os nomes possíveis e finalizaram a conversa. Hoje, ela não olha mais na cara dele e passa direto pelo corredor.
– Meu Deus. – riu Austin, após o término dos dois. – Você é muito frio.
– Eu sou assim. – Harry riu. – Me desculpa, eu não consigo fingir um sentimento que eu não tenho!
– Ela vai te odiar pelo resto da sua vida.
– Ela é louca. – Harry disse. – Ela guardou um ursinho decepado no meu armário.
Os dois caíram na gargalhada nesse dia. Agora, com a volta as aulas, Harry sentia saudades das férias quando ele tinha todo o tempo para conversar com seus amigos e fugir para algum lugar sem ser perturbado.
Seu celular vibrou, era a mensagem que todos tinham recebido. Ele franziu a testa e deu um longo trago em seu cigarro.
– Que merda. – ele resmungou e digitou uma mensagem para Austin.
Harry : O que é essa mensagem idiota? Alguma corrente?
Austin : Algum idiota está querendo assustar a gente.
Harry : Babacas
Austin : Onde vc está, seu bostinha?
Harry : Banheiro kkk
– Não vai poder se esconder por muito tempo. – uma voz surgiu ao seu lado. Harry arregalou os olhos e virou-se. Era uma jovem de cabelos cor púrpura, com maquiagem pesada em seus olhos e um piercing no septo.
– Quem é você?
– Eu sabia que você não ia me reconhecer. Nunca reconhecem ninguém abaixo da cadeia alimentar de vocês né? – a garota riu, colocando um baseado no canto do lábio. – Mas não pode se esconder aqui pra sempre.
– Olha…
– Eu venho te observado aqui há muito tempo, Cooper.
– O que quer dizer? – Harry estava começando a se zangar. – Quem é você? Nunca te vi aqui.
A jovem de cabelos púrpura se aproximou, seu uniforme estava repleto de bottoms com caveiras e pequenos cortes na manga do terno.
– Maggie. Sou membro do clube de cinema. Lembra? Filmei o time da Harper durante o ano passado para o documentário.
– O documentário que nunca saiu do computador de vocês. – riu Harry. – O que você quer?
– Nada. – ela riu. – Só vim ser simpática. Você chegou aqui nas arquibancadas e eu já estava aqui.
– O quê? – ele cruzou os bracos. – Como…
– Não fico dando sopa, idiota. Eu fico bem escondida pra fumar meu baseado. – ela aproximou o baseado de Harry, ele negou. – Ok. Então, uma pergunta que eu sempre quis te fazer…
– Como eu não sentia o cheiro de baseado… – Harry indagou.
– Perguntas que você nunca vai ter respostas. – ela gargalhou. – O que um membro dos Harper Lions faz, se isolando de todos seus amigos atletas? Qual o motivo?
Harry franziu a testa. Ele mal conhecia a garota e não precisava dar satisfações sobre sua ida a arquibancada.
– Não te interessa.
– Mas eu cheguei aqui bem antes de você. Você saiu invadindo meu espaço! – ela abriu os braços e riu.
Harry suspirou, olhou Maggie de cima a baixo e virou de costas para ir embora daquele lugar. Ela bateu os pés e cruzou os braços.
– Qual é, Cooper! Preciso das suas respostas! Eu sei que você também precisa…apesar de já saber e não ter coragem de assumir para si mesmo! – ela gritou.
Jade
– Precisam descobrir quem está por trás disso. – disse Jade, aos prantos, ao diretor Bradley Hopper. – É um absurdo esse tal de cyberbullying causar todo esse burburinho!
– Sra. Evans…tudo isso não passa de uma brincadeira idiota de boas vindas. – Diretor Hopper murmurou, olhando para sua secretária, Madame Jaqueline. – Não se preocupe, iremos buscar os responsáveis e puni-los.
Ela secou as lágrimas e se retirou da sala do diretor. Parecia que ela tinha conseguido o que queria, mobilizar o diretor para que buscassem o responsável pela mensagem.
– O que querem dizer com isso, Jade? – Austin perguntou.
– Não sei. Só sei que se estão tramando algo, somos os principais alvos.
– Por quê?
– Somos os irmãos mais populares dessa merda de escola, Austin! – ela balançou os braços. – Nem os irmãos Hopper são tão populares como nós.
– É óbvio, não haveria família Hopper sem a família Evans. Lembra que praticamente fundamos essa escola?
Os dois estavam caminhando pelo corredor lotado, todos estavam nervosos e comentando sobre a mensagem anônima que receberam mais cedo.
– Sim. E por isso que somos grandes alvos para esse tal anônimo. Quem você acha que é?
– Algum babaca rejeitado. – Austin suspirou. – Vou descobrir quem é. E o que pretende com isso.
– Não podemos esperar pelo primeiro passo desse idiota. – Jade segurou o braço do irmão e encarou-o. – Sabe que…
– Não precisa falar. – ele a olhou friamente. – Eu já entendi.
Jade voltou seu olhar para o corredor e uma onda de irritação cresceu em seu peito, ela não acreditava que um babaca anônimo com uma simples mensagem conseguiu parar a escola no primeiro dia de aula.
Emily Hopper : Não entendi muito bem a mensagem.
Jade : Não deu pra entender muita coisa.
Bridgit : Acho que é só um trote qualquer, gente. Tem muito disso em outras escolas.
Jade : Sei.
O celular de Jade estava pipocando de mensagens, havia mensagens de suas amigas cheerleaders (Emily e Bridgit), do pessoal do clube de Fé em Cristo, de seguidores do Instagram que souberam da mensagem aos alunos da Harper, era de tudo.
– Que droga. – Jade suspirou. – O que estão planejando?
– Calma, lindeza. – uma voz surgiu atrás dela.
Ela se esqueceu que estava no meio do corredor. Ela olhou para trás e era um dos alunos novos.
– Sam. – ele estendeu as mãos.
– Olá. – ela abriu um meio sorriso e saiu andando. Ele foi atrás dela.
– Poxa, sei que você é da família Evans…- ela sentiu que havia ensaiado aquilo, ela o encarou com a cara fechada. – sou grande fã do sucesso da sua família. E do seu…
– Obrigada. Quem é você? – ela continuou encarando o garoto.
– Eu…já disse…é…Sam West.
– Ah sim. Obrigada pela admiração, Sam. – ela virou-se e continuou andando.
Sam
– Eu não acredito que você falou com Jade Evans! – Maria gritou, quando estavam saindo para o almoço. – Você…
– Ela é da nossa turma. Quis fazer amizade. – Sam vasculho sua sacola que guardava seu almoço e percebeu que havia apenas um sanduiche. – Droga.
– Esqueceu do seu almoço? – J.J riu, ele estava começando a se acostumar com os novos colegas.
– Foda-se o almoço! Como que ela é? – Maria sacudiu os braços imensos de Sam.
– Normal. Meio antipática. – ele debochou. – Mas vai ser minha.
J.J e Maria encararam Sam, ele abriu o sanduiche e deu uma grande mordida.
– Eu…- Maria começou a rir. – É sério?
Sam apertou os olhos em um sorriso largo e fez positivo com o dedo. Maria estava perplexa e encarou J.J.
– Sabe que é quase impossível né? – ela disse.
– Eu gosto de desafios.
Sam olhou ao seu redor, no refeitório, e encontrou Jade almoçando com suas amigas Emily e Bridgit. Só pelo que ele escutou sobre sua família, o interesse por ela cresceu e muito desde que ele a conheceu. Parecia meio impossível naquele momento, mas Sam tinha uma nova motivação que traria grandes benefícios para sua vida : namorar com Jade Evans.