CENA 01. MANSÃO DE LILIAN. ESCRITÓRIO. INT. DIA.

Continuação imediata do capítulo anterior.

LILIAN
Na certa, ele quis te prejudicar, só que viu a briga da Mônica com a Romina e se intrometeu… mas por quê?

MIGUEL
É o que mais me deixa intrigado.

LILIAN
De repente, era o que tinha que acontecer. O segurança ligou pra Melita e avisou da briga, mas a gente não queria te preocupar durante o pronunciamento.

MIGUEL
Então vocês já sabiam?

LILIAN
Já sim, por isso preferimos assistir da sala de reuniões. Aliás, teu discurso foi ótimo, sabia? O que tem de colegas mandando mensagens te elogiando no meu zap…

MIGUEL
Agradece a eles por mim.

LILIAN
Já fiz.

Melita bate à porta e entra.

MELITA
O café está na mesa.

MIGUEL
Nós já vamos.

MELITA
Lilian, a tua mãe está aí e vai tomar café com a gente.

LILIAN
Ela trouxe as malas?

MELITA
Disse que vai trazer mais à tardinha.

CORTA PARA

CENA 02. APARTAMENTO DE RAÚLA. SALA. INT. DIA.

Haila entra na sala, descascando uma banana. Quando ela está pra comer, o celular de Raúla toca.

RAÚLA (O.S.)
Atende pra mim?

HAILA
Atendo. (pega o celular e atende) Alô? (tempo) Não, é a cunhada. (tempo; desliga) Eu, hein!?

RAÚLA (entra)
Quem era?

HAILA
Não sei. Desligou na minha cara. Mas a voz não era estranha.

RAÚLA
Que estranho! (pega o celular com Haila) Será que é o…?

HAILA
Tá pensando em quê?

RAÚLA
Peraí.

CAM na tela do celular. Raúla salva o número de quem ligou com o nome de Estranho. CAM em Haila, apreensiva.

CORTA PARA

CENA 03. APARTAMENTO DE LILIAN. SALA. INT. DIA.

Milton mostra a sala para Mário, que observa os detalhes. Este vê a janela e se aproxima dela. Olha para fora. Milton se coloca ao lado de Mário.

MILTON
O que achou da vista?

MÁRIO
Inspiradora. Sabe que sou escritor, não é?

MILTON
Sei, sim. A dona da casa tem vários livros seus.

MÁRIO
A Lilian ou a Laura?

MILTON
Pensando bem, acho que as duas. Foram elas que te falaram que iam alugar a casa, não foram?

MÁRIO
Sim, a Lilian. Queria ficar num hotel até achar um lugar pra mim, mas ela disse que ia deixar o apartamento vazio, então perguntei se ela queria alugar pra mim.

MILTON
Vocês se conhecem há quanto tempo?

MÁRIO
Há uns anos. Foi no lançamento de um livro meu. Tinha começado a namorar o Jairo. Como é que ele está?

MILTON
Nem te conto. Só digo que eles terminaram e que ela arrumou um homem bem melhor.

MÁRIO
Então não foi com ele que se casou?

MILTON
Não tem acompanhado as notícias? Saiu pra tudo que é lado. Ela está com o filho do Ruggero Fontana. Ele morreu e obrigou o Miguel a se casar com ela.

MÁRIO
Só tenho pensado no livro novo e naquele maldito vírus.

MILTON
Nem me fala. Todo dia morrendo gente só aqui na capital.

MÁRIO
Só se fala nisso. Bem… antes a gente sair são e salvo, não é.

MILTON
Concordo plenamente.

CORTA PARA

CENA 04. APARTAMENTO DE RAÚLA. SALA. INT. DIA.

Ninguém na sala. O celular de Raúla, que está em cima da mesinha de canto, toca. Raúla entra e atende.

RAÚLA
Alô?

VOZ MISTERIOSA (V.O., telefone)
Alô, Raúla?

=== SONOPLASTIA: SUSPENSE ===

RAÚLA
Quem é?

VOZ MISTERIOSA (V.O., telefone)
O homem da tua vida. Há quanto tempo não nos comunicamos! Hoje resolvi perder a timidez e me encontrar com você, meu amor.

RAÚLA (medo)
Sabe o que é? Já tô namorando outro.

VOZ MISTERIOSA (V.O., telefone)
Oh! Não faz assim comigo. Me dá uma chance.

RAÚLA
Por favor, não me liga mais/

VOZ MISTERIOSA (V.O., telefone)
Me encontra no endereço que vou passar pelo zap. Se não aparecer, te busco pessoalmente aí. Vem sozinha e não conta pra ninguém, nem mesmo pra songa-monga que tá aí com você.

RAÚLA
Eu vou chamar a po/ (som de ligação desligada)

Raúla desliga o celular e fica apavorada. Haila entra com dois envelopes e se junta a Raúla.

HAILA
Que foi, Rah?

RAÚLA
Ele ligou de novo.

HAILA
E aí? Quem era?

RAÚLA
O admirador secreto. Ele quer se encontrar comigo.

HAILA
Você não vai, né?

RAÚLA
Não sei.

HAILA
É arriscado. Se quiser, eu vou com você.

RAÚLA
Tenho que ir sozinha.

HAILA
Isso, nem pensar! (pega o celular)

RAÚLA
O que você vai fazer?

HAILA
Ligar pro Rê. (espera) Alô? Sou eu, amor. (tempo) Aconteceu, sim.

SOM de notificação no celular de Raúla. Ela vê a mensagem do admirador secreto com o endereço para o encontro. Na foto de perfil, a foto da figura da morte (com capuz preto). A conversa de Haila continua em OFF. Raúla tremendo de medo.

=== SONOPLASTIA OFF ===

CORTA PARA

CENA 05. DELEGACIA. SALA DA DELEGADA. INT. DIA.

Yoná e Mônica prestam depoimento à delegada. Dois policiais e um escrivão também na sala.

YONÁ
Foi quando ela me chamou e disse que o Ciro tava no hospital.

MÔNICA
Ele salvou a minha vida… Era minha obrigação salvar a dele também.

DELEGADA
E vocês sabem onde mora a estrangeira.

MÔNICA
Não. Só sei que ela vive indo lá no apartamento do César… quer dizer, é do Breno, mas o César mora lá.

YONÁ
E eu só vi essa moça uma vez, lá na mansão do Ruggero.

DELEGADA
Está bem. Qualquer aparição dessa Romina, me avisem imediatamente. Vou fazer uma investigação sobre o caso. A começar pelo segurança. Preciso saber o que ele fez com a arma do crime.

YONÁ
Se me permite, eu queria comentar outra coisa que vi.

DELEGADA
Sobre o crime?

YONÁ
Não. É sobre uma conversa que vi entre a Isolda Calderón e um enfermeiro.

DELEGADA
Isolda, a jornalista? Ela também estava com vocês?

YONÁ
Eu estava com ela no apartamento quando a Mônica me chamou, e fomos juntas pro hospital. Ela e a Mônica discutiram, e ela saiu. Logo depois, saí pra pegar um ar e vi a conversa estranha. Pode ser paranoia minha, mas ela entregou uma coisa pro homem, e parecia um bolo de dinheiro.

Uma policial bate à porta e entra.

POLICIAL
Com licença, doutora. (fala ao ouvido) Agora há pouco. Com licença.

DELEGADA
Por favor, fique. (a Yoná e Mônica) Vocês estão sabendo que a vítima veio a óbito?

MÔNICA
Como assim?

YONÁ
Ele estava vivo até a última vez que/

DELEGADA
Foi há meia hora, mais ou menos. Ligaram do hospital. (a Yoná) O que você falou faz sentido. (a Mônica) Adivinha quem estava com ele na hora da morte?

MÔNICA
Não pode ser a Isolda… ou foi?

DELEGADA
Ele teve um ataque cardíaco bem na hora que ela visitou. Uma enfermeira disse que um colega tinha aplicado um medicamento no soro naquela hora.

CORTA RÁPIDO PARA

CENA 06. DELEGACIA. CORREDOR. INT. DIA.

=== SONOPLASTIA OFF ===

Mônica sai da sala abraçada a Yoná, que chora. Elas se sentam no banco.

YONÁ
Eu não queria/

MÔNICA
Nem eu. O importante é que você contou o que viu.

YONÁ
Ela tava me usando pra acabar com o Ciro.

MÔNICA
Ela me usou também. Como fui burra de acreditar nela!

YONÁ
Ele podia ser o que era, mas eu amava aquele homem.

MÔNICA
Eu também tinha um tesão nele, mesmo a gente tendo se encontrado tão pouco.

YONÁ
Resta a gente esperar que a polícia/

MÔNICA
Eu não vou esperar nada. Você vem comigo?

YONÁ
Aonde?

MÔNICA
Tem uma pessoa que pode acabar com a desgraçada da Isolda.

Mônica pega o celular.

CORTA PARA

CENA 07. APARTAMENTO DE NARA. SALA. INT. DIA.

=== SONOPLASTIA EM FADE ===

Nara fala ao celular. Luma aguarda sentada no sofá.

NARA
Eu estou numa reunião/ (tempo) É urgente? (tempo; chocada) Meu Deus do Céu! (tempo) Não, vou estar te esperando. Sabe onde fica? (tempo) Tá bom. Te aguardo. (desliga)

LUMA
Aconteceu alguma coisa?

NARA
O advogado do Ruggero morreu no hospital. (se senta) Inclusive foi ele que me passou o teu nome dia desse.

LUMA
Ele me procurou há um ano e meio. Contei tudo pra ele, mas preferi deixar quieto. Aí ele apareceu de novo, depois que perdeu o irmão, e me convenceu a te procurar. Mas acabou ele chegando na frente e contando pro seu marido.

NARA
Ex-marido. Por sorte, foi bem na hora que eu ia conversar com o Sérgio. (pausa) Então você confirma a história de a Isolda ter matado o Wilson?

LUMA
Confirmo sim. Eu ouvi a confissão dela. Foi no banheiro lá da Sonho. Ela estava nervosa, agitada. Por sorte não desconfiou de eu estar lá.

NARA
E por que não procurou a polícia, a imprensa?

LUMA
Era a palavra dela contra a minha. E todo mundo ia acreditar nela, né?

NARA
Você sabe se existe alguma prova mais concreta que incrimine a Isolda?

LUMA
Deixa eu pensar… Não me lembro bem, mas ela disse ter matado o Wilson com o revólver que o Ruggero escondia no cofre do banco, alguma coisa assim.

NARA
Droga! Ele tá morto. Se a gente pudesse… Claro! O Miguel pode tirar essa história a limpo. Vamos fazer o seguinte: a moça vai vir aqui conversar comigo, e depois a gente vai pra mansão. (pega o celular e disca o número) Alô? (tempo) Oi, Melita! Sou eu, Nara Veloso. (tempo) Não, com ela não. Queria falar com o Miguel. (tempo) Obrigada. (tempo) Oi, Miguel! Desculpa te atrapalhar. Sei que tem muito compromisso, mas é que eu precisava de um imenso favor seu. (tempo) Caso de polícia. (tempo) Não é isso, não. Não se preocupe. É uma outra história e tem a ver com seu pai. (tempo) Você vem aqui? Melhor ainda. Te agradeço. (tempo) Assim que terminar aí. (tempo) Deus te pegue. (desliga; a Luma) Se eu te contar a história desse homem…

LUMA
Miguel di Capri? Fiquei sabendo. Li no jornal.

NARA
A Lilian disse que é um ser humano incrível, e eu acredito. Conta mais. Como era a relação entre a Isolda, o Ruggero e o Wilson.

Luma fala em OFF.

CORTA PARA

CENA 08. CASA DE NORMA. SALA. INT. DIA.

Zu e Guilherme namoram no sofá da sala. Eles se beijam e sorriem um para o outro. Norma entra com dois sacos de compras.

NORMA
Filho, cheguei. (vê Zu) Quem é você?

GUILHERME
Minha namorada. (ele e Zu se levantam) Zuleide.

ZU
Me chama de Zu.

NORMA
Tudo bom, Zu? Meu filho tem muito bom gosto, então você já me agradou.

ZU
Ah, obrigada!

NORMA
Peraí… acho que tô lembrando de você de algum lugar… Você não é amiga daquela sonsa da Lilian?

GUILHERME (censura)
Mãe!

NORMA
Filho, eu sei separar as coisas. (a Zu) Quer um conselho? Fica longe dela e perto do meu filho.

ZU
Pode deixar, dona Norma.

NORMA
Dona não, que eu não sou velha. Só Norma, por favor. Vou deixar as coisas lá dentro. Fiquem à vontade.

Norma vai para a cozinha. Guilherme e Zu se sentam novamente.

GUILHERME
Não liga pra minha mãe, não. Às vezes ela se esquece de colocar o filtro na língua. (ambos riem)

ZU
Tô vacinada contra isso. (selinho em Guilherme) Qual é o signo dela, hein?!

CORTA PARA

CENA 09. APARTAMENTO DE NARA. SALA. INT. DIA.

Mônica, Nara e Luma sentadas pelo sofá. Mônica, desconfortável, conta o que aconteceu para as outras.

MÔNICA
Foi isso. A Yoná pode confirmar tudo que eu disse.

NARA
Se a polícia provar que foi mesmo a Isolda que matou o Ciro e o Miguel nos ajudar com o revólver do pai dele…

LUMA
Ela tá acabada pra sempre.

MÔNICA
E eu achando que ela era minha amiga.

NARA
Eu também. Descobrir que ela é uma descarada… Nem sei o que pensar.

Tocam a campainha. Nara se levanta e abre a porta para Miguel.

MIGUEL
Como vai, Nara?

NARA
Vou indo. Obrigada por vir. Senta.

MIGUEL
Com licença. (vê Mônica) Você aqui?

NARA
Conhece a Mônica?

MIGUEL
É a namorada do César.

NARA
E essa é Veluma de Castro, modelo amiga da Raúla.

LUMA
Que sonho poder estar com o dono da maior emissora do Brasil!

NARA
Vamos ao que interessa. Miguel, a gente está conversando sobre a Isolda Calderón. (pausa) Estamos desconfiadas de que ela possa estar envolvida em alguns crimes, e você pode ajudar.

MIGUEL
Ajudar em quê?

NARA
O seu pai teria um cofre no banco Araras do Brasil e lá guardaria um revólver.

MIGUEL
Pra falar a verdade, não tive tempo de me inteirar de todos os bens… São inúmeros, e ainda estou estudando com o advogado. Posso priorizar essa arte com ele e, qualquer coisa, te aviso. Se eu puder mesmo ajudar, vai ser um prazer. Mas o que esse revólver teria a ver com Isolda?

NARA
Ela foi amante do seu pai por um tempo e teria usado essa arma pra matar um homem. Aí o Ruggero descobriu e escondeu no cofre. As impressões digitais dele e da Isolda ainda devem estar na arma.

MÔNICA
Eles devem ter lavado, né? Não seriam tão burros/

NARA
Nem tudo sai quando lava. Por isso tenho esperança.

MIGUEL
Se depender de mim, a gente esclarece esse crime.

NARA
Esse e os outros.

LUMA
Deus queira!

PLANO GERAL. Eles seguem a conversa em OFF.

CORTA PARA

CENA 10. APARTAMENTO DE BRENO. SALA. INT. DIA.

Breno abre a porta para Romina, que entra desesperada. Breno fecha a porta e a segue até o meio da sala.

BRENO
Romina?

ROMINA
Tchéssar está?

BRENO
Não, ele foi pra… pra funerária.

ROMINA
Fune o quê?

BRENO
O homem que você esfaqueou tá morto. Não resistiu. O que deu em você pra querer matar a Mônica.

ROMINA
Ieu queria matar a vagabunda, cortar a cara dêla.

BRENO
Conseguiu matar o pobre homem. Some daqui, antes que a polícia te pegue. Melhor ainda: volta pra Romênia.

ROMINA
Como? Non tem avion!

BRENO
Então vai pra onde quiser, mas não aparece mais pro César.

ROMINA (ri)
Por que non? Tá com ciúme. Você gôsta dele. Confêssa.

BRENO
Não seja ridícula!

César entra e vê Romina.

=== SONOPLASTIA: TENSÃO ===

CÉSAR
Você ainda tem a cara de pau de aparecer aqui?

ROMINA (agarra César)
Não vai se livrar de mim tão fácil. Vou acabar com a Mônica e depois com aquêla outra. Você é meu, Tchéssar!

CÉSAR
Se não sair daqui agora, eu te entrego pra polícia.

ROMINA (dá um tapa em César)
Se fizer isso, ieu te mato. Você é meu, só meu.

César pega Romina, com força, pelo braço e a arrasta pra entrada. Abre a porta e a joga pra fora. Bate a porta com violência e se junta a Romina.

CÉSAR
Se ela aparecer de novo/

ROMINA (O.S., grita)
Eu estou com o canivete cheio de sangue.

BRENO
Ouviu isso?

CÉSAR
O segurança deve ter devolvido pra ela.

ROMINA (O.S., grita)
Vou furar todos vocês com iela.

BRENO
Não é melhor vocês tomarem cuidado daqui pra frente?

CÉSAR
Já sei o que vou fazer. (pega o telefone de mesa) Vou mandar internar essa maluca. Tem o telefone do sanatório?

BRENO
Tenho lá dentro.

Breno sai pelo corredor. César nervoso.

CORTA PARA

CENA 11. MANSÃO DE LILIAN. FRENTE. EXT. NOITE.

Anoitece. Imagem da fachada da mansão.

CORTA PARA

CENA 12. MANSÃO DE LILIAN. ESCRITÓRIO. INT. NOITE.

=== SONOPLASTIA OFF ===

Miguel está sentado à mesa com Lilian e Jacques.

MIGUEL
Interessante. Então existe mesmo esse cofre?

JACQUES
Que inclusive era administrado pessoalmente pelo doutor Ruggero. Outros bens eram cuidados pelo Ciro, o ex-advogado, mas esse nunca saiu das mãos de seu pai.

MIGUEL
Pelo que consta no testamento, ele será repassado pra mim?

JACQUES
Exatamente. Inclusive a administração está em seu nome.

MIGUEL
Onde fica esse cofre?

JACQUES
Aqui mesmo em São Paulo, na agência do Jardins.

MIGUEL
Preciso agendar com o gerente? Como faço?

JACQUES
Você quer algum interesse especial pelo que tem lá? O seu pai só abria em condições especiais.

MIGUEL
É este o caso. Mas não quero ir sozinho. Você e o delegado de polícia me acompanham. Existe um crime dentro do cofre, e eu não vou admitir.

LILIAN
Crime? Que história é essa?

MIGUEL
Fui à casa da Nara. Uma testemunha, a Luma, jura de pés juntos que a Isolda matou um homem com uma arma do meu pai e ele escondeu lá.

LILIAN
Não tava sabendo de nada.

MIGUEL
Não dessa parte, mas a vítima você conhecia, sim: era o irmão do Sérgio.

LILIAN
Eu jurava que a Isolda podia ser qualquer coisa, menos assassina.

JACQUES
As pessoas os surpreendem nos momentos mais inesperados.

ROMINA (O.S., grita)
Quero falar com êssa vaca. Vai lá, chama iela.

=== SONOPLASTIA: TENSÃO ===

MELITA (O.S.)
Você não é bem-vinda nessa casa.

MIGUEL
Que gritaria é essa?

LILIAN
Pelo sotaque, é a Romina.

JACQUES
Fiquem aqui, que eu resolvo.

MIGUEL
De jeito nenhum. Vou com você.

Miguel e Jacques se levantam e saem do escritório. Lilian chocada.

CORTA PARA

CENA 13. MANSÃO DE LILIAN. SALA. INT. NOITE.

Romina pega o canivete ensanguentado da bolsa e ameaça Melita, que fica com medo.

MELITA
Guarda isso.

ROMINA
Sai da minha frente, ou eu côrto você todinha.

MIGUEL (entra com Jacques)
O que está acontecendo na minha casa?

ROMINA
Vim acabar com Lilian. Iela se esfrêga em omul meu. (grita) Aparece, piranha!

MIGUEL (grita)
Arnaldo, chama a polícia!

MELITA
Pode deixar, que eu chamo.

Romina se vira para Melita e a ameaça com o canivete. Romina pega o telefone fixo e põe no ouvido.

CORTA RÁPIDO PARA

CENA 14. MANSÃO DE LILIAN. ESCRITÓRIO. INT. NOITE.

Lilian fala com César pelo telefone, nervosa.

LILIAN
César, ela tá aqui. O Miguel e a Melita estão com ela.

CÉSAR
Fica calma, que eu vou levar a ambulância pra aí.

CORTA RÁPIDO PARA

CENA 15. MANSÃO DE LILIAN. SALA. INT. NOITE.

Romina desliga o telefone furiosa.

ROMINA
Iela ligou pro Tchéssar! (a Melita) Vai pra lá! (Melita se junta a Miguel e Jacques) Agora, sim, vai ser interessante. Onde iela está?

MELITA
Não te interessa!

ROMINA (grita)
Fala!

MIGUEL
No escritório. Logo ali pelo corredor.

Romina olhada Melita com ódio e anda pela porta em notar que Miguel se aproxima a passos curtos e de lado. Quanto Romina está pra sair pela porta, Miguel a ataca e luta com ela pela arma. Romina tenta atingi-lo, mas ele lhe aplica um golpe no braço, fazendo-a soltar o canivete. Romina empurra Miguel, mas Jacques é mais rápido e pega a arma. Miguel segura a romena novamente. Melita, em choque, se coloca por trás de Jacques.

JACQUES
Vou lá dentro colocar isso num saco. (sai)

MIGUEL
Acabou, mocinha!

ROMINA
Me solta! Acha que non sei me defender?

MIGUEL
Vai ficar bem quietinha.

Romina tenta derrubar Miguel com golpe, mas ele a derruba com um golpe na canela e a domina novamente.

ROMINA
Covarde! Batedor de mulher!

MELITA
Como é que aprendeu isso tudo?

MIGUEL
Na rua. É lá que a gente aprende a se defender todos os dias de gente como essa aqui. Chama a Lilian, por favor.

ROMINA
Chama, que acabo com iela.

MIGUEL
E você, fica bem quietinha!

Melita dá a volta por Miguel e Romina e sai pelo corredor. Arnaldo entra pela porta.

ARNALDO
Doutor Miguel, tem uma ambulância/

MIGUEL
Manda entrar.

ARNALDO
Sim, doutor.

Arnaldo sai chocado com o que viu. Melita e Lilian entram na sala.

ROMINA
É com você que quero falar.

MELITA (a Lilian)
Falar, uma ova. Queria te meter um canivete.

LILIAN (a Romina)
A troco de quê? Do César? Ele, você já perdeu.

ROMINA
Nunca! Iele é meu! Você e Mônica vão se arrepender de ter aparecido na minha frente.

Romina se debate, mas Miguel a segura firme. César e Arnaldo entram com três enfermeiros.

MIGUEL
Que bom que chegaram!

LILIAN
Nossa! Vieram rápido.

ROMINA (grita)
Tchéssar, não deixa ieles me levarem.

CÉSAR
Vai ser melhor pra você.

Os enfermeiros pegam Romina e lhe colocam uma camisa de força. Miguel se abraça a Lilian. Romina olha a todos com ódio.

ROMINA
Eu vou voltar e acabar com todos vocês! (a César) Você me traiu, cafajeste! Por tua culpa, tirei teu filho da minha barriga. Non vou dividir você com ninguém!

Os enfermeiros levam Romina. César troca olhares com Lilian e sai com eles. Jacques volta com o canivete dentro de um saco plástico.

JACQUES
Aqui está.

MIGUEL
Chama o delegado, que eu quero falar com ele aqui em casa.

MELITA
Faz muito bem. Melhor mesmo não se arriscar.

Em Miguel e Lilian.

=== SONOPLASTIA OFF ===

CORTA PARA

CENA 16. PRÉDIO MISTERIOSO. FRENTE. EXT. NOITE.

Raúla vem de carro e o estaciona na frente do prédio. Sai do veículo e o tranca com o controle remoto. Ela olha para os dois lados. Atravessa a rua e entra no prédio, saindo de cena. Renato, Haila e um policial à paisana vêm a pé e se aproximam do prédio e se escondem atrás de uma caçamba de lixo. Eles cochicham.

HAILA
Será que ele tá aí?

POLICIAL
Não sei, mas todo cuidado é pouco. Vamos aguardar.

RENATO
Ele marcou às oito. Faltam dez minutos.

CORTA PARA

CENA 17. PRÉDIO MISTERIOSO. SEGUNDO ANDAR. CORREDOR. INT. NOITE.

=== SONOPLASTIA: TENSÃO ===

Raúla vem da escadaria e entra no corredor. Anda lentamente e com medo no sentido da câmera, olhando os números de cada apartamento. À frente do número 209, cuja porta está entreaberta, ela para e respira fundo. Entra.

CORTA PARA

CENA 18. PRÉDIO MISTERIOSO. APARTAMENTO 209. SALA. INT. NOITE.

CAM próxima à janela, de frente para Raúla. Esta tenta acender a luz, mas não consegue. Ela anda até o meio da sala. CLOSE no rosto da moça. SOM de dobradiças rangendo e de porta fechada com força.

CAM por trás de Raúla. Ela se vira para a CAM, assustada.

RAÚLA
Você?

=== SONOPLASTIA OFF ===

Efeito de fim de capítulo: imagem de Raúla congela; efeito de flash de fotografia; imagem fica em preto e branco.

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