CENA 01. MANSÃO DE LILIAN. ESCRITÓRIO. INT. NOITE.
Continuação imediata do capítulo anterior.
Arnaldo entra e se aproxima de Melita e Laura.
ARNALDO
Com licença, senhoras. O jantar já está na mesa.
MELITA
A gente já vai. (a Laura) Você já está melhor?
LAURA
Não… Tem alguém querendo fazer mal pra minha filha, e eu não sei quem.
MELITA
Não deve ser nada. Vamos jantar. Assim a gente se distrai/
LAURA
Coração de mãe não se engana.
Melita e Laura seguem Arnaldo e saem do recinto.
CORTA PARA
CENA 02. MANSÃO DE LILIAN. SALA DE JANTAR. INT. NOITE.
Melita leva Laura para a mesa de jantar. Melita e Laura se sentam uma ao lado da outra, à frente de César e Lilian.
MELITA
Lilian, você acredita que sua mãe está toda apavorada por sua causa?
LAURA
Estou mesmo.
LILIAN
Se for o que tô pensando, também tive uma sensação horrível.
LAURA
Viu? Não é impressão minha, não, Laura. Ela também sentiu.
CÉSAR
Mas o que é que poderia ser?
LAURA
Não sei, mas não é coisa boa.
MELITA
Gente, e o Miguel?
LILIAN
Já tá vindo. Foi só atender uma ligação do Márcio. Ele voltou pra Nova York, mas tá doido pra vir pra cá de novo. Morrendo de medo do vírus e com razão.
MIGUEL (entra)
Lili, você pediu alguma coisa da rua?
LILIAN
Não, por quê?
MIGUEL (senta-se à cabeceira da mesa)
O segurança disse que apareceu um entregador e mandou subir. Falei pro Arnaldo dispensar/
=== SONOPLASTIA: TENSÃO ===
LAURA
Ai, meu Deus!
MIGUEL
Você está bem, Laura.
LAURA
Alguém está aqui pra fazer mal. Tenho certeza.
MELITA
Laura, fica calma. (a Miguel) Ficou muito impressionada/
LAURA
Ele não é entregador.
MELITA (dá um copo de água pra Laura)
Toma um pouco.
CORTA PARA
CENA 03. MANSÃO DE LILIAN. GARAGEM. EXT. NOITE.
Garagem mal iluminada. O carro de Isolda está na garagem traseira à mansão. Jairo está fora do carro e olha para ver se alguém se aproxima.
JAIRO
Pode sair. (Isolda sai do carro) Ninguém por perto. Tá limpo.
ISOLDA
Como é que vamos entrar aí?
JAIRO
A gente dá um jeito. Deve ter porta aberta.
ISOLDA
Você pega a Lilizinha, e eu acabo com o defunto.
JAIRO
Não vejo a hora.
ISOLDA
Então vamos… sem fazer barulho.
Arnaldo aparece, mas não consegue reconhecer Jairo e Isolda por causa do escuro.
ARNALDO
Com licença, senhores. A porta é por ali. (aponta)
Jairo e Isolda se aproximam de Arnaldo. O mordomo se vira de costas para Jairo, e este lhe faz desmaiar com uma chave de braço pelo pescoço. Arnaldo caído no chão.
JAIRO
Pronto! Esse aí só acorda amanhã.
Jairo e Isolda andam em direção à porta.
CORTA PARA
CENA 04. MANSÃO DE LILIAN. SALA DE JANTAR. INT. NOITE.
Lilian e Miguel ficam preocupados. Laura toma mais um gole de água com ajuda de Melita.
MIGUEL
O Arnaldo está demorando.
CÉSAR
Vou lá dar uma olhada.
LILIAN
Toma cuidado, César.
MIGUEL
Vou com você.
César e Miguel se levantam e vão até o acesso ao corredor. Jairo aparece de repente e os encara. Laura, Melita e Lilian apavoradas.
MIGUEL
Você aqui?
CÉSAR
Vai sair agora, ou eu/
JAIRO
Você o quê? Vai me bater, marica? Tu não aguenta nem com mulher.
CÉSAR
Vai ver se não.
César se prepara pra dar um soco em Jairo, mas este o ameaça com um canivete.
JAIRO
Vai encarar?
LILIAN
Jairo, abaixa essa arma. Sou eu que você quer, não é? Abaixa isso, e eu vou com você?
LAURA
Mas de jeito nenhum!
LILIAN
Mãe, eu sei o que tô fazendo. (se levanta)
MELITA
Não faz isso, Lilian.
JAIRO (tom)
Não se mete, ô, dondoca! Vim levar minha mulher.
LILIAN (se aproxima)
Eu vou com você.
JAIRO
Até que enfim alguém entendeu o que é melhor pra todo mundo.
Lilian se junta lentamente a Jairo.
CÉSAR
Lilian, volta pra lá.
MIGUEL
Jairo, abaixa o canivete. Aqui está cercado de seguranças.
JAIRO
Se um deles tentar alguma gracinha, você morre.
Jairo agarra Lilian e a beija à força. César pega o braço de Jairo e tenta tirar o canivete dele. Jairo consegue fazer um corte no braço de César, que cai e grita de dor. Laura e Melita se desesperam. Jairo tenta levar Lilian. Miguel aproveita a distração de Jairo e chuta o cotovelo deste, fazendo-o largar o canivete. Jairo tenta correr pra pegar a arma no chão, mas César puxa a perna com o braço não atingido, e Jairo cai. Lilian também corre, consegue pegar o canivete e o aponta para Jairo, ainda no chão. Isolda aparece por trás de Miguel e põe um revólver na cabeça dele.
ISOLDA
Se der mais um passo, acabo com teu maridinho.
César se arrasta até Melita, que o ajuda a se sentar na cadeira. Ele reclama de dor no braço atingido.
LILIAN
Não envolve o Miguel nisso. Teu problema é comigo e não com ele.
ISOLDA
Quem disse que não é com ele também?
LILIAN
De todo mundo aqui, o Miguel foi a última pessoa a entrar no jogo. Deixa ele em faz e vamos resolver entre a gente.
ISOLDA (chora)
Vocês destruíram a minha vida! Acabaram com a única coisa que eu tinha de bom.
LILIAN
Do que tá falando? Você sempre teve tudo.
ISOLDA
Mentira! Tudo sempre foi pra você, a jornalistazinha xexelenta amada e idolatrada por todos: pelo Luciano/
LILIAN
Ele era meu pai.
ISOLDA
…pela idiota da Nara, pelo babaca do Pedro, pela Melita… e até pelo… justo pelo homem que mais amei. Eu amava o Ruggero, sabia? O pai desse lixo aqui.
MELITA
Vocês foram amantes, não foram?
ISOLDA
Queria ser muito mais. Queria que você morresse, pra eu ser a nova senhora Fontana. Mas aí o maldito do Luciano descobriu meu plano e apareceu no seu lugar. (Laura chora) Adivinha o que aconteceu… Eu matei o Luciano. Era um belo dia em que ele e o meu amor iam conversar sobre aquela merda de biografia.
LILIAN
O meu pai morreu num acidente/
ISOLDA
Acidente, uma ova. Fui eu que sabotei o carro dele, sua anta. Aliás, eu não. Mandei um cúmplice fazer isso. Nada como uma boa chantagem, né? Soube que o doutor Fausto gostava de importunar mocinhas bonitas e troquei meu silêncio pelo dele.
MIGUEL
Você é doente.
ISOLDA
Sou mesmo! Doente de ódio! De rancor, de raiva, de inveja de ver todo mundo paparicando a Lilizinha. (gargalha) Olha só… os três maridos em volta dela. Um é o filho do homem que mais amei. Preferia que estivesse morto, mas tinha que aparecer pra me atormentar. Graças a quem? À Lilizinha. O outro foi inimigo número um. Não tinha nada que ter voltado da Itália com aquela romena no saco. E o outro é só um pobre coitado/
JAIRO
Cala tua boca!
ISOLDA
Vem calar! (a Lilian) Lembra da Anita? Aquela puta que se esfregou nele no jantar romântico? Fui eu que coloquei lá, sua monga! Apresentei ao teu Jairinho aqui porque sabia que ele não ia resistir. Sabe como eu conheci? (pausa) Era paciente e outras cositas más do doutor Fausto, o homem que se fez passar por admirador secreto de uma pobre moça e que engravidou a coitada. Sabe o que aconteceu? Quando ela quis mostrar pra ele o filho, o doutor simplesmente rejeitou. Olha o resultado aí. (aponta para Jairo)
JAIRO
Sua vagabunda!
Num impulso, Jairo se levanta e parte pra cima de Isolda. Esta empurra Miguel ao chão e dá cinco tiros no peito de Jairo. Lilian corre e se abaixa junto a Miguel. Jairo morto no chão.
ISOLDA (sorri)
Menos um. Quem vai ser o próximo?
Isolda aponta o revólver pra um de cada vez: Lilian, Miguel, Laura, Melita e César. Lilian passa o canivete discretamente para Miguel sem Isolda perceber.
LILIAN
Isolda, para com isso. Vamos conversar/
ISOLDA
Você acabou com a minha vida e quer conversar? Deixa eu pensar… Mato você e deixou o Miguel pobre e tocando violino na praça, ou mato o Miguel e…
MELITA
Deixa eu chamar a ambulância. O César tá perdendo muito sangue.
ISOLDA
Que perca. Tomara que morra.
LAURA
Como é que você pode ser tão má, tão amarga? Por que não aprende a perdoar? Vai ser melhor pra você.
ISOLDA
Sabia que você é muito chata? Não sei como o vovozinho te atura. É Milton o nome dele, né?
LILIAN
Deixa a minha mãe fora dessa.
ISOLDA
E perder a chance de ver ela chorar a sua morte? Sabe que eu adoro ver mãe enterrando o filho? Porque eu tive que enterrar o meu… meu e do Ruggero… quando abortei por causa dessa vadia. (aponta para Laura) Foi ela que chamou o maldito do Wilson. Foi quando ele descobriu o meu amor pelo Ruggero. E pensar que a fortuna poderia ser toda do meu filho. E vocês acabaram com tudo… Se o império não pode ser meu, também não vai poder ser do músico de rua. Só não o mato porque ele recusou o que era do Ruggero. Então eu acabo com… (aponta o revólver para Lilian)
MIGUEL (chora)
Por favor, não mata a minha mulher… A mulher que eu amo…
ISOLDA
Você o quê? (gargalha) Essa é boa! Ouviu isso, César?
Antes que César responda alguma coisa, Miguel pega o canivete que estava escondido e faz um corte na canela de Isolda.
ISOLDA
Seu filho da puta!
Isolda aponta a arma para a cabeça de Miguel e põe o dedo no gatilho. Guilherme aparece por trás com um machado e lança contra o pescoço de Isolda.
=== SONOPLASTIA OFF ===
TO BLACK.
CENA 05. APARTAMENTO DE RAÚLA. SALA. INT. NOITE.
FADE IN. Raúla conversa com Mário no sofá.
RAÚLA
Tava sentindo falta de uma companhia masculina, assim… mais interessante. (sorri)
MÁRIO
Bom saber que minha companhia te agrada.
RAÚLA
É sério. Gostei de você pra caramba. Me fala: como veio essa vontade de escrever?
MÁRIO
Escrevo desde muito cedo. Comecei com histórias de aventuras, ficção científica… Sabe como é adolescente. Depois embarquei nos romances.
RAÚLA
Aliás, sua especialidade. Sempre tive curiosidade de saber quem estava por trás daqueles livros, se o Mário Fradique existia de verdade…
MÁRIO
Existe e está na sua frente.
Haila e Renato entram aos beijos.
HAILA
Já vi que os dois se deram muito bem.
RENATO
Eu tinha certeza disso.
HAILA
Pelo menos é bem melhor que o outro pretendente.
MÁRIO
Ah, tenho concorrência?
RAÚLA
Um trauma, isso sim! Deus me livre daquele velho louco.
HAILA
Fica tranquilo, que ela é um amorzinho. Tem cara de brava, mas é mansinha.
RAÚLA
Ai, sou mesmo. (sorri)
RENATO
Falaram aí embaixo que o Jairo saiu da cadeia.
RAÚLA
De novo? Aposto que ele foi pentelhar a Lili. Vou até ligar pra ela.
RENATO
Deixa que eu ligo. Fica aí conversando com o Mário. Quem sabe não rola um namoro…?
RAÚLA (joga uma almofada em Renato)
Sem graça!
HAILA
Bem que você gosta.
RAÚLA
Cuida do teu filho, que eu cuido das visitas, tá?
HAILA
Vou cuidar é de outra coisa. (sorri e beija Renato) Dá licença, Mário.
MÁRIO
Toda.
Haila e Renato saem pelo corredor. Mário e Raúla voltam a conversar em OFF. Haila coloca a cara pra sala e Raúla a olha séria. Haila ri e sai de cena.
CORTA PARA
CENA 06. APARTAMENTO DE RAÚLA. ÁREA DE SERVIÇO. INT. NOITE.
Haila fala ao celular com Melita. Renato curioso ao lado de Haila.
HAILA
Eu tô passada! Se eu estivesse aí, eu caía dura. (tempo) Que horror, Melita! (tempo) Como é que eles tão? (tempo) Ahn… (tempo) Deve ter sido horrível pra Laura. Se eu, como mãe de primeira viagem, já fico assim, imagina ela. (tempo) O Miguel deve estar chocado até agora. O Guilherme não queria nem saber dele e agora salva o pai da morte. (tempo) Tá bom. Liga sim. Manda melhoras pra eles. (desliga)
RENATO
O que aconteceu?
HAILA
Vamos lá pro quarto, que eu te conto.
Haila pega Renato pela mão e sai com ele.
CORTA PARA
CENA 07. CASA DE BENJAMIN. SALA. INT. DIA.
Benjamin e Milton conversam de pé. SOM de televisão ligada.
=== SONOPLASTIA: vinheta do telejornal ===
BENJAMIN
Meu filho está insistindo pra eu voltar a cantar, mas/
JORNALISTA
Faleceu ainda há pouco a jornalista Isolda Calderón. (Benjamin e Milton curiosos) O estudante universitário Guilherme da Silva teria decapitado a moça após ameaças dela contra a vida do empresário e músico Miguel di Capri, pai do jovem. Segundo afirmações de Miguel, Isolda invadiu sua mansão e assassinou um homem chamado Jairo com cinco tiros.
MILTON
Meu Deus!
BENJAMIN
Que coisa horrível!
MILTON
A Laura estava lá?
BENJAMIN
É provável. Vou ligar pra ela.
Benjamin pega o celular. Milton presta atenção à TV.
CORTA PARA
CENA 08. APARTAMENTO DE BRENO. SALA. INT. NOITE.
Mônica e Breno assistem à TV. Ela se levanta assustada.
MÔNICA
Eu sonhei com isso!
BRENO
Como assim sonhou?
MÔNICA
É verdade, Breno. Até acordei assustada… Só que era no programa do Caio. O Miguel tava dando entrevista; aí apareceu a Isolda com um revólver e apontou pra ele. O Jairo tava junto com ela e tentou estuprar a Lili… Foi pro Brasil inteiro ver… (senta-se) De repente, alguém cortava a cabeça dela. Era eu.
BRENO
Você?
MÔNICA
Foi de ontem pra hoje. Não dei importância porque era um sonho, mas agora…
BRENO
Eu sei que você se virou contra ela, e isso me agrada pra caramba, mas daí a sonhar…
MÔNICA
Não fala nada com ninguém que eu tô te contando isso, não.
BRENO
Deixa comigo. (toca o celular; atende) Alô? César? (tempo) Vi agora. Passou na televisão. (tempo) Não, não falaram nada/ (tempo) Você tá onde? (tempo) Tamos indo pra aí. (tempo) A Mônica tá comigo. (tempo) Me espera aí. (tempo) Ela vai, sim. Você sabe como ela é. (tempo) Tá bom. (desliga) Ele foi pro hospital. O Jairo cortou o braço dele, mas agora ele tá bem.
Mônica pega a bolsa de cima do hack. Breno sai com ela.
CORTA PARA
CENA 09. HOSPITAL. QUARTO DE LAURA. INT. NOITE.
Laura deitada na maca, tomando soro na veia. Lilian de pé ao lado dela. Benjamin entra. Todos usam máscaras.
LAURA
Benjamin, que bom que você veio.
BENJAMIN
O Milton mandou um beijo. Fiquei assustado quando passou na TV.
LILIAN
Imagina a gente, que tava lá. Por pouco não fiquei nas mãos do Jairo.
BENJAMIN
Que Deus o tenha… Que coisa monstruosa que aconteceu!
LAURA
Quase morri do coração.
LILIAN
Podia ter sido pior, mas a gente se salvou.
BENJAMIN
E o César, o Miguel?
LILIAN
O César ficou na ala dos homens. O Breno tá vindo pra cá ficar com ele. O Miguel foi levar o Guilherme à delegacia. Nunca pensei que um dia fosse ver o Guilherme fazer a coisa certa e salvar a gente.
BENJAMIN
Deus escreve certo por linhas tortas.
LILIAN
E a Rah?
BENJAMIN
Tá em ótima companhia. O Renato, a Haila e o Mário estão com ela.
LILIAN
Que Mário? O escritor?
BENJAMIN
Ele mesmo. Pelo que a Haila me contou, eles se deram muito bem.
LAURA
Você não contou pra ela que o Jairo era filho do Fausto…?
BENJAMIN
Que história é essa?
LILIAN
Pois é. A Isolda falou isso mesmo, que o Fausto engravidou a mãe do Jairo e que depois a abandonou. Eu desconfiava que ele era traumatizado por causa do pai, mas não que fosse assim.
A conversa continua em OFF.
CORTA PARA
CENA 10. HOSPITAL. QUARTO DE CÉSAR. INT. NOITE.
César deitado com o braço enfaixado e tomando transfusão de sangue na veia do outro braço. Mônica e Breno entram e se aproximam dele. Todos de máscaras.
MÔNICA
Oi, meu amor! Que susto você me deu!
BRENO
Ela tava junto quando você me ligou.
MÔNICA
Fiquei tão preocupada!
CÉSAR
Fica tranquila, que dessa consegui escapar.
MÔNICA
E pensar que eu podia estar lá com os dois. Ainda bem que acordei a tempo.
BRENO
Olha só pra onde eles foram agora. (a César) Perdeu muito sangue?
CÉSAR
Perdi, mas olha só: amanhã já tô novo em folha.
MÔNICA
Ainda bem. Não sei se aguentaria viver sem você. (fica triste) Não consegui superar até agora a morte do Júlio. Terminou sozinho num quarto vazio por causa daquela doença maldita.
CÉSAR
Ele procurou.
MÔNICA
Ele errou muito, assim como eu também, mas morrer sem ver a cara de ninguém, sem ninguém pra cuidar? É muito cruel. As pessoas não fazem ideia do que é pegar o COVID e ficar isolado do mundo com uma sentença de morte.
BRENO
É, pensando por esse lado. Mas muita gente tem se curado.
MÔNICA
Sorte que ele não teve. (chora) Não quero isso pra minha vida, não. Cansei de ser uma garota vazia, ambiciosa, que acha que tudo se resume a sucesso e dinheiro. Agora, sim, sou a Mônica Fischer de verdade. Vocês podem não acreditar, mas é pra isso que tô lutando.
CÉSAR
E eu tô surpreso de te ver assim.
MÔNICA
A vida tá me ensinando muito, desde que perdi o Júlio, depois o Ciro… Foi ele que salvou a minha vida. Não vou mais desperdiçar.
CÉSAR
Nem eu. Já tá na hora de eu me firmar também. Já namorei demais, brinquei com o amor de muita gente.
BRENO
Não vão me dizer que vão reatar o namoro?
CÉSAR
Não é tão simples assim. A Lilian ainda… Esquece.
MÔNICA
Tudo bem. Ela não me incomoda mais. É sério. Se vocês tiverem que ficar juntos, vou até ficar feliz. (sorri)
BRENO (a César)
Tô te falando que ela mudou mesmo.
MÔNICA
Vou correr atrás do que é meu. O que não é, deixo pra lá.
A conversa segue em FADE.
CORTA PARA
CENA 11. DELEGACIA. CORREDOR. INT. NOITE.
Miguel, Guilherme, Zu e Carmem saem da sala do delegado.
GUILHERME
E agora, pai? Como é que vai ser?
MIGUEL
Como o delegado disse. Ele vai pegar o depoimento de todo mundo e confirmar que você agiu pra me defender.
CARMEM
Exatamente. Guilherme, não fica preocupado com isso. O máximo que deve acontecer é você prestar serviços comunitários. Talvez nem isso.
GUILHERME
Tive medo de te matarem.
ZU
Foi bem na hora. O Gui estranhou o barulho e pegou a primeira coisa que viu pela frente.
MIGUEL
Bendita a hora em que o jardineiro esqueceu o machado no corredor dos fundos.
ZU
A mansão tá interditada, né, doutora?
CARMEM
Isso mesmo. Até o fim das investigações.
ZU
Mas tem espaço lá em casa. Quer vir com a gente, Miguel?
MIGUEL
Te agradeço, mas vou pro hospital ver como estão o César e a Laura. Vão vocês dois.
GUILHERME
Antes eu queria conversar com você, pai. A sós.
MIGUEL
Está bem. A gente vai pra um canto e fica à vontade.
ZU
Te espero aqui, Gui.
CARMEM
Se precisarem, não hesitem em me ligar. Pode ser a qualquer hora.
MIGUEL
Muito obrigado mais uma vez.
CARMEM
Estou a seu dispor. Boa noite.
MIGUEL, GUILHERME e ZU
Boa noite!
Carmem sai. Zu dá um beijo no rosto de Guilherme e se senta no banco mais próximo.
MIGUEL
Já te devolvo o namorado.
ZU
Tá bom, Miguel.
Miguel e Guilherme saem pela porta lateral.
CORTA PARA
CENA 12. CASA DE NORMA. SALA. INT. NOITE.
Norma anda de um lado a outro, nervosa. Tenta ligar para Guilherme, mas só dá caixa postal.
NORMA
Onde será que ele tá? Droga! (pausa) Já sei! A namorada. (disca e espera) Alô? Meu filho tá aí com você? (tempo) Passa pra ele. (tempo) Como é que é? (tempo) Que delegacia? Me fala qual é, que tô indo pra aí. (tempo) Era só o que me faltava. Me espera.
Norma desliga o celular e sai apressada.
CORTA PARA
CENA 13. DELEGACIA. FRENTE. EXT. NOITE.
Miguel e Guilherme param em frente a um orelhão desativado em frente à delegacia.
MIGUEL
Deixa eu olhar pra você. (sorri e repara em Guilherme) Você está tão mudado, filho.
GUILHERME
Uma hora eu tinha que tomar jeito na vida.
MIGUEL
Assim você me enche de orgulho. A Zu tem feito milagres. Aliás, vocês dois. Nunca podia imaginar que um dia você ia salvar a minha vida.
GUILHERME
Eu também não.
MIGUEL
Tem coisas que acontecem de repente, que é pra gente acordar. Você não nasceu de mim, mas é e sempre vai ser o meu filho. Eu te escolhi no dia em que levei sua mãe lá pra casa.
GUILHERME
E eu não soube dar valor.
MIGUEL
Não foi você. Foi sua mãe. Ela que te jogou contra mim por causa da revolta que ela sentia de ser pobre, de morar com um pobre coitado. Ela preferia ter sido levada por um dos clientes cheios da grana que andavam com ela… Ela nunca deu valor ao que dei de melhor pra ela: a dignidade. Graças a Deus, você vem lutando pela sua faz tempo, mas ela ficava infernizando, colocando você contra mim.
GUILHERME
Pai, me perdoa.
MIGUEL
Prefiro que você se perdoe… e me abrace.
Miguel abre os braços. Guilherme chora e abraça Miguel. Zu sai da delegacia e assiste à cena da porta; fica contente. Miguel sorri para Zu. Norma aprece e bate palmas, irônica.
=== SONOPLASTIA: TENSÃO ===
NORMA
Que comovente! (Guilherme se separa de Miguel) Guilherme, quantas vezes já não falei pra não colocar as mãos na sujeira?
Miguel e Guilherme encaram Norma.
=== SONOPLASTIA OFF ===
Efeito de fim de capítulo: imagem de Miguel e Guilherme congela; efeito de flash de fotografia; imagem fica em preto e branco.