Episódio 9: Dias Melhores?

 

Após nosso primeiro beijo, passei a ver o Ricardo como alguém de grande importância pra mim. Ele era a cada dia mais atencioso e carinhoso. Nos encontros eram sempre muito agradáveis. Eu não estava com intenções sexuais por enquanto. sempre fui muito reservada e meus relacionamentos não tinham apenas essa finalidade. Minha vontade era realmente conhecer o Ricardo, comprovar até que ponto ele seria capaz de me respeitar.

 

Com o passar do tempo, percebia que sim, ele alguém de grande valor, um homem no real sentido da palavra.

– Ainda vamos ser mais felizes que isso um dia. Disse ele, afagando meus cabelos enquanto o sol do entardecer iluminava nossos rostos.

– Você está afirmando? Questionei.

– Sim. Vou te fazer muito feliz. Chega de sofrimento, não acha?

– Sim! Já basta.

Nós sorriamos, nos beijávamos e apreciávamos uma das paisagens mais lindas de Itaguaçu – ES.

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Diante de tantos acontecimentos, tive que ser forte. Forte o bastante para enfrentar uma nova fase em minha vida, já imaginava que sem ela, minha amada mãe, seria tudo mais difícil, porém, seus ensinamentos ficaram marcados em mim. Por exemplo, jamais esquecerei como fazer um bom bolo de fubá ou temperar um delicioso frango suculento. Suas aulas de culinária serviram para me reerguer. Haviam se passado 10 meses desde que a perdi e fui encarregada de substitui-la na cozinha da dona Neusa Albuquerque, recebi a função com muita alegria, pois sabia que assim não me sentiria inútil em sua casa.

– Não sei como descrever seu talento na cozinha, Camille. Realmente só poderia ser filha da Lucélia. Comentou a dona Neusa, sentada à mesa, enquanto se deliciava com um prato de panquecas no café da amanhã.

– Ah, sempre fui muito curiosa, dona Neusa. Cresci vendo como ela fazia, quais eram as porções de temperos que usava nos pratos que preparava e ao contrário do que muitas mães fazem, ela não me expulsava da cozinha. Minha mãe sempre fez questão de me ensinar tudo o que achava importante de ser aprendido. Respondi com satisfação enquanto lavava a louça.

– Ela estava certíssima. Hoje, ela pode sentir orgulho de onde estiver. Respondeu ela.

– Mas, o que seria de nós se não fosse sua enorme ajuda? Questionei enquanto secava as mãos com o pano de prato.

–  Terminou? Perguntou, ela.

– Sim, só falta secá-los! Respondi.

– Deixa aí! Vem, senta aqui. Chamava ela.

Enquanto me aproximava da mesa, Viviane entrava na cozinha nos cumprimentando.

– Bom dia!

– Bom dia! Respondemos em conjunto.

– Dona Neusa, hoje tô disposta, vou limpar essa casa de cima à baixo, preciso desestressar. Revelou Viviane.

– Olha, não vá exagerar. Você tem três dias na semana pra dividir esse serviço. Explicou, dona Neusa.

– Não se preocupe, é que isso me acalma. Eu já decidi, vou me distrair com limpeza. Respondeu Viviane pondo a bolsa em cima da mesa.

– O que aconteceu, amiga? Perguntei.

– Ai amiga… O João Victor! Ele
tá tão distante ultimamente… Explicou Viviane.

– Dê um tempo pra ele Vivi, você quer que o rapaz fique 24hrs aos seus pés? Homem gosta de liberdade. Repreendeu dona Neusa.

– Não, dona Neusa. Acho que o João Victor, quer se libertar apenas de mim. Tô achando que ele arrumou outra e tá a fim de me deixar. Disse Viviane.

– Se ele te ama, não te tocará por mais ninguém, amiga. Aconselho que conversem, que descubra o que ele realmente sente por você. Se você sentir insegurança por parte dele, ai você toma uma atitude. Sugeri.

– Não conseguimos conversar por muito tempo, ele tá sempre ocupado, ou atrasado pro trabalho… Isso ta me deixando cada vez mais intrigada, sabe.

– A Camille também está namorando, alguma reclamação,Camille? Brincou dona Neusa.

– Não, não graças a deus. Estamos bem. Respondi envergonhada.

– Qual o nome dele mesmo? Dona Neusa, perguntou.

– Ricardo! Respondi.

– Você precisa trazê-lo aqui, quero conhecer o rapaz.

– Aliás dona Neusa, queremos né. Pode ser que o João Victor aprenda com ele a como se deve tratar uma mulher. Vou te falar viu… Oh cara vacilão, se eu fosse outra ja teria enfeitado a testa dele numa boa. Ele não comparece meninas, como de isso?

Sorrimos juntas naquela manhã. O humor de Viviane era sem limites. Mesmo sofrendo com a ausencia do namorado, ela fazia piadas de si mesma.

Ao entardecer, com todas as tarefas da casa concluídas, colocamos o papo em dia. Viviane e eu estávamos sozinhas sentadas à mesa da varanda.

– Acho que ele esta me ajudando a enfrentar a perda da minha mãe, assim como vocês. Não digo ajudando a “superar”, porque ninguém supera a morte da mãe.

– Concordo planamente. O amor é tudo, a gente sofre pra caramba, mas … Continua amando. É muito ruim quando todo nosso amor deixa de ser correspondido, sabe. Dói muito.   Você perceber que está sendo ignorada por alguém que você se dedicou a amar de verdade… Nossa! é devastador. Revelou ela, com lágrimas nos olhos.

– As vezes, não precisamos sofrer por amor. Não vale a pena. Olha, me dói te dizer isso, mas se você acha que ele esta te traindo… Se acha que ele não te ama. De um tempo, despreze-o também. Talvez esse seja o remédio, talvez assim ele aprenda a lhe dar mais valor. Talvez assim, ele sinta sua falta e se não sentir … Você conformará que ele não te ama. Contei.

– Isso já aconteceu com você? Questionou ela.

– Ainda não, mas sou o tipo de pessoa preparada pra enfrentar uma sutuação assim. Afinal, acredito que todo mundo já passou ou passará por isso um dia. Respondi.

– Vamos sair hoje? Tomar um drinque? O que acha?

– Você e eu? Perguntei.

– É, hoje será a noite das meninas, só você e eu. Topa? Insistiu ela.

– Claro, claro que sim! Respondi entusiasmada.

A noite caiu. Estava no quarto, quando dona Neusa surgiu colocando a cabeça na porta

– Camille! Telefone pra você.

– Pra mim?

– É seu pai!

– Estou saindo tá? Preciso voltar na loja, esqueci uma lista. Preciso ir buscar pra terminar ainda hoje. Fica a vontade tá?

– Obrigada! Também vou sair, marquei um drinque com a Viviane no centro da cidade. Pode levar as chaves do portão viu, acredito que chegarei depois da senhora.

– Tá certo divirta-se. Disse ela antes de sair.

Me dirigi até a sala de estar. No caminho a respiração ofegante e as lágrimas que começavam a inundar meus olhos, revelavam a minha emoção. Naquela época, um simples telefonema era praticamente inacessível aos pobres. Meu pai nessa condição, com certeza deveria estar com muita vontade de falar comigo. Na última carta que escrevi, registrei o telefone da residência da dona Neusa na esperança de receber seu retorno.

– Pai?

– Oi minha filha. Estou morrendo de saudades. Como você está?

– Sentindo falta dela. É difícil seguir em frente sozinha. Sinto sua falta também. Como conseguiu ligar?

– Minha atual esposa tem telefone em casa.

– Está morando com ela? Questionei.

– Sim. Respondeu ele.

– Ainda não acredito que ela se foi. Sei que eu já havia perdido a Lucélia, mas me conformava ao vê-la bem, viva, com saúde.  Completou.

Enquanto ele falava minha dor intensificava, e o silêncio era selado com choro.

– Eu sempre amei, a sua mãe. Mas, fui tão covarde. Errei e não tive coragem de abrir mão, nem de vocês, nem de minha outra família.

– Traição, o senhor a traiu por anos. Realmente isso foi muito doloroso, pai. Mas, quis o destino que fosse assim. Não deixarei jamais de ser sua filha e continuo te amando.

– Quando você volta? Quando vou poder te ver de novo, filha?

– Não sei pai, vou tentar a vida aqui. Por enquanto.

– Tá bom. Deus te abençoe Camille. Me perdoe por ter feito vocês sofrerem, mas, não duvide jamais do meu amor de pai. Você é admirável e um dia será muito feliz. Tenho certeza que deus irá um dia, recompensar toda essa sua personalidade de princesa.

– Eu creio nisso pai, também te amo muito. Tchau. Me despedi.

– Tchau, filha. Despediu-se ele, em tom trêmulo.

O choro continuava após desligar o telefone. A saudade me consumia. Meu pai sempre foi uma referência pra mim, assim como a minha mãe ele era de imensurável importância pra mim. Passei mais alguns momentos assim, até seguir pro banheiro. Precisava me arrumar, precisava sair e me distrair um pouco.

Cheguei ao bar combinado com Viviane, estava pronta pra conversar e dar boas risadas. O sofrimento me devia uma folga. Todas as mesas estavam ocupadas, mas em nenhuma delas pude ver Viviane, logo deduzi que a mesma ainda não havia chegado. Para minha surpresa acabei por avistar alguém inesperado naquele momento. Ricardo estava numa das mesas, então me aproximei:

– Ricardo? Questionei confusa.

– Camille? O que faz aqui? Perguntava ele visivelmente nervoso.

Surgiu Viviane, radiante, sorridente por minhas costas.

– Amiga! Desculpa fui ao toalete, você demorou demais menina… Olha me desculpa, eu sei que prometi ma noite só nossa, mas acabei conseguindo trazer o João Victor.

– Ah, que legal e em qual mesa vocês estão? Perguntei, curiosa.

– Como assim Mille? Aqui mesmo, olha ele aí! Tá, vou apresentá-los: Camille, esse é o João Victor. João Victor, essa é a Camille!

Ricardo e João Victor eram a mesma pessoa. Um baque, meu sofrimento estava recomeçando.

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