Episódio 11: Carma
Presenciar discussões entre casais parece ser meu carma. Os gritos de Viviane e João Victor ecoavam não só em meus ouvidos, mas também em minha consciência. Foi inevitável lembrar das brigas que meus país travavam por motivos que na época não conhecia. A diferença era que agora, eu sabia o porque de tanto bate boca.
– Você não vai dizer nada, Camille? Não tem vergonha? Como pôde me enganar por todo esse tempo? Dizia Viviane enfurecida comigo.
– Ela não sabia de nada! Eu sou o responsável por isso. João Victor tentava explicar.
– Cala a boca! Seu canalha! Imbecil! Que decepção… Por isso estavam tão estranhos no lá no bar.
– Viviane, estou tão chocada quanto você.
– Não me diga… Debochou.
– Acabei de descobrir que João Victor e Ricardo são a mesma pessoa, agora, naquele bar.
– Camille… Disse João Victor, mas foi interrompido.
– Mentirosa! Garanto que vocês inventaram esse nome juntos pra que eu não desconfiasse de nada. Dizia ela, equivocada.
– O que? Questionei, pasma.
Viviane estava fora de si. Ela sabia que eu jamais seria capaz de algo assim, mas sua paixão obsessiva pelo João Victor estava lhe deixando cada vez mais cega e descontrolada.
– Você pensa que sou idiota? Perguntava enquanto se aproximava de mim com olhar odioso.
Ela estava irreconhecível.
– Viviane, você tá… Fui interrompida.
– Você pensa que sou idiota ne? repetiu gritando, alterada quase ao ponto de me bater.
Após alguns segundos em silêncio por empatia ao que ela estava passando naquele momento, mas logo resolvi enfrenta-lá.
– É, agora sim, você está se saindo como uma grande uma idiota, Viviane. Puta merda! Nunca te achei idiota, mas agora te pergunto: Como pode ser tão idiota, mulher?
Viviane surpresa, só escutava.
– Amiga, Você não está se sentindo pior do que eu, tá legal? Sei que você é louca por esse cara! Mas achei que fosse madura o bastante pra perceber que ele não vale nada! Eu não te coloquei um par de chifres. Ele pôs! Ele é o canalha aqui. Ele inventou outro nome pra se aproximar de mim, pois sabia que jamais aceitaria uma relação com o namorado da minha melhor amiga! Se tem alguém que sabia de tudo desde o início, esse alguém é o João Victor, mas se você quer tanto esse “homem maravilhoso”… Se vira com ele!
Depois do desabafo, sai de perto dela.
Ao me afastar João Victor me segurou pelo braço.
– Camille!
Dei-lhe uma bofetada.
– Nunca mais você tocará em mim, desgraçado! E você Viviane, vai perdoar ele né? boa sorte!
Pensativa e sem jeito, Viviane ficou ao lado de João Victor, me afastei. Dei as costas e uma enorme vontade de chorar me invadiu. As lágrimas corriam sobre meu rosto, o coração acelerado e a angústia revelavam o quanto estava abalada.
Naquela noite não consegui dormir, minha única vontade era sumir daquela cidade. Percebi que a hora havia chegado, a hora de recomeçar mais uma vez havia chegado.
Abri a gaveta da cômoda e de la retirei uma foto da minha mãe.
– Vou vencer mãe, eu juro que vou mudar pra melhor, prometo fazer isso por você!
Já amanhecendo, escrevi uma carta emocionada para dona Neusa, deixei na porta de seu quarto e sai.
Enquanto caminhava na rodoviária em direção ao ônibus, passavam-se em minha cabeça lembranças do dia em que chegamos à essa cidade, minha mãe e eu estávamos tentando mudar de vida, mesmo sem saber o que de fato aconteceria aqui. Na época exitei, mas no fundo tinha esperanças, acreditava que nesse lugar nada seria pior do que havia sido em nossa terra Natal.
– Camille! Gritou dona Neusa com voz trêmula.
Prestes a subir no ônibus, parei e virei-me lentamente:
– Onde vai?Por que está fazendo isso? Perguntava ela, triste.
Me aproximei e chorando lhe abracei.
– Obrigada! Obrigada dona Neusa, você foi um anjo em minha vida, em nossas vidas! Jamais terei como recompensar sua generosidade.
– Por que vai embora? O que houve? Como pôde sair de casa despedindo-se em uma carta. Você iria embora sem olhar nos meu olhos?
– Desculpe, é que. Sabia que seria difícil me despedir da senhora. Talvez não consegui se tomar essa decisão. Ontem descobri que o meu namorado e o da Viviane são a mesma pessoa. Ele me enganou, ele nos enganou. Depois disso não terei jamais a mesma relação com a minha amiga.
-Vai embora por isso? Não Camille, você já tomou decisões mais maduras! Você já passou por coisas realmente difíceis de enfrentar… Não acredito que vai jogar tudo pro alto por conta de um namorado sem vergonha.
– Essa decisão me atormenta há muito tempo! Essa foi apenas a alavanca.
Segurei em suas mãos, e olhando em seus olhos definitivamente me despedi.
– A senhora é iluminada! Eu jamais encontrarei alguém com um coração tão imenso quanto o seu. Muito obrigado por cada momento, por cada gesto de compaixão e companheirismo.
– Você é a filha que nunca tive. Declarou ela aos prantos.
Nos abraçamos forte mais uma vez, minhas lágrimas resumiam o que jamais poderia expressar em palavras.
Ao subir no ônibus junto com alguns últimos passageiros, sentei-me numa das poltronas e pela janela a observei afastar-se cada vez mais selamos o momento com sorrisos.
Com essa imagem, pensei:
– Prometo cuidar mais de mim, prometo definir meus objetivos e cumpri–los. Prometo NÃO MAIS AMAR!
A viagem iniciou e logo o ar fresco e as paisagens naturais foram me enchendo de felicidade. Apesar de ter deixado um pedaço do meu coração em Itaguaçu, novas esperanças já começavam a surgir ao ver tanta beleza que curiosamente não havia admirado quando estava no caminho oposto há alguns meses na companhia de minha mãe. Certamente a preocupação em saber o que acontecia com ela naquele dia, me cegou, talvez se tivesse curtido mais a viagem, meu espírito teria se renovado naquele momento.
Anoiteceu, chovia e fazia frio, eu cochilava na poltrona, mas acordei ao perceber o ônibus diminuir a velocidade. Instantes depois estávamos parados no meio da estrada.
– Meu Deus! Será que quebramos? Sussurrei preocupada.
Logo vi que era apenas um novo passageiro entrando. Fiquei um pouco assustada, quem poderia ser? Estava tarde e chovendo muito, não pude acreditar que alguém de bem viajaria nessas condições.
Era um homem com uma capa de chuva, ao caminhar pelo corredor do ônibus, Ele a retirou.
– Boa noite, posso sentar aqui? Perguntou ele sorrindo.
A poltrona ao lado da minha estava vazia.
– Boa noite! Claro. Respondi, meio assustada.
– Obrigado! Agradeceu ele sentando-se.
– Muita chuva, né. Comentei.
– Pois é, só um louco como eu se arrisca numa dessas. Explicou ele.
Ele era forte, educado, um pouco tímido e muito Bonito. Me encantou. Naquele momento percebi que sou frágil demais e que a promessa de “NÃO MAIS AMAR”, será nada fácil de cumprir.