Episódio 12: A Estrada até aqui
A saudade é algo que além de crescer com o tempo, nos deixa mais esperançosos, há quem diga que isso não é bom, dependendo da situação, esperança provoca mais dor e sofrimento…. No meu caso, estar na estrada de volta, abraçar meu pai bem forte e pedi-lo perdão, parece ser um bom tipo de esperança, e é muito provável vá se concretizar em mais alguns dias de viagem.
– Não vai descer? Perguntava, o bonito rapaz da poltrona ao lado da minha.
Era cedo, o dia ainda amanhecia. Estava tão distraída que mesmo admirando a paisagem através da janela, não percebi que o ônibus havia chegado à uma rodoviária.
– Onde estamos? Perguntei.
– Chegamos à Goiânia- GO! Respondeu ele animado.
– Nossa, já? Questionei, surpresa.
– Vamos comer alguma coisa? O Ônibus vai ficar aqui por meia hora. Vem comigo? Convidou.
– Não, eu… Eu trouxe uns lanches…
– Não, por favor vem! Vamos descer! tem boa comida aqui. Insistiu ele.
Tentei hesitar, mas seu astral me passava muita confiança. Descemos do ônibus e enquanto entrávamos na rodoviária ele me olhava rapidamente e logo disfarçava sorrindo.
– O que foi? Questionei, envergonhada.
– Não, não é nada! Garantiu.
– Hum…
– É que você é muito bonita. Declarou, ele.
– Obrigada!
Sentamos à mesa da lanchonete e logo ele segurou o cardápio, parecia estar nervoso, suava frio e seus dedos tremiam levemente.
– Você está bem? Perguntei, preocupada.
– Sim, me desculpa! Eu … Sou assim mesmo. Não sei como tive coragem de te convidar. Justificou.
– Ah é… Então acho que também lhe faltou coragem pra perguntar meu nome né…
– Sim, desde que sentei ao seu lado planejo perguntar seu nome…
Sorrimos juntos
– Pode perguntar agora se quiser… Assim aproveito e pergunto o seu também.
Sorrimos juntos mais um vez, o clima era muito bom entre nós, o jeito tímido e educado dele, me trazia novos ares.
– Como você se chama?
– Camille! e você?
– Yuri! Respondeu, ele olhando em meus olhos.
Não consegui evitar, acabei olhando fundo nos olhos dele também, eram lindos e transmitiam muita sinceridade.
– O que vai querer? Perguntou a garçonete nos interrompendo.
– Ah! Eu.. Vou querer um misto quente e você Camille? Perguntou ele.
– Misto quente também. Respondi.
– Algo pra beber ? Perguntou a garçonete.
– Um suco de laranja. Pediu ele.
– Pra mim também.
– Hum… Dois mistos e dois sucos de laranja… Já já trago. Anotou a garçonete antes que e sair.
– Obrigado! Agradecemos
– Fizemos os mesmos pedidos? Perguntou ele, sorrindo.
– É… Respondi.
– Você poderia escolher o que quisesse. Sugeriu.
– Gosto de misto com suco de laranja. Afirmei.
– Pra onde está indo? Perguntou.
– Manaus! E você?
– Também! Bom, na verdade estou indo a trabalho. Eu sou biólogo, Vou participar de uma expedição na floresta Amazônica. Explicou.
– Que bacana! Eu sou amazonense… Estou voltando pra casa. Revelei.
– Nada melhor, não é mesmo? Sugeriu.
– Pois é… Aconteceram tantas coisas enquanto estive longe… voltar pra casa é de fato um grande alívio. Afirmei.
Conversamos por mais alguns minutos, até que a garçonete chegou com os nossos lanches.
– Aqui está. Dizia a garçonete enquanto nos servia os sanduíches.
– Hum, está com uma cara ótima. Comentei.
– Esse é o melhor misto da estrada, mocinha! Garantiu a garçonete, sorrindo.
O tempo foi passando e durante o lanche conversávamos mais, era divertido estar ali. Por alguns instantes esqueci completamente da vida complicada que eu vinha enfrentando… Aliás, esquecemos de tudo.
– Ei! Aquele não é o ônibus de vocês? Gritou a garçonete direto do balcão.
Olhamos a janela e comprovamos que era de fato nosso ônibus que estava saindo.
– Nossa! Vão nos deixar aqui! Falei assustada.
– Garçonete! Tá aqui! Gritou Yuri apressado enquanto deixava o dinheiro do lanche na mesa.
Ele levantou-se e segurou minha mão. Saímos da lanchonete correndo atrás do onibus.
– Espera! Ei! Vamos embarcar ! Espera aí. Gritava o Yuri, estávamos de mãos dadas, era muito divertida aquela situação, senti uma enorme vontade gargalhar. Finalmente após correr bastante , o motorista nos viu decidiu parar o ônibus.
– Pronto. Já perdemos as calorias que ganhamos com o misto. Brinquei.
Sorrimos juntos enquanto embarcávamos.
– Me desculpem! Disse o motorista.
– Não se preocupe. Respondeu Yuri.
– Perdemos a noção do tempo. Obrigado por parar! Completei.
A viagem seguiu em frente. Enquanto o Yuri dormia eu o admirava. Pensei que seria fácil me isolar, porem, mais uma vez estava sentindo afeto por alguém que acabara de conhecer. Como ele era diferente… não era como foi com o sacana do Ricardo ou melhor … João Victor.
O sono foi chegando e apaguei.
Instantes depois…
Fui retornando do sono e ouvia um som contínuo, era o som da chuva. Ao abrir lentamente os olhos, vi que estava escuro, já era noite e chovia bastante, o ônibus seguia com velocidade e isso me assustou. Por que o motorista corria tanto naquela pista molhada? As pessoas em volta dormiam, pareciam estar tranquilas. Yuri não estava mais ao meu lado, decidi levantar e procurá-lo em outro assento.
– Camille! Chamou ao sair do banheiro no fundo do ônibus.
Virei-me e fiquei feliz:
– Estava aí? Achei que tinha ido embora.
Ele sorriu.
– Vamos sentar!
Enquanto nos aproximávamos de nossos assentos, o ônibus rabeou na pista e o som dos pneus derrapando era aterrorizante, todos os passageiros se desesperaram. Yuri e eu estávamos em pé.
– Segura Camille! Gritou Yuri, preocupado.
Eu estava em pânico, apenas olhava em volta o desespero de todos.
– Segure-se firme! Gritou ele.
Nesse momento, nosso ônibus tombou na pista, muitas pessoas foram arremessadas umas contra as outras. Não foi apenas um tombo, após o primeiro, começamos a capotar em uma sequência fatal.
Eu estava totalmente desprotegida, sentia meu corpo voar por dentro do ônibus e se chocar com o teto, janelas e poltronas. Senti o calor do sangue que escorria em meu rosto. Ouvia os vidros das janelas se fragmentando e os gritos de desespero dos passageiros.
Senti dor e medo até certo momento, até a capotagem parar.
Depois disso, não sentia mais nada. Aquele certamente era o fim da estrada.
Fim da Primeira Temporada.
Segunda parte, Temporada final confirmada para Outubro de 2023.
Não perca o desfecho da história de vida de Camille.