Episódio 3: Descoberta

Um pouco sem graça, o bonito rapaz sorriu e permaneceu em silêncio.

– Você mora aqui? Perguntei intrigada

– Não! Respondeu ele ainda nervoso.

– Ah, é funcionário dela? Insisti.

– Não, eu… desculpe, eu preciso ir. Tchau!

Depois que ele saiu, fiquei ainda mais pensativa. Quem seria? Porque nao me contou quem é de fato?

Aquela dúvida se estendeu, depois de alguns minutos reflexivos, ao sair do banho quente, ouvi mais ruídos vindos da cozinha. Ao chegar lá, me deparei com uma mulher jovem, ela devia ter minha idade. Era uma bonita morena de cabelos pretos e lisos. Ela parecia estar procurando alguma coisa.

– Bom dia! Perguntei tímida

– Oi! Bom dia, você deve ser a Camille! A dona Neusa me ligou avisando sobre a presença de vocês. Me chamo Viviane, sou diarista aqui, faço faxina 3 vezes na semana. Seja bem vinda!

– Ah! Muito obrigada. Respondi enquanto apertava sua mão.

– Onde está sua mãe? Perguntou ela sorridente.

– Ah, ela deve está lá fora, nao a viu? Respondi

– Não, ando tão destruída, pode ser que tenha até passado por ela e não percebi. Meu namorado é grande causa da minha despliciencia.

– Por quê? Questionei.

– Só penso nele. Respondeu ela sorrindo e sem graça.

Abri um leve sorriso, achei a Viviane realmente alguém divertida, ela me pareceu ser daquelas pessoas que fazem piadas consigo mesmas. Eu estava precisando conhecer alguém assim naquela cidade, todos com quem conversei até então, me deixaram intrigados quanto a sua personalidade, mas ela não, de primeira aparentou ser muito transparente.

– Estava procurando alguma coisa? Perguntei curiosa.

– Sim, mas se preocupe, depois aparece. Talvez tenha ficado em casa.

– Minha mãe vai cozinhar pra Dona Neusa.

– É, ela me contou por telefone hoje mais cedo. Achei bem legal, agora terei gente pra conversar enquanto trabalho. Respondeu ela sorrindo.

– Dona Neusa é muito ocupada né? Perguntei.

– Muito, ela passa o dia todo fora de casa. Às vezes o relógio parece parar aqui dentro. Respondeu ela enquanto se organizava pra começar a faxina.

– Você mora aqui perto?

– Sim, a umas duas quadras daqui. Além daqui trabalho em outra casa, mas eles não pagam tão bem quanto dona Neusa. Sua mãe vai adorar trabalhar aqui. São de Manaus? Questionou ela.

– Sim, viemos ver uns parentes e ao chegar aqui, acabamos descubrindo que eles não estavam mais na cidade. respondi entristecida.

– Nossa, e aí vocês ficaram a ver navios…. Brincou ela.

– Sim. Respondi sorrindo

– que coisa. Dizia ela durante a gargalhada.

– Não sei o que seria de nós sem a ajuda da… dona Neusa, sentamos a frente de sua loja no centro e ela nos acolheu.

– Aquela mulher é um anjo, mas vida foi muito dura com ela. Perdeu o marido pro câncer, e depois perdeu o filho jovem num acidente de carro. Uma vez ela me contou que fazer o bem, lhe ajuda a seguir em frente.

– Fiquei chocada com o que Viviane acabara de me revelar. Então aquele rapaz bonito na porta da geladeira era o filho da Neusa? Meu Deus, o vi ! Mas ele está morto. Era um fantasma?

– Nossa! Essa casa é assombrada? Perguntei temerosa.

– Olha… Às vezes escuto uns barulhos estranhos antes de largar quando vai anoitecendo, mas não sinto medo não, talvez seja assombrada sim. Respondeu ela serenamente.

Fiquei em silêncio, pasma.

– Já você deve morrer de medo… Está branca! Disse ela sorrindo da minha cara de espanto.

– Olá! Gritou minha mãe entrando na cozinha.

– Oi! Respondeu Viviane

– Viviane? Perguntou minha mãe enquanto se aproximava.

– Sim, dona Lucélia né? Retrucou, Viviane.

– Sim, Lucélia sem o DONA por favor, somos todas jovens aqui querida!

Enquanto elas gargalhavam e se abraçavam já como melhores amigas, eu continuava em choque por ter visto alguém que já morreu, um fantasma.

– Vou tomar um “arzinho”, gente. Sai de lá  e elas continuaram conversando felizes.

Enquanto avistava o horizonte daquela pequena e misteriosa cidade, uma lágrima escorreu em meu rosto, sentia falta do meu pai, estava morrendo de saudades dele, não tinha outra forma de me comunicar, a não ser por carta, naquela época só os ricos tenham telefone, em nossa casa em Manaus, não tinha. Resolvi escrever pra ele, com certeza devia estar preocupado. Naquela emoção, muitas palavras bonitas coloquei no papel, o ambiente natural e a saudades foram os principais fatores que me inspiraram a escrever.

Alguns dias se passaram, todas as noites antes de dormir, eu pensava na possibilidade de ver novamente o fantasma, filho de Dona Neusa. Era uma mistura de medo, curiosidade e saudade. Sim, saudade, o rapaz era tão bonito que sua presença me deixou balançada. Ao pensar assim, logo me condenava, como poderia me sentir atraída por alguém que já morreu? Isso era ridículo, mas não tornei a vê-lo por um bom tempo.

Dois meses haviam se passado, nossa rotina era sempre a mesma, dona Neusa passou a vir na hora do almoço, ela estava amando o tempero da minha mãe e sempre que ela chegava era uma festa, Viviane em todo dia de faxina me contava sobre seu namorado, seu nome era João Victor e deveria ser muito especial, porque ela estava loucamente apaixonada.

– Estou chateada porque hoje não poderei ir a festa da cidade. Disse Viviane desapontada, enquanto espantava os móveis da casa.

– Festa da cidade? Perguntei

– É o aniversário de 74 anos de Itaguaçu, você deveria ir, é lindo. Respondeu ela.

– Porque não você não vai?

– Vou fazer um bico de babá hoje a noite. Tô precisando de dinheiro extra, se for a festa vou acabar gastando, não ganhando. Explicou ela.

– Acho que vou sim.

– Você vai amar! Comemorou ela.

Anoiteceu, estava acabando de me arrumar quando minha mãe saiu do banheiro dizendo que não iria comigo.

– Porque mãe? Poxa vida, você conhece tudo por aqui, custava me acompanhar? Questionei irritada.

– Ah querida, estou cansada, preciso dormir, vá lá. Divirta-se. Sabe, quando tinha mais ou menos sua idade, fui sozinha a essa festa e guardo grandes e ótimas lembranças desse dia até hoje. Vá e registre seus momentos felizes hoje.

– Vai ser difícil, só vou pela curiosidade mesmo.

Ela beijou minha testa e desejou que Deus me acompanhasse. Sai da casa arrumada esperando encontrar animação em meio a solidão em que me entrava. Me surpreendi com tantas luzes, as crianças corriam por toda parte, a música tocava de forma distribuída em todo o centro da cidadezinha. Fiquei admirada com a beleza das atrações locais e logo me sentei em uma das poucas mesas vazias. Logo um garçom veio me atender:

– Deseja algo moça?

– Quero uma limonada gelada, por favor. Solicitei.

O garçom anotou meu pedido rapidamente e saiu. Fiquei por mais uns instantes observando o local e logo te a deliciosa bebida. Tudo estava perfeito, cheguei a me sentir livre, uma felicidade indescritível. Estava entendendo porque minha mãe disse que essa festa lhe proporcionou bons momentos em sua juventude, quando um homem sentou na mesma mesa que eu.

– Você por aqui moça! Disse ele olhando em meus olhos.

Estremeci, era o filho de Dona Neusa mais uma vez aparecendo pra mim.

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  • Amei o capítulo, foi demais.
    Como assim o filho de Dona Neusa é um fantasma? Eu como adoro gerar essas confusões com vivo-morto em minhas tramas, suponho que o mocinho aí esteja vivinho da silva e que certo acidente de carro não passou de uma farsa! Mistério! kkkk

    Viviane me pareceu uma figura carismática. Ela precisa fazer algum barraco com alguém! Sei lá! Senti isso! Será cômico vê-la rodar la bayana, kkkkk.

    Senti falta de melhores aparições de Lucélia e Neusa no capítulo, mas curti muito o monólogo interior de Camille. Ela foi agora para a festa da cidade e como um gancho torturador, adivinha que a faz companhia? Ele mesmo o morto-vivo! Ansiosa para o próximo capítulo.

  • Amei o capítulo, foi demais.
    Como assim o filho de Dona Neusa é um fantasma? Eu como adoro gerar essas confusões com vivo-morto em minhas tramas, suponho que o mocinho aí esteja vivinho da silva e que certo acidente de carro não passou de uma farsa! Mistério! kkkk

    Viviane me pareceu uma figura carismática. Ela precisa fazer algum barraco com alguém! Sei lá! Senti isso! Será cômico vê-la rodar la bayana, kkkkk.

    Senti falta de melhores aparições de Lucélia e Neusa no capítulo, mas curti muito o monólogo interior de Camille. Ela foi agora para a festa da cidade e como um gancho torturador, adivinha que a faz companhia? Ele mesmo o morto-vivo! Ansiosa para o próximo capítulo.

  • São tantas questões que assombram Camille… Como suporta viver assim? A ausência de uma explicação plausível por parte de sua mãe mais parece um castigo. Fiquei nervoso.

  • São tantas questões que assombram Camille… Como suporta viver assim? A ausência de uma explicação plausível por parte de sua mãe mais parece um castigo. Fiquei nervoso.

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