Episódio 5: Dor indescritível
O papel sujo de sangue me deixou perplexa, preocupada, aflita. Acompanhando minha mãe numa consulta médica, recebemos uma devastadora notícia: TUBERCULOSE.
Minha mãe estava com uma grave doença. Após me desmanchar em lágrimas, pensei: E agora? O que será de nós? Certamente dona Neusa não vai querer alguém com tuberculose em sua casa. Foi difícil jogar as cartas na mesa, mas por tudo o que ela já fez por nós, o correto era sem dúvidas contar-lhe a verdade. Na tarde daquele mesmo dia em que recebemos a confirmação dos exames, deixei minha mãe descansando em nosso quarto e decidida me dirigi ao quarto da dona Neusa.
– Com licença.
– Oi querida! Como ela está?
– Agora descansando.
– Não se preocupe Camille. A Lucélia não vai perder pra um resfriado.
Foi inevitável, as lágrimas inundaram meus olhos, mas mesmo quase engolindo as palavras, insisti e as coloquei pra fora.
– Não é resfriado. Ela está com Tuberculose.
Dona Neusa penteava os cabelos em frente ao espelho, mas com uma expressão séria, parou imediatamente, colocou a escova na cômoda e com olhar piedoso se aproximou de mim.
– Querida…. Eu sinto muito. Meu Deus, por isso ultimamente tenho notado ela um pouco indisposta, abatida. Eu sinto muito.
– Tivemos certeza hoje e decidimos lhe contar o quanto antes. Eu queria muito lhe agradecer por tudo e..
Fui interrompida:
– Calma aí, está se despedindo? Não, nem pense nisso. Disse ela em tom de reprovação.
– Não podemos mais ficar dona Neusa. Essa doença é contagiosa e não tem cura. Não vou fazer isso com a senhora, na sua casa. Já nos ajudou demais. Expliquei.
– E pra onde vão, criatura? Vocês não têm ninguém por perto. Dizia ela tentando me convencer.
– Vamos voltar pra Manaus, eu juntei parte do dinheiro que a senhora vem nos pagando. Insisti.
– Você vai colocar sua mãe doente num ônibus em uma viagem de dias? Não Camille, seria muita irresponsabilidade sua. Vocês não vão a lugar algum, não dessa maneira. Afirmou ela, preocupada.
Dona Neusa acariciou meu rosto e secou minhas lágrimas:
– Vocês não são minhas empregadas. São minha família, eu quero ajudar sua mãe a enfrentar essa doença. Vamos cuidar dela juntas, ok? Propôs, ela.
Nos abraçamos e a emoção tomou conta de mim. A noite, Percebi que na caixa de correio havia uma correspondência direcionada a mim, era a resposta do meu pai para a carta que eu havia lhe mandado dias atrás. Abri o envelope e ao ler cheguei a sentir sua presença. Sua forma de escrever e rodo o carinho depositado nas palavras escritas por ele me fizeram chorar de saudades. Decidi não mostra la pra minha mãe, talvez isso a fizesse se sentir pior.
No dia seguinte, dona Neusa e eu organizamos os objetos que seriam usados apenas pela minha mãe. Essa ação era necessária para não nos contagiar também. Os dias foram passando e ela só piorava, estava mais magra e debilitada. Eu estava em minha cama, pensativa e sonolenta quando ouvi sua voz.
– Filha!
Imediatamente virei-me pra ela.
– Oi mãe!
– Lê pra mim? Perguntou ela me entregando a carta que recebi do meu pai dias atrás.
Fiquei em choque.
– Mãe…
– Por que me escondeu essa carta?
– Desculpa mãe, achei que não séria bom pra senhora nesse momento.
– Quer me deixar morrer sem saber o que tá escrito aí?
– Não acredito que está dizendo isso. Acha que eu quero que você morra?
– Não, não meu amor, desculpe. Eu seu que vc daria a sua vida pela minha. Mas eu não permitiria.
Emocionada me aproximei dela e expliquei:
– Você deve ter se perguntado: Como ele nos encontrou? Na verdade, essa é a reposta de uma outra carta que eu mandei pra ele há a algum tempo, logo depois que chegamos aqui. Na carta que eu enviei pra ele, perguntei o que provocou a separação de vocês. Ele não me respondeu aqui, o que ele diz aqui, é que sente nossa falta e que quem deveria contar o que aconteceu é você.
Em silêncio por alguns instantes, uma lágrima correu pelo seu abatido rosto. De repente, uma crise de tosse a deixou em colapso, eu fiquei desesperada, ela não parava de tossir, estava ficando vermelha e visivelmente sufocada.
– Mãe! Mãe. Meu Deus! Fica calma, pelo amor de Deus.
Meu desespero foi inútil naquele instante, pois nada pude fazer para evitar o acontecido.
Por quêeeeee? Conta logo!
Por quêeeeee? Conta logo!