Capítulo 17
– Lara… Lara. O que está acontecendo? Lara! – Gritou Leiael afastando a voz de Zoraky de minha mente. Senti uma coisa estranha dominar meu corpo. Um calor parecia queimar meu corpo. Rasguei minha blusa, descontrolada, tentando esfriar meu corpo, que parecia queimar. Não conseguia ouvir Leiael. Apenas as palavras de Zoraky. Senti meu corpo afundando no túnel e uma pressão em meu pescoço não me deixava voltar. Enquanto me debatia submersa, ouvi uma voz rasgar minha mente.
– Não deixe o ódio te dominar. Você não é como eles! Eu te amo! – Senti meu corpo ser lançado contra a parede e dois olhos azuis apareceram em minha frente.
– O que está acontecendo? – Perguntou Leiael. Seus olhos pareciam espelhos, podia ver meu reflexo em seu olhar. Mas o que me deixou sem reação foi ver uma lágrima escorrer em seu rosto.
– Ele vai matá-la. – Falei observando ele tremer com as duas mãos em minha volta contra a parede. Sua cabeça estava baixa e ele gemia ruidosamente. – Não o deixe dominar sua mente, precisa bloqueá-lo. – Falou entredentes. Assim que ele ergueu a cabeça em minha direção revelando seus olhos negros, percebi surgir por trás dele uma criatura com olhos vermelhos, suas garras estavam cravadas em suas costas.
– Saia daqui, Lara. Agora. – Rugiu ele. Seus olhos estavam estranhos como nunca havia visto antes. Ele jogou seus braços para trás empurrando a criatura contra a parede atrás dele. Encontrando meus olhos ele repetiu.
– Corra, Lara! – Gritou Leiael. Não queria deixá-lo ali, mas precisava achar Adele. Enquanto ele lutava com a criatura saí correndo pelo túnel e fui abordada por cinco vampiros que bloqueavam a passagem. Peguei a besta em minhas costas, armei-a com uma flecha explosiva com prata e verbena. Assim que caíram no chão, peguei minhas adagas e decepei a cabeça de um a um, sentindo o sangue deles cobrir meu rosto. Após duas entradas à frente observei uma segunda porta. Antes de abri-la olhei para trás esperando ver Leiael, mas não havia mais nada além do silêncio. Empurrei a porta que estava entreaberta e me esgueirei pela parede, observando o interior do que parecia ser um quarto. Uma enorme cama redonda estava no centro do quarto, encoberta por enormes lençóis vermelhos. Na parede, quadros antigos decoravam o enorme cômodo. Uma mesa no centro mantinha alguns cálices antigos, e em sua volta corpos de mulheres nuas cobertas de sangue demonstravam o monstro que estava prestes a enfrentar. Próximo da porta uma enorme escada em forma de caracol chamou minha atenção. Corri em direção a ela subindo os degraus sem olhar para trás, os gritos pareciam estar mais perto. Retireis as adagas de minhas costas e me preparei para o ataque. Após subir as escadas me deparei com um enorme corredor escuro e sombrio, os gritos ecoavam por ele, o castelo parecia um labirinto, não me lembrava do mapa, não sabia onde estava.
Enquanto pensava no que ia fazer, senti meu corpo caindo no chão. Virei rapidamente e vi uma criatura demoníaca vindo em minha direção. Seus olhos eram vermelhos e ela mantinha asas de morcego. Sua língua passou pelo meu peito subindo pelo meu pescoço. Puxei as adagas cravando em seu peito, a criatura deu dois passos para trás encarando-me. Com um sorriso maléfico retirou as adagas entregando-as a mim novamente, debochando da minha tentativa. Arregalei meus olhos e peguei a besta presa em minhas costas atirando novamente em seu peito. Ela ficou se debatendo presa à parede pelas flechas de aço, mas sabia que isso não a seguraria por muito tempo.
– Que merda é essa? – Perguntei olhando por um segundo a criatura. Corri pelo corredor tentando achar o terraço do castelo enquanto alguns vampiros apareciam de todos os lados. Após lutar com dezenas deles, encontrei a passagem para o terraço. Assim que abri a porta senti o cheiro podre de Zoraky. Não podia vê-lo, mas sabia que ele estava ali. Aproximei-me da muralha e observei a guerra que estava acontecendo lá embaixo. Os híbridos lutavam com os vampiros e outras criaturas entre o fogo que consumia cada vez mais o castelo em ruínas. Os estrondos eram ouvidos a distância. Voltei minha atenção para o terraço em busca de Adele. Com as adagas em minhas mãos saltei sobre as torres sorrateiramente. Parando sobre uma das estátuas de gárgula que decoravam o castelo e sua faixada.
– Sei que você está aí escondido como um verme. Me entregue Adele e poupo sua vida. – Olhando ao meu redor observei uma sombra se aproximando, sua gargalhada ecoava e a acompanhava.
– Você acha mesmo que é páreo para mim? Não me faça rir, Lara. – A sombra foi sumindo entre a claridade da lua revelando sua imagem monstruosa.
– Onde está Adele? – Perguntei apertando as adagas em minhas mãos, sentindo meu sangue ferver.
– Onde você acha que ela estaria? Acreditou mesmo que a encontraria aqui? – Perguntou ele cinicamente, enquanto lentamente ia se aproximando de mim.
– Sim. Imaginei que ela fosse seu escudo já que você não passa de um covarde. – Falei caminhando para trás, apontando as adagas em sua direção. Sua expressão maligna foi abafada pelo som de seu riso debochado.
– Como você é tola, Lara! Joduá não lhe ensinou nada que a favoreça. Típico dele. – Ele gargalhou novamente.
– Daniel você quer dizer. Joduá morreu junto com o passado dele, hoje ele é outra pessoa. – Em seu rosto se desenhou uma expressão de surpresa.
– É mesmo, Lara. Não me diga que Daniel agora é um… – parou com ar irônico, colocando sua garra em seu queixo pensativo.
– Hum! Não… Não consigo encontrar nenhum nome apropriado para o que ele possa ter se transformado. Para mim ele continua o mesmo fraco e traidor de sempre. Depois que matar você, terei o prazer de matá-lo, e logo depois Adele e todos os seus amiguinhos. Posso jogar vocês todos na mesma cova. Assim, passarão a eternidade juntos. O que acha? Não sou bom?
Os gritos e fogo que surgiam lá de baixo pareciam perfurar meus ouvidos. Alguns híbridos clamavam por ajuda. Invocavam os guardiões, eu podia ouvi-los, mas não podia ajudá-los. Precisava acabar com a raiz do mal. Para poder salvá-los. Zoraky avançou sobre mim perfurando meu ombro, prendendo-me contra uma viga ao lado de uma gárgula. Soltei um urro de dor olhando para a estatua ao meu lado.
– Acorde agora e ajude-nos! – Gritei – Você foi preso por um demônio, e eu estou te libertando. Ajude-nos.
Zoraky sorriu em meu ouvido zombando de minhas palavras. As adagas estavam caídas no chão, e minhas mãos estavam presas na parede por suas asas com garras de morcego.
– Ah, Lara, você acha mesmo que consegue despertar os demônios que eu aprisionei? Você não sabe de nada. Nem mesmo reconhece o sangue que circula por suas veias. – Senti seu bafo em meu pescoço. Não tinha muito que perder, então o desafiei.