Você está lendo:

Segredos Mortais – Capítulo 8

Assim que abri meus olhos mergulhei nos seus. Lindos, azuis e penetrantes. Por um momento achei que ele fosse me beijar tamanha proximidade. Mesmo contra a vontade, levantei a mão, o empurrando instintivamente. Mas na verdade queria puxá-lo para mais perto de mim. 

– O que você está fazendo aqui? – Perguntei meio desconcertada, tentando disfarçar minha fraqueza. Assim que olhei ao redor vi Daniel e Gabriele ao seu lado me olhando como se eu fosse um ET chegando na terra. Estavam surpresos. E instantaneamente me veio à cabeça: “Por que?” A figura estranha aqui era Daniel, mas eles não pareciam surpresos com sua mudança.

Levantei da cama em um único salto direcionando meu olhar frio para Daniel. Passei a mão sobre meu rosto tentando retirar o suor que escorria em minha testa. Podia sentir minha respiração ofegante. Ao me lembrar da cena de Adele, minha vontade foi voar no pescoço de Daniel. Mas… 

– Você precisa se acalmar, Lara. Somos seus amigos, estamos aqui para ajudar você. – Falou Leiael. A princípio minha vontade foi dar uma gargalhada. Mas me contive. Buscando os olhos de um por um. 

– Por que você fez isso, Daniel? Como pôde esconder isso de mim por tanto tempo?  

– Eu… 

Um barulho impediu que ele continuasse. E percebi que eu não era a única em busca de explicação quando observei Leiael e Gabriele encarando Daniel, enquanto seu celular vibrava em seu bolso.

– Preciso atender. – Disse ele indo em direção a varanda.

Sem dizer nada, fui até o banheiro, precisava molhar meu rosto. Podia sentir meu cabelo grudado do suor. Enquanto jogava água em meu rosto ouvi Daniel no telefone. 

– Leonel?

– Errado. Tente outra vez, companheiro. – A voz que transpassou no telefone era difícil de ouvir e entender. Mas eu conseguia.

Daniel percebeu quem era, e antes que pudesse ceder ao instinto de arremessar o celular no chão, a voz chiou do outro lado.  Sai do banheiro ficando a poucos metros de onde Daniel estava. Senti Leiael e Gabriele me seguindo com os olhos, o que me deixou bastante irritada. Olhei para os dois virando o rosto impaciente. Encostada na janela concentrei minha atenção em Daniel.

– Eu sei o que você perdeu. Posso entregá-la para você, se quiser. 

Do outro lado da linha, a voz sumiu por alguns instantes, então retornou ainda mais grave: 

– Entregue o que o mestre quer e você terá sua filha de volta. Esse é o trato. A escolha é sua.

– Não encoste um dedo nela, ou eu… – Berrou Daniel, parecendo esquecer que não estava sozinho. Ao ouvir a conversa dei uma espiada pela janela e notei Daniel transtornado, resolvendo se esmagaria ou não o celular em suas mãos.

– Ela está aqui, clamando pela própria vida. Seres desprezíveis. O que eu devo fazer com ela, Daniel? Ou melhor, Joduá.

– Tudo bem. – Disse Daniel. – Dois dias. Mas se você encostar um dedo nela… 

Pude ouvir uma risada estridente do outro lado da linda. 

– O mestre não quer você. Se quiser vir, é melhor trazer o que ele quer. Assim ele terá dois coelhos de uma vez – disse a voz.

– Eu levarei pessoalmente. Mas não encoste nela. – Continuou Daniel, sentindo a raiva tomar-lhe o controle.

– Seja lá quem for, eu caçarei você! Farei você queimar como todos os outros iguais a você, todos que eu matei pessoalmente.

O riso chiado que soou do outro lado da linha inflamou a raiva de Daniel, desafiando-o. Por um instante, pensei ter ouvido um gemido, um ruído qualquer, então a voz retornou:

– Sua filha ainda vive. O mestre é muito piedoso, ele está cuidando bem da sobrinha, bem até demais. Já que vocês são dois traidores. Se eu fosse você, viria bem rápido. Porque daqui dois dias sua filha será o café da manhã dos recém-criados. 

Daniel desligou o celular apertando-o em sua mão, por pouco não o quebrou. Andando de um lado para o outro na pequena varanda, ele sussurrou, Malditos!

Nós três havíamos ouvido a conversa, não apenas pelo celular, por pensamento também. Assim que toquei na porta tentando ir em direção a Daniel, senti uma mão empurrar a porta fechando-a. O barulho ecoou pelo cômodo. 

– Eu falo com ele. – Disse Leiael, colocando sua mão sobre meu ombro. Por mais que quisesse questioná-lo não conseguia. Concordei balançando a cabeça.

 

Após algum tempo na varanda. Os dois entraram caminhando em nossa direção. Eu e Gabriele estávamos sentadas na mesa em silêncio.

Assim que eles pararam na nossa frente, eu e Gabriele nos entreolhamos e focamos nosso olhar neles, esperando uma resposta para o que estava acontecendo.

– Temos que conversar Daniel, ou melhor, como devo te chamar? Joduá? – Falei me levantando. 

– Agora não, Lara. – Ele respondeu transtornado. Leiael me fuzilou com seu olhar, fazendo-me sentar novamente. Sem rodeios Daniel falou com a voz gélida e sombria.

– Uma nova guerra está por vir! – Exclamou Daniel. – E vocês não são obrigados a participar dela.  

– Por que você não falou que Adele era sua filha? – Perguntei movida pelo impulso.

Ele ficou em silêncio por um segundo.  E depois de dois passos parou em minha frente.

– Agora não tenho tempo para lhe falar sobre minha vida pessoal. Uma guerra está chegando… Não se sinta obrigada a entrar nessa guerra. Não vou exigir grandes sacrifícios dos outros, não posso exigir de você. 

– Espero que saiba ser paciente. Existe uma hora certa para tudo, inclusive para sabermos mais uns sobre os outros?

– Paciente? – Perguntei. – Se não tem outro jeito… Primeiro a guerra? Vamos nessa! Depois nos falamos e nos conhecemos, de verdade – Falei mordendo os lábios que pareciam uma casca de laranja.

– Não é tão simples assim, Lara. É muito mais complicado do que parece.

– Então descomplica. – Sugeri.

– Ainda não é a hora. – Disse ele, desapontado. Apertando algo em seu pescoço que estava por baixo de sua camisa. Com um puxão ele o arrancou e colocou em minha mão fechando-a sem nenhuma delicadeza. Afastando-se em seguida disse:

– Fique com isso, ele é seu. Nunca o tire, haja o que houver. Nunca o deixe longe de você. A magia que existe nele a protegerá. 

Observei a pedra vermelha que havia cravada no colar. Tive a sensação de já tê-la visto em algum lugar, mas não era hora pra pensar nisso. Precisávamos de um plano para salvar Adele, precisávamos libertá-la daquele homem asqueroso.

– Espera aí! – Exclamei movida por um clarão em minha mente, podia até estar fora de hora, mas precisava falar…e tentei falar:

– Se você é Joduá e… 

– Lara. – Falou Daniel (Joduá), parecendo escolher as palavras. – Nem tudo que parece é. Nem tudo que reluz é ouro. Se você não se concentrar e focar no que você realmente quer, colocará tudo a perder. Não deixe o sentimento te dominar, ele ofusca nossa mente. Por causa de sentimentos é que está guerra começou. – Senti meu coração disparar. Gabriele e Leiael não pareciam nenhum pouco surpresos com minha reação… Senti a decepção envolver minha alma, me sentindo traída por me esconderem algo. Tentando conter uma lágrima que insistia em escorrer pelo meu rosto, me afastei em silêncio. “Por que precisam esconder algo de mim?”

Com as mãos na janela fechei meus olhos e respirei fundo tentando organizar meus pensamentos que pareciam um tornado em fúria, estava me sentindo fora do grupo.

A Widcyber está devidamente autorizada pelo autor(a) para publicar este conteúdo. Não copie ou distribua conteúdos originais sem obter os direitos, plágio é crime.

Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

Leia mais Histórias

>
Rolar para o topo