A escolha do Portal

O dia foi surpreendente para Nathan. A melhora da mãe, após tanto tempo, o fez sentir segurança e paz. Mas aquela noite prometia ser ainda mais especial.

Lúcia, como há anos não fazia, foi desejar boa-noite ao menino, que já estava na cama.

Durma bem, meu filho. Tenha lindos sonhos.

Com o nariz enfiado embaixo do cobertor, Nathan sentiu vontade de contar a ela o que acontecia em seu quarto, mas resolveu guardar segredo. Seria melhor poupá-la da estranheza daqueles encontros noturnos.

Boa noite, mamãe. Te amo.

Também te amo, querido.

Lúcia deixou o quarto sem tirar os olhos apaixonados de mãe do garoto. Luzinete, num salto ligeiro, saiu da mochila e postou-se ao lado do menino. Já de barriga para cima, Nathan relaxou, fechou os olhos, inspirou profundamente e aguardou. As fortes emoções do dia, contudo, o impediam de se concentrar. Depois de muito tentar e quase desistir, fez a última tentativa. Foi aí que sentiu uma forte pontada na nuca, acompanhada de um estalo. Em seguida, o quarto cresceu, sentiu o peso do corpo e depois flutuou. O Orientador surgiu com suas mãos luminosas, e disse:

Tive que dar uma ajudinha. Bastou aplicar um pouco de luz na nuca para ajudá-lo a perceber que eu estava aqui.

Nathan volitou suavemente até o meio do quarto. Luzinete emitiu uma rápida piscadela de luz para avisar que o aguardava ao lado da janela.

Bem, meu garoto, acho que é hora de partirmos.

Minha mãe…— Já sei, já sei. Luzinete finalmente a livrou do Hemolúpus.

Hemo…o quê?

Hemolúpus, um lobo que gosta de sugar a vitalidade dos outros. Tira a energia das pessoas assim como um vampiro. Quando perdemos o controle de nossas emoções, o Hemolúpus é atraído e se liga à pessoa. Assim que enfraquece, é a vez dos Morbs. Eles chegam para levar a vítima. Então, a escraviza para que trabalhe para o inimigo.

Morbs? Quem são eles?

Seres enviados pelo inimigo. Quando conseguem passar às escondidas pela Grande Barreira, eles se escondem nos subterrâneos do mundo dos viventes comuns. Pessoas desaparecem todos os dias por causa deles. Mas as pessoas, desconhecendo a existência desses seres, acham que elas foram sequestradas.

E como podemos derrotá-los? Não quero que minha mãe sofra outra vez e…

Não se preocupe, garoto, não se preocupe. Sua mãe está segura, pelo menos por enquanto. O mais importante é que você agora tem uma grande missão.

Missão? Eu? Qual?

Antes de falarmos sobre isso, inclusive sobre os Hemolúpus, terei que ensinar várias coisas. Não será fácil entender, mas farei o possível para que você compreenda tudo direitinho.

Nathan, com a testa franzida, se esforçava para compreender o Orientador:

Nathan, tudo tem um motivo. Você foi… foi, bem…

Fale logo. Estou curioso.

Você foi escolhido pelo Senhor Supremo, com a anuência da Grande Mãe, para ajudar a salvar nossos mundos. Pronto já disse.

QUÊ? SALVAR NOSSOS MUNDOS! EU? PENSEI QUE FOSSE BRINCADEIRA! — Exclamou Nathan, quase gritando.

Sabia que se espantaria, garoto. Isso foi a primeira coisa que eu disse à Grande Mãe, mas ela afirmou que você tem uma força poderosa, ainda adormecida. Mas quando ela despertar, você poderá nos salvar.

Lembro-me muito bem da conversa com a Grande Mãe, mas não imaginava que seria assim. SALVAR OS MUNDOS! Isso é muito maluco. Como posso fazer isso? — Perguntou Nathan, preocupado e volitando de um lado para o outro e com Luzinete colada às suas costas.

Logo saberá. Antes, fui encarregado de treinar você.

Treinar como?

Primeiro você terá que fazer sua escolha diante dos portais. E a sua escolha terá de ser respeitada. Caso aceite a missão, deverá unir a sua força à do Senhor Supremo. Juntos farão a Grande Unificação.

O que é a Grande Unificação?

Nathan parou de voar de lá para cá e fixou o olhar no Orientador. Estava ansioso para compreender melhor o que estava por vir. Ele, por sua vez, iniciou a explicação.

Nossos mundos são separados por uma grande barreira. É graças a ela que eles não se misturam. Sempre foi assim e deveria continuar sendo. Na natureza, cada coisa deve ficar em seu lugar. Nossos mundos são governados por uma força poderosa, inteligente, que nos traz equilíbrio. Porém, uma força maligna se rebelou contra as maravilhas que a força do bem podia fazer para qualquer ser vivo. O inimigo decidiu ampliar seus domínios e agora tenta devastar tudo o que estiver ao seu alcance. E tem ficado cada vez mais forte. Avançou, então, para a Grande Barreira, enfraquecendo-a. O seu mundo foi invadido. Já notou que as pessoas perderam as esperanças? — O menino balançou a cabeça sem dizer uma palavra. Com a barreira enfraquecida, tudo vai piorar. Essa força invasora deixa os humanos mais violentos. As coisas poderiam ser bem diferentes. Por isso, temos que deter a invasão que já está fora de controle. Hemolúpus e os Morbs se misturaram aos viventes comuns para torná-los escravos do mal.

Mas como deter tamanha força?

Não será uma tarefa fácil. Mas primeiro, devemos ir aos portais. É lá que você decidirá se prossegue com a missão ou se desiste dela.

Então, me leve aos portais. Talvez nem precise. Eu já tomei minha decisão.

Não se precipite. É diante dos portais que a verdade do seu coração se manifestará. É ela que prevalecerá. Diante dos portais não há mentiras. Bem, antes de irmos, tenho que fazer uma coisa para garantir a sua segurança.

De dentro do bolso da túnica, o Orientador retirou um aparelho estranho. Era uma espécie de esfera prateada com alguns tentáculos que serpenteavam e se entrelaçavam sem parar.

O que é isso? — Perguntou Nathan, sempre curioso.

É um pulsador de vida.

Para que serve?

Quando um vivente comum atravessa um portal, pode perder a capacidade de lembrar-se do mundo de onde veio. O pulsador não o deixará esquecer.

O Orientador abriu então as mãos que seguravam o pulsador. Este saltou e posicionou-se sobre o peito de Nathan. Seus tentáculos penetraram imediatamente na pele e envolveram o coração, que passou a bater mais tranquilamente. Isso causou uma estranha sensação. Depois de posicionado, o pulsador começou a brilhar e a emitir feixes luminosos. A luz era irradiada para todo o corpo, iluminando-o num tom azul-prateado. Aos poucos se apagou.

Agora sim, podemos ir — anunciou o Orientador, bem mais animado.

Nathan fechou os olhos e o quarto começou a se transformar em neblina. Deu uma última olhada, como se despedisse dele. Outro ambiente se formava lentamente diante deles, e dois rodamoinhos energéticos surgiram. Um deles emitia luz azul e o outro, luz amarela.

Aqui estão eles: os portais. O que emite luz azul irá conduzi-lo ao meu mundo. Caso opte por ele, sua missão começará. O outro, o de luz amarela, o mandará de volta, e tudo será esquecido.

Por um momento, Nathan hesitou:

Não. Acho que não posso ajudar.

Devo deixá-lo escolher. Pense bem. Seja qual for a sua escolha, ela será respeitada. Entendo que os riscos são grandes, e que o desconhecido amedronta. Mas lembre-se de que o bem é o que nos conduz à felicidade. E para tê-la, precisamos correr alguns riscos. Você é possuidor da maior energia já conhecida e é capaz de nos salvar. Se isso acontecer, nossos mundos serão conduzidos a outro nível de evolução.

Tenho medo.

— Não se preocupe. Estaremos juntos. Aliás, esta tem sido minha missão desde que você nasceu.

Como assim? Já me conhecia antes?

Sim. Há muito tempo.

Então, por que não me deixa ver seu rosto? — O Orientador puxou lentamente o capuz.

— Eu-eu já vi você em algum lugar. Eu o conheço, mas não sei de onde.

Do álbum de sua mãe. Sou seu avô Roberto.

Me-meu avô!? — Gaguejou o garoto. — Mas você morreu!

Bem, numa coisa você está errado: não estou morto. Na verdade, descobri o portal. Fui parar em outro mundo.

E meu pai? Ele entrou em algum portal?

Ele… bem, na verdade… talvez sim.

Meu avô! Que bom te conhecer. Mas veja seu rosto! Está esfarelando como as mãos da Grande Mãe!

Sim, filho. A força do inimigo tenta nos destruir pouco a pouco. Se não agirmos rápido não haverá mais nada.

Já decidi. Quero ajudar. — E quando estava prestes a dar o primeiro passo em direção ao portal, o Orientador o deteve:

Filho, espere. Este portal conduz à verdade que governa nossos mundos. Será uma jornada difícil. Conhecimento para alguns pode significar a plenitude; para outros, a maldição. Pense bem. — Nathan fez sinal de positivo com o polegar direito e disse:

Prefiro escolher a verdade.

Nathan caminhou em direção ao portal azul. Primeiramente colocou a mão e sentiu como se estivesse tocando numa espécie de água que não molha. Depois introduziu o braço e sentiu-o formigar. Em seguida, mergulhou o rosto e deu um impulso para frente. O portal o puxou com força. Luzinete, sempre impetuosa, mergulhou logo atrás seguida pelo Orientador.

Era como deslizar por um grande escorregador a altíssima velocidade. Soprava um vento forte como um tornado, que subitamente cessou. Um pouco atordoado, Nathan abriu os olhos e viu-se num lugar estranho. O ambiente era avermelhado e havia rochas fumegantes por toda a parte. Rios de lava serpenteavam em várias direções.

Acho que chegamos ao inferno — sussurrou Nathan, assustado, sentindo o ar pesado.

Não, meu filho. Esta é a Grande Barreira entre-mundos. Bem-vindo ao limite dos universos.

Nathan ergueu os olhos e viu um céu também avermelhado. Então, soou um estrondo forte de vários tambores que batiam todos ao mesmo tempo. Voltou-se cautelosamente e, ao descobrir o que era, espantou-se:

O-olhem! São gigantes! Quem são eles?

O Orientador colocou sua mão luminosa sobre o ombro do garoto e disse:

Drúmons. Seres poderosos que sustentam e protegem a Barreira. O som que ouve vem de seus corações.

Nathan olhou boquiaberto para aqueles seres de tamanho descomunal. Mais altos que a maior montanha conhecida pelo homem. Eram centenas deles, lado a lado, de mãos dadas, criando uma espécie de corrente titânica. De seus olhos, emanavam jatos de luz que se curvavam para cima em direção ao topo da cabeça, formando uma auréola luminosa azul. Depois, cada auréola fundia-se umas nas outras e caíam como uma fina cascata de luz. Esta era a cortina de proteção, a barreira entre-mundos.

Eles são imensos — comentou o garoto, quase caindo para acompanhar a altura dos Drúmons.

Sim; e são tremendamente fortes. Mas infelizmente não fortes o bastante para suportar a força que se opõe à barreira. Enfraquecem mais e mais. — Nathan percebeu que um dos titãs parecia ferido.

Vô, olhe. Aquele ali não se sente bem.

Nem terminara a frase e o Drúmom foi violentamente atingido por uma energia escura. O titã fechou os olhos e desmoronou sobre os joelhos. O baque foi ensurdecedor, principalmente quando seu peito e queixo atingiram o chão com toda a força. Os demais gigantes, ao perceberem a queda de um dos seus, imediatamente se ajeitaram para compensar o espaço deixado, e assim, manter a estabilidade da barreira. Os olhos dos Drúmons demonstravam a profunda tristeza de terem perdido o companheiro.

O Orientador alertou que outra onda de energia escura se formava e iria chocar-se novamente contra a barreira. Em breve, ela não resistiria e romperia para sempre. As consequências seriam desastrosas.

– Temos que prosseguir. Nossa jornada será árdua. Seguiremos naquela direção. – Disse o Orientador.

Os três deixaram aquela área rapidamente. Já distantes, o menino, triste com o que vira, deu mais uma última olhada nos impressionantes Titãs. A força contra a barreira era algo insuportável até mesmo para os gigantes.

Ao perceber a preocupação do neto, o Orientador disse:

Sim, filho. A situação é essa. Temos de restaurar a harmonia dos mundos. Essa região já foi pacífica e era, aliás, muito bonita. Veja no que se transformou.

Após longa caminhada, chegaram a uma clareira. O solo era bem pedregoso e no meio havia uma pedra plana e circular. Sobre ela os três decidiram descansar.

— Apesar de tudo, fique sabendo que gostei que você me chamou de avô. Pode me chamar assim daqui pra frente — Disse o Orientador em tom quase paternal.

Então vou chamá-lo de vô — anunciou o menino, sem muita cerimônia.

Fico feliz. Acho melhor que Orientador. Muito formal.

Depois de um período de silêncio, Nathan quis saber um pouco mais sobre aquele mundo. Começou com o que mais desejava saber:

Vô, se estou na fronteira entre – mundos, acho que eu devia estar em outra condição.

Que condição?

Um fantasma, por exemplo. Mas aqui eu sou tão sólido quanto sou em meu mundo.

Aqui é um mundo também, garoto. Bem, existem vários mundos diferentes. Na verdade, a natureza nos reserva surpresas. Uma delas é sermos transferidos para outros mundos através de portais.

E por que o senhor veio parar aqui?

Certa vez, estava em meu quarto descansando quando um portal se abriu. Curioso, fui até ele e escorreguei para cá. Gostei daqui. Este lugar costumava ser calmo. Podia pensar livremente, usar a imaginação. Mas essas qualidades tornaram-se as armas que hoje nos destroem.

Como assim?

Imagine um lugar onde seus pensamentos se transformam em realidade.

Uau! Isso seria o máximo!

Isso mesmo. Aqui o pensamento se torna ação. Para uma mente harmônica, sempre motivada pelo bem, é possível viver num mundo de paz e desenvolvimento, mas quando a mente se deixa levar por pensamentos ruins, sofre interferências, ela falha, e a desarmonia torna-se uma arma que atuará contra você mesmo e contra as pessoas.

Eu seria então meu próprio inimigo — concluiu o menino.

Correto. Portanto, aqui, Nathan, você deve permanecer sempre vigilante. Maus pensamentos podem conduzi-lo por caminhos tortuosos e enganá-lo com facilidade. Não se esqueça: fique sempre alerta.

Como saberei se algo é correto ou é um erro da minha mente?

A visão e a audição nos enganam. Preste sempre muita atenção nas suas sensações. Elas lhe mostrarão a verdade.

Parece difícil.

Aprenderá. Agora vamos ao nosso primeiro teste. Está vendo aquela plantinha lá adiante?

Sim.

Você se unirá a ela.

Como faço isso?

Olhe bem para ela. Observe cada detalhe. — Enquanto o Orientador falava, Nathan observava minuciosamente a planta, suas nervuras, sua coloração verde azulada, cada pequenino detalhe.

Agora, veja como ela se move ao sabor do vento… de lá… pra cá… de lá… pra cá…

A voz do Orientador parecia exercer uma influência hipnótica. Os olhos do garoto pesaram e seu corpo começou a se movimentar como a planta.

— Isso mesmo! Agora, feche os olhos e sinta-se uma planta. A imagem dela, seu formato, está em sua mente.

Nathan imaginou-se como a planta. Era como se ela penetrasse em sua pele e fluísse pelas veias em lugar do sangue. Subitamente seu corpo começou a se transformar.

Filho, agora abra os olhos.

O menino obedeceu e viu-se transformado numa planta. Seus braços se tornaram galhos, o cabelo, folhas azuladas e seus pés, raízes.

Olhem só pra mim! — Disse Nathan, admirado. — Sou uma planta. Como eu volto ao normal?

Calma, calma. Feche os olhos. Pense em como era, visualize sua imagem. Sinta-se como um humano novamente. Pronto, está tudo bem.

Foi incrível! Eu não podia me mexer direito. Meu corpo estava endurecido. Parecia um sonho.

Viu? É assim que podemos imaginar e sentir em profundidade.

Nesse momento, ouviu-se um baque surdo. Todos olharam para a Grande Barreira.

Mais um Drúmom caiu. Temos que nos apressar. A barreira não aguentará. Precisamos prosseguir — Disse o Orientador.

Para onde vamos? — Perguntou Nathan, preocupado.

À Caverna da Ilusão. Lá saberemos como localizar o Senhor Supremo.

Antes da partida, o Orientador achou melhor explicar como os seres da região entre-mundos se deslocam de um lugar para o outro.

Preste atenção, meu neto. Isso será importante, eu diria, vital. Até aqui, caminhamos, certo? De agora em diante nos “expressaremos” para outros locais.

Nathan não entendeu muito bem. Também evitou perguntar, visto a urgência da situação.

— Deve aprender mais uma coisa importante.

O Orientador juntou as mãos como quem se prepara para fazer uma prece. Logo em seguida, direcionou a palma da mão direita em forma de concha para o chão. Imediatamente ergueram-se por entre as pedras sete linhas douradas. Cresceram até atingirem dois metros de altura. Mantinham-se cerca de vinte centímetros de distância umas das outras. Nathan não compreendeu direito qual a serventia daquelas linhas. Antecipando-se, o Orientador explicou:

É simples. Para se expressar para qualquer lugar, você precisa tocar as linhas. Elas formam cordas como as de um violão. Ao pensar, seu corpo vibra e, ao tocá-las, produz um som. Este abrirá passagens que o levará para onde desejar ir. Agora diga para onde quer ir e toque as cordas.

Eu não sei… o senhor disse que a gente ia para a Caverna da ilusão.

Sim, é para onde vamos. E essa é a forma mais segura de viajarmos sem despertar a atenção da força inimiga.

Nathan ficou inseguro.

— Está bem. Então, deixe comigo. Temos que aproveitar a chance. Os cordões estão estáveis. Fiquem perto de mim. — Luzi e Nathan se posicionaram ao lado do Orientador. — Prontos? Lá vamos nós.

As mãos dele deslizaram pelas cordas, gerando um som agudo. Nathan sentiu um frio percorrer a espinha e se espalhou pelo corpo todo. Em seguida, um formigamento, semelhante àquilo que se sente quando a perna fica muito tempo numa mesma posição. Depois, concentrou-se na nuca. Uma luz dourada envolveu-o como numa espécie de casulo. De repente, dissipou e todos se viram diante de uma enorme caverna. Nathan por um breve instante viu seus braços iluminados.

Estou um pouco tonto — Disse o garoto com as mãos na cabeça.

Isso é comum nas primeiras vezes, depois você se acostuma — explicou o Orientador, examinando os arredores quanto a uma possível ameaça. Luzinete voou para o ombro do menino e ficou toda amarela.

Vô, posso fazer uma pergunta?

Não sei se este é o momento, filho. Se eu puder responder, tudo bem.

Que energia é essa que eu tenho que poderá ajudar?

Luzinete bateu rapidamente as asas e voou até o Orientador para alertá-lo sobre a importância da pergunta.

Muito bem, garoto. Acho que lhe devo uma rápida explicação antes de prosseguirmos. — O Orientador sentou-se sobre uma rocha, suspirou e começou a falar:

Como já disse, uma força construtiva e boa governa nossos mundos. Ela que criou a tudo e todos. Ela nos faz prosperar e evoluir. Tudo deveria estar em equilíbrio, mas o inimigo, por inveja, rebelou-se contra o Senhor Supremo. Ele tenta agora destruir tudo o que é bom.

Mas que força inimiga é essa?

O mal é contra a vida e o crescimento da criação. Ele quer nos escravizar para servi-lo e tornar-se assim mais poderoso.

É isso?

Exato.

E o que eu tenho a ver?

Pessoas puras de coração são portadoras de uma força que ajudará a derrotar o inimigo. O nome dessa força é esperança. Raridade nos dias de hoje. Você não sofreu a influência do mal. Chegará o momento que seus instintos lhe mostrarão como despertar essa força poderosa. Mas a coisa não para por aí. A evolução do universo deverá acontecer e você irá colaborar para que isso aconteça. Será uma existência para todos nós. Às vezes imagino como poderá ser. Se vencermos, nossas vidas serão restauradas por completo.

O Orientador suspirou mais uma vez e buscou uma forma mais fácil de explicar:

Não podemos agir solitariamente. Sem união, jamais conseguiremos vencer. O bem deve ser tão essencial quanto o ar que nos sustenta. Apenas ele que nos faz crescer. O mal precisa ser domado para tornar-se o bem.

Nathan parecia começar a entender.

Então, se conseguirmos, mudaremos o universo.

Sim, filho. Daremos um passo muito importante. Será a grande transformação. Com o desequilíbrio entre essas forças, criou-se um domínio obscuro que tenta apoderar-se de tudo que está à sua frente. Surgiram hostes de criaturas malignas. Elas atuam em conjunto e já influenciam o comportamento das pessoas sem que elas tenham consciência disso. O mal busca gente desesperançada, cansada de viver, com ódio no coração. Dessa forma exerce o poder sem resistência com promessas falsas. — Enquanto ele falava, Nathan encolheu os ombros de medo. Até Luzinete tremeu.

E o Orientador continuou:

Os Hemolúpus são agentes do mal. Estão agora mesmo sugando a energia vital de milhares de pessoas. Seus corpos e mentes ficarão entorpecidos. Perderão a capacidade de raciocinar e todos se tornarão zumbis.

O que acontece depois? Elas ficam assim para sempre? — Perguntou o garoto, sentindo um frio percorrer sua espinha.

Para sempre não. Essa é a preparação para o que há de pior.

O que poderia ser pior do que viver assim?

Viver em poder dos Morbs.

Morbs. O senhor já me falou sobre eles. Mas o que fazem?

São seres terríveis, verdadeiros monstros que caminham pela escuridão e escravizam pessoas. São horríveis de ver. Nem eles mesmos suportam o próprio reflexo no espelho. Depois que um Hemolúpus captura uma pessoa e suga sua energia, ele emite um som, parecido com um uivo. Este é o sinal para chamar um Morb. Ele, então, surge e coloca sua mão fantasmagórica no peito da vítima e comprimi seu coração até pará-lo totalmente. Depois a faz seguir os caprichos do inimigo das trevas.

Eu vi o que um Hemolúpus fez com a minha mãe! — Exclamou Nathan. — Luzinete conseguiu afugentá-lo. Quer dizer que, se não a tivéssemos salvado, ela seria uma escrava?

Isso mesmo. E mais: talvez o Hemolúpus permanecesse rondando sua casa em busca de mais uma vítima, quem sabe suas irmãs ou até você.

Nathan olhou para Luzinete e a abraçou em sinal de gratidão. Munido de muita coragem, o menino perguntou:

Como poderei lutar contra isso?

Sua força, combinada com a do Senhor Supremo, derrotará esta força obscura. Os universos voltarão à era da paz e do desenvolvimento. Para que isso ocorra, o primeiro passo será localizar o Senhor Supremo.

Onde ele mora?

Você deverá entrar na Caverna da Ilusão. Lá você encontrará uma esfera de cristal que apontará o caminho.

Parece fácil.

Mas tem uma coisa.

O quê?

Espero que a esfera esteja em seu pedestal. Caso contrário, não funcionará. E tem outra coisa.

O quê? Vô, você está me deixando nervoso.

— A caverna está cheia de armadilhas. Você só vai conseguir atingir seu objetivo se se mantiver atento e concentrado.

O senhor não vem junto?

Não posso. Eu não conseguiria acompanhá-lo. Além disso, esta missão é sua. Entenderá quando retornar. Luzinete também terá que ficar aqui — explicou o Orientador, com voz triste. — Sei que o fardo é pesado, filho, mas tenho fé que conseguirá.

Nathan olhou para a entrada da caverna e teve uma sensação estranha, uma mistura de medo e curiosidade. Deu três passos e olhou para trás. O Orientador acenou para ele e fez um gesto positivo com a mão para incentivá-lo a prosseguir. Luzinete voou para dentro do bolso da túnica do Orientador. Não conseguia esconder seu desespero. Quando o menino já quase desaparecia na escuridão da caverna, o Orientador gritou:

FILHO, CUIDADO COM O LAGO DOS SONHOS. NÃO CONFIE NO POVO DA LAMA. — Nathan retribuiu o sinal de positivo e prosseguiu a passos inseguros.

Pensando em voz baixa, o Orientador disse:

Espero que ele consiga antes de os rastreadores nos acharem.

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