“Surreal”
[CENA 01 – CASA DE ANDRÉA/ COZINHA/ DIA]
(Douglas continua olhando para a prima, esperando que a mesma tirasse a dúvida dele)
ANDRÉA – Eu também quero que o Mauro saiba do Pedro, mas se tudo isso não vou verdade, não podemos correr o risco dele perder o pós-doutorado dele.
DOUGLAS – Eu sei. Só que, estava pensando em apenas mandar a foto da mãe do Pedro para ele, e quem sabe, perguntar se os dois tiveram alguma coisa no passado.
ANDRÉA – É pode ser. Mas, e se ele perguntar onde você encontrou a foto? O que você dirá?
DOUGLAS – A gente pode dizer que estava dando uma faxina geral na casa, e acidentalmente encontramos essa foto no quarto dele.
ANDRÉA – Será que ele tem uma foto igual à que o Pedro tem?
DOUGLAS – Não sei, talvez sim. Se os dois tiveram alguma coisa no passado, certamente os dois devem ter foto um do outro.
ANDRÉA – Sua ideia parece boa, com grande chance de acabarmos entregando tudo.
DOUGLAS – Relaxa, eu tenho tudo planejado. A gente envia a mensagem para ele, dizendo que encontramos uma foto com ele e uma outra garota. Daí, aguardamos o que ele dirá. Caso ele confirme, perguntaremos qual era a relação entre os dois.
ANDRÉA – Você não acha que o Pedro deveria está aqui também?
DOUGLAS – O Pedro não trabalha em uma pizzaria pela manhã? (Andréa confirma com a cabeça) O único jeito de conseguirmos falar com o meu pai é agora pela manhã, que ele está disponível.
ANDRÉA – Você tem razão. Então tá, envia logo essa mensagem e vamos verificar de uma vez essa história. (Douglas digita algo em celular e envia a mensagem)
DOUGLAS – Pronto, agora é só esperar uma resposta dele! (os dois se entreolham, ansiosos)
[CENA 02 – EMPRESA DE FELIPE/ SALA DA PRESIDÊNCIA/ DIA]
(Felipe continua olhando para o irmão, querendo saber de onde ele tirou essa ideia)
FELIPE – Como assim o Pedro pode ser meu filho?
PAULO – Sei lá, surgiu essa dúvida na minha cabeça. Desde que ele foi morar com a gente, como ele e a Alice são parecidos, os dois até cantam.
FELIPE – Isso não significa nada.
PAULO – E também tem a história do pai dele que ele está procurando. Esse pai pode ser você.
FELIPE – Paulo, não viaja. Você sabe muito bem que eu a Carla éramos irmãos. Não podia ter nada entre a gente, principalmente alguma chance de o Pedro ser meu filho.
PAULO – Mas, se não me engano, vocês ficaram uma única vez na noite que vocês se conheceram. E nessa noite, vocês não sabiam que eram irmãos.
FELIPE – Aquilo foi um acaso apenas. Quando soubemos da verdade, cada um seguiu a sua vida. Eu me casei com a Luana, tivemos a Alice. E a Carla foi para São Paulo, e certamente deve ter se envolvido com outro cara lá.
PAULO – Mesmo assim, eu ainda acho que você devia tirar essa dúvida. O Pedro talvez seja o seu filho. (apesar de querer negar, essa dúvida também começa a ser conspirada na cabeça de Felipe, que volta a digitar em seu computador) Custa nada você realizar um teste de paternidade com ele.
FELIPE – Eu não vou realizar teste nenhuma, Paulo. E nem pensar de dizer essa sua dúvida para alguém. Principalmente para o Pedro. Ele sabe que eu e a mãe dele somos irmãos, e não pode imaginar que um dia a gente se envolveu, mesmo que tenha sido uma vez só.
PAULO – Ele não precisa saber. Só você colher o material escondido, como ele está morando com a gente, creio que ficará mais fácil. Depois só ir no laboratório e fazer o teste.
FELIPE – Não, eu não vou fazer isso. Eu não vou entrar nessa sua história maluca. Agora, se não me dá licença, tenho trabalho para fazer. (Paulo queria tentar convencer mais o irmão, mas vendo que ele estava começando a ficar irritado, desiste)
PAULO – Bem, tenho que resolver outros assuntos mesmo. (levanta-se) Você irá almoçar com a sua família hoje?
FELIPE – Talvez.
PAULO – Tá. Bom trabalho pra você. (Paulo sai da sala, assim que vai embora, Felipe para de digitar e fica pensativo)
Mais Tarde…
[CENA 03 – LANCHONETE DO IVO/ TARDE]
(Ramon e o pessoal estão lanchando algo, quando Pedro entra na lanchonete. Os encontrando, caminha em direção à eles)
PEDRO – (sentando ao lado de Ramon) E aí, turma?!
RAMON – Beleza, Pedro. Estávamos só te esperando. Passamos a manha ensaiando, e estamos pensando em uma música autoral para a próxima etapa.
PEDRO – Pode ser. Mas, dessa vez quero que você cante.
RAMON – Eu? Não, o vocalista é você.
PEDRO – Mas a banda é sua. E eu também não me sinto muito à vontade, em toda hora fazer os solos. Somos 5 integrantes, creio que é hora de reversamos.
RAMON – Todos nós sabemos que você é o melhor cantor.
PEDRO – Só que somos uma banda. Eu andei pensando, e se conseguimos ficar em primeiro lugar não foi por um cantor apenas. Foi a banda inteira, juntos! Então, se você não fazer o solo da próxima apresentação, eu não canto mais nenhuma música pra banda.
RAMON – Sabe que isso é terrorismo musical?!
PEDRO – Sei.
RAMON – Tá. Eu topo cantar, com a condição de você cantar comigo.
PEDRO – Pode ser. Mas você tem que ser a voz principal.
RAMON – Ok.
PEDRO – Perfeito. (olha para os demais garotos) Então, quem será o próximo que cantará uma música também?
[CENA 04 – CASA DE ALICE/ SALA/ TARDE]
(Alice vem descendo as escadas, no momento que Paulo chega em casa)
ALICE – Na rua até agora, titio?
PAULO – Tava por aí, planejando a minha nova viagem.
ALICE – Outra? Pra onde agora?
PAULO – Não sei, sinto saudade da Índia. Talvez eu vá passar um tempo lá.
ALICE – Mas antes de ir, vai assistir um show meu, né?
PAULO – Com certeza. Um não, vários.
ALICE – Espero.
PAULO – O Pedro saiu?
ALICE – Sim. Deve está ensaiando com a banda dele.
PAULO – Você sabe de alguma coisa sobre o pai dele?
ALICE – O que eu poderia saber sobre o pai dele?
PAULO – Sei lá. Talvez ele tenha contado alguma coisa pra você, algo do tipo.
ALICE – Não, ele não contou nada pra mim. Na verdade, a gente mal conversa. A gente só se encontra no jantar, com todo mundo.
PAULO – Entendo.
ALICE – Mas por que?
PAULO – Não, por nada. Só curiosidade mesmo. É que, se ele realmente encontrar o pai, talvez ele queira morar com ele, e tenha que sair daqui. (Alice fica pensativa, os dois não conversam mais, Paulo sobe para o quarto)
[CENA 05 – CASA DE ANDRÉA/ SALA/ TARDE]
(Andréa está sentada na sala, ouvindo música, Douglas estava ao lado dela, conversando com o pai por mensagem)
DOUGLAS – Ele continua grilado com a foto que eu enviei.
ANDRÉA – O que ele falou dessa vez?
DOUGLAS – Nada, só não se lembra de ter guardado essa foto. E acha muito estranho termos encontrado ela nas coisas dele.
ANDRÉA – Mas ao menos ele confirmou se os dois tiveram alguma coisa?
DOUGLAS – Não. Na verdade, ele não está respondendo nenhuma de minhas perguntas. Está me respondendo com mais perguntas.
ANDRÉA – É. O Mauro é esperto. Acho melhor deixar isso quieto, e quando ele voltar contamos tudo.
DOUGLAS – Eu acho que é melhor contarmos agora.
ANDRÉA – Não. Se não ele vai querer vim para cá, isso pode prejudicá-lo.
DOUGLAS – Talvez se contarmos apenas uma metade da história.
ANDRÉA – Que metade?
DOUGLAS – É, contamos que apareceu um rapaz dizendo ser filho da garota da foto. E que ele pode ser meu irmão. E caso ele queira voltar pra casa mais cedo, podemos dizer que o garoto não mora aqui. Que nos conhecemos pela internet!
ANDRÉA – Olha, pode ser que dê certo, mas será que não vai afetar o psicológico do tio? Ele pode ficar desconcentrado, e não estudar direito.
DOUGLAS – Não. Talvez o afete um pouco, mas o papai é concentrado. Ele vai manter o foco.
ANDRÉA – Enfim, se você quer tanto contar a verdade, siga em frente. Mesmo achando que o melhor é esperar ele voltar.
DOUGLAS – Confia em mim, vai dar certo. (começa a digitar a versão dele da história para o pai)
[CENA 06 – ADVOGACIA/ RUA/ TARDE]
(Salete e Larissa estão saindo do escritório de Josué)
LARISSA – Estou confiante, Salete. Acho que o Josué vai conseguir resolver meu caso, sem que Júlio pegue dinheiro sobre minhas custas.
SALETE – Mas lembre-se, ele disse que enquanto Júlio tiver o contrato que foi assinado por você, dando autorização dele sobre suas músicas, ele pode sim vender as outras letras que você compôs.
LARISSA – Eu sei. Infelizmente, não terei como impedir isso. Mas, ele deve ter no máximo duas músicas com ele. Ainda bem que não apresentei todas minhas músicas para ele.
SALETE – Menos mal. (olha para o relógio) Vou ligar para o Dácio, e dizer que já resolvi o que tinha que resolver. E que podemos nos encontrar agora. (pega seu celular, disca para Dácio que atende na hora) Alô, filho? Se você quiser, podemos nos encontrar agora.
[CENA 07 – RUA/ TARDE]
(Eduardo está em frente ao farol com o sinal fechado. Está ao lado do ponto de ônibus, que no dia anterior pensou ter visto Letícia. A lembrança dela sentada na cadeira do ônibus passa em sua cabeça, que o faz se questionar se realmente aquilo era real. O sinal se abre, e o carro logo atrás dele começa a buzinar. Ele acelera e continua sua entrega)
[CENA 08 – LANCHONETE DO IVO/ TARDE]
(Pedro e o pessoal da banda estão em cima do palco se preparando para cantar. Dácio entra na lanchonete, ao ver os garotos no palco, caminha até eles)
PEDRO – (desce do palco, ao ver Dácio) Opa, Dácio! Surpresa você aqui?
DÁCIO – Pois é. Na verdade, marquei um encontro com a minha mãe. Ela está vindo pra cá.
PEDRO – Sério? Que maneiro. Torço que vocês consigam se acertar.
DÁCIO – Eu também espero que sim. Pelo visto cheguei na hora certa, né?
PEDRO – (ri) Sim, estávamos nos preparando para cantar nesse momento.
DÁCIO – Beleza. Achou que vou ficar aqui na frente mesmo, ficar perto do palco.
PEDRO – Fica à vontade, cara. (Pedro volta para o palco, Dácio senta-se à mesa em frente deles. Pedro e Ramon vão cantar juntos dessa vez, os dois estão no meio do palco, prontos para cantar)
[CENA DE MÚSICA – SURREAL (SCALENE)]
[RAMON]
Nada era certo, mas parecia tão normal 1
Me acostumei com a incerteza ideal
Nos faz querer o tudo, o pouco não é opção
Será surreal ter o mundo em minhas mãos?
[PEDRO]
Tinha ao meu lado quem soubesse me ajudar 2
E acreditei no que iria me tornar
O pouco era simples, o tudo foi a opção
Será irreal ter o mundo em minhas mãos?
[RAMON E PEDRO]
Longe, alto 3
Cabe a cada um de nós dizer
Onde, quando
Cabe a cada um de nós saber
[RAMON]
A felicidade acordamos só pra ter 4
E compartilhar com aqueles que nos fazem
Sentir que estamos perto, saber que o longe é opção
Será ideal ter o mundo em minhas mãos?
[RAMON E PEDRO]
Longe, alto 5
Cabe a cada um de nós dizer
Onde, quando
Cabe a cada um de nós saber
[RAMON]
Seja qual for o final 6
Faça ser algo ideal
Seja qual for o final
Faça ser algo surreal
1. Pedro está tocando seu baixo, ao lado de Ramon que começa a cantar. Olha para o amigo e sorri, se afasta um pouco dele. Ramon também olha para o amigo e sorrir.
2. Pedro começa a cantar no momento que Salete e Larissa chegam a lanchonete do Ivo. As duas ouvem a música e olham para o palco.
3. As duas se aproxima do palco, ainda não reconheceram Dácio logo à frente. Pedro se aproxima de Ramon, os dois cantam olhando para o pessoal da lanchonete.
4. Larissa e Salete ficam ao lado da mesa de Dácio e ainda não o viram. Ele, vendo duas mulheres ao seu lado, logo reconhece sua mãe e se surpreende ao ver quem estava ao lado dela.
5. Dácio levanta surpreso, caminha em direção a elas. Ao reconhecer o filho, Salete sorri. Larissa olha para Dácio, e imaginando que ele seja o filho de Salete, também sorri. Dácio fica em frente delas, ainda olhando para Larissa, boquiaberto e surpreso.
6. Pedro encerra a música olhando Ramon, feliz ao ver o amigo cantando. Já em baixo, Dácio fica sem reação, ainda olhando para Larissa, que já começava a estranhar o jeito dele. Ao termino da música, os garotos agradecem e descem do palco.
SALETE – (estranhando o jeito que o filho olhava para Larissa) Tudo bem, filho?
DÁCIO – Então era verdade! Você está viva. Você voltou pra gente, Letícia! (Larissa olha para Salete, sem entender o que estava acontecendo)
[CENA 09 – PIZZARIA/ TARDE]
(Eduardo chega a pizzaria com mais uma entrega concluída com sucesso. Chega ao balcão, coloca a mochila em cima e fica pensativo. Laila, ao ver que ele havia chegado, se aproxima do balcão)
LAILA – O que está acontecendo, Eduardo?
EDUARDO – (voltando a realidade) O que?
LAILA – Você tem andado desligado nos últimos dias. Tem ficado por aí, pelos cantos. Você atrasou uma entrega. Você nunca atrasou uma entrega desde que te contratei. Essa foi a primeira vez. Está acontecendo alguma coisa?
EDUARDO – Só ando um pouco cansado, é isso.
LAILA – Quer umas férias? Se for, problema nenhum, posso antecipar suas férias. O que não posso permitir, que você fique fazendo as estregas desligado com as coisas que estão acontecendo ao seu redor.
EDUARDO – Eu só preciso de uma boa noite de sono, e voltarei ao melhor. Você vai ver.
LAILA – Você tem certeza?
EDUARDO – Tenho.
LAILA – Espero então. Se concentre está bem. Por que se você continuar desse jeito, terei que tomar uma atitude mais drástica. (volta para a cozinha, Eduardo continua sentado, sério dessa vez)
[CENA 10 – CASA DE ANDRÉA/ COZINHA/ TARDE]
(Andréa está na cozinha, preparando um pequeno sanduiche, quando Douglas entra, a chamando)
DOUGLAS – Andréa, meu pai respondeu. Ele respondeu!
ANDRÉA – O que ele disse?
DOUGLAS – É verdade. Meu pai realmente teve um caso com a mãe de Pedro. Pedro pode ser meu irmão!
[CENA 11 – CASA DE ALICE/ SALA/ TARDE]
(Felipe chega em casa um pouco cansado. Caminha até o sofá, coloca sua pasta ao lado, senta-se e encosta-se no sofá olhando para o teto, pensativo. Felipe lembra da vez que encontrou Carla em casa, assim que ela voltou de São Paulo. Lembra dela segurando Pedro, e de como ela ficou após ele perguntar quem era o pai da criança. A lembrança encerra-se, Felipe levanta, pega sua pasta e sobe para o quarto)
[CENA 12 – HOSPITAL/ Q. DE PAULA/ TARDE]
(Paula está sozinha no quarto do hospital. Como continua em coma, as enfermeiras e médicos a visitam poucas vezes apenas. Gaspar, o anjo protetor de Pedro e Alice aparece no quarto. A observa por alguns segundos, caminha até a cama dela, olha para os aparelhos. Volta a olhar para Paula, concentrado, com um olhar fixo nela. Alguns segundos assim, Paula começa a mexer os dedos das mãos)
[CENA 13 – CASA DE VERÔNICA/ SALA/ TARDE]
(Luana chega da viagem de férias que ela passou na fazenda de Sérgio. Ela chega em casa sozinha, entra, caminha até o sofá, coloca suas mochilas nele. Verônica vem descendo as escadas nesse momento)
VERÔNICA – Olha só quem chegou!
LUANA – Olá, mamãe. Também estava com saudade de você. (Verônica fica de frente para sua filha, mas não a abraça) Então, perdi alguma coisa quando estava fora?
Contínua no Capítulo 22…