“Menina Solta”

 

[CENA 01 – CASA DE ALICE/ ESTÚDIO/ NOITE]
(Alice desvia sua atenção para o seu caderno de música, sinal de que não queria ter aquela conversa agora)
FELIPE – Depois que você, na verdade, a gente descobriu que você e o Pedro são irmãos, eu pelo menos não percebi algum interesse de você em querer saber sobre sua verdadeira mãe.
ALICE – Eu nunca tive uma mãe presente, o senhor sabe muito bem disso. O que difere agora saber que a minha mãe biológica está morta?
FELIPE – Eu sei que a Luana por um lado falhou em seu papel de mãe, porém, ela te amou do jeito dela. Também sei que uma mãe morta não vai mudar as coisas, mas, eu gostaria que você conhecesse quem foi a Carla. Talvez você encontre algo parecido nela em você.
ALICE – Será que pode ser em uma outra hora, pai? (finge anotar alguma coisa) Preciso compor uma música agora.
FELIPE – Eu não quero apressar nada. Tudo no seu tempo, está bem. Só quero que saiba que eu já conversei com a Paula, sua tia e combinei com ela que assim que você estiver pronta, ela estará a disposição para falar da Carla para você.
ALICE – Era só isso? (Felipe levanta-se, caminha até ela, pensa em tocá-la, mas acaba desistindo)
FELIPE – Precisa de ajuda?
ALICE – Não, obrigada!
FELIPE – Então boa noite. (beija a cabeça dela, que continua escrevendo versos aleatórios no caderno) Não demore muito está bem?! Durma bem. (Felipe se afasta de Alice, a observa por alguns segundos, em seguida saí do estúdio. Alice para de escrever, rasga a folha, amassa e joga no lixeiro, fica pensativa)

Amanhecendo…

[CENA 02 – CASA DE PEDRO/ COZINHA/ DIA]
(Pedro está tomando seu café da manhã, mexendo em seu celular, especificamente no site da universidade onde Samuka estuda em Nova York. Paula entra na cozinha, pega uma maça e caminha em direção a sala novamente)
PAULA – Estou indo, querido. Até mais.
PEDRO – Até! (Paula sai de casa, enquanto Pedro continua navegando no site da universidade)

[CENA 03 – COLÉGIO ESTADUAL OLIVEIRA SANTOS/ PÁTIO/ DIA]
(Ramon entra no pátio e é aplaudido por alguns alunos, os mesmos o parabeniza por ter ganhado o programa)
RAMON – (feliz) Valeu, gente! Eu que tenho que agradecer a vocês, por que tenho certeza que vocês votaram muito na gente. Obrigado! (Andréa aparece ao lado dele, colocando seu braço ao redor de seu pescoço)
ANDRÉA – Então? Quando será o próximo show?
RAMON – Oi, Andréa! (a beija, ela retribui) Eu não sei… (se afasta dela um pouco) …na verdade isso está sendo resolvido pelo o Ivo.
ANDRÉA – Olha, não me leve a mal, mas… será que o Ivo terá capacidade para gerenciar a banda de vocês? (os dois caminham até um dos bancos) Assim, certo que ele tinha uma banda lá em 1900 e não sei quantas, mas… ele passou os últimos anos da vida cuidando de uma lanchonete, o que é totalmente diferente cuidar de uma banda. (Ramon senta-se, Andréa fica de frente para ele)
RAMON – Eu confio no Ivo, Andréa! E mesmo assim, ele pode ser nosso empresário, mas as coisas ainda precisam ser aprovadas por mim.
ANDRÉA – Ok. Só quis avisar. (senta-se ao lado dele) O Pedro ainda não chegou?
RAMON – Acho que não. Pelo menos ainda não o vi. (observa Dácio mexendo no celular em um canto do pátio) Com o Dácio ele não está! (Dácio continua aguardando uma resposta de Daniel, que até agora não visualizou suas mensagens. Preocupado que tenha acontecido alguma coisa, decide ligar para ele)

[CENA 04 – CASA DE DANIEL/ Q. DE DANIEL – SALA/ DIA]
(Daniel está sentado em sua cama, esperando o momento exato para fugir assim que seu pai entrasse no quarto. Ele houve a tranca da porta sendo aberta pelo o outro, levanta-se um pouco da cama, preparando-se para saltar em seu pai. A porta se abre, Samuel entra no quarto com uma bandeja nas mãos e nesse momento Daniel salta em cima dele, o empurrando na parede, derrubando a bandeja. Nesse momento, Daniel passa pela porta e sai correndo em direção a sala. Samuel levanta-se rapidamente e vai atrás dele)
SAMUEL – Volte aqui, Daniel! Você pensa que vai para onde?!
DANIEL – Eu vou embora desta prisão. (ao chegar na porta da sala, a encontra trancada. Tenta abrir a janela, mas acaba sendo pego por seu pai)
SAMUEL – (o segurando forte) Enquanto eu estiver aqui, você não sairá desta casa. (o joga no sofá)
DANIEL – Então devolve meu celular!
SAMUEL – Eu quebrei o seu celular.
DANIEL – Você fez o que?
SAMUEL – Quem é Dácio, Daniel?
DANIEL – Eu não sei de quem você está falando. (levanta-se furioso, fica de frente para seu pai) Devolve meu celular agora.
SAMUEL – Eu já disse que o quebrei após receber uma mensagem de um tal Dácio, dizendo que havia encontrado uma forma de você fugir daqui. Anda, me responde que é Dácio?
DANIEL – Você quer saber mesmo? (se afasta dele, indo em direção a escada) Ele é o meu namorado! (Samuel choca-se ao ouvir isso do filho) Dácio é o meu namorado!
SAMUEL – Isso é uma abominação! Homem com homem é um pecado!
DANIEL – Mas não é isso que eu sou? Uma abominação?
SAMUEL – O Senhor vai ter piedade de você, filho. Ele irá curá-lo desta doença.
DANIEL – Droga, será que você é tão mente fechado assim? Será que não ver que esse sou eu de verdade?
SAMUEL – Não, esse não é você. Você tá com algum vírus, algum tipo de problema psicológico, mas este não é o meu filho.
DANIEL – Posso dizer o mesmo de você! Por que a pessoa que está na minha frente agora, também não é o meu pai. (sente vontade de chorar) Não aquele pai amoroso e compreensivo, que estava ao meu lado sempre. O que eu vejo agora é um homem limitado numa crença que é colocada acima de sua família.
SAMUEL – E o que eu vejo é um garoto rebelde, que até atacar seu pai, você ataca. Você poderia ter me matado, me empurrado daquele jeito lá em cima.
DANIEL – Eu só quero ir embora desta casa. Me prender aqui não fará bem para nenhuma das partes.
SAMUEL – Eu não vou desistir de você…
DANIEL – Então chegou a hora deu desistir de nós dois. (corre para cima, Samuel o segue)
SAMUEL – Filho volte aqui! (Daniel chega ao seu quarto, pega a chave que estava na porta, entra e a tranca por dentro. Samuel chega e tenta abri-la) Abre essa porta, Daniel! Daniel, está me ouvindo? Abre está porta agora!
DANIEL – Não. (caminha até a janela, e tenta abri-la. Com uma certa força e dificuldade ele consegue abri-la, no entanto ao olhar para a rua, ver um cara rodando a casa e desconfia que seja amigo de seu pai)
SAMUEL – Que barulho foi este? Se você pensa em fugir pela janela, pode desistir. Esqueceu dos meus amigos rodando a casa lá fora.
DANIEL – O doente aqui é você! Você sim que precisa de tratamento. (senta-se na cama, desesperado)
SAMUEL – Você não vai para lugar nenhum, filho. Enquanto eu estiver aqui, você não vai para lugar nenhum! (Daniel começa a chorar)

[CENA 05 – COLÉGIO ESTADUAL OLIVEIRA SANTOS/ PÁTIO/ DIA]
(Dácio tenta pela terceira vez consecutiva ligar para Daniel, porém como das outras vezes só cai na caixa postal, e isso o deixa mais preocupado ainda. Pedro aparece no pátio, e assim que a vista Ramon, caminha até ele)
PEDRO – (cumprimenta Ramon) E aí, campeão! Pensei que iria tirar mais um dia de folga?!
RAMON – Bem que eu queria, cara. Mas não posso, preciso me dedicar este ano, não quero ficar reprovado.
ANDRÉA – Lembrou do ano passado, foi?!
PEDRO – Oi, Andréa.
ANDRÉA – Oi, Pedro!
PEDRO – E como está a agenda de shows? Deve estar lotada, hein.
RAMON – O Ivo que está cuidando disso.
PEDRO – (chega uma mensagem no celular, foca-se nele por um momento) Então vocês estão em boas mãos. Por que se os demais shows forem igual o primeiro, vocês estão bem!
RAMON – É o que a gente espera. (ri, Pedro solta um leve sorriso. Fica um curto silêncio entre eles, Andréa fica curiosa com o que Pedro tanto digitava)
ANDRÉA – Conversando com alguma paquera nova, Pedro?
PEDRO – Não, não é nada disso.
ANDRÉA – O que é então? Para você está digitando tanto assim?
PEDRO – Estou preenchendo algumas informações de uma inscrição que estou fazendo. É que vai ocorrer agora no meio do ano, as audições para seleção de uma vaga em uma das melhores universidade de música de Nova York.
ANDRÉA – Nova York? (se aproxima dele)
PEDRO – É. Um amigo meu que a indicou. Dizendo ele que tenho chance de entrar nela.
ANDRÉA – Que universidade é essa?
PEDRO – Espera aí… vou te mandar o link dela. (segundos depois chega no celular de Andréa, que na mesma hora já acessa)
ANDRÉA – Uau, eu acho que vou me inscrever também!
RAMON – E você vai para Nova York?
ANDRÉA – Se eu passar, sim.
PEDRO – Pronto, terminei minha inscrição. Agora só aguardar a data da minha audição.
ANDRÉA – Vou já fazer a minha. (levanta-se do banco) Ah, já que é só uma vaga… quero dizer que não irei pegar leve com você, Pedro! (sai, deixando-os sozinhos, que riem)
RAMON – Andréa é muito sem noção mesmo.
PEDRO – Eu nem vou focar muito nisso, me inscrevi mesmo só para testar. Se a Andréa quiser, ela pode ficar com a vaga.

[CENA 06 – CASA DELLE ROSE/ Q. DE LARISSA/ DIA]
(Larissa está em frente ao espelho, fecha os olhos e se imagina no palco do programa Sua Canção. Nathaniel bate na porta, trazendo-a para a realidade)
NATHANIEL – Acordada, querida?
LARISSA – Oi, Nathan. Estou sim, pode entrar. Estava aqui me imaginando no palco, cantando para o país inteiro.
NATHANIEL – Olha, que maravilha. Mas, não querendo estragar seu momento, mas já estragando. Esqueceu que você iria me ajudar na organização da apresentação especial que estou organizando.
LARISSA – Não, eu não esqueci, Nathan.
NATHANIEL – Que bom… (caminha até ela e a puxa pela mão para fora do quarto) …então vamos que temos muito o que pensar ainda. Precisamos de uma história para a encenação das meninas, do figurino, da música…

[CENA 07 – CASA DE ALICE/ Q. DE ALICE/ DIA]
(Alice está sentada em sua cama, olhando para o espelho. Lembra-se da conversa que teve com seu pai na noite anterior. Ao término de sua lembrança, levanta-se da cama e sai do quarto apressada)

[CENA 08 – COLÉGIO ESTADUAL OLIVEIRA SANTOS/ REFEITÓRIO/ DIA]
(Manuela está sentada com suas amigas, tomando o lanche da escola)
THALITA – A produção dessa vez mandou bem mais cedo que no ano passado.
ÉSTER – Não acha que você deveria contar para todo mundo que irá participar do programa? Isso já ajuda para ganhar alguns fãs.
MANUELA – Eu não sei meninas, melhor não. Eu ainda vou me apresentar para os técnicos, pode ser que eu nem passe da primeira fase.
ÉSTER – Deixa de ser boba, Manuela. É claro que você vai passar. Você quem irá ganhar este programa, anota o que eu estou dizendo. Nós duas, eu e a Thalita, cuidaremos de suas redes sociais durante esse tempo. Iremos atrair o máximo de seguidores possíveis.
MANUELA – Vocês não acham que estão exagerando não?
THALITA – Eu concordo com a Éster, Manu. Esse tipo de programa, ganha aquele que é mais popular pelo público.
ÉSTER – A Alice é exemplo claro disso.
MANUELA – Ela tem talento, é diferente.
ÉSTER – Que seja. Você vai ou não falar para todo mundo?
MANUELA – O que? Aqui e agora?
ÉSTER – Sim. Basta levantar deste banco, abrir essa voz, começar a cantar que todos irão prestar atenção em você.
MANUELA – Eu não sei não, meninas… Vou cantar que música?
ÉSTER – Você passou um bom tempo praticando com o Marcelo, não passou? Pois então, creio que chegou a hora de ver o que você aprendeu. (Manuela olha ao redor um pouco nervosa em querer seguir esse conselho de suas amigas. Mas, no fundo ela queria isso, então acaba levantando-se do banco, caminha até o centro do refeitório, ninguém olha para ela) Você consegue! (Thalita solta uma música em sua caixa de som, Manuela começa a cantar)

[CENA DE MÚSICA – MENINA SOLTA (GIULIA BE)]

Ela era lá da Barra, ele de Ipanema 1
Foram ver o campeonato lá em Saquarema
Achando que ia dar bom
Mas só deu problema, só deu problema

A mina chegou gigante, cheia dos esquemas
O moleque apaixonado e ela toda plena
Ele queria um amor e ela só tinha pena, só tinha pena

Enquanto ele dormia, mal ele sabia 2
Que lá no pé da areia outro chama de sereia
Essa menina solta
Essa menina solta

Enquanto ele dormia, mal ele sabia
Que lá na casa dela ela sentava e escolhia
Quem ela queria
Essa menina solta

Vai ter que superar 3
Vai ter que superar
Essa menina solta
Essa menina solta

Vai ter que superar
Vai ter que superar
Essa menina solta
Essa menina solta

Saquarema tava quente e ela toda fria
Falando que ia pra festa que ela nem ia
Mesmo levando perdido, ele não desistia (caraca, meu irmão)

Apegado nos momentos que tiveram um dia
Sem noção da situação que ele se metia
Todo sem entender o game que ela fazia
Vai, menina!

Enquanto ele dormia, mal ele sabia 4
Que lá no pé da areia outro chama de sereia
Essa menina solta
Essa menina solta

Enquanto ele dormia, mal ele sabia
Que lá na casa dela ela sentava e escolhia
Quem ela queria
Essa menina solta

Vai ter que superar
Vai ter que superar
Essa menina solta
Essa menina solta

Ele vai ter que superar 5
Vai ter que superar
Essa menina solta (essa menina solta)
Essa menina solta (essa menina solta)

Logo, logo ele, que era difícil de se apaixonar
Logo ele, vai ter que superar
Vai ter que superar

Vai ter que superar
Vai ter que superar
Essa menina solta
Essa menina solta
Essa menina solta

1. Manuela começa a andar pelo refeitório, passa em algumas mesas, alguns alunos as estranham, começam a rir.
2. Ela volta para a mesa onde estava suas amigas, as puxa de lá e as duas começam a dançar pelo refeitório.
3. Andréa acaba de entrar no refeitório e observa a apresentação de Manuela. Os demais alunos começam a curtir a apresentação dela, com a ajuda de suas amigas, elas puxam algumas outras garotas que começam a dançar.
4. Manuela sobre em cima de uma mesa e observa o pessoal se divertindo, isso a faz sorri.
5. Desce da mesa, caminha até o centro do palco, encerra a música e é aplaudida por todos. Aos poucos todos se acalma, Manuela respira um pouco, abraçada com Thalita.

THALITA – Você vai arrasar nesse programa, amiga!

[CENA 09 – PIZZARIA/ DIA]
(Dácio está fora da pizzaria, esperando Eduardo que havia ido fazer uma entrega. Alguns minutos de espera, Eduardo estaciona sua moto logo em frente dele)
EDUARDO – (descendo da moto, retirando o capacete) Dácio? O que faz aqui?
DÁCIO – (nervoso) Eu preciso da sua ajuda, Eduardo. Eu acredito que aconteceu alguma coisa com o Daniel. Por favor, me ajuda! (Eduardo continua de pé para ele, sem saber o que fazer)

[CENA 10 – CASA DE PEDRO/ SALA/ DIA]
(Alice desce do táxi em frente a casa de Pedro. Caminha até a porta devagarinho, um pouco nervosa. Pensa em tocar a campainha, récua, tenta ir novamente, volta a recuar. Vira-se para ir embora, caminha até a rua, mas no meio do caminho volta a olhar para a casa, e decide tentar novamente. Coloca a mão na campainha, respira fundo e dessa vez toca. Nervosismo toma seu corpo, pensa em sair dali correndo, mas antes que fizesse isso, Pedro abre a porta)
PEDRO – Alice?
ALICE – (nervosa) Oi!
PEDRO – O que faz aqui? (Alice não responde, apenas continua observando-o, nervosa)

[CENA 11 – CASA DE DANIEL/ Q. DE DANIEL/ DIA]
(Daniel está deitado em sua cama olhando para teto, pensando em uma forma de sair de casa. Seu pai havia desistido de entrar no quarto, e desceu para a sala Daniel levanta-se da cama, caminha até a janela e repara que a rua está deserta. Olha um pouco mais ao redor e repara que aparentemente não tem ninguém. Acreditando que o cara que estava rodando sua casa tivesse ido almoçar, ele aproveita está oportunidade para pular a janela)
DANIEL – (confiante olhando para a rua) Essa é a minha chance de sair daqui!

[CENA 12 – LANCHONETE DO IVO/ DIA]
(Ramon chega à lanchonete do Ivo, com seus amigos de banda. Eles se organizam no palco, enquanto Ramon caminha até o Ivo que estava no balcão)
IVO – (animado) E aí, meus campeões! Descansaram bem ontem?
RAMON – Descansamos, Ivo. Passamos o dia respondendo nossos fãs.
IVO – Isso mesmo, é assim que se faz.
RAMON – Está muito ocupado, Ivo?
IVO – Estou só finalizando a conta de uma mesa aqui, mas já que eu vou conversar com você. (sorri) Tenho ótimas notícias para dar a vocês!

Continua no Capítulo 55…

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