De onde se encontram pérolas, ele encontrou o amor.
Daquele choro fininho um sorriso iluminou.
Partido em duas partes, um colar se formou.
Depois de anos, seus olhos novamente se cruzaram.
Por muitas tormentas o casal passou.
Para longe novamente o destino os afastou.
Uma doce alma do além os ajudou.
Uma metade do coração novamente se juntou à outra.
(Ellen dos Santos)
Ele era um menino feliz e despreocupado, catando conchinhas na areia… Então ele a viu… Seria um anjo? Ou apenas a menina mais linda que ele já tinha visto? Apenas? Linda? Não, não… Não havia palavras para o que estava sentindo… Não sabia definir… Mas… Ela estava chorando!
Saindo de sua inércia, o menino Im Ryong Kwan foi correndo até a menina, que nem se deu conta de sua presença, tal a sua aflição. Chegando bem pertinho, com cuidado pra não assustá-la, ofereceu uma conchinha pra ela.
Engolindo o choro, a linda menina olhou assustada para o garoto que surgira do nada na sua frente, sem saber como reagir.
— Aceita… Foi a mais bonita que eu achei. É pra você… — disse em sua inocência. Só queria que ela não chorasse mais.
Ela olhou pras mãozinhas do menino e viu uma linda concha aberta, as duas metades formando um coração perfeito.
— Eu… É… É tão linda… Mas… Eu não posso aceitar… Nem sei quem é você! Meu pai me proibiu de falar com estranhos! — disse ela, se afastando assustada.
Ryong Kwan sorriu.
— Minha mãe sempre diz a mesma coisa! Que estúpido que eu sou! Me chamo Im Ryong Kwan… — Se curvou pra ela, como via os adultos fazerem. — E você, como se chama?
Um pouco atordoada, ela respondeu, em reflexo.
— Kim Bong Gi.
— Pronto! Agora que não somos mais estranhos você pode aceitar meu presente! — Confiante, ele pegou a mão da menina e colocou nela seu tesouro mais precioso. — Agora que somos amigos, me conte! Por que estava chorando? Está perdida? Nunca a vi por aqui…
Bong Gi ficou olhando a conchinha em sua mão com reverência, temporariamente esquecida do medo que sentia.
— Papai e mamãe me trouxeram pra conhecer o mar, mas… — Os olhos tornaram a se encher de lágrimas. — Eu… Fui andando, brincando com as ondas e… Eles não estavam mais lá!
Ryong Kwan olhou em volta, mas aquele canto da praia estava deserto, a não ser por eles dois. Era um trecho bem isolado, frequentado mais pelos pescadores locais.
— Sshhh…Sshh… — Ele a abraçou para confortá-la, fazendo a menina corar. — Vou levar você pra minha casa. Minha mãe vai saber o que fazer! Mães sempre sabem!
Percebendo, então, o que estava fazendo, ele a soltou, corando também. Coçando a cabeça, começou a rir, acabando por contagiá-la.
— Está com fome? Minha mãe faz a melhor sopa de mariscos do mundo!!! Vem!!! — Ele segurou uma das mãos dela e puxou para que ela o seguisse.
— Ah!!! A conchinha!… — fez Bong Gi quando seu presente caiu.
Imediatamente, Ryong Kwan se abaixou pra pegar. As duas metades haviam se separado na queda.
— Espera um pouquinho! — disse ele, se virando.
A menina ficou olhando enquanto ele voltava até a pequena bolsa que havia deixado onde estava antes de se apresentarem, vendo-o se agachar enquanto mexia nela rapidamente, parecendo muito concentrado. Em poucos minutos, o menino voltou com dois cordões feitos com linha de anzol, cada um com uma metade de concha.
Com a permissão de Bong Gi, colocou um no pescoço dela e o outro no seu próprio.
— Pronto! Agora estaremos juntos pra sempre! Venha, vamos pra casa!
Nesse instante, um adulto, aparentando estar muito nervoso, apareceu e pegou a menina no colo, assustando as duas crianças.
— Bong Gi! Quantas vezes já não disse pra nunca se afastar da sua babá? Aliás, acabei de demitir aquela estúpida! Vamos embora! Sua mãe está histérica e eu preciso voltar pra uma reunião urgente em Seul.
Ignorando por completo a existência de Ryong Kwan, ele se afastou com a menina no colo.
— Im Ryong Kwan! — ela gritou o nome dele, impotente, olhando por sobre o ombro do pai.
— Kim Bong Gi… — o menino murmurou, enquanto ela sumia na distância.
********************
Ele ainda murmurava aquele nome quando o seu celular o despertou. Era o primeiro dia de aula na Academia Elysium, a mais respeitada escola de Ensino Médio da capital. Não sabia onde sua mãe estava com a cabeça ao matriculá-lo numa escola onde só estudavam os mais ricos herdeiros da Coréia do Sul. Será que ela não sabia o que um bolsista como ele certamente sofreria num lugar como aquele? Ainda assim, o obrigara a prestar o vestibular e só a alegria e orgulho em seu rosto quando dissera que passara em primeiro lugar valeram o sacrifício… Ou assim esperava.
— Ryong Kwan!!! Acorde, filho! Você vai se atrasar!!!
— Já acordei, mãe!
Dez minutos depois, apareceu na sala com o garboso uniforme azul. Com um grito de admiração, sua mãe correu até ele olhando-o por todos os ângulos, ajeitando sua gravata, tirando fotos…
— Mãe! Eu só estou indo pra escola! Que exagero!
— Você está parecendo um príncipe!!! O meu príncipe! — gritou ela, parecendo uma tiete de um grupo de K-pop. — E não é uma escola qualquer! É a famosa Academia Elysium! Que orgulho!
Ryong Kwan revirou os olhos, mas sorriu enquanto se sentava pra devorar seu café da manhã. Já fazia quase dez anos desde aquele encontro na praia, sete desde que se mudaram para Seul. Sua mãe se tornara uma artista plástica de algum sucesso e parecia bem adaptada à vida na capital.
Quando ele atirou a mochila nas costas e ia se despedindo, sua mãe segurou seu braço e falou, séria:
— Meu filho, sei o que está pensando. Pode ser difícil no início, mas eu sei que você é forte e inteligente, e vai superar qualquer coisa. Mostre a eles o seu valor e não aceite provocações dos invejosos. Você pode não ser um herdeiro… Não como eles… Mas tenho certeza que vale mais do que qualquer um daqueles mimados! — ela ergueu a mão direita para um high-five.
O rapaz hesitou, franzindo a testa.
— Vamos, garoto! Não se atreva a deixar a mamãe no vácuo!
Ele riu, sacudindo a cabeça e tocou a mão dela com a sua, saindo em seguida.
*************************
— Ei!! Ryong Kwan!! Ei!! Bom dia!! — gritou Lee Kwang-Sun, ofegante, correndo pra alcançar seu melhor amigo.
Sem parar de andar, Ryong Kwan respondeu:
— Achei que já estivesse na escola, amigo! O que foi? — O rapaz sorriu, lembrando do péssimo senso de direção do outro. — Se perdeu de novo?
“Buuummm! Na mosca!” pensou ao ver o amigo corar.
— Como é que… Não!! Na verdade, é que… Ah, me dá um desconto, vai? Afinal, é escola nova e é o primeiro dia! E aí? Nervoso?
— Nem um pouco. — mentiu.
— Sei… — disse Kwang-Sun, ajeitando os óculos. — Nem se eu disser que a escola é assombrada?
— É só uma lenda urbana idiota, Kwang. Toda escola tem isso.
— Aham… Toda escola tem uma garota fantasma em sua Sala de Música… — falou, fingindo despreocupação, enquanto lançava um olhar de soslaio para o estojo de violino na mão direita de Ryong. — Ainda bem que não frequento essa aula.
Ryong Kwan deu uma gargalhada.
— Não se preocupe com isso, então. Veja, chegamos!
Os dois passaram pelos faustosos portões do que mais parecia uma luxuosa mansão estilo europeu do que uma escola. Atravessando os jardins, foram até o prédio principal, sentindo os olhares dos outros alunos sobre eles em franca avaliação.
— Muito bem, conseguimos chegar no horário. Vou até à secretaria pegar o cronograma de aulas. — Deu uma rápida olhada em volta. — Tente não arrumar encrenca enquanto isso, ok?
— Pode deixar. Ficarei bem aqui — respondeu Kwang, sorrindo.
Ryong Kwan, sentindo o clima meio tenso em volta deles, rezava que conseguissem passar pelo menos aquele primeiro dia sem problemas. Mas algo lhe dizia que estava sendo muito otimista…
*******************
Nae Myang-Hee era mais uma aluna bolsista naquela academia elitista, mas, em geral, os outros alunos não se metiam com ela visto ser a melhor amiga da filha do diretor, Kim Bong Gi.
Myang-Hee chegara cedo, como de costume. Ela pegou seus livros para a primeira aula e já ia procurar sua amiga quando, ao fechar seu armário, se viu de frente para um peito masculino. Olhando pra cima, engoliu em seco quando reconheceu Oh Kang-Dae e, pra variar, sua gangue de delinquentes.
— Po-pode me deixar passar, por favor? Estou com pressa… — disse a jovem, assustada, tentando abrir caminho, sem sucesso.
— Não tão rápido… bolsista… — ele falou a palavra bem devagar, como se fosse algo desprezível de se dizer. — Onde está minha noiva? Ela não anda sempre com você?
— Bong Gi ainda não chegou… Por favor, me deixe passar…
— Não tão rápido… — Ele sorriu, colocando o braço direito ao lado da cabeça da apavorada jovem e a examinando de cima a baixo com olhar avaliador. — Você até que é bonitinha pra uma CDF… — Arrancou os óculos dela, mantendo-os fora de seu alcance.
— O que você quer? — Myang-Hee pulava tentando pegar seus óculos, fazendo os capangas de Kang-Dae rirem a valer.
— Não fique nervosa… Só quero ser seu amigo também… — Ele a empurrou contra o armário, segurando os braços dela enquanto se abaixava tentando beijá-la.
Os outros alunos passavam por eles, ignorando-os. Ninguém se metia com a gangue de Kang-Dae. Além de serem conhecidos pela truculência, seu líder era filho único do empresário mais rico e influente da elite de investidores da Academia Elysium.
— Solte-a! — A coragem inicial do pobre Lee Kwang-Sun vacilou diante do tamanho do grupo que o cercou, mas não recuou. — Acho que a moça pediu que a deixassem passar…
— E você é…? — Kang-Dae largou Myang-Hee para encarar o recém-chegado, intimidando-o com sua altura. — Ah, já sei! Outro bolsista… Soube que havia mais um. Onde está seu amigo?
— Aqui. Algum problema? — Ryong Kwan chegou atraído pela confusão e se aproximou encarando Kang-Dae de frente, de igual pra igual.
— Nenhum… A não ser que vocês se recusem a entender quem manda aqui…
************************
— BRIGA! BRIGA! BRIGA!
Kim Bong Gi chegou correndo sem acreditar no que via. Bem no primeiro dia de aula! Seu pai ia ter um ataque!
— Myang-Hee! O que aconteceu? — A jovem foi ao encontro da amiga, que tentava acordar um calouro de olho roxo, desmaiado em seus braços.
Não precisou de muito para entender.
— Oh Kang-Dae… Por que não estou surpresa? — Bong Gi revirou os olhos.
Em vão, tentou chamar a atenção do delinquente, mas ele parecia muito entretido com o calouro alto. Era uma briga desleal de cinco contra um. O novato era bom nas artes marciais, mas ela resolveu dar uma mão. Seu pai não ia gostar, mas já que os seguranças pareciam não querer intervirem…
***********************
— Minha própria filha! Brigando como uma qualquer! — O diretor Kim quase espumava de raiva diante dos três adolescentes sentados diante dele. — Não foi pra isso que eu paguei os melhores mestres!
— Uma garota precisa saber se defender…
— Senhor Diretor, ela só quis me ajudar! Esse louco que começou agredindo meu amigo!
— Eu estava apenas conversando com a senhorita Nae Myang-Hee. Já que a minha linda noiva teima em me ignorar…
— Nunca concordei com esse noivado idiota!
— CALEM-SE! — esbravejou o diretor. — Você, Bong Gi, está de castigo! Vá pra casa e fique no seu quarto até eu dizer para sair!
Ele aguardou até que ela saísse, muito contrariada.
— Quanto a vocês dois… Bem, preciso de alguém para limpar a Sala de Música. Parece que encontrei dois voluntários… Melhor ainda, chame seus… amigos,Kang-Dae!
Antes que protestassem, o diretor Kim acrescentou:
— Não quero saber dessa bobagem de fantasmas! Vocês precisam aprender a conviver e cooperar, e eu preciso daquela sala limpa e operante pro reinício das aulas! Meu assistente os levará até lá. Dispensados.
******************************
Dez anos de sujeira e abandono não se resolviam duma hora pra outra. O sol já havia se posto e parecia ainda haver muito a fazer. Ignorando os capachos de Kang-Dae, que faziam a parte dele, enquanto o próprio roncava num sofá velho, Ryong Kwan procurava se concentrar no trabalho, mas um rosto não lhe saía da cabeça: Kim Bong Gi.
“Era ela…Sei que era…” pensava sem cessar.
Tocou com cuidado o olho direito, um pouco inchado. Quando ele a viu entrar no meio dos capangas e começar a praticamente arrancá-los de cima dele, achou que havia enlouquecido.
Abrindo um pouco o colarinho da camisa, retirou o cordão com a concha, do qual nunca se separava.
“Será mesmo ela?”
— Pare de ficar aí com essa cara de bobo, bolsista! Aquela garota não é pro seu bico! — Um dos capangas de Kang-Dae o empurrou, fazendo-o derrubar a caixa que carregava.
— Isso mesmo, novato… — O delinquente-mor em pessoa lhe agarrava pela gola. — Bong Gi é minha noiva.
— Ela não pareceu concordar com isso.
— Isso não lhe diz respeito! Nossos pais querem assim. É como funcionam as coisas por aqui, acho bom que saiba o seu lugar.
De repente, uma caixa caiu e as luzes piscaram, fazendo todos pararem.
— O… O que foi isso?
Kang-Dae riu do capanga, tornando a se largar sobre o sofá.
— É só a Ryu Mei. Deixem de moleza, quero sair logo daqui.
— Ryu Mei?
— A garota que se matou aqui. Outra bolsista idiota que achou que iria fisgar um cara rico. Ninguém usa essa sala por isso.
Ryong Kwan ficou pensativo. Aquela sala lhe dava mesmo a sensação de estar sendo observado.
Nesse momento, as luzes apagaram e uma silhueta feminina apareceu na janela. Foi o bastante para os valentões, incluindo Kang-Dae, gritarem e se atropelarem para sair, quase derrubando a porta.
Ryong Kwan, no entanto, não fugiu, se aproximando da janela com cautela.
As luzes se acenderam repentinamente revelando a visitante: Kim Bong Gi. Ela sorria, fazendo um gesto de silêncio.
— Você quase me matou de susto! O que faz aqui? — sussurrou ele enquanto ela abria e pulava a janela, entrando na sala.
— Eu não podia te deixar sozinho com aqueles idiotas… Desculpe ter demorado tanto.
Ele sorriu, acanhado. Andaram um ao encontro do outro, se encarando em silêncio por alguns instantes, como se não soubessem como começar.
— Você… — começaram juntos duas vezes, rindo de nervoso.
Ryong Kwan, então, teve uma ideia. Com cuidado, retirou o cordão com a concha de dentro da camisa e mostrou a ela, indo direto ao ponto.
— Por favor… Diga que se lembra… Diga que não estou louco, porque foi o que pensei quando a vi hoje de manhã… Kim Bong Gi… Você é a minha Kim Bong Gi?
Ela olhou para aquela concha com os olhos arregalados, a mente caótica com as lembranças.
— Não acredito… — ergueu os olhos pra ele. — Você… Você é o menino da praia? Aquele Im Ryong Kwan?
Com as mãos trêmulas, ela puxou um cordão idêntico, juntando as duas conchas.
— O coração… — Ryong Kwan sussurrou, emocionado.
— …está inteiro. — ela completou a frase.
Eles se lançaram nos braços um do outro, num abraço apertado.
Passaram horas conversando, sem sentirem o tempo correr… Já passava das nove da noite quando os celulares de ambos vibrando os despertaram de seu paraíso particular.
— Nossa!!! — O rapaz exclamou diante do número de ligações perdidas. — Minha mãe vai me matar! Disse que ia chegar tarde, mas não tanto! Preciso ir… —disse segurando as mãos dela, como se não quisesse largar. — Mas primeiro vou te levar em casa.
— Tudo bem. O motorista é meu amigo e vem me pegar, não é a primeira vez que preciso fugir de casa.
Ele ergueu uma sobrancelha, enciumado.
— Namorados?
— Não, seu bobo! — Ela riu. — Somente algumas festas do pijama e idas ao karaokê não-autorizadas.
O rapaz respirou aliviado, a fazendo rir mais ainda.
— Nos vemos na escola amanhã, então. — Quando chegaram ao portão, ele sorriu e deu um beijo na testa dela, fazendo-a corar.
— A-até amanhã! — A garota correu até um grande carro preto que parara na esquina da escola.
Enquanto cada um tomava seu caminho, olhos curiosos observavam das sombras…
*******************************
— Im Ryong Kwan!!! Conte-me tudo! — exigia seu amigo Kwang-Sun.
— Quero detalhes!!! Vocês se beijaram? — Myang-Hee também interrogava Bong Gi.
Ocorriam duas animadas conversas paralelas sobre o mesmo tema, que cessaram quando os quatro se encontraram na entrada da rua que dava para a Academia Elysium. Corando, cumprimentaram-se e seguiram juntos para a escola. Ryong Kwan com Bong Gi na frente, de mãos dadas.
Myang-Hee sorriu, olhando pra eles e então percebeu Kwang-Sun andando a seu lado.
— Queria agradecer por ter me defendido ontem… — A jovem falou baixinho, olhando pro chão, vermelha como um tomate.
— Eu… Hã… Não foi nada… Quero dizer… — O rapaz quase engasgou de nervoso, ficando ainda mais corado. — N-Não podia deixar aquele gorila idiota abusar de você…
Ryong Kwan e Bong Gi tentaram não rir da conversa dos amigos, achando fofo aquilo… Então, olharam um pro outro e riram, corando também.
****************************
Conforme os dias passavam, iam se aproximando cada vez mais. As aulas, passeios… Cada momento que passavam juntos compensavam os anos de distância.
Mas nem todo mundo via aquele romance com bons olhos; em especial, Oh Kang-Dae, o noivo arranjado, e o pai de Kim Bong Gi, o Diretor.
— Eu e seu pai concordamos. O casamento deve ser marcado sem demora, já que vocês se formam esse ano. Você fará isso amanhã durante a festa de aniversário de minha filha.
— E quanto àquele bolsista, Ryong Kwan? Não creio que sua filha irá concordar. Ela pode ser bem teimosa, o senhor sabe… — falou Kang-Dae, sombrio, encarando o Diretor.
— Você tem carta branca, se é que me entende, meu rapaz…
Kang-Dae abriu lentamente um sorriso.
— Sim, senhor…
************************
— Onde é que ele está? — perguntou Bong Gi pela centésima vez.
— Ele ainda não responde as minhas mensagens… — Kwang-Sun checava o celular a cada cinco segundos. — Eu não sei o que pode o estar detendo… Tínhamos combinado de vir juntos, mas esperei por uma hora e nada…
— Ligou pra mãe dele? — sugeriu Myang-Hee.
— Sim… Ela disse que ele saiu faz muito tempo.
A festa já começara há horas e nada de Ryong Kwan aparecer. Ele e Bong Gi haviam decidido enfrentar o pai dela e romper o noivado arranjado, comunicando a todos que estavam juntos, mas ele simplesmente desaparecera.
— Calma, amiga! Deve haver uma explicação pra isso! Aposto que ele vai aparecer a qualquer minuto. — Myang-Hee tentava acalmar Bong Gi, que comecava a ficar histérica.
— Não, ele não virá. — Bong Gi falou de repente, pálida como papel.
— Bong Gi? O que foi? — perguntou Myang-Hee.
Ela passou o celular aos dois amigos. Na tela, uma foto de Ryong Kwan amarrado a uma cadeira, muito machucado e a seguinte legenda: “Aceite meu pedido ou o corpo dele será encontrado amanhã na porta da escola.”
Batidas na porta.
— Seu pai está chamando, Bong Gi! Desça agora!
— Acho que não tem jeito… — Ela suspirou.
— Bong Gi, não!!
— Ao menos preciso ganhar tempo. — E saiu para cumprir seu papel na farsa armada por Kang-Dae e seu pai.
**************************
Ryong Kwan sentia-se como se tivesse sido atropelado por um caminhão. A visão entrava e saía de foco. Como viera parar de novo na Sala de Música? Aos poucos foi se lembrando… Ia de bicicleta ao encontro de Kwang-Su, para irem à festa de Bong Gi, quando um SUV preto o fechou e ele foi carregado pra dentro. Depois tudo que se lembrava era caos e dor.
De repente, sentiu mãos delicadas soltarem suas cordas, mas não conseguia ver ninguém.
“Eu via você praticar todos os dias com o seu violino, compondo aquela música linda para sua namorada… Amor verdadeiro… Como o que eu gostaria de ter vivido se não tivessem interferido… Vá até ela… Não a deixe ter o mesmo fim que eu…”
A porta se abriu, mas não havia sinal de ninguém por perto. Ryong Kwan se arrastou para fora e, perto da entrada, encontrou seu celular jogado. Com supremo esforço, chamou Kwang-Su e apagou.
****************************
Kang-Dae sentia-se triunfante. Tudo saíra conforme planejado e agora lá estava Bong Gi à sua mercê; não importava que ela parecesse estar indo para um cadafalso.
Ele já havia feito a proposta e colocara um imenso brilhante em seu dedo, quando a amiga intrometida a puxou, sussurrando algo em seu ouvido.
— Meu caro Oh Kang-Dae… Meu pai… — começou Bong Gi quando voltou. O olhar vazio agora brilhante e determinado. — Sei que esperavam ver a oficialização de um noivado e aguardavam ansiosos a data do casamento… Bem, minha resposta é não! Não irei me casar para satisfazer a alianças patrimoniais.
Ela se virou para ir embora, mas seu pai a agarrou pelo braço.
— Enlouqueceu? Perdeu o respeito por sua família?
— O senhor não vai mais controlar a minha vida! Prefiro morrer a casar com um escroque como Kang-Dae!
— Oh, presumo que não se importaria se algo acontecesse com aquele indigente que tanto ama…
— Ele não está mais nas mãos de seus capachos!
— Oh, querida… Ele sempre estará… — Ele apertou mais o braço dela, abaixando a voz. — Nem pense em ir vê-lo! Você já me envergonhou demais, menina! Arruinou um acordo que levei anos pra conseguir! Muito bem… Não se casará agora se não quiser, mas não tornará a ver seu indigente. Ficará presa em seu quarto até que eu a matricule no melhor internato da Suíça, de onde só sairá para se casar!
Dito isto, fez sinal para dois brutamontes que a arrastaram para cima.
**************************
Ryong Kwan abriu os olhos, para o alívio de sua mãe. Zonzo, ele piscou várias vezes e ficou olhando as pessoas sentadas junto à cama hospitalar onde estava deitado.
— Bong Gi… — murmurou.
Kwang-Su e Myang-Hee se entreolharam, tristes. A mãe dele se aproximou da cama e falou com cuidado:
— Filho… Você já está aqui há uma semana… O pai dela vai enviá-la hoje para a Suíça, aquele desgraçado!
Ryong Kwan empalideceu. Ainda um pouco tonto se sentou na cama, seu corpo dolorido e dormente, mas nada parecia quebrado, ao menos.
— Eu vou atrás dela… Se não me ajudarem, vou nem que seja me arrastando. Então? Como vai ser?
Sua mãe o conhecia bem o bastante pra saber que não estava brincando.
— Vou falar com o médico.
***************************
O médico não queria liberar a alta, mas quando foi ao quarto para comunicar isso, não havia mais ninguém ali.
Ryong Kwan se espremeu contra o vidro, olhando para o avião que decolava rumo à Genebra na Suíça. Por mais que tivessem corrido, fora em vão.
— Bong Gi… Não… — Ele se sentia despedaçado por dentro.
Sem palavras, Kwang-Su e Myang-Hee deixaram-no um momento sozinho.
Alguém se aproximou por trás, a passos lentos.
— Você a perdeu hoje… — falou o Diretor Kim, se aproximando de Ryong Kwan, com ar superior e vitorioso. — Na verdade, você nunca a teve, rapaz. Isso o ensinará a reconhecer o seu devido lugar.
Ainda com o rosto marcado de lágrimas, Ryong se levantou com toda a dignidade de que pôde dispor e encarou o velho em silêncio por um instante.
— O senhor se preocupa tanto com status e dinheiro… Como se isso servisse para medir o valor de uma pessoa… — começou, devagar, olhando-o com desprezo. — Minha mãe me contou, quando fiz 15 anos e achou que eu teria maturidade suficiente pra entender, que meu pai era, na verdade, um dos maiores empresários automobilísticos da Coréia do Sul, mas que ela nunca disse a ele de minha existência porque acreditava que honra, honestidade e bondade eram os verdadeiros valores que deviam definir o valor de alguém. Ela o amou, mas sua família, infelizmente, pensava como o senhor… —Respirou fundo e continuou: — Bong Gi me ama e eu a amo de todo o meu coração. Ela não se importa se sou rico ou pobre, e eu tampouco…
— Não me interessa sua opinião e não acredito no que diz. O que importa, afinal, é que minha filha está fora do seu alcance. Adeus.
Ele se retirou majestosamente enquanto Ryong Kwan continuou ali, devastado, observando o céu. Sem se aguentar mais, ele caiu de joelhos, dando vazão à sua dor.
**************************
Não havia mais sentido em voltar para aquela academia esnobe. Pedira transferência pra outra escola, mas desde que Bong Gi se fora, apenas via a vida passar sem realmente viver… Tentaram de todas as maneiras contatá-la, mas ela parecia mesmo estar fora de alcance.
Os meses passaram sem que Ryong Kwan percebesse… Sentia-se uma casca vazia, sem alma, com apenas a metade de seu coração…
Quando as férias chegaram, o rapaz resolveu visitar o lugar onde tudo começara: uma pequena ilha na costa sul da Coréia, próxima à Tongyeong, onde vira aquela linda menina perdida, chorando desconsolada…
Andando pela praia de areias brancas, ia lembrando cada momento em sua mente como em um filme, revivendo cada emoção: a surpresa, a timidez, a alegria, algo que nem sabia definir como amor ainda… e a decepção por perdê-la. Tudo se repetira… E a dor parecia que nunca mais iria embora…
Então ele a viu.
— Kim Bong Gi? — exclamou perplexo.
Não… Sua mente, certamente lhe pregava uma peça. Ele foi andando, hesitante a princípio, depois começou a correr em direção à jovem sentada olhando o mar.
Parou a poucos passos atrás dela, sem fôlego, o coração disparado. E se não fosse ela?
— Kim…Kim Bong Gi? — chamou.
Ela se levantou e se virou lentamente… Parecia sentir o mesmo que ele: o medo de que fosse apenas uma ilusão. Erguendo os olhos vermelhos das lágrimas recém-derramadas, ela balbuciou:
— Im Ryong Kwan… RYONG KWAN!! — a jovem correu até ele, se atirando em seus braços.
O rapaz a abraçou com força, quase caindo com o impacto, mas se manteve firme, segurando-a como se temesse que se desfizesse no ar.
— Ryong Kwan… Não consigo respirar… — ela sussurrou, com o rosto prensado contra o peito forte dele.
— Oh, perdoe-me!
Afastaram-se um pouco, olhando um pro outro, afogueados. Parecia que fazia séculos…
— Isso é um sonho? Como… Como você está aqui? Pensei que…
— Que eu estivesse na Suíça? Eu estava… Mas não achou que iria ficar lá pra sempre, achou?
— Tentamos te localizar, descobrir o colégio pra poder buscá-la… Mas cada vez que chegávamos perto de descobrir, ela mudava de lugar… E olha que Kwang-Sun é o melhor hacker que eu conheço, e, aliás, sua amiga Myang-Hee não fica atrás!
— Eu fugi várias vezes e fui levada de volta… Enquanto isso, minha mãe e o novo marido dela, o dono de um escritório de advocacia ainda em ascensão, moveram céus e terras para me emancipar.
Ela sorriu, triunfante, tirando um papel da mochila e mostrando a ele.
— Não precisamos mais ter medo agora. Estou livre!
Ele pegou o papel, lendo com voracidade… Era quase bom demais pra ser verdade…
— Mas por que não me procurou antes ou me ligou?
— Meu pai me fez acreditar a princípio que você havia morrido… Eu quase enlouqueci…Quis morrer também… Fiz greve de fome… Até me internaram, mas… Acredite em mim, por favor! A Ryu Mei me salvou.
— A menina fantasma da Sala de Música?
— Sim… Eu sonhei com ela no hospital, ela me disse que você estava vivo e que eu deveria viver e nunca desistir, como ela fez…
— Acreditaria se eu dissesse que ela me salvou dos capangas do seu ex-noivo?
— O quê?
— Ela me soltou e acho que os afugentou, permitindo que eu escapasse e avisasse Kwang-Su. Parece que temos um anjo… Ou melhor, um fantasma de guarda. — Sorriu, tomando-a nos braços de novo.
— Não brinque! Devemos muito a ela!
— Eu sei, meu amor… Minha Bong Gi… Agradeceremos a ela pelo resto de nossas vidas… Juntos!
— Espero que ela encontre a paz e seja feliz… Como nós somos agora!
— Sim… — O rapaz sorriu novamente, olhando-a com ternura. Os lábios se aproximaram, buscando os dela, repetindo: — Pelo resto de nossas vidas… Juntos! Finalmente juntos!
Ele começou a rodar com ela nos braços, riram e giraram até caírem no chão, com a jovem por cima.
— E o que está esperando para me beijar, Im Ryong Kwan?
Ele riu e não se fez mais de rogado.
******************************
Uma forma etérea os observava à distância. Sua missão estava cumprida. Ela estava feliz, muito feliz.
Um rapaz apareceu ao lado dela e lhe abraçou pela cintura.
— Nunca te esqueci…
— Nem eu…
— Vamos. Estão nos esperando…
Uma brisa forte soprou, erguendo pequenos redemoinhos de areia. Havia somente um casal na praia agora.
Quando o beijo terminou, Im Ryong Kwan e Kim Bong Gi viram que não conseguiam se afastar e riram percebendo a razão: os cordões com as metades das conchas haviam se enrolado um no outro, juntando-as de novo numa só.
Eles sorriram, olhando um nos olhos do outro e tornaram a se beijar.
************
FIM
Lindo o conto. Parabéns!
Lindo o conto. Parabéns!
Que lindo, parabéns Andrea
Que lindo, parabéns Andrea
Obrigada ^^! Desculpe a demora em responder . Só vi agora.kkj
Que lindo, parabéns Andrea
Que lindo, parabéns Andrea
Obrigada ^^! Desculpe a demora em responder . Só vi agora.kkj