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Ex-Namorados

Conto: Ex-Namorados
Autora:
L.M. Braz

 

 

Doce e bela menina apaixonada,
Ao completar mais um ano ganhou da vida, um vale de lágrimas.
Quis sumir pelo mundo, distanciar-se de todos, calar o coração contra possíveis amores.
Mas eis que a vida a trouxe de volta para onde tudo começou; do destino queria a resposta: por que essa volta?
Ela o queria, não querendo.
E mesmo não querendo, ela o queria.
Afogada em decepções;
Sem resposta para essa indagação que em sua mente residia.
Ao saber tantas verdades que se negava a ouvir, encontrou de novo a felicidade a que tentava resistir.
A doce e bela menina apaixonada sempre o amou; enfim a resposta lhe foi dada.
E seu ex-namorado, seu marido se tornou.

(Ellen dos Santos)

 

Era o casamento do meu irmão mais velho e aconteceria na minha cidade natal, em Minas Gerais, onde eu não ia há dois anos, desde que me mudei para o Rio de Janeiro. Saí de casa aos dezoito anos, para morar com meu pai, Flávio, e minha madrasta, Júlia, na cidade maravilhosa, depois de uma grande decepção amorosa. Decidi que o melhor para mim seria estar longe de tudo e de todos que me magoaram tão profundamente em Belo Horizonte. No RJ, eu comecei a estudar Arquitetura e fiz novos amigos que me ajudaram a superar minhas tristezas.

Depois que me mudei, simplesmente cortei contato com todos de lá, exceto minha mãe, Marisa, com quem eu falava quase todos os dias, e com meu irmão, Diego, quem às vezes trocava algumas mensagens curtas. Ele havia acabado de se especializar em pediatria e agora iria se casar com sua namorada, Camila, quem ele conheceu na faculdade. Meu irmão havia me chamado para ser madrinha do seu casamento e disse que eu poderia escolher quem eu quisesse para ser o meu par. Escolhi nosso primo, Beto. Crescemos juntos e ele era alguém com quem tinha um pouco mais de afinidade quando ainda morava em BH.

Arrumei minhas malas contra minha vontade e peguei um voo direto para MG junto com meu pai e sua esposa. Chegando lá, meu irmão nos esperava no aeroporto. Seguimos para o hotel onde meu pai e minha madrasta ficariam hospedados e depois fomos para casa da nossa mãe. Também teria ficado no hotel se não fosse por insistência dela. No caminho, meu irmão tentou puxar assunto comigo, mas eu estava tensa com esse fim de semana. Sabia que mais cedo ou mais tarde encontraria o dito cujo que feriu meu coração. Afinal, ele era o melhor amigo do meu irmão e estaria presente no grande dia.

Chegamos à casa da minha mãe e ela nos esperava ansiosa ao lado do seu namorado, Jorge, com um banquete para o almoço posto sobre a mesa na pequena sala de jantar, com todas coisas que sempre gostei de comer. À noite saímos todos para jantar em um restaurante famoso no centro da cidade, onde meu irmão havia feito reservas. Na verdade, imaginava que seria somente eu, meus pais com seus respectivos companheiros e meu irmão com sua noiva, mas me enganei. Ao chegarmos lá, vi que os pais da minha futura cunhada estavam presentes também. Naquele momento, rezei com toda minha fé para não encontrar o Vinícius, meu ex-namorado. 

Sentamos-nos, fizemos logo os pedidos e, até aquele momento, tudo estava tranquilo, até que escutei um “boa noite, família”. Naquele exato instante, tive vontade de que uma fenda se abrisse no chão e eu desaparecesse por ela. Não era porque não chorava mais e nem ficava trancada dentro do quarto por dias, que significava que eu havia esquecido quem amei pela primeira vez e quem me fez mulher. Levantei minha cabeça lentamente e vi Vinícius observando-me com um sorriso enorme no rosto. Meu irmão pediu ao garçom que trouxesse mais uma cadeira para ele. Logo o mesmo voltou e colocou a bendita bem ao meu lado, onde minha mãe havia aberto espaço. Ele se sentou e imediatamente seu perfume amadeirado entrou por minhas narinas, fazendo-me lembrar nós há dois anos.

— Oi, Mari — disse ele olhando para mim e sorrindo.

Nossa… esse sorriso me mata.” 

— Oi — respondi olhando para frente novamente. 

As horas naquele jantar se arrastaram como séculos e eu já estava louca para ir embora para casa, só não sabia se era para chorar ou se era para brigar com minha mãe e meu irmão por terem feito aquilo comigo. Talvez os dois. Depois da sobremesa, resolvemos ir embora. No estacionamento do restaurante, todos conversavam animados antes de se despedirem com beijos no rosto, abraços breves e apertos firmes de mãos. Minha mãe iria para casa do namorado e meu irmão para casa da sua noiva como de costume, os dois praticamente moravam juntos a cerca de um ano. Já meu pai, resolveu estender a noite mais um pouco com minha madrasta pela cidade. Eu iria para casa sozinha. Já estava chamando um Uber pelo aplicativo quando minha futura querida cunhada pediu ao Vinícius para que me levasse até em casa.

— Não precisa! — contestei mais do que depressa. — O Uber já vai chegar em cinco minutos — informei.

— Não tem problema. Eu fico com você — rebateu Vinícius. 

— Não precisa, Vinícius. Meu pai fica comigo — dispensei sua companhia.

— Okay. Já que você não quer… Boa noite para todo mundo. Já vou indo. — Saiu em direção ao seu carro. 

Todos foram embora, menos meu pai e Júlia que ficaram comigo. Logo o carro que eu havia chamado chegou e eu me despedi deles indo para o lugar onde já chamei de minha casa. Quando o motorista estacionou à frente da residência, paguei pela corrida e desci depressa entrando logo. Deitei-me no sofá e tirei os sapatos, deixando-os jogados pelo chão. Acabei caindo no sono ali mesmo assistindo a uma maratona especial de This is Us na Fox. Acordei com carícias em meu rosto e fui abrindo meus olhos vagarosamente. Minha visão estava meio turva, mas mesmo assim reconheci quem estava sentado à beirada do sofá alisando sua mão em minha pele. 

— Bom dia — desejou Vinícius.

Ao ouvir sua voz, consegui me dar conta de que realmente era ele sentado bem ali, tão próximo de mim outra vez.

— O que está fazendo aqui? —perguntei sentando-me em um pulo.

— Calma! — pediu levantando suas mãos para cima em sinal de rendição. — Vim porque seu irmão me pediu. Você não atendia o celular e nem o telefone fixo, ficaram todos preocupados com você.

— E por que ele mesmo não veio? — questionei nervosa com a situação, levantando-me do sofá.

— Porque ele está com a noiva buscando o vestido para o casamento de amanhã.

— Ok. Eu estou bem. Você já pode ir. Vou ligar para ele. — Dei-lhe as costas indo para o meu antigo quarto.

Fechei a porta e já fui logo tirando o vestido amassado pela noite de sono, ficando somente de lingerie indo ao banheiro. A porta do quarto se abriu de uma vez em um estrondo e Vinícius passou por ela.

— Você está maluco? Saí fora daqui, Vinícius! — gritei histericamente e com raiva, tentando me cobrir com os braços.

— Até quando você vai me odiar? —perguntou vindo em minha direção.

— Até quando você for vivo ou eu me lembrar do que fez! — disse rude e cheia de ódio.

— Nossa… Quanto ódio há em você por mim. — Parou há alguns passos de mim. — Sabe… eu acreditei que você voltaria mais madura e iria ver que tudo aquilo no passado foi só um mal-entendido. 

— Uau! Você ainda insiste nessa de que foi só um mal-entendido? Caramba, Vinícius! — gritei. — Você transou com a garota que era minha amiga de infância, no meu aniversário, em cima da minha cama. Vai à merda você e sua esperança de que eu voltaria para cá acreditando que é inocente. Mas que merda! Eu amava você. — Lágrimas escorreram por meu rosto. — Você me fez acreditar que você também me amava em todas as vezes que transou comigo ou que me abraçava. Mas a verdade era que só queria ficar com a irmãzinha do seu melhor amigo. Você já pegou esse prêmio, agora já pode ir embora. — Tudo o que não havia conseguido dizer há dois anos, finalmente tinha sido jogado para fora.

Vinícius respirou fundo e cansado colocando as mãos no quadril, encarando-me com uma expressão vazia no rosto. Ele fechou os olhos e quando os abriu novamente consegui ver tristeza neles. Senti vontade de abraçá-lo e dizer o quanto ainda achava gostar dele. Tive vontade de deixar os anos que passamos longe um do outro para trás e enterrar os acontecimentos, mas não dava! Ele me magoara bastante. Meu orgulho também estava ferido.

— Ela queria. Ela sempre insistiu muito para ficarmos, mas eu nunca quis. Aquilo nunca foi real, foi tudo armação dela. Aquela garota ainda foi capaz de me acusar de estupro depois que você foi embora, mas nunca foi comprovado nada até que um belo dia ela resolveu desmentir para polícia. Ela quase acabou com a minha vida e conseguiu acabar com a gente. Mari… Eu ainda amo você. — Ele disse com os olhos cheios de lágrimas. — Você estava tão magoada e com raiva, que não quis me ver ou me ouvir. Brigou com seu irmão quando ele tentou contar a você a verdade, acusou-o de estar me defendendo e escolhendo a mim em vez de você. Quando foi embora sem dizer adeus, não magoou somente a mim, magoou a ele também. Diego nunca faria isso se ele duvidasse que eu estivesse falando a verdade. 

Fiquei parada na porta do banheiro, olhando para ele enquanto lágrimas desciam abundantemente por meu rosto. Fechei meus olhos e abaixei minha cabeça permitindo aquela noite voltar a minha mente.

Era meu aniversário e depois de eu e meu irmão insistirmos muito com nossa mãe, ela deixou que fizéssemos minha festa de dezoito anos em casa. Meu irmão já estava na reta final da faculdade de medicina e eu completamente apaixonada por seu melhor amigo da faculdade. Já estávamos ficando havia alguns meses, podia até se dizer que já estávamos namorando. Nós nos víamos todos os dias e ele era sempre um amor comigo. A primeira vez que fizemos amor ele dizia a todo instante que me queria para sempre com ele e em sua vida. Na noite do meu aniversário, ele chegou uma hora mais cedo e deu-me um presente. Um colar de ouro branco com corrente fina e um lindo pingente de coração com uma pedra de safira azul no centro.

Namora comigo, Mari? Seja minha — pediu ele acariciando meu rosto. 

Eu já sou sua! — disse antes de beijá-lo com paixão.

Mas a graça da festa e a magia do amor acabaram quando entrei em meu quarto procurando por ele e o encontrei vestido a camisa com todos os botões arrebentados. Em seguida, Fernanda, minha então amiga de infância, saiu de dentro do meu banheiro com cabelos bagunçados e batom borrado consertando seu minúsculo vestido preto. 

Mari! — chamou-me Vinícius de olhos arregalados ao me ver.

Droga, Mari. Não era assim que queríamos que soubesse — falou Fernanda.

O quê? —Vinícius gritou olhando feio para ela. — Está maluca? Cale essa boca, menina! 

Saí correndo do meu quarto, quase atropelando meu irmão no corredor, e deixei a casa. Passei pelo portão afora e corri o mais rápido que pude em direção a casa da minha avó, que ficava não muito longe dali. Ela não estava na cidade, mas eu sabia bem onde escondia sua chave reserva. Entrei e me escondi ali dentro até que o dia amanhecesse, me debulhando em lágrimas. Sabia que todos estavam me procurando, os ouvi gritar meu nome pela rua, mas não estava nem aí para ninguém. Era pouco mais das sete da manhã, quando eu peguei o telefone fixo da casa da minha avó e liguei para meu pai pedindo que me deixasse ir embora morar com ele. Ele exigiu explicações, então contei o que houve na festa e disse que queria ao menos ir passar as férias de final de ano em sua casa, então ele concordou.

Voltei para casa depois de um tempo e não havia ninguém. Logo minha mãe chegou e depois de brigar muito por eu ter sumido por uma noite inteira, contou que meu pai havia ligado para ela e estava mandando minha passagem para a segunda-feira, às nove da manhã. Passei o domingo me escondendo e ignorando qualquer um quisesse falar comigo sobre o que aconteceu na noite anterior e me preparando para ir para o Rio de Janeiro. Diego tentou me contar o que ele jurava ser a verdade, mas eu o mandei se calar e sumir da minha frente. Acusei-o de estar defendendo o melhor amigo mentiroso e preferindo a ele a própria irmã, sangue do seu sangue, que estava de alma e coração partido.

Fui embora na manhã seguinte sem me despedir de ninguém, nem mesmo do meu irmão. Viemos nos falar algumas semanas depois, mas desde então nossa relação nunca mais foi a mesma. O proibi de tocar no nome Vinícius e assim ele fez por dois longos anos. Quando as férias acabaram, decidi que ficaria morando no Rio e que cursaria faculdade por lá mesmo. Meus pais aceitaram depois de eu tanto insistir. Minha mãe chorou ao telefone quando liguei para dar a ela a notícia de que não iria voltar. Aquilo doeu. Ela me disse que quem estava de coração partido naquele momento era ela por eu a deixar sozinha com Diego. Mas naquele instante só pensava em mim. Eu era a prioridade.

Vinícius secou suas lágrimas que começavam a cair e engoliu em seco seu choro. Ele olhou para os lados, passou suas mãos por seus cabelos bem penteados e depois por seu rosto. 

— Eu vou indo. Liga para seu irmão. — Foi se virando, indo em direção a porta do quarto.

Mas antes que passasse por ela, ele parou e enfiou sua mão direita no bolso da frente da sua calça jeans, tirando de lá o mesmo colar que me dera há dois anos. Ele o deixou cuidadosamente sobre a cama e saiu sem dizer nada ou olhar para trás, fechando a porta. Eu caí em prantos de joelhos no chão e chorei como uma criança perdida, desesperada pelos pais. Não sabia o que fazer, dizer ou pensar. Tive vontade de sair correndo atrás dele e puxá-lo para mim, o abraçar forte. Mesmo contra minha vontade, às vezes me perguntava: “Será que vou beijá-lo outra vez? Será que o superei?“. A resposta vinha rápido e era sempre a mesma: “Não!”. Passei o dia trancada no quarto, sem falar com ninguém e ignorando a todos que batiam à porta pedindo para abri-la. Sentia que a dor que tanto trabalhei arduamente para me livrar tinha voltado e ela parecia estar ainda mais intensa, queimando-me por dentro o corpo inteiro. Sem falar que a dor no peito que me tomava até o fôlego me tirava a fala.

A noite teria o último ensaio do casamento que aconteceria na manhã seguinte. Tomei meu banho e me vesti pronta para ir até a igreja. Estávamos todos lá esperando Beto, meu par, que como sempre estava atrasado. Muito atrasado. Vinícius estava sentado do outro lado da igreja e, mesmo sem olhá-lo, eu podia sentir seu olhar queimar sobre minha pele. As portas da igreja foram abertas e minha mãe entrou esbaforida com a notícia de que Beto havia sofrido um acidente de moto a caminho de lá. Não tinha sido nada sério, mas ele havia machucado seu tornozelo e não poderia mais ser meu par no casamento. Diego ficou sem saber o que fazer, a única coisa que ele dizia para Camila era que não abriria mão de eu ser madrinha do seu casamento. Logo uma das outras madrinhas, uma amiga de trabalho dela, se ofereceu para ceder seu par.

— Tudo bem por você, Mari? — questionou Diego, preocupado.

— Tudo bem, mas quem era seu par? — perguntei à garota. 

— O Vinícius — respondeu ela toda sorridente para mim.

Olhei para o lado e ele me olhava sério. Respirei fundo e olhei para minha mãe que se sentou ao meu lado e pegou minha mão entre as suas. 

— Por favor, Mari. É o casamento do seu irmão. E depois… Vocês só vão entrar e sair juntos, irão ficar de lados opostos no altar — disse, quase implorando-me para aceitar.

— Tudo bem, mãe. Não tem importância — falei a eles.

— Okay! — disse meu irmão, sorrindo aliviado. — Então vamos logo começar esse ensaio, porque eu estou morto de fome. — Todos os presentes riram do seu jeito humorado e agoniado.

A cerimonialista posicionou a mim e Vinícius um do lado do outro e pediu que déssemos nossos braços. Assim fizemos e ficamos parados liderando uma fila de madrinhas e padrinhos à espera de um sinal para começarmos a caminhar. Ela deu seu sinal com o dedo e nós começamos a caminhar lentamente. Todos à frente nos observavam com sorrisos largos em seus rostos e olhares esperançosos. 

— Talvez… era para ser nós — sussurrou Vinícius. — Nosso casamento! 

Não fui mais capaz de conter o choro que nem mesmo sabia que estava segurando. Cravei meus pés no chão parando no meio do caminho e virei-me para ele. 

— Por que está fazendo isso? — perguntei em meio a um choro doloroso.

— Porque eu te amo! Sempre te amei e nunca vou deixar de te amar! Fica comigo, Mari? Seja minha outra vez! — pediu segurando meu rosto entre suas mãos e beijando-me cheio de saudade e desejo, sem me dar tempo para fugir de seus lábios. 

Meu corpo esmoreceu. Meu coração parecia que iria sair pela boca a qualquer momento. Abracei-o passando meus braços por seu pescoço e o puxando para mim. Já Vinícius, segurou-me firme pela cintura. Eu não imaginava que sentia tantas saudades dele. Nunca havia me dado conta de que meu amor por ele só aumentara ao invés de diminuir ou acabar como eu tanto quisera. Ele separou nossos lábios e beijou meu rosto antes de me abraçar apertado e esconder seu rosto em meu pescoço, respirando fundo meu cheiro e deixando-me toda arrepiada.     

— Não tem noção de quantas noites sonhei com seu beijo e você em meus braços. Não sabe o quanto senti falta do seu cheiro — confessou ele em meu ouvido.

— Eu estou adorando saber que vocês finalmente aceitaram que se amam, mas esse ainda é o ensaio do MEU casamento e eu ainda estou morrendo de fome, então… será que vocês poderiam voltar a formação? — falou meu irmão, fazendo todos rirem outra vez.

Vinícius olhou para mim e selou levemente em meus lábios com um beijo delicado. Sequei minhas lágrimas e nós caminhamos rumo ao altar. Naquela mesma noite, depois do ensaio, não fizemos mais nada que não fosse nos beijar e estar um nos braços do outro dizendo a frase mais adorável do mundo: “Eu te amo”. Acordei de manhã e o outro lado da cama estava vazio. Levantei-me e vesti a camisa que ele usara na noite passada, que encontrei sobre a poltrona. Escutei o barulho do chuveiro ligado e soube que ele estava no banho. Ao entrar, escorei-me no portal vendo aquele homem lindo, nu e de costas para mim embaixo da ducha. Tirei a camisa e coloquei-a sobre a bancada da pia antes de entrar no box abraçando-o por trás. Vinícius virou-se para mim e sorriu lindamente antes de beijar minha boca.

— Bom dia — desejou ele, puxando-me para debaixo da água.

— Bom dia — retribui, o abraçando forte e me aconchegando em seu peito molhado.

Ele pegou o sabonete líquido e começou a passar calmamente por todo meu corpo.

— Como senti sua falta — sussurrou ele em meu ouvido. — Nunca mais vou te deixar ir, amor. Nunca mais! — prometeu beijando meu pescoço.

Terminamos de tomar banho e voltamos para o quarto, encontrando muitas chamadas perdidas em nossos celulares e mensagens de todos querendo saber onde estávamos, já que faltava apenas três horas para o casamento e ambos não haviam dado sinal de vida. Depois de nos vestir rapidamente e tomar um café da manhã apressado, fomos para casa dos pais da Camila, onde aconteceria o grande dia. Ao chegarmos, todos nos olharam com sorrisinhos bobos em seus rostos quando nos viram chegar juntos e abraçados. Subimos para o andar de cima e ele me deixou na porta do quarto da noiva, onde as mulheres iriam se preparar, e desceu para o escritório no andar debaixo , onde os homens iram se aprontar. Vesti o vestido, fiz cabelo e maquiagem. Não demorou muito e um tempo e estávamos prontas. A cerimonialista apareceu pedindo para que nós, madrinhas, descêssemos para nos preparar para a entrada. Quando cheguei à varanda, Diego já estava lá mais lindo do que nunca. Fui até ele e beijei seu rosto, depois o abracei lhe desejando toda a felicidade do mundo e amor, além, é claro, de desculpas pelo modo que o tratei anos atrás. Logo Vinícius apareceu e fomos para fila em que seriamos os primeiros a entrar. 

— Você está linda, meu amor — elogiou sorrindo. 

— Você está maravilhoso! — retribui admirando-o. 

Depois da cerimônia, das fotos, discursos e bolo cortado, Vinícius me pegou pela mão e arrastou-me para longe de todos.

— Para onde está me levando? —perguntei curiosa.

— Para um dos quartos de hóspedes — respondeu piscando para mim.

Ao chegarmos na porta do quarto, ele tirou uma chave do bolso da calça e destrancou abrindo-a. Fiquei sem palavras ao ver o quarto todo ornamentado com pétalas de rosas brancas e vermelhas, champanhe ao lado da cama em um balde cromado e morangos com chantilly em uma tigela de cristal. Entramos e Vinícius fechou a porta trancando por dentro. 

— Mas o que é tudo isso? — perguntei virando-me para ele.

— Isso é para você, amor — falou aproximando-se e me beijando com paixão, lentamente.

Ele tirou meu vestido vagarosamente e eu fiz o mesmo com ele, o despindo peça por peça. Vinícius me deitou sobre a cama e beijou-me toda, nos deixando excitados. Naquela tarde, não fizemos sexo e sim amor, como nunca fizemos antes, nos tornando um só. Tudo foi feito com calma, sem pressa, se deliciando do momento e sentindo nossos corpos se aconchegarem um no outro em plena paixão. Nos amamos e repetimos a doze por incansáveis vezes, dando apenas pequenos intervalos para beijos, abraços, alguns morangos e uma taça de champanhe. Já era noite quando olhei pela janela do quarto e vi que muitos já haviam ido embora da festa, mas os que ficaram ainda se esbaldavam na pista de dança com seus drinques. Vinícius chegou nu por de trás de mim e abraçou-me pela cintura puxando-me para longe da janela.

— Vem, meu amor. Vamos voltar para cama. — Virou-me para ele e me deu mais um beijo apaixonado.

Vinícius colocou-me sentada a cama e pegou mais uma garrafa de champanhe no frigobar do quarto colocando-a no balde com gelo.

— Outra? — perguntei enrolando-me nos lençóis.

— Essa será para um brinde especial. — Caminhou até seu paletó sobre a cadeira na mesa de estudo.

— Ah, é? E ao que vamos brindar? — perguntei curiosa.

— A nós, meu amor. Ao que mais seria? — Sorriu vindo até mim com as mãos para trás, escondidas nas costas. — Sabia que há um ano eu estive no Rio de Janeiro? — perguntou parando à minha frente. — Eu fiquei lá por uma semana te observando de longe e me perguntando quando a teria de volta. Por muitas vezes quando a via sair de casa ou chegar no final do dia, tive vontade de ir até você e lhe pedir cinco minutos da sua atenção, mas eu acabei vindo embora sem nem me aproximar por mais do que cinco metros de distância…

— Amor… — Tentei interrompê-lo, mas ele não deixou.

— …Sem perguntar o que tanto esperei por meses criando coragem para fazer. Voltei para por medo de ser rejeitado de novo. Não sei como seguiria com minha vida se eu sofresse com mais uma rejeição da mulher que tanto amo. Esses anos que ficamos separados, eu sofri tanto quanto você, Mari.

Eu chorava em silêncio, observando seus olhos marejados.

— Eu só me perguntava o porquê você se foi sem me dar o benefício da dúvida. Mas os ventos te trouxeram de volta para mim e agora não vou mais deixar você partir — disse ele, com lágrimas escorrendo por seu rosto perfeito, ficando de joelhos à minha frente e abrindo a pequena caixa de couro vermelho que tinha escondida nas mãos. — Mariane… casa comigo? Seja não só minha namorada, mas seja minha esposa… a mãe dos meus futuros filhos. Seja a única mulher com quem vou dormir e acordar todos dias. Eu te amo, meu amor. Não posso mais passar por anos de dor por estar sem você. 

— Eu me caso. Eu me caso com você, hoje mesmo se possível. — Sorrimos um para o outro enquanto ambos choravam. — Eu também te amo, Vinícius! 

Ele tirou o lindo anel de brilhantes da pequena caixa e o colocou em meu dedo anelar da mão esquerda, depois me puxou para mais um beijo cheio de carinho. Fizemos amor novamente, mas, desta vez, de maneira mais bruta e intensa até não ouvirmos mais os barulhos da festa. Ninguém nos procurou, nem mesmo meus pais. Dormimos abraçados até o outro dia. Estávamos exaustos pelo casamento e pela longa maratona se de sexo que tivemos naquele dia. Agora sim, eu estava bem. Agora sim, estamos felizes depois de dois anos de dor e sofrimento! O que o destino uniu, ninguém separa.

 

 


Não percam o próximo conto, nesta terça (04/06): Onde Você Está? 

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