― Para que eu devo ir ao outro lado do mundo?! ― Danilo dizia energicamente, estressado com o seu avô que havia feito um grande contrato de marketing japonês e que ele precisaria viajar para lá, para assinar o contrato e realizar um desafio misterioso imposto pelos os japoneses.

― Primeiro, eles só vão aceitar assinar o contrato para divulgar nossa empresa e ser uma associada a ela, se você aceitar o tal “desafio” deles. Vai aceitar e pronto! ― o homem velho se levantou da cadeira de visitas que ficava em frente a do chefe e foi em direção ao seu neto, agora, presidente das empresas de seu avô, ficando do seu lado e repousando sua mão esquerda sobre o ombro dele e baixando seu rosto, encarando seu neto, olho a olho.

― Então aceito! Era só eu ir lá, eles assinarem uma porcaria de um papel, apertar às mãos, beber saquê, eu voltar e ficar tudo chuchu beleza! Mas não! Estes japoneses me querem pôr de trás! Querendo desafios para donos de empresas realizarem?! Isso é desculpa para não me receber lá ou ver se vamos continuar com isto ou não! Sinceramente, nem estou com vontade de mexer com eles, porém, você fica com esse rabo velho coçando querendo mais negócios, em vez de deixar-me cuidar das empresas! ― ralhou, enquanto seu avô ficava quieto, escutando tudo atentamente.

― Tem como você ser um homem de negócios, elegante e falar bonito, não deixando eles verem o cara grosseiro e desbocado que você é?! ― dava uma bronca em seu neto de apenas vinte e seis anos de idade.

― Eu falo o que eu quiser! ― respondeu rispidamente, o seu avô.

― O moleque, respeita teu avô! Estamos na minha empresa! Tenha bons modos, cacete!

― Aprendi a falar assim com você, uai! ― mexeu seus ombros, fazendo com que o idoso retirasse sua mão do ombro dele, afastando-se e se sentando novamente em frente ao seu neto.

Danilo pôs seus braços à mesa, cruzou os dedos e encarou seu avô.

― O que tenho que fazer lá?

― Não sei. Eles não me quiseram revelar-lhes sobre este ponto. Japonês é um trem estranho para mim. Cada dia estão mais criativos e mais estranhos do que já são. Por isso eles são mais espertos do que nós. ― Encostou seu braço direito sobre o braço da poltrona de couro.

― Bem, como eu já me enchi do trabalho hoje, vou ir embora descansar e depois sair. ― Se levantou junto de seu avô já estressado por causa das saídas de seu neto fora da empresa, em vez de ele estar vinte e quatro horas por dia trabalhando em prol das empresas que preside e assume o papel de maior responsabilidade entre os funcionários, que é o chefe geral e gestor.

― Danilo Almeida dos Santos Delávari, eu ordenei que você saísse desta empresa e fosse farrear hoje?! ― se levantou e ficou de frente ao neto que já estava indo em direção à porta.

― Pelo o que eu saiba, não. ― respondeu, sem dar à mínima para o velho.

― Volte para sua cadeira e trabalhe! ― gritou, quase deixando surdo o jovem presidente.

― Não! Eu sou o presidente desta empresa e não vou ser ordenado por um velho que nem consegue mais levantar um genital diante de uma mulher! Pô, me deixa em paz, velho desgraçado! ― saiu, berrando palavrões ao vento de sua sala, pelos corredores, até chegar em seu carro e partir em direção de onde residia.

Demorou alguns minutos e Danilo chegava ao seu destino final.

Entrou com seu carro, estacionou de frente sua mansão e entrou. Logo abre o seu celular e vê a mensagem de seu amigo no WhatsApp.

E aí veado! Estou chegando aí para te levar para aquela boate! Pegar umas minas e uns minos! Já que é Bi! Hahaha! Já já chego aí”.

Riu na última parte. Ao entrar dentro de sua residência, logo avistou à enorme sala de recepções, onde se avistava os dois grandes lances de escadas que levavam aos quartos principais e os quartos de hóspedes.

Danilo escondeu sua sexualidade por alguns anos, desde que a descobriu no auge de sua adolescência com seu melhor amigo, desde então, vem namorando escondido com vários e vários homens ao longo de sua adolescência até à idade adulta. Já com seus dezessete anos de idade, teve de assumir às empresas de seu avô e já a começar cursar administração. Neste meio tempo, nunca quis ficar até tarde no escritório, não participou de nenhuma reunião e nem viajou para fora do país a negócios.

Sempre ficou atrás de uma mesa ou na sala de reuniões. Odiava aquilo.

Queria mesmo é ser artista. Um ator de teatro. Desde pequeno tinha esse desejo, esse talento nato de ser ator. Mas, por machismo à parte de seus pais e avós, ele teve que assumir os negócios da família, cedo demais, quando à empresa já estava entrando no poço do falimento. Teve de salvar ela com seus próprios esforços.

Abdicou-se de sua própria liberdade para salvar à família que estava na beira do precipício. Teve de abrir mão de seus próprios desejos pessoais, carnais, de seus sonhos, para apenas ser um engravatado que comanda empresas, manda em pessoas e ganha milhões por ano em sua conta bancária.

Passando-se dois anos, desde quando começou a gerir às empresas de Ferreira Saldanha, ele começou a sair, a querer quebrar o casco de seu próprio ovo, a respirar ar puro, sentir o vento da liberdade bater em seu rosto. Começou a sair a boates GLS e héteros, a pegar todos na balada, transar com os homens e mulheres que se ofereciam a ele.

Estava disposto a largar tudo, pôr alguém em seu lugar e ele ir curtir sua bissexualidade em Tel.-Aviv. Uma cidade, em que à orientação sexual não é um crime, e sim uma forma de amor, sem diferenças.

Subiu ao quarto, trancou-se lá e foi tomar seu banho.

À água descia-lhe pelo o corpo, esquentando cada curva trazendo-lhe um leve relaxamento do dia estressante do trabalho. Terminou de se banhar, ainda pensando no que os japoneses o desafiaram.

O que será que eles queriam? O que será o desafio?

Se vestiu, desceu e foi logo em direção ao seu veículo.

Entrou em seu carro, não dando ouvidos aos seus empregados e partiram em direção à boate, em que Pedro e Fábio se faziam presentes.

*****

― Fábio, não gostei muito daqui. ― Pedro dizia para seu amigo, encostado ao balcão do bar enquanto tomava um Whisky.

― Por que?

― Aqui só tem gay que fica se oferecendo e um monte se pegando forte lá no banheiro e ainda querendo passar aquelas línguas em minha boca. Prefiro uma mulher limpinha, com às pernas abertas e selvagem.

― Oi meu amor. ― Um homem com, mais ou menos, cinquenta anos de idade, se aproxima de Pedro, que sempre atraía olhares masculinos, porém, prefere os femininos.

― Cara, nem vem. Prefiro boceta. ― Cortou-o, voltando a sua bebida

O homem fechou sua cara na mesma da hora, voltando à pista de dança e Pedro bebia enquanto não chegava nenhuma.

― Fábio, vamos sair daqui?

― Espera, criatura! O Danilo já está chegando para nos acompanhar até um barzinho. ― respondeu, tentando acalmar Pedro que já estava com vontade de voltar para seu apartamento e ficar lá, olhando às fotos de seus pais falecidos, assistir séries ou ficar pegando com uma ou duas garotas por dia em sua cama.

― Está bem. Vou esperá-lo. Mas, quando ele chegar, já quero ir embora daqui. Não estou me sentindo bem no meio desses boiolas.

― Não chame os coitados assim. Eles são seres humanos, iguais a você. Tem desejos e sentem prazer também.

― Sentem prazer o caramba! Tem que sentir prazer, é com lábios femininos doces entre suas pernas! ― ralhou, chamando à atenção de alguns gays e lésbicas que passavam por ele ou estavam a dançar na pista de dança.

― Pedro, para de falar, por favor! ― alterou sua voz, fazendo seu amigo ficar quieto e a ficar tomando sua bebida. ― Olha o Danilo aí! E aê, arrombado! Como tu tá bicha?! ― levantou-se, abraçou seu amigo, repousando sua cabeça sobre o ombro dele, logo sentindo seu perfume amadeirado.

Eles se dois se separaram e Danilo logo apertou à mão de Pedro e o abraçara, num aconchegante abraço fraterno.

― E aê mano? Já inchou várias hoje? ― perguntou ao seu ouvido e ele respondeu.

― Já comecei com uma logo de manhã. Mas vou arrumar mais uma em outra boate. O homofóbico aqui vai caçar outras em outro local. ― disse, se separando dele e já pegando outro drink da mesma bebida que estava tomando.

― Faça isso. Gente, vamos curtir?! Quero é beber muito hoje! ― pegou à garrafa de whisky em cima da bandeja do garçom e tomou um pouco do líquido numa golada só.

Todos gritaram em apoio a Danilo e foram ajudar ele a tomar o líquido alcoólico.

*****

Enquanto isso em Tóquio….

― Mama, quem é que a ligou agora? ― Shiro perguntava, enquanto jogava comida para os patos do lago, após saírem do museu e irem para à floresta e, de lá, encontrarem uma represa rodeada por alguns visitantes.

― Foi o governador, raio de sol. Ele ordenou-me a ir-me em seu escritório amanhã. ― respondeu-o, um pouco nervosa. Sabia que algo estava errado.

― O que à senhora fez?

― Nada, Shiro. Apenas dê comida aos patos, para nós iremo-nos embora daqui e ir a um restaurante comer sashimi.

― Eba! ― comemorou junto de sua mãe. Mesmo com seus quase dezoito anos de idade, ele ainda era uma criança. Sua mente não era de uma criança. Ele era são, sabia do que fazia e era como qualquer pessoa que paga pelos os seus atos na sociedade. Porém, o seu jeito era doce. Uma pessoa pura de coração.

Shiro terminou de dar comida aos patos, Jin se levantou de onde estava sentada à grama, colocou às alças de sua bolsa sobre os ombros e foi para de trás de seu filho e empurrou à cadeira de rodas em direção à pequena estrada de asfalto, rodeada de pés de cerejeiras dos dois lados e ao redor a represa, dando um ar de pureza, calma e silêncio, num local onde já houve lágrimas e sangue.

― Mama, por que sou uma oyanashi ko (4)? ― à pergunta a pegou de surpresa. Teve de respirar, acalmar-se diante dele e contar-lhe sobre seu passado sofrido.

― Meu raio de sol, para que saber de um assunto desses agora? Vamos passear um pouco e depois falamos disso. ― Tentou dar qualquer desculpa, mas seu filho adotivo logo cortou-a.

― Mama, por que à senhora nunca me fala quando cheguei ao orfanato?! ― falou alto, chamando à atenção de algumas pessoas que passavam na mesma hora.

― Shiromya-Aiko, respeite sua haha (5)! ― deu uma bronca a ele, logo deixando-o calado, com uma expressão de raiva em seu rosto. ― Não gosto de ficar relembrando o seu passado, nem o meu. Esquece disso. ― aconselhou-o, tentando esquecer às dores que passara um mês antes de Shiro entrar em sua vida.

― Gomenasai (6), mama. ― Baixou sua cabeça.

― Me raio de sol, não precisa se desculpar. Só não quero ficar tocando neste assunto já morto para mim. Não fala mais nisso, ok? Sou sua mãe, e isso é o que te importa. Eu, às meninas do orfanato somos sua família. Então pare de ficar sabendo de algo que eu nunca soube de sua existência ao nascer. ― Por fim, deu por encerrado o assunto e foi subindo na rampa de cimento, que levava à calçada, já movimentada do Centro comercial de Tóquio.

― Mama, me conta aquela história que à senhora leu o livro daquela história lá do Brasil e me nomeou com o nome semelhante aos personagens desse livro?

― Shiro, meu raio de sol, conto-te depois. Vamos comer primeiro, pegar nosso carro e ir ao orfanato. Lá te conto à história toda. Está bem? ― finalmente chegaram à calçada e foram indo em direção a um local repleto de restaurantes e bares próximos ao Shibuya Crossing (7).

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GLOSSÁRIO 

(4) Criança sem pais ou órfão. 

(5) Mãe ou mamãe. 

(6) Desculpe-me. 

(7) Maior cruzamento do mundo, localizado na capital japonesa, Tóquio. 

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