Zhan estava parado no ponto de ônibus, aguardando o que passaria em seu bairro. Quando saiu da cobertura de Xian precisou de um tempo para se recompor. Ele estava tremulo, seu peito ardia com respiração pesada chegando a ficar zonzo. Foi precisou se apoiava na placa luminosa de propaganda que havia no ponto.
Já fazia muito tempo que não tinha uma crise de ansiedade, quando acordou no hospital sem se lembrar de nada. E desenvolveu a síndrome do pânico com ansiedade. Não podia ver o mar e muito menos barulho de avião que era o gatilho para a crise. Precisou de longo tratamento e medicações para controlar. Quando soube de toda aquela história de ser abandonado e sobre o que Wei Xian significava em sua vida antes do maldito acidente não teve um dia sequer de paz e pequenos momentos de crises começaram a voltar.
Tão logo Zhan se sentiu melhor preferiu ir de ônibus para casa, aquela hora o metrô estava lotado e tudo que não queria era ficar trancado e apertado em um vagão cheio. O ar fresco da noite ajudou a normalizar seu interior e finalmente o ônibus veio.
Zhan ao entrar se encostou em um canto e ficou olhando a rua pela janela do veículo, lembrava da expressão de Xian o mandando embora e o nó na garganta se formava a cada palavra que ecoava em sua mente da pessoa que ele acreditava ser seu melhor amigo.
Lan Huan lhe contou que Xian sempre falava sem parar, era agitado se metendo em várias brincadeiras e traquinagens. Zhan sorriu ao ouvir isso, afinal era bem diferente do homem de negócios sério que não sorrir.
Algo mais de uma hora depois, saltou do ônibus e caminhou para seu prédio. Queria tomar um banho e se deitar para esquecer um pouco toda aquela história.
— Zhan?
A voz feminina o chamou assim que ele entrava pela portaria do edifício, voltou a face para a direção de quem o chamava e esboçou um breve sorriso quando Bel se aproximou segurando sua mão.
— Eu o vi soltar do ônibus te chamei, mas acho que estava distraído… – Ela sorriu e o acompanhou. – Não veio de metrô?
— Não, essa hora está lotado. – Zhan segurava a mão de Bel um pouco tremulo.
Bel notou e suspirou.
— É a crise?
Eles entraram no elevador e Zhan se encostou no fundo olhando para ela quando confirmou com leve aceno de cabeça.
— Era o que eu temia, todas essas histórias que vem descobrindo… – Bel trouxe a mão de Zhan para perto dela e afagou carinhosamente. – Descanse eu vou tomar um banho e volto para seu apartamento. – Bel esboçou um largo sorriso. – Hoje eu cozinho para você e seu irmão.
Zhan voltou a esboçar um sorriso cansado e concordou.
— Eu realmente não quero fazer nada, somente me banhar e me deitar.
O plim do elevador anunciava que chegaram ao andar de Zhan, ele se afastou de Bel quando ela puxou para lhe dar um beijo nos lábios.
Zhan ficou estático até perceber que não retribuiu de imediato, vendo que o olhar de Bel foi questionador, voltou a se aproximar e a beijou.
— Estou lhe esperando. – Zhan se afastou parando do lado de fora do elevador.
— Em 20 minutos eu desço. – Bel sorriu acenando enquanto a porta do elevador se fechava. – Não coma nada sem mim… – Falou quando a porta se fechou.
Zhan baixou a cabeça e murmurou algo em mandarim, estava chateado e sem clima para momentos íntimos. Conhecendo bem sua noiva em breve ela iria questionar seu distanciamento.
Quando entrou no apartamento, viu seu irmão no notebook, ele apesar de estar no Brasil, ainda comandava online a empresa e passava o dia em conferência com seus assistentes. Levantou o olhar e quando ia cumprimentá-lo parou de imediato percebendo que ele não estava bem.
— Wang, aconteceu algo?
Zhan tirou sua mochila de couro das costas e colocou no sofá, enquanto afrouxava o nó da gravata.
— Eu acho que é a crise de ansiedade.
— Entendo, já tomou alguma medicação? – Huan se levantou aproximando do irmão.
— Não, vou tomar um banho. – Zhan tirou seu paletó e desabotoou o punho das mangas. – A Bel vem para fazer a janta.
— Ah, que gentileza dela. – Huan ainda demonstrava preocupação olhando Zhan.
— Xian, ele…
Huan o aguardou continuar.
— Eu disse a ele que sei sobre nós.
Huan fechou levemente os olhos e voltou a abri-los comentando.
— E como ele reagiu?
— Não quis conversar, falou para eu voltar para minha família e noiva. – Zhan caminhou pela sala indo para o corredor quando disse a Huan. – Ele vai voltar para China, será transferido e Huaisang vem assumir o lugar de Xian.
Huan não se surpreendeu com essa novidade, certamente a família de Xian iria querer ele longe de tudo que estava acontecendo com Wang.
— Wang, eu acho que é a melhor forma de evitar problemas. – Huan falou um tanto entristecido. – Wei Xian está respeitando você e sua nova vida.
Zhan abaixou a cabeça colocando as mãos nos bolsos, disse a seu irmão com a voz embargada.
— Eu só queria o meu melhor amigo de volta… – Inclinou-se para voltar a caminhar pelo corredor dizendo dessa vez em mandarim. – Só ele sabe como eu realmente sou…
Zhan continuou seu caminho até o quarto, entrando em seguida para pegar peças de roupas mais confortáveis e voltou para tomar seu banho.
Huan só podia lamentar, voltou para a mesa e abriu alguns e-mails para responder, no entanto a situação de Zhan e Xian o preocupava muito.
“Por que fez eles se reencontrarem? A vida quer realmente pisar nos corações deles… tcs…”
Alguns minutos Bel chegou, ela abriu a porta e deu leves batidas para anunciar que estava entrando.
Huan sorriu gentil e se levantou fechando a tampa do notebook.
— Encerrei por hoje.
— Irmão Huan, acredito que o fuso horário complica um pouco. – Ela caminhou para a cozinha para iniciar o preparativo da janta. – Zhan ainda está no banho?
— Sim, ele logo aparece. – Huan a seguiu e parou na porta da cozinha. – Quer ajuda?
— Não precisa, vou preparar rapidinho e logo vamos jantar. – Sorridente virou-se para pegar as panelas e colocar água para ferver.
Huan curvou leve a cabeça e continuou parado observando a noiva de seu irmão, resolveu sondar a jovem.
— Bel, Wang sempre tem essas crises de ansiedade?
— Já tem bom tempo que ele não tinha crise. – Ela parou o que fazia e olhou para Huan. – Voltaram agora com essa história toda. – Ela suspirou enquanto lavava o arroz. – Ele hoje está estranho, desceu do ônibus e nem me ouviu chamá-lo. Fico preocupada geralmente a crise de ansiedade quando se agrava ele entra em pânico.
Huan estreitou os olhos atento ao relato dela.
— Zhan só melhora depois de tomar os remédios. – Bel olhou para Huan notando a preocupação. – Ele fica bem, mas seria melhor se ele saísse logo da montadora. – Aquelas palavras sentidas de Bel denunciavam que a jovem não estava feliz com o trabalho de seu noivo.
— Wang disse que vai pedir demissão, mas com a chegada de um novo executivo para o seu setor, não tem como sair no momento. – Huan apesar de não ter ouvido diretamente de Zhan, presumiu que ele só sairia depois de assessorar Huaisang.
— Um novo executivo, mas… – Bel parou de descascar os legumes. – Eu ainda acho que ele tinha que sair logo, afinal está ilegal e os documentos dele são falsos… Tenho receio. – Bel continuou a preparar o jantar.
— A documentação de Wang está em processo, em breve meu tio nos dará um retorno. – Huan a tranquilizou.
— Eu sei, confio no irmão e no tio. – Ela esboçava ainda preocupação. – É que… – Parou de falar virando o rosto para Huan e depois para porta da cozinha para ver se Zhan não vinha.
Huan acompanhava todas as suas ações atento, pressentido o que ela iria dizer se preocupou ainda mais.
— Wei Xian… – Bel falou em tom baixo.
Huan aguardou ela continuar.
— Essa história de Zhan se gay e o que ele me contava das reações de seu chefe… – Bel engoliu a saliva com olhar triste. – Era Wei Xian por quem Zhan se assumiu gay para os pais…?
Huan suspirou baixo e como não negar aquela informação para Bel, preferiu por fim apenas dizer a ela que falasse com Wang.
— Bel, converse com Wang, eu não posso lhe falar algo que certamente só diz respeito a vocês dois.
Bel inspirou sutilmente e voltou para o fogão para continuar a preparar a janta.
— Bel, só posso te dizer que Wei Xian não está entre vocês, Wang ama você e quando for falar com ele sobre esse assunto… – Huan fez uma breve pausa pensando nas palavras certas para não a magoar. – Escute mais do que fale… – Virou-se para sair da cozinha, sem antes finalizar a conversa. – Além do mais, Wei Xian será transferido para a China o novo executivo vem para substituí-lo. – Esboçou um sorriso consolador com aquelas palavras.
O coração de Bel chegou a bater forte ao ouvir as palavras de seu futuro cunhado, até que uma alegria tomou quando esse lhe disse que Wei Xian estaria voltando para a China em breve. Satisfeita voltou para o fogão para terminar de preparar a janta.
Pouco depois o trio estava a mesa, Zhan após o banho aparentava bem melhor de quando chegou. Eles conversavam sobre o dia e vez ou outra Bel tagarelava sobre as clientes ricas que eram engraçadas falando de uma realidade que ela não conhecia e nem vivia.
— A dona Olga vem toda semana fazer cabelo, não pode aparecer um fio branco que lá está ela retocando a tintura… – Bel sorriu tomando gole de suco. – E conta das viagens a lugares que certamente nunca irei.
— Quem disse que não? – Huan sorriu brincando com ela. – Seu noivo é rico, aliás a família Lan é mais rica que a família Jiang e Wei juntas, mas isso não é o caso… Não disputamos, afinal somos parceiros comerciais.
Bel olhou Zhan e sorriu.
— HanHan rico, nossa nem sei que é isso…
— Eu não ligo, mas segundo irmão, uma vez que eu volte a minha identidade eu dividirei com ele as empresas Lan.
Bel abriu os olhos surpresa e depois ficou séria.
— Quer dizer que quando nos casar vamos para a China?
— Não sei, ainda não decidi nada. – Zhan olhou para o irmão. – Eu e Huan não conversamos sobre, mas no momento só quero regularizar minha situação.
— Tudo ao seu tempo. – Huan sorriu ao casal. – Bel não se preocupe, que conforto terá para você e meu sobrinho ou sobrinha.
Bel sorriu sem jeito e voltou o olhar para Zhan, estendeu a mão e segurou entrelaçando os dedos fazendo pequeno carinho alisando com o polegar.
— Eu não ligo, sempre vivemos bem, temos um ao outro e isso é mais do uma força para conquistar nosso conforto e proteção ao nosso bebê. – Um largo sorriso brilho na face da jovem que com a outra mão afagava o ventre.
Zhan concordou com aceno de cabeça em um sorriso breve inclinou para afagar por cima da mão de sua noiva a barriga.
— Já marcou a ultrassonografia?
— Sim e escolhi o horário perto da saída de seu trabalho, nada de faltar. – Bel apontou o dedo para ele estreitando os olhos. Voltou a face para Huan. – Vamos ouvir o coração de nosso bebê.
Huan sorriu satisfeito e comentou.
— Mandem para mim o vídeo, queremos ouvir, já que não estarei aqui para ir com vocês.
— Ah, mas já vai embora? – Fez uma leve careta e sorriu em seguida. – Uma semana passa tão rápido, queria te agendado antes, mas não achei vaga nessa semana na clínica.
Huan inclinou o corpo e satisfeito com a refeição decidiu levantar e começou a recolher a louça.
— Irmão Huan, espera eu faço isso… – Bel se levantou para pegar os pratos.
— Não, fique e descanse. – Huan continuou a recolher os pratos olhando para Zhan. – Ela cozinhou seria uma falta de educação deixá-la fazer tudo, certo? – Caminhou para o corredor que levava a cozinha.
Zhan levantou e ajudou a recolher o restante, falando para Bel.
— Descanse na sala, vou ajudar Huan e logo nos sentamos juntos.
Bel olhou-o desanimada, se levantou e segurou novamente a mão de Zhan.
— E não demorem.
Zhan concordou e foi para a cozinha, ao entrar viu Huan lavando os pratos e colocou alguns ao lado, pegando o pano de prato para secar os que foram lavados.
— Wang, melhorou depois de relaxar no banho. – Entregou um prato. – A refeição estava boa, culinária brasileira não é tão ruim…
Zhan concordou enquanto secava os pratos.
— Wang, precisa conversar com a Bel.
Zhan levantou o olhar e perguntou:
— Bel falou algo?
— Ela falou de Wei Xian, acho que ela percebeu e juntou os fatos. – Huan fechou a torneira e pegou outro pano de prato. – Esse assunto será inevitável de ser abordado, tenham uma conversa, ela se mostrou muito insegura e com receio, quer que você saia da empresa Jiang.
Zhan ficou em silêncio ouvindo o conselho do irmão, mas apesar de ser desejos de todos, este não era o seu.
— Eu vou conversar com ela, mas não hoje e talvez nem amanhã… – Estendendo o pano de prato no pequeno varal perto da janela, virou-se falando com irmão. – Eu só conversarei com a Bel quando resolver com Xian a situação.
Huan ficou temeroso com aquela decisão e voltou a falar dessa vez em mandarim, já que até então para facilitar para a Bel, ele falava em inglês.
— Wang, o que pretende insistindo nessa conversa com Wei Xian?
— Irmão, eu não quero ver Xian sofrer… – Zhan inspirou baixo respondendo em mandarim. – Ele está sofrendo e eu sinto que tenho que fazer algo… – Ofegou suave e continuou. – Eu preciso fazer algo para ele ter paz…
— Wang, o que quer dizer? – Huan abriu os olhos surpreso com o que percebeu. – Eu acho que tanto você quanto Xian têm que ter paz…
— Eu não sei mais o que sinto… – Zhan olhou para a porta da cozinha. – Bel é importante para mim, vamos ter um filho, mas… – Virou a face para Huan entristecido. – Eu não consigo parar de pensar em Xian.
Huan baixou o olhar e levou a mão a testa sentindo que a situação estava ficando cada vez mais complicada.
— Wang, eu realmente não sei o que dizer, mas tenho muito receio que tudo que está acontecendo magoe todos os envolvidos.
Zhan estava saindo da cozinha quando disse a Huan:
— Bel nunca ficará desamparada, eu não farei o mesmo que nosso pai… – Zhan virou a face para Huan. – Eu não abandonaria meu filho e nem a mãe dele.
— Eu sei, por esse motivo que mesmo que tudo ainda seja nebuloso, terá uma luz no final de tudo para clarear as decisões certas.
Quando Zhan saiu da cozinha sendo seguido por Huan chegando na sala não viu Bel, virou a face para Huan e procurou por ela pelo apartamento.
— Ela não estar… – Pegou seu smartphone e enviou mensagem, esperou uns segundo e não teve resposta. – Ela não sabe mandarim fluente, mas…
— Pode ter ouvido algo e entendeu errado… – Huan estreitou os olhos e inclinou a cabeça de lado num gesto rápido de preocupação. – Vá atras dela…
— Hm… – Zhan concordou e saiu do apartamento indo ao andar de Bel. – Pegou as chaves e abriu a porta chamando por ela. – Bel?! – Andou em todo lugar e voltou a pegar seu telefone, dessa vez enviou mensagem para Carol.
“Carol, Bel está em seu apartamento?”
Esperou a resposta que demorou alguns minutos depois de ser visualizada.
“Carol, se está demorando é porque Bel está aí”
Quando decidiu ir até o andar de Carol, veio a mensagem.
“Zhan, melhor conversarem amanhã.”
Zhan sentiu o coração palpitar e mesmo assim foi até o andar de Carol, não respondeu a mensagem de sua amiga. Quando chegou, parou na porta e tocou a campainha.
— Carol, abra a porta e chame a Bel, por favor.
Carol foi para a porta mesmo sobre os protestos de Bel.
— Vocês têm que conversar, vai ficar aí botando um monte de caraminholas na cabeça só porque ouviu pedaços de conversas de seu noivo com irmão falando do Wei Xian. – Carol tocou na maçaneta pegando a chave para abrir a porta.
— Não, eu não quero falar com ele… – Bel virou-se e foi para o quarto de Carol se trancando nele.
Carol abriu a porta e Zhan entrou olhando o lugar e depois voltou a face para a amiga.
— Bel?
— Ela está no meu quarto.
Inspirou baixo e pediu licença a Carol indo para a porta do quarto chamou a noiva.
— Bel, não sei o que você ouviu ou entendeu. – Zhan tocou a maçaneta da porta vendo que estava trancada. – Eu só quero que entenda o que está acontecendo.
— Entender o que Zhan? – A voz de Bel vinha do outro lado da porta em tom choroso. – Entender que seu passado está Wei Xian e agora você não sabe o que sente…
Zhan fechou os olhos e inspirou chateado com a confirmação que a noiva ouviu trechos da conversa e entendeu tudo errado.
— Bel, sempre conversamos sobre tudo, nunca lhe escondi ou mesmo te deixei de fora de nada em minha vida… – Zhan olhou para Carol que estava encostada na parede no início do corredor. – Eu espero mesmo que nosso companheirismo não mude e que continuemos conversando e resolvendo tudo juntos.
Bel estava sentada na beira da cama de Carol, enxugou as lágrimas e se levantou indo até a porta, mas não abriu e por fim disse:
— Sou sua companheira e estamos juntos a muito tempo.
— Exatamente, não são 10 dias ou 10 meses… – Zhan se afastou da porta e disse: – Eu quero resolver toda situação e preciso de você ao meu lado. – Virou os olhos para Carol que fez um gesto de positivo para ele. – Vamos para casa para conversarmos?
Alguns segundos e a porta finalmente se abriu, Bel passou a mão nos olhos unidos e sorriu sem jeito para Zhan.
— Vão logo conversarem e Bel fique calma… – Carol se aproximou. – São os hormônios da gravidez, mulher fica muito sensível nessa fase.
Bel se aproximou de Zhan e este segurou sua mão trazendo-a para seus braços, beijou a testa dela e virou olhar para Carol.
— Desculpe o incomodo.
— Que isso! Quero meus amigos bem, vão logo. – Carol olhou para Bel. – E nada de pensar besteiras escute o que Zhan tem para dizer.
Bel suspirou e concordou, voltando a olhar Zhan que ainda segurava sua mão entrelaçando os dedos.
— Vamos, para seu apartamento.
— Tudo bem, vamos. – Bel concordou e assim ambos saíram da casa de Carol.
Zhan no elevador, enviou uma mensagem a Huan para não se preocupar que iria ficar com a noiva aquela noite.
Bel estava sentada no sofá da sala agarrada em uma almofada olhando Zhan que estava ao seu lado.
— Bel, a conversa que tive com Huan em mandarim era sobre Wei Xian, mas principalmente sobre resolver situações passadas. – Zhan segurou a mão de sua noiva. – Em nenhum momento eu pensei em deixá-la ou nosso filho… Eu só preciso resolver, ao menos nossa amizade.
Bel não falava apenas observava.
— Eu tenho meu irmão e tio, mas apesar de Huan parecer me conhecer bem… – Zhan engoliu seco. – Eu sinto que Wei Xian sabe exatamente quem sou. – Zhan virou o rosto e mantinha a mão com os dedos entrelaçados ao da noiva. – Eu preciso ouvir dele, você sabe que isso sempre me incomodou, minha real identidade… Você melhor do que ninguém, sabe que vivo a mais de 10 anos me sentindo sem lugar no mundo.
Bel ouvia quando algumas lágrimas começaram a escorrer pela face.
— Eu me sinto deslocado e quando vi Wei Xian foi como se finalmente eu estivesse pisando em solo firme… – Os olhos de Zhan ficaram lacrimosos. – Ele não está bem e suas reações estão cada vez mais descontroladas, sinto que a qualquer momento ele vai fazer algo…
Bel estreitou os olhos e finalmente falou:
— O que acha que ele faria?
— O sr. Jiang me contou hoje que Wei Xian tentou suicídio no passado, quando pensava que eu estava morto. – Zhan engoliu seco e ofegou nervoso.
Bel arregalou os olhos levando a mão a testa e voltando a questionar:
— Acha que ele faria novamente?
Zhan inspirou algumas vezes para continuar.
— Eu não sei, mas minha presença o deixa nervoso, trabalhando sob um clima tenso o dia todo e quando tento tocar no assunto ele se descontrola.
— É por isso que a família dele quer que volte para China?
— Eu concluo que sim, já que a decisão foi tomada e sr. Jiang assinou a transferência. – Zhan encostou no sofá e jogou a cabeça para trás, olhando o teto continuou a falar. – Eu preciso fazer algo por ele, para ter paz e assim eu ter paz…
Bel inclinou e encostou no ombro de Zhan, inspirou fundo e resmungou:
— Desculpa, eu deveria ter esperado para conversarmos.
— Esta tudo bem… – Zhan ergueu um braço e passou pelas costas de Bel. – São os hormônios da gravidez. – Brincou com ela.
Bel riu baixo e se aninhou no braço de Zhan, continuou resmungando:
— Ahhh que droga, eu achando besteiras…
— O que? – Zhan virou o rosto para ela. – Que eu ia te abandonar com nosso filho? – Estreitou os olhos. – Pensou isso, não foi?
Bel fechou os olhos se encolhendo no sofá.
— Eu te conheço, sua mente é fértil para pensar bobagens. – Zhan continuou sentado no sofá afagando o ombro de Bel. – Eu nunca farei o mesmo que meu pai fez…

Bel se levantou e ficou sentada ao lado dele no sofá com largo sorriso no rosto mordeu leve o canto dos lábios passando a ponta dos dedos por cima da blusa de Zhan.
— E agora, você vai me punir?
Zhan estreitou os olhos e virou o rosto olhando a mão dela brincar em cima de sua blusa. Inclinou o corpo e alguns segundos depois disse:
— Estou pensando em algo…
— O que? – Os olhos dela brilharam e o sorriso arteiro se abriu a face da garota.
Zhan levantou rapidamente e a puxou pela cintura, levando-a para o quarto, fechou a porta logo que entraram, ambos se beijaram e naquela noite se amaram.
✽ • ✽
Xian estava deitado olhando a tela do seu smartphone quando a mensagem de Alex apareceu respondendo a dele.
“Sr. Wei, acabei de chegar em casa.”
“Ótimo.”
“Vamos fazer vídeo chamada?”
“Já estou na cama garoto”
“Qual é o problema?”
“Você é chato.”
“ahahahahahaaha”
“Idiota”
“Ainda bem que não está me xingando em mandarim”
Xian sorriu no canto dos lábios e trocou o idioma do teclado e enviou a mensagem.
“ 笨蛋 ”( Bendan=Idiota)
“Alá, não vale! Me xingou! Hauahauahauahu… Até que é bonito os caracteres”
Xian olhou a resposta e inclinou a cabeça, tocando no ícone de vídeo chamada.
— Satisfeito.
Alex estava em seu quarto tinha colocado a mochila em um canto e apoiou o celular em uma posição em cima da mesa para Wei Xian ver com facilidade.
— E aí sr. Wei, comeu a sopa da dona Beth?
Alex caminhava pelo pequeno quarto enquanto pegava roupas para trocar.
— Sim, estava boa.
— Sr. Wei vai ficar bonzinho logo dessa anemia.
Nesse momento, Alex tirou a blusa e Xian abriu os olhos surpreso.
— Pediu para fazer vídeo chamada e tirar a roupa na frente da tela. – Estreitou os olhos virando o rosto para não ver o rapaz sem blusa.
Alex olhou e achou aquilo muito fofo, sorrindo arteiro dizendo em inglês para provocar o chefe de sua tia.
— Qual é o problema? Eu não estou nu, só tirei a blusa… – Aproximou da tela e falou sussurrando. – Mas o sr. Wei ficou pelado na minha frente, né verdade…?
Xian abriu os olhos e bufou olhando para a tela com expressão séria.
— Hrmft…
— Essa sua cara agora foi ainda melhor… – Alex se afastou e foi pegar uma toalha no guarda-roupa. – hahahahahaha…
— Vou desligar a vídeo chamada.
— Desliga não, vamos conversar, prometo me comportar… #sqn
Xian não entendeu o final da frase chegando a estreitar os olhos pensando no que seria.
— Essa cara de quem não entendeu é divertida hauahauahau… Sr. Wei pode ter aprendido português, mas o certo é aprender o carioquês.
— Carioquês? – Negou com a cabeça sem entender nada. – Fala em inglês, ao menos eu entendo, mesmo que seja tão ruim.
— Ala, duas vezes me esculachando Sr. Wei, na moral…
Alex ainda mantinha o sorriso nos lábios quando pegou o seu telefone e foi para o banheiro.
— Olha aí Sr. Wei meu barraco é do tamanho do seu banheiro.
Wei Xian notou para onde o rapaz estava indo e parou pensativo no que ele pretendia.
— Você está indo para o banho e levando o aparelho?
— Claro, enquanto eu tomo banho a gente conversa.
— Ah?!
Xian baixou o aparelho não crendo no que o outro estava fazendo.
— Qual é, Sr. Wei? Volta aí, prometo que você só vai ver da cintura para cima. – Alex tirou a roupa depois de apoiar o telefone na pia. – Estou no chuveiro, pode virar a tela. – Alex ria muito enquanto se lavava.
Xian virou a tela e viu a cena como o outra prometera, somente da cintura para cima.
— Depois do banho vou comer o “podrão” que comprei na barraca do gordo.
“O que ele disse? Podrão? Ele vai… Melhor nem perguntar”
Nesse momento que o rapaz se lavava tagarelando Wei Xian percebeu que cometeu uma falha e ficou chateado consigo.
— Minha nossa, você não comeu nada e saiu tarde da noite… Idiota que fui, nem ofereci nada para você comer…
Alex se ensaboava e virou o rosto para o aparelho.
— Esquenta não… Comida de rico é sem graça, o que enche mesmo é podrão que vou comer daqui a pouco. – Sorriu enquanto lavava o sabão do corpo, notando depois a expressão confusa de Xian. – Já, já te mostro o que é… kkkkk
— Não tem vergonha?
— O que? Tomar banho e você me vendo? – Pegou a toalha e começou a se enxugar. – Sr. Wei, eu o vi nu, então considere isso como elas por elas, entendeu?
Xian negou com a cabeça.
— Eu te vi nu e você me viu parcialmente nu… – Sorriu e se vestiu, porém, continuo sem blusa. – Estamos quites, entendeu agora?
— Ah, entendi… Para de ficar falando que me viu nu… É constrangedor.
— Hahahahahahahaha… Esse seu jeito envergonhado é muito fofo.
Xian fez uma careta e olhou-o sério.
— Esse olhar é sexy.
Xian virou os olhos voltou a virar a tela falando.
— Não vai colocar blusa?
— Eu não, calor da porra… E só coloquei bermuda porque estamos conversando, nesse calor, eu durmo é pelado.
— Por que estou tendo essa conversa com você? – Xian virou a tela irritado.
— Que conversa? – Alex pegou o “podrão” e mordeu um pedaço, depois de umas mastigas falou: – Podrão esse é sr Wei, em breve vou trazer ele para comer também.
— Sanduiche?
— Hamburguer com tudo que tem de bom e gorduroso no mundo hauahauahau
— Ok…
Alex estava sentado em sua cama comendo quando entre as mordidas perguntou.
— Sr. Wei, já que estamos nesse nível de intimidade, vou me meter já me metendo no assunto…
Xian olhava para ele confuso, parte da frase ele não entendia, afinal Alex falava muitas gírias e trocadilhos.
— Sr.Wei passou mal por causa do homem com quem brigou mais cedo, certo?
Xian ficou calado, essa pergunta ele entenderá e alguns segundos depois suspirou denunciando ao outro que era verdade.
— Sr. Wei, não quero saber o que está acontecendo, mas fiquei preocupado e se você tiver alguém de sua confiança para conversar, procure.
Alex terminou de comer o hamburguer e tomou goles generosos de Coca-Cola da latinha. Olhou para a tela notando a expressão de Xian entristecida.
— Sr. Wei precisa descansar, mas podemos conversar se você quiser.
— Outro momento, talvez…
— Beleza! Espera um pouco já volto, vou escovar os dentes. – Alex saiu e demorou alguns minutos e voltou se deitando logo em seguida e voltando a falar com Xian. – E aí, me conta você faz carros é?
— Na verdade meu pai e o pai de nosso socio…
— Ahhh então, sr. Wei é play boy… filhinho de papai.
Xian suspirou rolou na cama de bruços olhando para a tela.
— Minha nossa, não entendo nada que você fala.
Alex gargalhou dizendo:
— Tem que aprender carioquês, pode deixar que te ensino…
Xian não se segurou e riu do jeito do rapaz, pela primeira vez encontrou alguém tão doido quanto; de repente se sentiu melhor e até mesmo se surpreendeu com aquele rapaz que o fez se recordar de sua adolescência, quando ele sorria, brincava e era despreocupado.
Alex começou a tagarelar dizendo algumas gírias ensinando Xian, que por sua vez tentava pronunciar algumas que não conseguia.
— Sr. Wei, amanhã vou fazer um serviço antes da minha aula na faculdade, posso te ver?
Xian estava sonolento quando concordou, afinal que mal teria, ao menos aquele garoto o alegrava e fazia esquecer da realidade que ele vivia.
Continua…