“Huaisang realmente quer me testar”
“O que aconteceu?”
“Estou atrapalhando sua aula?”
“Relaxa, estou esperando uns amigos,
vamos fazer umas pesquisas rs”
“Na hora do almoço, falou algo
que até agora não consigo me acalmar.”
“Sr. Sang gosta de alfinetar, notei ontem no jantar kkkkk”
Xian olhava as mensagens, mas seus pensamentos estavam em Zhan, desde que decidiu dar uma chance a Alex quis enterrar o sentimento que tinha pelo seu ex-amor. Ledo engano, só o fato de Huaisang ter dito no almoço que Zhan havia se afogado na praia o fez ficar cego e correr para o outro com tamanho medo de que só depois que tudo foi esclarecido é que percebeu que sua exagerada demonstração de preocupação foi chamativa demais. Engoliu seco e voltou a “teclar” com Alex.
“Eu agi igual a um idiota por causa de Hauisang”
“Sr. Wei, está me preocupando.”
“Eu não sei se é certo te falar”
Alex estava sentado encostado na escadaria do prédio da faculdade, onde outros amigos do curso aguardavam os demais integrantes do grupo para a pesquisas. Estranho aquela conversa e não demorou muito para entender.
“Deixa-me adivinha… Sr. Han?”
Xian ofegou apoiando a mão sobre os olhos, estava chateado afinal o que ele pensou em fazer poderia envolver o Alex e não queria magoá-lo. No entanto, acreditava que por não compartilhar da presença de Zhan no mesmo andar e ambos não se falarem que conseguiria esquecer e seguir em diante. Suspirou e respondeu Alex.
“Não é certo eu me sentir dessa forma
Já que estamos juntos”
Alex sorriu baixinho e negou levemente com a cabeça murmurando para si mesmo:
— Sr. Wei, até parece que não sei disso, está me usando para esquecer sr. Han…
“Sr. Wei, vamos conversar pessoalmente
Sairei as 17 horas, passou na sua empresa e
vamos para outro lugar”
Xian estava pensativo e por fim concordou.
“Ok, mas podemos ir para cobertura”
“Na real, não vamos conseguir conversar de boa.
Tem a MianMian, seus amigos e minha tia.
Essa conversa é melhor que ninguém interrompa.”
Xian estranhou a insistência e perguntou:
“O que pretende?”
“Eu só quero ver umas coisas e te falo mais tarde.
Confie em mim”
“Ok, te aguardo”
Alex enviou um emoji de beijo e outro sorrindo. Xian sorriu e fechou o chat, voltando a olhar para os documentos que precisava assinar sobre sua mesa. Precisava se concentrar para dar continuidade ao restante da tarde de trabalhos, vez ou outra lembrava do momento que falou com Zhan no almoço. Seu peito palpitava pensando se tivesse algo acontecido e chegou a fechar os olhos para tentar esquecer aqueles pensamentos assustadores.
— Ele parecia pálido, será que foi só um susto? E bem coisa de Wang fingir que está tudo bem, sendo que não estar. – Resmungando consigo pegou novamente seu aparelho e abriu o WhatsApp, rolou a tela e parou no nome de Han Zhan, abriu e ficou olhando um tempo. – Eu nem apaguei as mensagens. – Rolando a tela viu as últimas conversas as quais eles ainda não haviam parado de se falarem.
“Sr. Han esta frase é confusa, eu não entendo:
‘Eu nem te conto’ aqui diz que a pessoa quer te contar algo
Como? Sem lógica.”
“Brasileiros usam muito gírias e como falam, “modo de dizer”
“Confuso, olha essa frase: ‘Vou te contar, hen!’
Sr.Han colocou aqui que é porque estão chateados
e não quer contar. Desisto”
“Sr. Wei, brasileiros na maior
parte da frase eles falam pela metade e
nem sempre é o que se diz literalmente”
“Eu percebi, e fico confuso”
“O Brasil é muito grande e cada região tem sua
peculiaridade, dialeto e gírias. Gestos também são
usados, gesticulam muito com as mãos e braços.”
“Engraçado, notei diferenças.”
“Não precisamos ir muito longe, conversa com cariocas
e vai realmente querer desistir”
Xian olhava aquele papo que ocorreu até as 11 da noite, ele recordou do dia que conversaram após reunião e Zhan lhe mostrou alguns gestos que cariocas fazem com as mãos, além de gírias.
— Quer tentar adivinhar os gestos? – Zhan provocou aquela brincadeira, enquanto eles conversavam na língua natal, o mandarim.
Xian que tomava um suco, sorriu e concordou.
— Ok, manda.
Zhan fez um gesto com a mão onde os dedos se batiam produzindo um som contínuo. Xian estreitou os olhos e começou a chutar algumas opções:
— Bater… Estalar os dedos… – Xian tentou imitar e conseguiu. – O que quer dizer?
— Vamos lá, rápido… – Zhan repetiu o gesto.
— Ahhh, muito bom… – Xian sorriu. – Outro gesto.
Zhan fez um de bater as pontas dos dedos uma na outra para lá e para cá.
— Limpando as mãos? – Imitou o gesto. – Hum…
— Tanto faz, não ligo.
— Tanto faz, não ligo. – Xian começou a entender. – Eles falam assim, tanto faz. – Xian repetiu o gesto com as mãos.
Zhan sorriu e fez mais um gesto, fechou uma das mãos em punho e bateu com a mão aberta sobre o punho.
Xian estreitou os olhos e falou:
— Chamando para brigar? – Imitou o gesto. – Não é algo bom.
— Brasileiros falam bastante palavrão, cariocas principalmente, mas não estão te xingando necessariamente. – Fez de novo o gesto. – Quando vou mal em algo, estou muito encrencado e me dei mal. – Fez de novo e dizendo: – Estou fodido, ou muito fodido e ou se fodeu.
Xian começou a rir achando engraçado ver Zhan falar palavrão.
— Desculpe o nome inadequado.
— Eu gostei.
— Carioca tem uma linguagem a parte, carioques, não vai achar em livros.
Xian olhou-o confuso. A conversa estava ganhando mais liberdade entre eles, nesse dia ele pensou em ser mais direto e perguntar, porém, foi um dia em que tiveram que ir até o canteiro de obras da montadora. Aquelas recordações aqueciam o coração de Xian até perceber que esse dia ficou tão perto de Zhan que seu corpo se arrepiou recordando.
— Sr. Wei, andamento das obras estão correndo como o programado. – Um dos engenheiros responsáveis mostrava o local a Xian e Zhan. Eles conversavam em inglês e Zhan fazia algumas anotações para Xian.
Xian olhava o local satisfeito com tudo, em breve a fábrica estaria funcionando como programado, nesse instante que olhava para as vigas na elevação mais alta acabou tropeçando. Instintivamente agarrou a primeira pessoa que vi para não cair sentado no meio das madeiras no chão.
— Cuidado!
Xian sentiu o pé doer quando foi envolto pelo braço de Zhan, segurado pela cintura gemeu baixinho sentido o tornozelo, sentiu um leve aperto na sua da mão de Zhan que o fez ofegar tremulo. Sua nuca se arrepiou quando os olhos se encontraram.
— Sr. Han pode me soltar.
Zhan ainda olhava fixamente Xian, este ficou sem jeito e falou novamente mais alto com ele.
— Sr. Han, posso me apoiar sozinho.
Zhan imediatamente soltou Xian e se recompôs se desculpando em seguida. Xian apenas acenou e não olhou mais para o outro, preferindo evitar novos contatos e conversa. Era estranho, afinal tanto ele quanto Han eram uma mistura de curiosidade e respeito. Até o dia da festa da sobrinha de Han e tudo vir à tona. Xian podia comemorar a confirmação, porém ver Wang com a noiva foi um balde de água fria em cima de sua cabeça. Desde aquele dia, evitou aproximação e intimidades.
— Quisera eu voltar no tempo, fingir que não era o Wang e continuar com Sr. Han ao meu lado… – Xian suspirou voltando ao trabalho depois daqueles minutos de recordações.
A tarde passou rápido e Xian recebeu recado da recepção, permitiu que Alex fosse ao seu andar, nesse momento que ele saiu da sala sua secretária Jessica vinha com o rapaz ao lado.
— Sr. Wei.
— Chegou na hora. – Xian sorriu breve a Alex e voltou a sala, deixando que ele entrasse, logo depois fechou a porta.
Rodrigo que estava em sua mesa olhava atento ao chefe quando Jessica voltou a mesa sentando-se ao seu lado.
— Xiiii, minhas esperanças se foram… – Murmurou chateado.
— O que está falando Rodrigo? – Jessica olhava alguns documentos na mesa, estranhando o amigo resmungar.
— Viu o gato que sr. Wei levou para sala dele?
— Rapaz é bonito, sim, reparei, mas… – Nesse instante entendeu a chateação do amigo. – Eita, será que eles estão juntos?
— Eu tinha esperanças de que a “DR” (Discutir relação) do Sr. Han e Sr. Wei terminasse e eles voltariam a ficarem juntos.
— Quem vão ficar juntos? Doido, fala baixo… – Jessica sorriu. – Se ouvirem isso…
Rodrigo colocou a mão sobre os lábios e fez gesto de silêncio, voltando ao seu trabalho com um leve sorriso.
Na sala Alex olhava o lugar tirando a mochila das costas colocando em seguida sob uma das cadeiras.
— Uau, sala enorme. – Caminhando até a enorme janela olhou para baixo a Av. Rio Branco, era entardecer e o horizonte começava a ficar avermelhado com o pôr do sol.
— O que você quer aprontar? – Xian sabia que Alex não foi até ali atoa.
— Nada demais, só tirar umas dúvidas que tenho. – Alex virou-se sorrindo para Xian e aproximou dando um rápido selinho em seus lábios. – Queria ver o sr. Han.
Xian estreitou os olhos e inspirou um tanto confuso.
— Por quê?
— Você falou tanto dele, quero ver como Sr. Han é. – Alex sorriu arteiro e depois piscou para Xian.
— Veio atoa, não tem como vê-lo, está no andar abaixo com o seu novo chefe. – Xian deu a volta na sua mesa e se sentou. – Vamos deixa sua curiosidade de lado, ok?
Alex caminhou e se sentou na cadeira em frente a mesa de Xian, observava-o em silêncio e alguns minutos depois Xian sem paciência o questionou:
— Fala logo Alex.
— Ok, vou falar, quero saber se o sr. Han tem algum sentimento pelo sr. Wei.
— Ah?! – Xian encostou na cadeira. – Alex, sem sentido essa sua ideia. – Fechou os olhos e suspirou. – Esquece essa ideia, me diga aonde vamos depois que sairmos da empresa.
— Sei lá, dar uma volta e conversarmos, mas que realmente queria ver o sr. Han.
Xian chegou a rolar os olhos e voltou a tela de seu notebook, resmungado em seguida.
— Não tem como você vê-lo, que desculpa vou dar para você ir lá no andar que ele estar?
— Eu vou no banheiro desço pelas escadas e o vejo, voltou e pronto matei minha curiosidade. – Sorriu.
— Nem pensar, sossega aí e logo término aqui para irmos embora. – Xian mal terminou de falar e seu smartphone tocou. Ao olhar a tela viu que era Huaisang, atendeu. – Fala…
— Xian estou precisando de um documento e sr. Han disse que possivelmente está com você, posso enviar sr. Han para buscar?
— Se o documento é importante, claro que pode. – Xian falou em tom sério olhando para Alex. – Estou esperando. – Desligou a chamada. – O universo conspira a seu favor Alex, vai ver o sr. Han.
Alex se ajeitou na cadeira e perguntou para confirmar.
— É sério?
— Sim, Huaisang mandou ele vir buscar um documento comigo. – Xian ouviu batidas suaves na porta e fez um gesto para Alex se sentar na saleta ao lado. Foi por fim atender a porta.
Zhan estava do lado da porta, falando algo com Jessica e Rodrigo quando este viu a porta abrir e olhou para Xian.
— Sr. Wei.
— Entre sr. Han. – Xian aguardou entrar e fechou a porta, estava um tanto nervoso quando foi até sua mesa e perguntou: – Qual documento que Huaisang quer? – Estremeceu ao notar os olhos de Zhan oscilarem em um leve brilho, olhando para Alex. – Sr. Han? – Chamou-o um tanto cauteloso, Xian conhecia aquele olhar muito bem, Zhan/Wang estava irritado.
Zhan voltou a olhar Xian e falou do documento, estendeu os braços ajeitando a manga de sua blusa social, em seguida colocando-as dentro dos bolsos. A face era fria e inexpressiva enquanto observava Xian procurar em algumas pastas na estante.
Alex estava sentado no sofá da saleta ao lado e preferiu não encarar Zhan de volta, porém ele sorriu olhando para a tela de seu smartphone fingindo ver as redes sociais.
“Sr. Han você pode até fingir bem, mas não me engana hahahaha…”
— Encontrei sr. Han, aqui está. – Xian estendeu a pasta e entregou a Zhan.
— Obrigado sr. Wei. – Tirando as mãos dos bolsos pegou a pasta e se virou para sair, seus olhos rolaram para o canto para dar uma última olhada em Alex. – Abriu a porta e saiu.
Assim que a porta se fechou Alex levantou e foi até ela com um olhar totalmente abismado.
— Caraca… Você viu isso?
Xian olhava Alex confuso e decidiu ignorar agitação exagerada do rapaz.
— Não vi nada.
Alex parou em frente a mesa observando Xian se sentar e continuar o que estava fazendo no seu notebook. Alex tinha um sorriso no canto dos lábios quando apoiou as mãos sobre a mesa e assobiou.
— Sr. Han é do time. – Riu afastando as mãos e se sentando na cadeira novamente.
— Você olhou para ele alguns minutos e concluiu? – Xian voltou a rolar os olhos. – Impressionante. – Ironizou.
— Com aquele olhar e expressão de quem pudesse me jogava por aquela janela. – Alex sorriu alto. – ts, ts, ts, Sr. Wei tá na cara que ele é doido por você.
Xian estreitou os olhos e bufou resmungando em seguida.
— Para de falar asneiras, ele é noivo e vai ser pai. – Xian voltou a face para a tela de seu notebook. – E você, que bosta de namorado é?
Alex fez um gesto se fazendo de “coitado”.
— Eu?! “magina” … – Voltou a sorrir. – Eu só quero dizer que sei o que você está querendo com o nosso “namoro”. – Fez um gesto de aspas com os dedos. – Sr. Wei, na boa eu não sou ingênuo, sei que é doido pelo sr. Han. – Continuou a falar dessa vez com tom mais compreensivo. – Eu entendo bem isso, porque já agi igual a você no passado.
Xian ouvia Alex e suavizou a expressão ao ouvir as suas palavras finais, um olhar curioso foi o que devolveu ao rapaz.
— Vamos dar umas voltas e conversaremos. – Olhou para a janela e completou. – Vou matar sua curiosidade.
✽ • ✽
Zhan tão logo voltou para seu andar, entregou a pasta com o documento a Huaisang, voltando para sua mesa tentava inutilmente se controlar. Bebeu uns goles generosos de água direto da garrafa plástica que sempre levava consigo. Inspirou e expirou algumas vezes e por fim apoiou ambos os cotovelos na mesa cobrindo o rosto com as mãos.
Na hora do almoço, estava radiante com aproximação e claro preocupação de Wei Xian, sua tarde finalmente fora mais tranquila naquele local, até ir buscar o maldito documento e se deparar com aquele rapaz. Afastou as mãos do rosto e suspirou.
— Essa tive que engolir amargo.
Olhou a tela do notebook e voltou ao seu trabalho, faltava pouco para final do expediente e não queria mais lembrar daquela presença na sala de Xian.
✽ • ✽
Alex e Xian caminhavam pelo calçadão da praia de Ipanema, depois de Jorge deixá-los na orla. A noite já havia adornado a cidade e ambos sentaram em uma mesinha a beira da areia onde pediram ao garçom do quiosque algo para beberem. Xian foi o primeiro a tocar no assunto.
— Eu não estou usando Alex, quero realmente me dar essa chance e gosto de sua companhia.
Alex bebeu um gole da cerveja e sorriu para Xian dizendo:
— Eu não disse de forma negativa, acredito que gosta de minha companhia. – Alex piscou a ele, tomando outro gole da bebida gelada.
— Estou cansado, só quero algo mais tranquilo.
Alex olhou para Xian e provocou:
— Xiii, então escolheu o cara errado sr. Wei, eu não sou nada tranquilo. – Gargalhou provocando. – Minha tia diz que sou ligado no 220 w hahahaha…
Xian finalmente sorriu e pegou sua bebida tomando em seguida.
— Você brinca com tudo.
— Melhor rir do que chorar, certo?
— Concordo.
— Eu sei do que quer, mas não acho que seja o caminho que quer fazer que vai resolver. – Alex olhou para frente e a brisa marinha era suave. – Eu tinha alguém, amava muito e o perdi.
Xian ouviu falar e se ajeitou para ficar atento ao que o rapaz iria contar, de certa forma estava curioso em conhecer mais de Alex.
— Sabe, sr. Wei o Brasil as pessoas fingem ser politicamente corretas, mas são muitas das vezes preconceituosas ao extremo. – Olhou-o e com expressão um tanto séria para quem vivia sempre com largo sorriso na face. – Meu amor foi tirado de mim, porque ele era negro, favelado e gay… – Tomou outro gole da cerveja. – Eu não falo disso com ninguém, mas não sei por que quero falar para você. – Olhou Xian e continuou. – Fazem 5 anos que perdi Celinho, Marcelo, ele foi morto por um bande de homofóbicos, racistas e milicianos do bairro onde morávamos.
Xian abriu os olhos assustado, mal conseguiu dizer algo e imediatamente segurou a mão de Alex.
— Eu poderia ter morrido com ele, mas Celinho me protegeu e apanhou tanto que não resistiu. – Alex segurou a mão de Xian e ofegou. – Ele era meu companheiro, parceiro, amigo e amor da vida, quando ele se foi eu perdi meu mundo, fiquei na merda.
Xian engoliu seco, ele sabia o que era aquele sentimento, viveu todos os 13 anos sem Wang se sentindo da mesma forma. Perdeu o seu mundo.
— Eu sei…
— Eu quero te falar sobre ele, porque entendo suas atitudes, agia de forma semelhante por um tempo, mas depois de tanto doer eu vi uma mensagem de Celinho perdida em seu smartphone que me acordou. – Alex afastou e pegou do bolso da calça seu telefone e abriu a tela para mostrar um vídeo. – Te apresentar o Celinho, nós dançávamos juntos. – Alex apertou o play e o vídeo mostrava a dupla se apresentando em um festival de dança de rua.
Xian olhava aquela apresentação maravilhado, quando o vídeo encerrou seus olhos estavam cheios de lágrimas. Olhou para Alex e comentou:
— Incríveis, os dois, perfeitos!
— É nós erámos bons e isso chama atenção tanto para o lado bom quanto para o lado ruim. – Alex olhava para o vídeo pausado na imagem de Celinho. – Nós tínhamos um sonho, era de tirar a molecada da rua para dançar e aí evitar que fossem para o crime.
Xian admirava aquela atitude.
— Se lembra que falei que fiquei um ano nos Estados Unidos? – Vendo a confirmação de Xian ele continuou. – Então, eu e Celinho tínhamos vencido uns concursos importantes e fomos para lá, trabalhamos em várias coisas e conseguimos dançar com grandes nomes do hip hop e street dance. Eu tinha 19 anos e Celinho 21 anos. Foi melhor coisa das nossas vidas. Voltamos para o Brasil cheios de esperanças e vontade de fazer algo diferente para nossa comunidade, como te disse antes, as pessoas aqui fingem serem “legais”, mas no fundo não são, nosso sonho incomodava muita gente e no fim perdi Celinho e o sonho foi para o ralo.
Xian ofegou sentido com aquela história, segurou firme a mão de Alex comentando:
— Sinto muito.
— Hoje aos meus 24 anos dói ainda, mas não ao ponto de desvalorizar o sacrifício de Celinho. – Alex sorriu e bebeu outro gole de cerveja. – Sr. Wei, não quero que se sinta mal pelo que te contei, na verdade eu penso que se tivesse uma segunda chance com meu amor, não a perderia. – Piscou para ele tomando outro gole da bebida.
Xian finalmente entendeu todo o contexto daquele relato e suspirou baixo voltando a face para a beira mar.
— Ele não é mais meu Alex…
— E daí? O que vocês viveram não morreu apesar de estar no passado, existiu… – Alex deu de ombros. – Eu acho que ao menos uma chance para conversarem você deveria ter.
Xian olhou-o e sorriu sem jeito comentando:
— Eu não te entendo, está praticamente me jogando nos braços do meu ex.
— Eu só quero ver você feliz, seja comigo ou não. – Alex se aproximou de Xian. – Eu não ligo que me use para curar suas dores, mas ligo o suficiente para me preocupar com elas.
Xian sorriu e pegou o copo de cerveja tomando mais um gole, estreitou os olhos e depois balançou levemente a cabeça ainda tentando entender aquela postura de Alex.
— Eu ainda não entendo, mas por hora vou acreditar em você.
— Beleza. – Sorrindo Alex trouxe a mão de Xian e deu um beijo no dorso. – Sexta, vamos a Lapa?
Xian sorriu e concordou.
— Ótimo, vou dançar para você.
A dupla ficou ainda um pouco mais no quiosque, Xian queria ver mais vídeos deles dançando e comentava o talento que o rapaz tinha.
Continua…
+++++++
Nota: A dupla que se apresenta no vídeo de dança de rua, são os irmãos Les Twins, me inspirei no de cabelo black para criar Alex.