Wei Xian estava em frente ao espelho, após um banho demorado escolhia a roupa para aquele passeio a Lapa. Alex lhe instruiu para ir com roupas leves e de tênis porque iriam andar para conhecer o local e nada melhor que ir bem à vontade.
Por fim, decidiu por uma calça jeans e uma blusa branca, calçando o tênis para ir se encontrar com Alex que o esperava na sala com sua tia e MianMian.
Xian apareceu com leve sorriso, estava encabulado após recebeu um assobio de seu “namorado”.
— Olha só Mianmian seu baba está lindo e cheiroso. — Alex riu e recebeu um “cutucão” em seguida de sua tia. — Aí tia… — Sorriu para ela.
— Deixa de ser abusado. — Beth sorriu com olhar repressor ao sobrinho.
— Baba está lindo… — A pequena foi para seu encontro e esboçou um leve beicinho. — Eu queria ir passear com baba.
— MianMian, conversamos e expliquei ser um passeio de adulto. — Xian afagou a cabeça da pequena.
— Ei, MianMian vem cá… — Alex fez um gesto para a menina se aproximar. — Olha, seu irmão Alex promete que te leva em um passeio bem legal, que tal?
Os olhos da menina abriram em alegria e balançou a cabeça concordando.
— Ótimo. — Alex olhou para Xian e se virou para ir à porta. — Tia, voltamos mais tarde.
— Cuidado os dois, Lapa tem muito pivete… — Um pouco apreensiva recomendou- os ficarem atentos.
— Obrigado por cuidar da MianMian, Beth, prometo recompensar. — Xian seguiu atrás de Alex ao ouvir a recomendação comentou. — Alex me preveniu.
— É ruim de alguém vir nos roubar, ali na Lapa, ninguém me ganha não, vai vendo… — Alex abriu a porta e esperou Xian. — Sr. Wei, “tá” comigo, é “tá” com Deus, vamos nos divertir muito hoje.
Xian ouviu o jeito de Alex falar e balançou leve a cabeça negando, logo em seguida sorriu, porque não entendeu metade que o outro disse.
— Eu ainda tento entender esse jeito de falar, “carioquês”.
— Sr. Wei, logo aprende, mas hoje vai meio pirar sua cabeça, meus amigos todos falam cheios de gírias.
Entraram no elevador, enquanto Alex dizia algumas palavras que possivelmente Xian ouviria na Lapa eles chegaram ao hall do edifício. Não tardou muito para o aplicativo enviar um carro e assim ao embarcarem seguiram para a Lapa.
— Sr. Wei, quando chegarmos vamos à Fundição Progresso, geralmente é lá que temos as batalhas de street dance, mas às vezes fazem no Circo voador.
Xian estava encostado no banco atento, concordando com tudo, afinal ele estava bem curioso para ver Alex dançando. Enquanto ouvia-o sentiu um leve acelerar em seu coração, inspirou baixo e divagou no quanto estava se sentindo feliz com Alex.
“Talvez seja o caminho que devo seguir, acredito que estou gostando mais do que deveria…”
— Sr. Wei…? Ei, Sr. Wei, está me ouvindo? — Alex acenou para Xian.
— Estou sim, você estava dizendo do nosso trajeto na Lapa…
— Hum?… — Alex estreitou os olhos para ele, segundos depois sorriu concordando. — Vou batalhar para você.
— Batalhar?!
— É, são as rodas de desafios, você vai ver…
Alex ficou em silêncio analisando Xian, este notou e encarou de volta perguntando:
— O que foi?
— Nada.
— Hum… Nada?!
Alex sorriu, se divertindo com a curiosidade nos olhos de Xian, por fim disse:
— Só notei que você se distraiu ao ponto de nem notar que estava lhe chamando. — Alex deslisou a mão pelo banco e segurou de Xian. — O que aconteceu com Sr. Han mexeu com você, não é?
Xian até aquele momento, não havia pensado em Zhan, mas quando ia falar que não era o que Alex entendeu, este começou a falar sem parar.
— Sr. Wei, sabe não tem como evitar, isso mexe demais com você, te convidei a irmos para Lapa para esquecer um pouco todo esse rolo todo e claro que quero vê-lo extravasando um pouco, relaxar e se divert…
— Alex! — Xian apertou a mão do outro e o puxou beijando seus lábios surpreendendo Alex.
Alex surpreso pela iniciativa arregalou os olhos se calando de imediato. Encarando o outro se afastando muito envergonhado, olhando de relance para o motorista do carro. Encostando no banco Xian virou a face olhando a rua pela janela, no fundo, estava sem graça por tomar aquela iniciativa.
Alex olhando para Xian com sorriso arteiro, apesar de ter sido surpreendido daquela forma.
— Sr. Wei…
— Agora você cala a boca… — Em tom ríspido e irritado falando em inglês. — Essa Lapa, demora muito para chegarmos?
Alex sabia que Xian tinha muita vergonha de atos mais íntimos, este virou o rosto para o motorista que sorriu olhando-os pelo retrovisor, nesse ponto o rapaz sabia que não teriam problemas.
— Já estamos chegando, logo depois do túnel Rebouças, estaremos pertinho.
— Bom, vamos nos divertir… — Xian virou o rosto para Alex esboçando um breve sorriso sem jeito.
Alex concordou e aproximou de Xian para cochichar em inglês.
— Se fizer isso de novo, vou pedir para ele mudar o trajeto e irmos para um lugar reservado. — Se afastou rindo ainda mais com a expressão do outro.
Xian estreitou os olhos e negou leve com a cabeça, virando o rosto para olhar a frente onde o carro estava saindo do túnel.
Não demorou muito para chegarem a Lapa, o local estava muito movimentado e o motorista rodou em torno para poder encontrar um lugar e estacionar. Pouco depois a dupla saltou do carro após acertar a corrida.
Alex estava bastante agitado e começou a mostrar o lugar.
— Vamos nos pontos famosos depois que encontrarmos o pessoal, te levo na escadaria da Lapa.
— Ótimo, eu vi fotos deve ser bem interessante.
— Sim, geralmente nós vamos lá para sentar-se e descansar, conversar, tomar cerveja e ficar de boa. — Alex pegou na mão de Xian e o levou para irem à Fundição Progresso. — Vamos primeiro lá encontrar meu povo.
Seguiram para o local, Xian olhou para Alex segurando sua mão, depois olhou para em volta e ficou tenso, tentando soltar a mão. Alex notou e falou se aproximando dele:
— Se tem uma coisa aqui na Lapa que ninguém liga para isso, e mesmo que falem algo é só ignorar ou nós chamamos a “PM”, homofobia é crime no Brasil. — Soltou a mão dele. — Mas sei que você não se sente à vontade.
Xian suspirou baixo e pegou novamente na mão de Alex.
— Vamos nos divertir, é só falta de costume.
Sorriram um para o outro e seguiram para o local, aquela noite estava agitada e cheia de novidades para Xian, principalmente essas novas emoções que estava sentindo por Alex.
• ────── ✾ ────── •
Zhan e Huan chegaram um tanto tarde no apartamento, haviam um considerado trânsito de Botafogo até o baixo Leblon. Tão logo entraram em casa, Zhan colocou a mochila no sofá e sentou demonstrando cansaço.
Huan se sentou na outra poltrona e esfregou a nuca, ficar muito tempo sentado no carro foi cansativo.
— Irmão, vou tomar um banho rápido para poder se refrescar também. — Zhan se levantou após ouvir o irmão concordar.
Nesse instante o barulho da chave na porta e suave batida anunciava a chegada de Bel, ela colocou uma parte do corpo para dentro e sorrindo começou a tagarelar.
— Minha nossa gente, pensei que sumiram por aí… — Ela entrou toda animada e aproximou de Zhan. — Hanhan que cara de desanimado.
Zhan deu um leve beijo na testa dela e sorriu breve, resmungando em seguida:
— Cansado, pegamos um engarrafamento mais de uma hora… — Tirando o paletó, caminhou para o corredor indo ao quarto. — Vou tomar um banho.
— Claro, vai lá… — Bel olhou para Huan e disse: — Vou fazer companhia para irmão Huan.
Huan sorriu e concordou.
— Não imaginava ser tão complicado o trânsito aqui no Rio.
— Xiii, irmão Huan tem que ver a hora de pico. — Bel se sentou no sofá e estava nitidamente agitada.
Conversaram sobre coisas triviais até que Zhan apareceu com roupas mais frescas e enxugando os cabelos.
Bel se levantou do sofá e empolgada se aproximou de Zhan com olhar arteiro.
— Então, HanHan estava falando com seu irmão, já que ele vai embora no domingo, que tal a gente o levar para conhecer a noite do Rio.
Zhan estreitou os olhos e suspirou.
— Não, estou sem condições…
— Ahhh, vamos, vai? Vamos para Lapa? — Ela virou o rosto para Huan que estava se levantando para ir ao quarto e tomar seu banho. — O que acha irmão Huan, quer conhecer a Lapa antes de voltar para a China? — Ela piscou-lhe, querendo um cúmplice para convencer Zhan.
Lan Huan entendeu e olhou para Zhan, apesar de eles estarem realmente cansados, achava bom que o outro saísse para se distrair.
— Lapa? Seria interessante conhecer.
— Viu? Vamos levar o seu irmão para conhecer?
Zhan estava com uma expressão desanimada.
— Não estou…
Bel cortou sua tentativa de negar, para persuadi-lo a irem a Lapa.
— Ah, vamos, vai? Faz um tempão que não saímos para nos divertir. – Pegou a mão de Zhan e começou a balançar. – Leva sua noiva para passear Hanhan, vamos?
Zhan estreitou os olhos e resmungou.
— Por que você não é uma noiva boazinha e pedimos pizza para vermos um filme na Netflix? – Zhan caminhou para sentar-se no sofá rebocando Bel. – Fica aí sentadinha e vamos nos divertir em casa…
Novamente ela o interrompeu e se levantou, muito agitada.
— Não, vamos a Lapa, seu irmão vai embora domingo é melhor aproveitar hoje… – Indo até Huan segurou em seu braço. – Veja só, sexta-feira é melhor dia da Lapa e irmão Huan… – Bel sorriu divertindo-se. – E te contar um segredo, Zhan sabe sambar e podemos te mostrar na roda do bar da Boa.
Huan estava se divertindo com os dois, até ouvir que Zhan sabia sambar, olhou-o curioso e dessa vez não precisou muito que a jovem o pedisse ajuda.
— Sambar? – Huan sorridente provocou Zhan. – Nós vamos a Lapa, essa eu quero ver.
Zhan largado no sofá levou as mãos ao rosto cobrindo-o e resmungou de novo, quando abaixou as mãos tinham dois pares de olhos e sorrisos ansiosos encarando-o.
— Ahhhhh… Está bem, vamos a droga da Lapa. – Levantou-se ainda resmungando em mandarim. – Vocês não vão me deixar em paz, mas vou logo dizendo, não vou ficar até de manhã. – Voltou para o quarto, instruindo o irmão. – Vai de tênis e a vontade irmão, lá é cheio e nem tem lugar para sentar-se, se conseguirmos achar uma mesa.
— Ok, vou tomar um banho e me arrumar. – Huan seguiu para o quarto para depois tomar seu banho e se arrumar.
— Eu vou me arrumar e falar com Carol, nos encontramos no hall do prédio. – Bel deixou-os e saiu do apartamento indo para seu andar enquanto falava ao telefone com Carol que tinha conseguido convencer Zhan a irem a Lapa.
• ────── ✾ ────── •
Alex mostrava os lugares por onde eles passavam para Wei Xian e quando finalmente chegaram ao local, encontrou na porta um dos amigos que havia dito para o outro.
— Aê, Bil chega aê? – Se aproximando do rapaz que estava falando com outros na roda.
— Alêeee Limaaaa, chega aí pow na moral, tá sumidaço hein… – Eles trocaram cumprimentos segurando as mãos e tocando com ombro um do outro. – Fala cara, veio desenferrujar o corpo, tem batalha hoje um pessoal veio de sampa, os paulistas acham que sabem mais que nós hahahahaha…
Nesse momento Bil notou Wei Xian e apontou com a cabeça cutucando o Alex.
— Pegando?
— Esse é um amigo, Wei Xian… – Alex fez as apresentações. – Bil Dog.
— Olá, Bil…Dog… – Xian estranhou o nome, mas como tudo era estranho no Brasil, resolveu deixar para lá.
— Fala aí, Wei Xian, né… – Sorrindo trocaram cumprimentos.
— Bil, cadê o Jefer?
— Está lá dentro, eu que sai para beber, “cerva” aqui fora é mais barato, vai entrar?
Alex olhou Xian e diz em inglês:
— Vamos beber antes de entrar, deve estar uma sauna lá dentro.
— Já está uma sauna aqui fora… – Xian concordou.
O trio foi para a barraca em frente a Fundição para comprar mais umas latas de cervejas.
— Xian, o Jerfe e o Bil são instrutores de surfe lá em Ipanema. – Alex estava querendo saber sobre Han Zhan e perguntou a Bil. – Tô sabendo que rolou um quase afogamento com vocês, achei estranho já que os dois são supercuidadosos com os alunos.
— Porra cara, fala não! – Bil começou a tagarelar. – O Zhan tomou um caldo de uma onda, me deu um “puta” de um susto.
— Zhan? – Alex olhou pelo canto dos olhos para Xian que bebia alguns goles de cerveja.
— É, um dos nossos alunos, ele é chinês que nem o Wei Xian aí, aliás, falei certo, cara? Tu é chinês ou japonês? Nunca sei a diferença, na boa.
— Chinês.
— Isso, Zhan uma vez disse para nós que o povo lá não curte serem confundidos.
— Mas, aê, ele se afogou mesmo?
— Foi um caldo, tipo, tu sabe ali no quebra mar? Ali é tranquilinho e do nada apareceu uma onda e nos pegou desprevenido, foi quando o Zhan tomou o caldo e sumiu uns minutos…
Xian abriu os olhos apreensivo.
— No fim ele só foi levado para um lado longe da gente pela correnteza. – Bil riu em seguida. – Porra a mina dele faltou esganar eu e o Jeferson hahahahaha…
— É… – Alex vez ou outra olhava Xian. – Que bom que foi tudo bem.
— É foi tranquilo, ele voltou no outro dia e a gente foi pra água de novo. – Bil riu alto. – Ele disse que não vai mais no quebra mar.
— Ué, amarelou?
— Ficamos zoando-o, aí o Zhan disse que não vai para o quebra mar porque um amigo pediu, amarelou hahahahaha…
Xian ouvia toda a conversa entendendo algumas partes até que se arrepiou ao ouvir que Zhan tinha dito que não iria mais para o quebra mar a pedido de um amigo. Ele engoliu o gole de cerveja ao ponto de tossir um pouco.
Alex olhou-o tentando ajudar, já que o outro parecia ter engasgado.
— Sr. Wei, está tudo bem? – Olhou-o preocupado.
Xian confirmou com a cabeça e tomou mais um gole de cerveja para ajudar a desengasgar.
— Alêeeee, porra cara na moral, você por aqui… – De longe um outro rapaz chegou chamando Alex e virou para um grupo acenando. – É o Alê…
Uma roda se formou entre eles tinham algumas moças e todos muito agitados falando sem parar.
Enquanto todos falavam com Alex, Xian ficou ao lado observando, naquele instante sua mente estava voltada a conversa anterior onde o amigo de Alex falava de Zhan.
“Ele disse que não vai mais ao quebra mar…”
“Um amigo pediu para ele não ir…”
Wei Xian sentiu um leve arrepio na nuca lembrando do olhar de Zhan no dia que conversaram sobre o “afogamento”.
“Eu não deveria me sentir assim…”
De repente uma mão o segurou pelo braço e o fez se aproximar, nesse momento a mente de Xian voltou de seus devaneios para encarar o sorriso de Alex.
— Ei, vem aqui, fica aí isolado não… – Alex falou com ele virando para o grupo e apresentando para todos. – Ei pessoal, esse é Wei Xian.
O grupo cumprimentou Xian e pouco depois alguns deles estavam curiosos se Xian conseguia falar português. Não demorou para alguns se enturmarem e Xian se distraiu com eles.
— Alê vai entrar para batalhar? – Uma garota que estava “pendurada” no ombro de um rapaz que ao que parecia era novato no grupo.
— Vou entrar sim… – Alex sorriu e notou que o rapaz estava olhando diferente para ele, mas preferiu fingir que não tinha entendido aquela “secada” que o outro estava lhe dando. – Sr. Wei, vamos entrar? Quero que me veja vencer uma batalha para você.
A garota viu a cena e fez uma cara de desdém, mas ninguém no grupo notou, todos então, seguiram para a Fundição Progresso.
Ao entrarem, Alex levou Xian para a arquibancada onde era mais tranquilo, o local estava lotado devido a visita de grupos de street dance de outros estados.
— Sr. Wei vou lá.
— Vai… E… – Xian ficou pensativo em qual palavra em português que ele podia dizer de incentivo ao rapaz, ele sorriu e disse: – Arrasa!
— Hahahahahaha… Pode deixar, vou dançar para você.
Umas pessoas do grupo ficaram com Xian, eles estavam muito curiosos e começaram a conversar, explicando alguns dos passos de dança que o pessoal na roda estava fazendo, inclusive de Alex.
• ────── ✾ ────── •
Zhan, Huan, Bel e Carol saltaram do carro na esquina da rua da Lapa, as meninas estavam agitadas e falando de quanto tempo que não vinham ao local.
Zhan estava com sua expressão indiferente e suspirou pensando que no fim conseguiram tirá-lo de casa, olhou para seu irmão murmurando em mandarim.
— Conspirou contra mim.
— Que isso, só achei bom você se distrair um pouco e claro o fato de saber sambar me deixou muito curioso.
— Arrrr… Não sei muito, só alguns passos, nada demais.
— Bel, você olha para lá e ver se PH está vindo.
Zhan parou de falar na hora que ouviu o nome, virando o rosto para Bel estreitando os olhos, perguntando a noiva.
— Eu ouvi certo?
— Hum, sim… Eles voltaram. – Bel confirmou olhando a amiga com uma expressão de desaprovação.
Carol sorriu a eles e começou a se justificar.
— Ah, gente, ele pediu desculpas e falou que não vai vacilar mais.
— Sei… – Zhan rolou os olhos e balançou a cabeça negando. – O cara mente para você o tempo todo e ainda aceita de volta?
— Eu sei, mas ele disse que não vai fazer mais, então, dei uma nova chance e que será a última.
Bel olhava a amiga totalmente desaprovando a atitude dizendo:
— Eu lavo minhas mãos. – Jogou os braços para o alto.
Zhan ainda olhava para Carol e sério dizendo em tom ríspido.
— Só vou avisar que se ele me irritar a Baia de Guanabara é logo ali, jogo ele lá… – Zhan resmungou. – Pra que eu saí de casa? Vou me aborrecer.
— Ai, credo, vocês dois não perdoam mesmo… – Carol tomou um gole de cerveja. – Ele está sabendo que se vacilar de novo, já era.
Huan via toda aquela situação e como não entendia o português ficou preocupado. Zhan notou e começou a explicar a situação.
Pedro Henrique, que todos chamam de PH era uma pessoa um tanto sem noção, enrolado, sempre prometendo as coisas e nunca cumprindo. Fora que gosta de contar vantagens e mentiu sobre uma vida que não tem. Alguns meses atrás a Carol descobriu que ele era somente um borracheiro, mas o rapaz para impressioná-la havia dito que era dono de uma rede de oficinas e borracharias. Carol decepcionada terminou com o rapaz, por fim ele insistia na reconciliação, pedindo desculpas a ela querendo reatar o namoro.
Huan após ouvir a história acabou sendo complacente e diz que uma chance não era de todo mal, melhor que se ficasse nesse impasse.
— Viu só, seu irmão é sensato. – Carol concordou, depois que Bel traduziu as falas de Huan para a amiga.
— Que seja, mas já aviso, se ele vir com piadas de chinês vai tomar uma na hora… – Zhan estava muito irritado.
— Credo Zhan, trocou a ferradura hen? – Carol sorriu provocando.
— Troquei, está novinha para um coice no seu namorado, deixa ele vir com as piadinhas sem noção… – Zhan pegou uma lata de cerveja e tomou alguns goles.
— Grosso! – Carol bebeu outro gole e piscou para Bel. – Tinha que ser aquariano mesmo, coração de gelo.
Zhan traduzia as coisas para Huan, ao ouvir isso falou para ela.
— Carol…
Bel ria bastante da pequena briga dos dois, acenando para Huan quando falou algumas coisas para em mandarim. Huan estava bastante contente por ver que seu irmão estava cercado de pessoas que ele gostava.
— Aqui no Brasil, irmão Huan a gente mede as pessoas pelo signo. – Bel explicava. – Zhan é aquariano e todos de aquário são assim, grossos, Hahahahaha…
— Ha… ha… ha… – Zhan estreitou os olhos e resmungou. – Me fez sair de casa para ficarem me perturbando, vou chamar um carro e largo vocês aqui… – Zhan pegando o celular para abrir o aplicativo.
— Não, não, não, nós paromos, né Carol? – Bel segurou o braço de Zhan. – E o PH será avisado que você vai jogá-lo na Baia de Guanabara se ele fizer piadinhas de chinês.
— Hmrf. – Zhan guardou o celular no bolso e voltou a tomar goles de cerveja.
— Então, vamos para o Bar da Boa? – Bel olhou todos.
— Vai na frente, vou esperar pelo PH. – Carol pegou seu smartphone para enviar mensagem ao rapaz.
Huan ainda tinha um leve sorriso no rosto quando seguiu junto com o irmão e a Bel.
— E veja o que aturo. – Zhan reclamou em mandarim com o irmão.
— Eles gostam muito de você e fico feliz que tenha essas pessoas ao seu lado.
Quando estavam passando em frente a Fundição Progresso notaram um certo tumulto e um aglomerado de pessoas como se tivessem feito uma rodinha e alguém discutia no centro.
Bel esticou o corpo para ver e curioso disse a eles.
— Gente, deve ser uma briga.
— Normal, sempre tem briga de alguma forma na Lapa. – Zhan continuou andando e chamou seu irmão. – Vamos, daqui a pouco a “PM” chega e dispersa todos.
Quando Zhan estava se afastando olhou de relance para aquele pequeno tumulto e arregalou os olhos ao ver quem estava no meio da confusão.
” Wei Xian?!”
• ────── ✾ ────── •
Momentos antes…
Wei Xian estava adorando as apresentações de Alex, era um talento que ao seu ver, desperdiçado. Cada vez que Alex vencia era uma explosão de gritos da plateia, todos ovacionavam pela performance.
Um dos rapazes do grupo falou a Xian que os paulistas não tinham chances com Alex, e realmente isso se confirmou, no final foi ele que venceu.
Alex saiu da roda sobe uma onda de gritos, assobios e aplausos de todos comemorando. Xian entendeu que ele era bem famoso no meio do hip hop e street dance, já que havia alguns estrangeiros na plateia que falavam que o tinham visto dançar nos EUA.
Wei Xian estava aguardando-o voltar bebendo alguns goles de cerveja, foi quando Alex apareceu com sorriso e o rosto muito suado.
— Sr. Wei, que tal?
Wei Xian aplaudiu o rapaz e sorrindo afastou o corpo no banco para ele se sentar.
— Incrível! O pessoal não teve chance com você.
— Eu tinha uma motivação. – Alex sentou e pegou uma lata de cerveja. – Desculpa a demora, fui ao banheiro lavar o rosto, estava muito suado.
— Tudo bem. – Xian sorriu e encostou seu ombro ao do Alex. – Eu sugeriria um banho.
Alex olhou pelo canto dos olhos de forma maliciosa respondeu.
— Logo mais, tenho um lugar para te mostrar e quem sabe um banho a dois… – Piscou para ele.
Nesse momento, o grupo que havia encontrado eles antes se aproximaram e começaram a falar das rodadas de disputa que Alex venceu.
— Alex, você foi foda, tem que voltar para as competições ou pelo menos se apresentar. – Esse que se aproximou era o Jeferson. – Hoje tinha uns gringos tudo olhando o pessoal, soube que terá competição valendo grana alta, você tem que representar a gente do Rio cara.
Alex somente sorria, enquanto bebia alguns goles de cerveja da boca da lata.
— Você deveria realmente competir, está desperdiçando seu talento. – Xian falou para ele em inglês.
Jeferson apontou para Xian e começou a sorrir dizendo a Alex.
— Vai nessa aí que teu namorado está falando cara, nos representa pow.
Alex olhou Xian e quando ia dizer que eles não eram namorados, foi parado por ele.
— Jeferson, seu nome, certo?
— Isso… – O rapaz sorriu.
— Como ele faz para concorrer?
— Ah, tem uma inscrição aberta, vou mandar no “zap” o link do site. – Jeferson pegou seu smartphone e enviou para o contato de Alex. – Se inscreve hen… – Jeferson sorrindo virou-se para sair ao ser chamado por outro grupo.
— Vou pensar. – Alex acenou para ele, vendo-o se afastar, quando notou o rapaz de antes olhando para ele. – Merda, cara não desiste.
Wei Xian ouviu-o resmungar e ficou curioso.
— Jeferson só quer ver você competindo.
— Não estou falando do Jeferson, do cara que tá nos olhando dali do outro lado da arquibancada. E disfarça e olha, é o de blusa preta, todo fortinho.
Wei Xian pegou outra lata de cerveja do balde de gelo ao lado e espreitou vendo que o rapaz olhava direto para eles.
— O que ele quer?
— Acredita que ele me seguiu no banheiro e me enquadrou? Ele disse que estava doido por mim.
Wei Xian tomava um gole de cerveja quando abriu os olhos surpreso.
— Como é? Mas ele não veio com aquela moça? Que por sinal, olha para nós de um jeito esquisito. – Xian negou levemente com a cabeça fazendo uma breve careta.
— Namorada dele, mas ao que parece o cara gosta da fruta que ela gosta hahahahaha…
Xian não entendeu de imediato, mas depois de uns segundos percebeu o que ele quis dizer.
— Ele deve ser Bi, mas queria você lá no banheiro?
— Sr. Wei, ele queria me “mamar” lá mesmo. – Alex notou a expressão incrédula de Xian e começou a rir. – Eu tenho uma fama bem ruim nessa questão, sabe quando perdi Celinho eu te disse que pirei, então, eu comecei a sair com todos que davam em cima. E foi um tempo bem negro da minha vida, ia para todo tipo de putaria que me chamassem. – Rindo ainda mais com a forma que Xian o olhava assustado ele completou. – Calma Sr. Wei, tem mais de um ano que estou “limpo” e não faço mais essas doideiras de transar com geral.
— E ele acha que você continua?
— Ele pediu para ver algo em mim e disse que estava doido para me mamar, hahahahaha…. – Alex deu de ombros e disse: – Falei a ele que não rolaria porque não iria desrespeitá-lo com algo desleal e vim embora.
— Hum, o rapaz é bonito, mas…
— Não rola Sr. Wei, ele está aqui com alguém e seria bem cara de pau isso, fora que mesmo bonito achei o jeito dele muito esquisito, quando minhas antenas piscam em alerta que é hora de pular fora. – Alex se levantou e olhando para Xian inclinou a cabeça. – Vamos? Quero te levar na escadaria da Lapa.
Wei Xian levantou e concordando terminou a última lata de cerveja. Logo em seguida ambos saíram da arquibancada e foram para a porta de saída do local.
No momento que saíram da Fundição Progresso e parados na calçada, Wei Xian olhou o local e sorrindo pegou o smartphone.
— Quero uma foto do lugar.
— Vamos fazer juntos. – Alex pegou o celular, por ser um pouco mais alto posicionou para pegar o cenário de fundo junto com Xian.
Quando tirou a foto e viraram o celular para ver, um grupo passou ao lado e a namorada do rapaz que havia feito a proposta a Alex, soltou uma provocativa para ambos.
— Aline, veja só um cara lindo desse com um feio, só pode está rolando programa ai, dar para notar que o china é rico hahahahaha…
Wei Xian estreitou os olhos, ao entender boa parte daquela provocativa.
— Finge que não entendeu Sr. Wei, vamos para a escadaria.
Wei Xian não gostou nem um pouco disso e virou para encarar a moça.
Ela notou que ele havia entendido e deu de ombros com desdém dizendo em seguida:
— Eu menti?
Xian se aproximou, sendo seguido por Alex que tentava puxar ele.
— Deixa pra lá, não me ofendeu em nada, Sr. Wei.
Wei Xian estendeu a mão para ele parar e com os olhos fixos na moça diz em tom suave em português com um pouco de sotaque.
— Você deveria cuidar da sua vida em vez de se intrometer na dos outros, afinal se estivesse cuidando não teria um namorado que quer mamar o meu namorado no banheiro. – Deu de ombros imitando o desdém da mesma forma que a moça.
A garota arregalou os olhos e agarrou o braço da amiga, muito furiosa se afastou deles.
Alex olhou-a indo embora e depois para Wei Xian.
— Nossa Sr. Wei, Deus me livre de te ver puto assim, deu até medo hahahahaha…
Xian estava irritado e olhou para Alex resmungando.
— Não gosto de ver pessoas humilhando outras.
— Vamos embora, ainda temos muito para nos divertirmos, a mina meteu o pé, duvido que vai procurar confusão e… – De repente Alex foi empurrado por trás chegando a tropeçar, só não caiu porque Wei Xian o amparou a tempo.
Wei Xian e Alex arregalaram os olhos para virar de imediato deparando com o rapaz que ao que parece era o mesmo do banheiro. Ele estava agressivo e a sua namorada atrás falando um monte de mentiras.
— Eles disseram isso, que você é “viado”, Rodrigo, eu tentei defender, mas o china ai ficou de palhaçadinha.
— Que porra é essa de vocês seus merdas?
Alex imediatamente se colocou na frente de Xian erguendo os braços.
— Qual é a tua meu irmão? Está de merdinha é, quem ficou me enquadrando no banheiro para dar uma mamada? – Alex sabia que iria ter que brigar com o rapaz e se preparou.
Bil e Jeferson entraram na frente de Alex. Bil era tão alto e parrudo quando o que queria brigar e foi logo empurrando-o.
— Olha aí, vai tocar no meu irmão não… Vaza daqui agora seu “pela” e se ficar gritando essas merdas aí vou chamar os caras. – Bil ameaçou em chamar a polícia. – Homofóbico escroto.
— Vou quebrar os dois, não cruza meu caminho viu… – O rapaz irritado se afastou vendo que havia juntado muita gente na frente para cobrir Alex e Wei xian.
— Que porra é essa desse maluco? – Jeferson voltou o rosto para Xian e Alex. – Vocês estão bem?
— Tranquilo Jefer. – Alex acenou e virou-se para Xian. – Está tudo bem, o cara não vai encarar um monte de gente.
— Estou bem. – Xian sorriu de nervoso, já pensando em ter que brigar, coisa que ele não fazia desde a juventude. – Essa foi boa, ele praticamente deu em cima de você e agora está reclamando.
— Sr. Wei, o que tem de cara que é “hétero” que pega homem por aí, nem te conto… Tudo enrustido.
Wei Xian negou com a cabeça, sem acreditar na sua quase briga na Lapa, o grupo se afastou e mesmo assim não queriam deixá-los sozinhos.
— Vamos ficar bem, aproveitem a noite e valeu pela ajuda. – Alex falou para Jeferson e Bil, assim com os demais rapazes do grupo.
Foi questão de segundos até que um punho apareceu e Xian viu de relance desviando a cabeça na hora e se afastando aos tropeços que não conseguiu se equilibrar ecaiu no chão. Alex arregalou os olhos e imediatamente partiu para cima do rapaz que havia ameaçado eles.
— Está maluco, filho da puta. – Alex cerrou o punho para acertar o Rodrigo.
O grupo voltou a cercá-los para apartarem a briga, Wei Xian estava tentando se levantar e com ajuda de Jeferson lhe dando a mão ficou de pé. Os dois foram para a roda para ajudar Alex.
Nesse momento, Xian ouviu um grito e algo de vidro se quebrando atrás de si, quando virou o rosto para ver, se assustou. Era a namorada do rapaz brigão que estava caída no chão com a mão cortada por causa de uma garrafa que estava quebrada. Seus olhos se ergueram para encontrar aqueles olhos amendoados quase dourados. Wei Xian chegou a prender a respiração enquanto Zhan o olhava com leve sorriso.
— Qual é cara, colocou o pé na frente para ela tropeçar? – A moça que ajudava a amiga levantou para brigar com Zhan.
Zhan imediatamente levantou as mãos para o alto e começou a falar em mandarim.
— Ela estava vindo por trás e ia te acertar com a garrafa, tive que agir antes que te machucasse.
A moça não entendeu nada e assustada virou-se para a amiga que tinha a mão sangrando.
Jeferson nesse momento saiu da roda e puxou Wei Xian para ajudar Alex. Xian apenas teve tempo de acenar com a cabeça, antes de sumir no meio do grupo.
Zhan olhou-o se afastar quando a sirene da patrulhinha da PM encostou e no meio da confusão ele deixando o lugar e olhando de longe para ver se Xian estava bem.
Com a chegada da polícia e a briga terminou, o rapaz agressor foi apontado como quem começou a briga pelo grupo dos amigos de Alex juntamente com a moça que estava machucada.
Zhan suspirou baixo e voltou para encontrar seu grupo no bar da Boa, como havia dito a eles que iria ao banheiro, que na verdade era para ver o que tinha acontecido com Xian, demorou mais que deveria.
— Ei, você demorou. – Bel que estava ao lado de Carol, olhou para Zhan que chegou e se sentou.
— Estava com fila no banheiro.
— Ah, entendi. – Bel olhou um tanto desconfiada.
— Já pediram a torre?
— Pedimos sim. – Bel sorriu e se sentou ao lado dele. – Pedimos frango a passarinho para seu irmão provar.
Huan olhava o movimento e sorriu animado, comentando de o lugar ser divertido, mas puxou assunto com a Bel, pois anteriormente Zhan havia comentado que viu Wei Xian no meio daquela confusão e iria ver o que tinha acontecido, mas não queria que a Bel soubesse de imediato. Assim, ele a distraiu enquanto falavam do bar e da roda de samba.
— A Carol e o PH estão na roda, vamos Zhan, mostrar para seu irmão que você sabe sambar. – Sorridente ela se levantou puxando-o pela mão.
— Sei nada.
Zhan se levantou e falou ao irmão enquanto Bel se afastava para entrar na roda de samba junto com Carol e PH.
— Era briga com ele? – Huan estava preocupado.
— Sim, mas agora normalizou.
— Vem logo, Zhan. – Bel acenou para ele.
— Amanhã te conto tudo.
— Certo. – Huan sorriu e acenou para ele ir. – Vai lá sambar que quero ver.
Zhan fechou a face um tanto sério caminhou até a Bel. Envolvendo-a pela cintura falou ao seu pé de ouvido.
— Você é uma cretina, quer mesmo me envergonhar na frente do meu irmão.
— Hahahahahaha… Sempre quero ver você com as orelhas vermelhas de vergonha. – Bel se afastou e começou alguns passos de samba.
— Não abusa, você está grávida.
— Não vou abusar, vou ficar só no “sapatinho”. – Ela sorriu, lhe dando língua.
Zhan se aproximou e acompanhou-a nos passos. Da mesa Huan que bebia uns goles de cerveja sorriu ao ver que seu irmão sabia realmente sambar.
— Que divertido.
Zhan por fim relaxou e estava até se sentindo feliz, ele viu Wei Xian e conseguiu ajuda-lo, isso lhe deu uma certa leveza no coração que se empolgou sambando com Bel.
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Alex e Xian estavam falando com os policiais, tão logo tudo foi esclarecido eles foram informados que poderiam abrir B.O. por agressão e homofobia. Wei Xian a princípio queria fazer a ocorrência e pediu para não ter que ir a delegacia naquela hora, com os testemunhos de várias pessoas o policial orientou a fazer online, imediatamente Wei Xian pegou seu celular e fez a ocorrência online.
O rapaz agressor foi levado pela polícia, moça foi atendida no posto médico e logo em seguida escoltada para a delegacia.
Com toda confusão resolvida, Alex estava muito chateado e resmungava ao lado do pessoal. Wei Xian terminou de falar com outro policial e agradeceu se afastando deles para ir até Alex.
— Caramba Sr. Wei, não era assim que tinha que terminar nossa noite. – Alex inspirou demonstrando sua chateação.
— Terminar a noite? Mas você não ia me levar na escadaria da Lapa. – Sorrindo Xian pegou na mão de Alex e o puxou para eles irem.
Os demais do grupo ficaram tirando sarro de Alex e o empurraram para ir com Xian.
— Vai se divertir, o cara já foi e qualquer coisa estamos por aqui, só gritar a gente e chegamos de voadora em quem se meter com vocês. – Bil foi o mais falante de todos.
— Valeu, manos, vamos nessa… – Alex se despediu.
Wei Xian fez o mesmo e ambos seguiram para a rua que levava a escadaria da Lapa, pelo caminho Alex ainda continuava reclamando de o quanto estava chateado por ter colocado Xian nessa confusão toda.
— Ei, mas que começou foi eu… – Xian sorriu quando olhou a escadaria da Lapa, multicolorida. – Se eu não tivesse falado com a moça…
— Sr. Wei se achou que era certo, falou e tá falado… – Alex se sentou em um dos degraus e bateu palma da mão no chão ao lado dele. – Quem iria adivinhar que o cara paga de macho alfa cis e na verdade é um “enrustido”.
Wei Xian se sentou ao lado dele rindo dessa situação, colocando a mão no queixo ele lembrou de Zhan e ficou receoso em falar para Alex.
— Eu estava pensando nisso, no tempo que eu brigava na escola.
— Eita, Sr. Wei. – Alex sorriu prestando atenção nele com curiosidade. – Pelo tom que você usou e a cara de ódio que fez com a mina, tu tem cara de ser brigão hahahahahaha…
— Eu era, antes do colegial e durante o período antes da faculdade. – Eu, como te disse detesto injustiça e coisas do tipo como a que aquela moça falou, então, eu me metia em muita confusão.
— Ts, ts, ts, que coisa Sr. Wei.
— Acho que eu me garantia, afinal tinha sempre uma pessoa me protegendo. – Xian ficou sério e completo suas palavras. – Como hoje, assim como no passado, ele estava lá e me protegeu. – Xian tinha os olhos brilhando com lágrimas contidas.
Alex ficou confuso e quando ia perguntar, Xian o esclareceu.
— Sabe como a namorada do tal brigão machucou na mão?
— Como?
— Sr. Han…
Alex abriu os olhos surpreso, esperando que Xian contasse o que aconteceu.
— Ela ia me acertar pelas costas com uma garrafa quebrada, Sr. Han estava ali e colocou o pé na frente, a moça tropeçou, caiu e se cortou. Eu virei o rosto na hora, foi quando o vi. – Xian tinha um semblante um pouco melancólico. – Jeferson me puxou e nem tive tempo de agradecer, quando o procurei já havia sumido.
— Meu Deus, ainda bem que não aconteceu nada, isso me faz sentir ainda mais mal comigo, que merda… – Alex bufou se encostando na parede de ladrilhos picotados.
— Por quê? Sr. Han está aqui e isso o chateou?
— Não, pelo contrário, ainda bem que ele estava aqui e te ajudou. Se não fosse por isso a essa hora você poderia estar em um hospital todo cortado ou algo pior. – Alex virou para Xian e o abraçou afundando o rosto no ombro dele. – Que medo, se isso tivesse acontecido.
Wei Xian sorriu baixinho e acariciou a cabeça de Alex o confortando.
— Ele sempre estava na hora certa e no momento exato para me proteger, não sei o que sentir com o que aconteceu hoje, mas uma coisa eu sei. – Wei Xian fez Alex o encarar. – Não me arrependo de nada que passei essa noite. – Sorriu ao final da frase.
Ambos ficaram se olhando alguns segundo até que Alex murmurou:
— Ver Sr. Han mexeu com você.
Xian afastou dele e ainda olhando-o ficou em silêncio.
— Quem cala, consente.
Wei Xian estreitou os olhos, estava confuso com aquelas palavras, na verdade ele queria falar algo que não chateasse Alex, afinal eles estavam juntos e no seu entender ficar falando do ex para o atual não era nada legal. Pensativo em algo que mudasse o foco da conversa, Xian lembrou que ficou curioso sobe um assunto anterior e resolveu perguntar.
— Sabe, ainda temos algumas horas, vamos aproveitar nossa noite e falar de coisas alegres.
— Concordo.
— Estou curioso, você disse que o cara brigão queria ver algo seu, o que era?
— Hahahahahahaha… – Alex balançou a cabeça e depois encarou Xian com olhar arteiro. – Ele queria ver meu piercing.
— Ah! – Xian olhou para ele procurando. – Não vejo, nem sabia que usava.
— Hahahahahaha, nem vai ver dessa forma, não fica a mostra. – Com um sorriso arteiro ele esticou as pernas e se apoiou, virando o rosto e olhando para direção de sua virilha.
Wei Xian fitou-o um tempo e seguiu seu olhar para em seguida entender o que ele queria dizer.
— Não acredito.
— Eu te disse que teve um tempo que eu era porra louca, fiz muita doideira e essa foi uma delas.
— Você tem um Piercing, onde eu estou imaginando que é? – Xian levou a mão apoiando o rosto totalmente incrédulo.
— Sim, bem na cabeça.
Wei Xian fez uma leve expressão de dor com os olhos e virou o rosto.
— No dia que dormimos juntos… – Xian voltou a olhar para ele. – Não tinha nada.
— Eu tiro de vez em quando para limpar. – Alex estava se divertindo com as expressões de descrença misturado com cara de dor. – Hahahahaha, Sr. Wei está muito engraçada a sua cara, hahahahahahaha.
— Eu estou agoniado. – Negou levemente com a cabeça. – Você é doido.
— Hahahahahaha. – Alex voltou a juntar as pernas e com ar malicioso perguntou: – Quer conferir?
— Quero ver sim, ainda não estou acreditando.
Alex se levantou e estendeu a mão.
— Vamos para um local bem legal e terminar nossa noite de diversão.
Wei Xian entendeu sobre esse local reservado, já esperava por isso e apesar de seu coração ainda palpitar com a lembranças de Zhan lhe ajudando, ele queria somente ficar com Alex e esquecer um pouco aquela situação desagradável.
Tão logo chegaram a um motel, reservaram uma suíte e os dois entraram para aproveitar a noite. Aos beijos foram tirando as peças de roupas, largando pelo caminho até a cama. Ao se deitarem, Xian deslizou a mão e olhou para o volume na cueca de Alex.
— Está procurando por aquilo que falei lá na escadaria da Lapa, Sr. Wei?
Alex se conteve encarando o olhar explorador do outro e com toda a calma do mundo sorriu para Wei Xian.
— Acho que mentiu para mim, mais uma de suas piadas… – Xian arfou o ar esboçando uma expressão de descrença.
— Não menti, não. – Sem qualquer aviso, Alex pegou a mão de Xian e a colocou por dentro da sua cueca.
Xian abrindo os olhos surpreso ao sentir o metal gelado bem na cabeça.
— Perfurado verticalmente atravessado, de cima para baixo. – Sorrindo continuou: – Como te disse, às vezes eu tiro para limpeza.
— Is-isso deve ter doído… – Wei Xian chegou a gaguejar, imaginando se tivesse um no seu. Estava chocado, tanto, que não parava de apalpar o metal atravessado. – É uma região tão sensível.
— Realmente doeu um pouco – Ofegou excitado. – Mas esse movimento da sua mão aí, está fazendo valer bem à pena.
Wei Xian ficou embaraçado de princípio e desacelerou afastando a mão. Não percebeu que estava o masturbando.
— Continua… – Alex sussurrou com a voz rouca ao pé de ouvido de Xian. – Não vou te foder, prometi a você, esqueceu…
— Não é isso Alex, eu realmente gosto de estar com você… – Xian murmurou em resposta. – Mas…
— Vê-lo essa noite o perturbou. – Alex deslizava os lábios pelo pescoço e orelha de Xian, vez ou outra passando a língua e mordiscando a pele alva. – Vamos fazer assim, sr. Wei, sem compromisso, seremos só dois amigos coloridos se divertindo. – Aproximou os lábios e sugou leve a pele arrepiada do pescoço de Xian. – Assim, se algo acontecer, ninguém precisa se culpar. – Sorriu, deslizando a mão pelo ombro fazendo Xian encarar seu olhar. – Vamos aproveitar o momento, um dia por vez, que tal?
Wei Xian estava muito excitado, cada toque de Alex despertava sensações deliciosas nele e realmente não queria perder nenhum daquele prazer que estava sentindo. Ao ouvir a oferta, mordeu levemente os lábios fitando nos olhos de Alex desejosos. Um aceno de cabeça foi a confirmação seguida o beijo ansioso trocado com o rapaz.
• ────── ✾ ────── •
Eram por volta das 4 horas da manhã, quando o grupo entrou no elevador, Carol e PH estavam muito bêbados e riam sem parar. Bel fazia gesto de silêncio para ambos e assim que o plim do andar de Carol tocou eles saíram para irem ao apartamento.
Huan tinha uma expressão sonolenta, não estava como os demais, porém ainda sentia a tonteira de ter bebido além do costume.
— Zhan me leva até em casa. – Bel intimou Zhan que estendeu a chave a Huan. – Vai abrindo a porta, vou deixá-la e já volto.
— Ok.
Logo que o elevador parou no andar, Bel saltou e puxou Zhan acenando para Huan.
— Boa noite irmão Huan.
— Boa noite srta. Bel. – Esboçou um sorriso e a porta do elevador se fechou.
Zhan seguiu Bel até a porta e assim que ela o abriu, ele parou na porta e deu beijo na testa dela se virando para voltar.
— Ei, aonde vai? Entra… – Chamou-o com olhar provocativo. – Vem…
Zhan olhou-a e suspirou, virando o rosto para ela esboçando uma expressão cansada.
— Hoje não Bel, quero só chegar em casa, tomar um banho para tirar esse odor de suor e cerveja e me largar na cama… – Fez menção em se afastar, mas foi puxado por ela. – Bel, sem condições…
— Pelo menos dorme comigo, entra… – Bel o puxou e fechou a porta atrás dele. – Tem roupa sua limpa aqui, só tomar banho e a gente se larga na cama juntos e dorme amanhã o dia todo, que tal?
— Bel, você com esse olhar, não vai me deixar dormir… – Zhan sabia bem que no fim iria ter que transar com ela, coisa essa que havia um bom tempo que não estava se sentindo à vontade em fazer.
— Hum, notou meu olhar, isso é bom… – Bel se aproximou para beijá-lo e foi surpreendida com que ele virou o rosto para evitar o contato.
Espantada com atitude dele, ficou sem palavras por um tempo, até que se irritou e falou com tom de deboche.
— O que é isso? Meu noivo não que me beijar?
Zhan estreitou os olhos não gostando do tom que ela levava aquela conversa.
— Bel, não vou nem responder… – Zhan se virou para sair dizendo a ela. – Vai tomar um banho e se deitar, amanhã conversamos.
— Não. – Bel foi até a porta e colocou a mão para impedir que ele passasse. – Quero falar agora, por que não que ficar comigo? Por que não quer me beijar? A cara que você está fazendo é praticamente como se tivesse nojo de mim, que porra é essa Zhan?
— Minha nossa, Bel por favor, não pense nada errado… – Zhan estava cansado demais para argumentar algo, ele realmente não queria ficar naquela noite com ela. – Bel, às vezes é só cansaço e nada mais.
— Você nunca me negou e agora está com desculpas idiotas de cansaço, não vamos transar se é isso que não quer, mas não ser carinhoso comigo e nem dormirmos juntos você não quer, o que está acontecendo com você? – Bel encarava-o com os olhos vermelhos de tanto que segurava as lágrimas.
— Bel, vamos conversar amanhã, primeira descansa são quase 5 horas da manhã, realmente não quero ficar nesse impasse e discutindo com você a essa hora… – Zhan se virou e encostou na parede. – Por favor?
— Não temos o que discutir, afinal eu já entendi o que está acontecendo com você. – Bel afastou da porta. – Wei Xian, sempre ele.
— Como é? – Zhan se afastou da parede e olhou-a seriamente. – O que tem haver o Wei…
— Tem tudo a ver a partir do momento que você foi atrás dele lá na Lapa.
Zhan fechou os olhos e levou a mão para com a ponta dos dedos apertar entre as sobrancelhas.
— Bel, não é nada disso, eu ia contar…
— Como não? Eu vi que você estava demorando e quando vou te procurar, está lá no meio da confusão. – Bel estava chateada. – Sabe o que é pior, eu realmente achei que quando você voltasse iria me falar. Por que me escondeu que foi lá vê-lo? Será que sou alguém tão idiota ao ponto de não entender?
Zhan estava sem paciência, por saber que ela iria se irritar que não quis falar de imediato e deixaria para o dia seguinte quando estivessem bem e descansados, mas ela continuava a falar sem parar.
— Bel…
Zhan tentava falar, mas era interrompido por ela, que a essa altura já gesticulava e chorava andando de um lado para o outro na frente dele.
— Bel, por favor…
— O que acha que devo entender? Meu noivo não quer ficar comigo, não quer nem sequer me beijar, ainda nega que não tem a ver com Wei Xian.
— Não é com ele… Bel, para de falar e me ouve por favor…
Ela não parava, na verdade já nem falava mais com ele, chorando andava pela casa resmungando dele e do Wei Xian.
— Você mudou, desde que foi para essa maldita empresa, não fala mais comigo e nem me conta as coisas que está acontecendo. – Olhou para ele irritada. – Eu sou o que Zhan? Não estamos juntos a um mês e nem um ano, são quase 10 anos e agora você me trata dessa forma. Eu não mereço isso. – Bel foi até ele e com a expressão irritada perguntou: – O que você quer, Zhan?
Zhan estava no seu limite e quando ela se aproximou e o questionou pressionando ouviu o que não imaginaria vir dele.
— Não quero me casar.
Bel abriu os olhos em choque e se afastou dele, ali de pé ambos ficaram em silêncio algum tempo. Os segundo foram eternos até que foi Bel que deu o primeiro sinal e caminhou até a porta abrindo-a.
— Saia, por favor…
Zhan caminhou até a porta e olhou-a, tentando ainda algum diálogo, mas ao ver que ela virou o rosto para ele, desistiu. Saiu e seguiu pelo corredor ouvindo a porta bater atrás de si. Fechou os olhos e ficou parado um tempo. Seus olhos se encheram de lágrimas, estava se sentindo mal com tudo e logo que chegou em casa, foi para o banheiro entrou embaixo do chuveiro e na água fria ele chorou, chorou até perder noção da hora e ver o dia amanhecer pelo vitral da janela pequena do banheiro.
Continua…