“Escuta o teu coração, ele conhece todas as coisas,
pois onde ele estiver, é onde está o teu tesouro.”
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Wei Xian saiu do prédio coorporativo a passos largos, quando sentiu seu telefone vibrar, ignorou e continuou até entrar no carro, ao qual Jorge já o esperava.
— Para casa Jorge, por favor.
— Sim Sr. Wei.
Xian se largou no banco de trás e jogou a cabeça no encosto do banco inspirando pesadamente. Cobriu os olhos com o braço, tentando controlar sua mente. Algo mais que meia hora, chegou em seu prédio em Ipanema. Agradecendo ao motorista tomou o elevador pela garagem.
O seu telefone vibrava incessantemente, o que irritou Xian, pegou do bolso e antes de entrar na cobertura viu que era Cheng, atendendo sem paciência.
— Wei Xian?! O que deu em você? Fui a sua sala e a srta. Moraes avisou que tinha ido embora. – Cheng estava preocupado.
— Cheng, vou trabalhar em casa, mandarei o material pelo e-mail, pede ao departamento que me envie a chave autorizando meu login no IP.
— Xian, que maluquice é essa?
— Vou ficar em casa a partir de hoje, já que você me transferiu não sou necessário na empresa. – Respondeu entre dentes com sacarmos.
— Xian, por favor… – Cheng inspirou chateado. – Esfria a cabeça por hoje, a noite passo na sua cobertura e conversamos, ok?
— Peça ao suporte para entrar em contato comigo.
— Vou pedir… Esfria a cabeça. – Cheng encerrou a chamada, pedindo a sua secretária para fazer o que Xian pediu.
Wei Xian encerrou a chamada e entrou na cobertura, foi direto para seu quarto tirando a gravata e depois o paletó sentando-se na beira da cama ofegou algumas vezes levando as mãos no rosto cobrindo os olhos, resmungando em mandarim o quanto estava saturado de tudo.
— Sr. Wei?!
Ao ouvir a voz lhe chamando, Xian levantou o rosto deparando-se com Alex que o encarava preocupado. Ele estava com uma toalha na mão, aparentemente havia saído do banho, estava somente de calça sem blusa.
Xian olhou-o e seus olhos desceram para o peito firme de Alex, a pele morena e lisa o fez prender atenção. Ofegou baixo e perguntou a ele:
— Beth?…
— A tia foi ao mercado, hoje é dia de compras… – Alex ainda olhava Xian com preocupação. – Sr. Wei está se sentindo bem? – Alex se aproximou com um sorriso a face inclinou para analisar sua expressão. – Está mais pálido que o normal…
Xian estava olhando para ele, de repente estendeu a mão e tocou o ombro de Alex o puxando surpreendendo o rapaz que perdeu o equilíbrio e caiu sobre Xian.
— Sr. Wei cuida…do… – Alex estava por cima de Xian e engoliu seco ao perceber o olhar do outro. Quando tentou se levantar, foi impedido com um novo puxão. – Sr. Wei, o que…?
Xian agarrou a nuca de Alex e puxou novamente beijando seus lábios. Alex surpreso arregalou os olhos e por alguns segundos ficou sem reação, até que percebendo que aquela situação era estranha segurou os braços de Xian o afastando dele.
— Sr. Wei, o que deu no senhor? – Prendeu os braços de Xian na cama, mas não pressionou para não o machucar.
— Vai se fazer de inocente garoto? – Xian ergueu a perna e roçou entre as de Alex. – Não vem esse tempo todo flertando comigo, tem sua chance… – Xian falava em um tom sensual provocando Alex.
— Sr. Wei… – Alex esboçou um sorriso sem jeito no canto dos lábios em sua face havia uma tensão nervosa com aquele “ataque” inesperado de Xian. – Eu não sou inocente e muito menos garoto. Claro que estou flertando com você, mas… – Alex estremeceu com o roçar da perna de Xian. – Para de provocar, não vai rolar, óbvio para mim que não está bem…
— Vai jogar a chance fora? – Xian resmungou ergueu a cabeça para se aproximar do rosto de Alex. – É só me foder, tem sua chance, aproveita! – Passou leve a língua no queixo de Alex.
Alex olhava atento aquela postura de Wei Xian, seu corpo corria arrepios de desejo, ele queria? Sim, desejava aquele corpo desde que o viu nu, mas um alerta gritava dentro de seu coração de que aquele homem estava em desespero e não era nada bom deixá-lo agindo ensandecido daquela forma.
Alex tentou sair de cima de Xian, mas automaticamente foi preso pelas pernas dele em volta de sua cintura. Inclinou a cabeça xingando mentalmente aquela situação, voltou segurar dessa vez ambos os pulsos de Xian para tentar se livrar das pernas. Aquele embate irritou Xian que voltou a provocar Alex.
— Ei, garoto estou disposto para você, vai negar… Me fode logo… – Xian resmungou e falou em mandarim. – FODE!!!
Alex não teve uma alternativa e puxou com força uma das pernas de Xian, não dando tempo ao outro de revidar, puxou seu corpo e o abraçou com força falando ao pé de ouvido em um tom suave para o outro se acalmar.
— Sr. Wei, só Deus sabe o quanto te desejo, desde o dia que te vi pela primeira vez fiquei louco por você… – Alex murmurava fazendo carinho na nuca de Xian. – Eu me sinto feliz e triste ao mesmo tempo, por um momento pude sentir seu beijo, mas não é da forma que quero… Sr. Wei, se eu fizer algo assim com você no estado que está, fora de si acha mesmo que me sentiria feliz? – Alex engoliu seco. – Sr. Wei, sei que não está bem e não é só a anemia, tem um verdadeiro furacão te sugando e se não encontrar um meio de se segurar, vai acabar muito mal… Sr. Wei, por favor tente se controlar…
Xian estava irritando e tentava se soltar do abraço de Alex, conforme sentia o carinho em sua nuca e aquelas palavras suaves em seu ouvido, parou de tentar se soltar e fechou os olhos tentando segurar as lágrimas, até que não conseguiu mais e começou a chorar.
Alex continuou abraçando Xian deixando-o chorar, ele sabia que aquele homem precisava desabafar aquela angústia no peito e fazendo carinho na sua nuca para confortá-lo.
Uns 30 minutos depois, Xian estava com o rosto sobre o peito de Alex, seus olhos estavam perdidos e se sentindo muito envergonhado. Não conseguiu olhar para o rapaz e sem jeito se afastou falando em tom baixo.
— Desculpe-me Alex, não…
— Ei, Xiii… – Alex tocou o rosto de Xian e o fez olhar para ele. – Está tudo bem…
Xian olhou-o e engoliu seco querendo desviar o olhar.
— Sr. Wei… – Alex se levantou e ajudou Xian a levantar. – Vá trocar essa roupa, tome um banho para relaxar… – Olhando em volta, pegou a sua toalha que havia caído no chão e disse: – Venho já…
Xian concordou com a cabeça, sentindo seu rosto queimar de vergonha, o que tinha pensado naquela hora? Na verdade, ele queria se machucar para sua dor mudar de foco, não era a primeira vez que fazia isso, mas dessa vez a pessoa teve o senso de não ceder.
Dirigindo-se para o banheiro, tirou a roupa e tomou um banho e trocou de roupa pegando um conjunto de blusa preta e bermudão. Quando saiu do quarto olhou para a porta da cozinha vendo que Alex estava preparando algo no liquidificador.
— Ah, agora está com uma cara mais saudável, vem Sr. Wei se senta aí, fiz um lanche e um suco reforçado, vai te dar mais energia. – Alex serviu o copo longo com aquele suco verde e colocou na frente de Xian. – Beba, vai te animar.
Xian estava muito sem jeito e se sentou na cadeira pegando o copo tomando alguns goles. Inclinou o rosto e voltou a se desculpar com o rapaz.
— Eu fui um idiota, desculpa. – Juntou as mãos e curvou a cabeça várias vezes.
Alex se aproximou e tocou em seu ombro para parar de fazer aquilo, ele estava se sentindo sem graça com aquele pedido de desculpa exagerado.
— Sr. Wei, já disse, está tudo bem… – Piscou para o outro e pegou um copo para tomar o suco também. – Olha, seja lá o que está acontecendo, não faça mais isso com senhor… – Alex coçou a nuca e suspirou. – Eu sou uma pessoa bem controlada, mas outro não ligaria e faria o que pediu.
— Eu…
— Sr. Wei, converse com alguém para desabafar, tá na cara que vai explodir daqui a pouco…
— Não tenho ninguém para desabafar, não há nenhuma pessoa que entenderá…
Alex ficou calado por uns segundos e depois olhou a hora. Xian percebeu e se alarmou dizendo:
— A faculdade…!
— Ah, esquenta não, entro no próximo intervalo.
Xian bateu com força na sua testa, assustando Alex que arregalou os olhos.
— Idiota, fiz você perder aula… – voltou a resmungar em mandarim.
— Calma sr. Wei, não era uma aula tão importante, era só reforço… – Alex se aproximou dele e rindo do jeito do outro reclamou. – Você gosta de se bater assim, vou ficar chateado se continuar… – Pensativo olhando para Xian comentou. – Pelo que percebi não vai mais voltar para o trabalho hoje, acertei?
Xian negou com a cabeça falando entre os dentes.
— Não quero voltar, provavelmente trabalhe em casa a parti de hoje.
— Hum… – Alex sorriu e se virou para a pia para lavar os utensílios que ficaram sujos. – Que tal um rolê?
— Rolê?
— Sair?
— Ah… E a faculdade?
— Então, vamos na faculdade você se distrai e quando a aula acabar te levo para uns lugares legais. – Alex terminou de limpar tudo e guardou os objetos depois de secá-los. – “Bora”?
Xian inspirou e por fim concordou.
— Ótimo, vá pegar o protetor solar, do jeito que é branco pode pegar uma insolação… – Alex sorriu.
— Ok.
Xian voltou para o quarto, pegou uma sacola pequena atravessada e colocou sua carteira, celular e protetor solar. No guarda-roupas pegou boné e calçou depois um tênis. Quando voltou para a cozinha, viu Alex ajudando Beth com as compras.
— Obrigada meu filho, achei que já estaria na faculdade… – Foi quando Beth notou Xian. – Sr. Wei, já em casa… – Olhou-o de cima a baixo confusa.
— Beth, provavelmente devo trabalhar a partir de amanhã em casa… – Xian olhou Alex e voltou a falar com Beth. – Eu vou sair e devo voltar a noite.
— Tudo bem. – Beth olhou Alex ainda mais confusa, alguns segundos para processar a situação, desistiu e virou-se para guardar as compras. – Vou cuidar das compras…
Xian sabia que a tia de Alex não gostava da proximidade deles e saiu para a sala olhando para o rapaz que captou o que ele pensou.
— Tia, queria te ajudar, mas estou em cima da hora.
— Vai lá, para não perder sua aula.
Alex saiu pela porta da cozinha e foi para o corredor encontrando Xian.
— Vamos? – Sorrindo o rapaz tocou no painel para chamar o elevador.
A dupla entrou logo que a porta se abriu e Alex começou a tagarela.
— Na faculdade tenho alguns trabalhos para entregar, não terei mais aulas depois, podemos ir à praia, andar pelo calçadão, ir até o mirante do Leblon ou até o Arpoador. – Ele falava dos lugares sorrindo tão natural.
Xian suspirou vendo aquela empolgação de Alex, concordou com o roteiro apresentado, afinal ele não conhecia nenhum desses lugares, apesar de ouvir os nomes algumas vezes por funcionários e no prédio onde mora.
Na calçada em frente ao prédio, Xian pensou em chamar Jorge e Alex acenou para ele dizendo que não.
— Vamos de metrô para o Maracanã, aliás antes de irmos para praia te mostrou o estádio. – Alex puxou Xian para irem à estação do metrô. – Olha só sr. Wei hoje eu sou o guia e vai andar por aí como pobre hahahahaha…
— Não tem problema. – Xian finalmente relaxou esboçou um leve sorriso. – Na China eu não tenho empregados e motorista, ando de ônibus e metrô… Não é novidade…
Alex caminhava ao lado dele e curvou a cabeça questionando.
— Sério?! – Sorriu. – Por que aqui você tem empregados aqui?
— Eu geralmente prefiro pela falta de tempo quando tem uma implantação da montadora e preciso de alguém que tome conta da MianMian. – Ele falava mais à vontade esquecendo um pouco da vergonha que sentia antes.
Entraram na estação e pouco depois de pagar o bilhete estavam na plataforma para esperar o veículo que levaria para o Maracanã.
— E prefiro contratar empregados do local onde estou, fica mais fácil de interagir e aprender os costumes mais rápido.
— Entendi, boa coisa… – Alex sorriu e comentou: – A tia diz que sr. Wei é generoso, melhor patrão…
— Eu só pago o que acho justo, em outros países não é como no Brasil, aqui é mão de obrar muito barata… – Xian comentava quando o metrô parou na estação e ambos entraram quando a porta se abriu. – Pode parecer bom para empresas, mas eu não acho… Cuidar de uma casa e crianças é difícil…
— Sr. Wei parece entendido do assunto. – Alex encostou no canto perto da porta. – Mas concordo com você sobre aqui pagar pouco para nós trabalharmos… Uma vez fui para Nova Iorque…
Wei Xian olhou-o surpreso e Alex notou rindo em seguida.
— Sr. Wei já sou internacional, aprendi a falar inglês na marra rs
Xian ficou atento demonstrando curiosidade.
— Sabe Stret dance? – Vendo que ele entendeu continuou. – Então, eu danço e ganhei uma bolsa para ficar um ano lá em Nova Iorque quando eu tinha 16 anos.
— Então, você dança… Interessante…
— Sr. Wei eu sou profissional, danço desde que sai das fraudas hahahaha… – Alex inclinou para perto dele. – Topa ir final de semana na Lapa? Te levo onde eu e meus manos dançamos, vai ser divertido…
— Claro, quero ver.
— Fechou. – Alex estendeu o punho fechado.
Xian esboçou um sorriso breve e levantou a mão fazendo o mesmo e ambos bateram um na mão do outro firmando o compromisso. Durante 30 minutos do trajeto de Ipanema até a UERJ (faculdade) Alex continuou a tagarelar sobre sua estadia nos Estados Unidos, Xian falava vez ou outra falando que ficou lá um tempo.
Ao chegarem na faculdade, dada a permissão pelos professores Xian acompanhou Alex em algumas aulas. Era engraçado, alguns alunos ficavam perguntando para o rapaz sobre Xian, este se divertia dizendo que Xian não sabia português e era amigo que vinha visitar o país.
Xian ouviu diversos elogios de amigas da faculdade sobre a sua beleza, esforçando-se ao máximo para disfarçar que não entendia, olhava Alex vendo o outro se divertir com aquela brincadeira.
Logo que as aulas que Alex tinha para assistir terminaram e ele entregou alguns trabalhos, saíram do lugar indo ver o estádio do Maracanã, Xian se impressionou pelo tamanho e ficou curioso em ver uma partida de futebol.
— Alex, eu não entendi a pergunta de um dos seus colegas da faculdade. – Xian olhava as placas e imagens nas paredes do salão da galeria que havia no estádio contando a história do lugar, enquanto falava com o rapaz.
— Qual pergunta?
— Se eu jogo no seu time? – Xian olhou-o em seguida bastante curioso. — Você disse que eu era Flamengo e saiu rindo…
Alex riu alto e depois falou perto dele.
— Ele queria saber se você era gay. – Se afastou caminhando para a saída do lugar. – Vamos, se ficarmos muito tempo corremos risco de pegar o metrô cheio na hora do rush.
Wei Xian corou ao ouvir sobre esse fato, concordou em seguida e ambos voltaram para a estação do metrô.
— E você é… Claro. – Falou baixo ao lado de Alex.
— Desde sempre. – Andando ao lado de Xian ficou quieto.
— Eu sou desde sempre…
— Então, é do mesmo time hahahahaha.
— Ah! Agora entendi a pergunta.
Alex piscou para ele e novamente chegaram na estação e tomaram o metrô para a zona sul. O vagão que entraram estava relativamente cheio e conforme parava pelas estações entravam mais passageiros, chegou ao ponto que Xian ficou no canto e Alex de frente a ele, o rapaz era mais alto que Xian e o protegeu de ser empurrado pelas pessoas que entravam.
— Não está apertado? – Xian perguntou a cada pessoa que empurrava Alex ao passar pelo corredor.
— Tranquilo, já peguei trem muito pior que este parecendo enlatados hahahah…
— Tem espaço aqui. – Xian encostou mais perto da janela.
— Não, se não vai ficar complicado depois na hora de saltar. – Alex olhou em volta e se aproximou falando baixinho de forma provocativa. – Além do mais se eu encostar em você, não vou poder sair mesmo. – Olhou para baixo.
Xian a princípio não entendeu até baixar o olhar e notar o que o rapaz falava, inclinou a cabeça e virou o rosto corando as bochechas levemente.
— Sr. Wei.
— Sim?
— Seus lábios são macios.
Xian olhava para a janela, enquanto ouvia Alex o provocar.
— Não repita o que fez hoje cedo, na próximo eu serei obediente e farei o que pediu… – Soltou um sorriso divertido vendo o Xian baixar o boné para cobrir mais o rosto envergonhado.
— Brincadeira! Mas confesso que foi muito sacrificante negar…
— Você… É bem atraente… – Xian murmurou.
Alex olhava Xian e sorriu por fim.
— Vamos distrair por aí, te mostro os lugares que gosto de ficar de bobeira quando estou na zona sul.
— Certo.
— Sr. Wei, está com fome?
— Um pouco.
— Paramos em um quiosque e comemos algo.
— Ótimo.
Xian e Alex saltaram na estação e após chegarem no calçadão foram para o quiosque, o rapaz era conhecido do local e ficaram um tempo comendo e conversando. Alex mostrou a Xian uns vídeos dele dançando enquanto lhe explicava os eventos que frequentava.
Após saírem do quiosque, caminharam pela praia, Xian chegou até o mar e preferiu não mergulhar, ambos não estavam com roupas de praia e combinaram outro dia aproveitarem a praia. Continuaram o passeio, pelo calçadão chegando ao mirante do Leblon, no local ficaram sentados admirando a vista que mostrava todo longo da orla.
Xian contou a Alex que na China era diferente ir à praia, as pessoas no Brasil ficavam quase nuas e não se envergonhavam com isso. Alex riu muito quando Xian falou que ia a praia com blusa e bermuda.
Já estava quase entardecendo quando Alex o chamou para ir até o Arpoador, ele falou que iriam ver o pôr do sol de lá.
Wei Xian achou o lugar ainda mais belo e havia muitas pessoas sentadas que estavam ali para assistir, tinha um grupo de jovens onde um deles tocava violão, era bastante animado.
Aos poucos o sol começou a se pôr, Xian e Alex estavam sentados olhando para o horizonte, nesse momento as pessoas começaram a aplaudir e festejar. Xian olhou em volta e sorriu quando Alex começou a seguir as pessoas assobiando e aplaudindo junto.
Quando cessaram os aplausos ao pôr-do-sol no Posto 9, os banhistas que acompanham o espetáculo da Pedra do Arpoador começam a volta para casa. Guardassóis e cadeiras são recolhidos pelos barraqueiros das areias. A brisa do oceano chega com o crepúsculo e desencadeia a segunda etapa no cotidiano das praias cariocas. Os lixeiros vão recolhendo os vestígios do dia. As pipas encobrem o céu de Ipanema.
Wei Xian olhava toda aquela movimentação, admirando de certa forma os brasileiros.
Alex comentava que na zona sul a orla não dorme e que no Leblon, os jogadores de futebol americano, frisbee, vôlei e os praticantes de artes marciais principiam o torneio da madrugada. Xian sorriu curioso com essa orla que entre o ocaso e a aurora fazem do Rio a única cidade do mundo que poderia espalhar por ruas e avenidas placas ou faixas com a seguinte inscrição: PRAIA 24 HORAS.
A vida noturna no calçadão era observada por Wei Xian como Alex havia lhe dito, não apresentava diferenças notáveis em relação à rotina sob o sol: cooper e bicicleta na ciclovia, gente bebendo e conversando nos quiosques. Na areia, a história é diferente. A ausência dos banhistas permite a prática de atividades que requerem espaço. Perto do Posto 12, no Leblon, futebol americano e frisbee. Em frente ao Centro Cultural Laura Alvim, as pipas colorem o céu de Ipanema.
Xian inspirou fundo ao sentir a névoa formada pela maresia ficar mais densa, lembrou que do mirante do Leblon a Copacabana, que viu os pescadores se transformarem em donos da praia.
Alex observava como Xian estava mais relaxado, satisfeito por isso ele o chamou para se sentarem nos banquinhos de um quiosque antes de seguirem para o prédio onde Xian morava que ficava na próxima quadra do outro lado do calçadão.
— Estou feliz…
Xian bebia do copo goles de cerveja quando ouviu Alex falar sobre estar feliz, sorriu breve e concordou.
— Eu também… Obrigado!
— Não precisa agradecer, nos divertimos é o que vale… – Sorriu novamente. – Estou feliz porque agora sinto que você está mais relaxado.
— Estou sim, por isso agradeci… Sua cidade é linda e a vida pulsa aqui. – Xian olhou para as pessoas conversando em outras mesinhas. – Foi muito bom, sair de casa…
— Sr. Wei, o que está acontecendo com você?
Xian olhou para Alex e suspirou.
— Ok, não precisa me falar.
— Não, eu quero falar… – Xian inspirou novamente. – Tem razão, preciso falar com alguém, mas as pessoas a minha volta não entenderiam…
— Eu sou todo ouvidos. – Alex riu e negou com a cabeça notando de novo o olhar confuso de Xian. – Modo de dizer, quer dizer que pode confiar em mim para contar…
— Eu preciso entender esse jogo de palavras de vocês. – Sorriu.
— Sr. Wei logo aprende… Afinal, asiáticos são picas. – Alex gargalhou novamente. – Sr. Wei fica muito fofo quando fica confuso.
Xian estreitou os olhos e depois negou com a cabeça.
— Então, conta tudo e mesmo que eu não entender ainda assim estarei aqui para te apoiar… – Inclinou esperando Xian contar.
— Não sei nem por onde começar… – Xian bebeu mais um gole de cerveja.
— Começa do começo, ué… – Alex tomou também um gole de sua long neck. – Eu sou fofoqueiro, mas do bem, não vou espalhar a fofoca hahahaha…
— Ok… – Xian sorriu e inspirou fundo, aquela era a primeira vez que falaria sobre tudo que estava passando e sentindo para alguém que não fosse seu Wang.
Xian na juventude sempre que se sentia confuso e não estava bem era Wang que ele procurava para conversar. Wang era seu porto seguro quando não conseguia se controlar. Na infância foi diagnosticado com hiperatividade e era com Wang que ele ficava mais tranquilo.
No entanto, Alex o lembrava na juventude e de certa forma estar com o rapaz fazia o mesmo efeito, e assim começou a contar ao rapaz sobre sua juventude, mas precisamente sobre Wang. Ficaram ali por mais de uma hora, já que vez ou outra Alex se surpreendia e perguntava as coisas para Xian.
Quando finalmente terminou de contar até o que aconteceu na empresa o fazendo voltar para casa, soltou um longo suspiro de alívio.
Alex ficou quieto um tempo, até que virou para o garçom do quiosque e disse:
— Aí chefe, traz duas caipirinhas e faz com 51, porque na moral tomei uns tiros aqui que tô até zonzo…
O garçom sorriu e foi prepara o pedido.
Wei Xian estreitou os olhos e negou com a cabeça novamente, desistindo de tentar entender aquele jeito de Alex falar.
— Na moral, Sr. Wei, né atoa que está pirando… – Bebeu o último gole da cerveja e voltou a falar. – Que história louca, caraca!!! Então, o Wang que agora se chama Zhan, perdeu a memória e o pai dele sabia que ele estava vivo. – Alex recebeu as caipirinhas do garçom e estendeu uma para Xian. – Bebe, essa você vai gostar, porque só cachaça para aguentar esse rolo doido… – Mas na moral, pai desse ai nem preciso de inimigo, eu hen…
— Sr. Lan é bem esse nível… – Xian tomou um gole da bebida e gostou. – Eu me sinto até melhor em falar disso…
— É, na boa é muita coisa para absorver… – Alex cruzou os braços e estreitou os olhos. – Sr. Wei, mas que coisa… Aí você encontra o cara, ele tá noivo e vai ser pai… – Alex negou com a cabeça. – Sr. Wei, não quero por pilha não, mas o homem que é gay não deixa de ser gay quando perde a memória não… – Alex tomou outro gole da caipirinha.
— Por que acha isso?
— Assim, estou vendo de fora a situação, mas quem conhece ele melhor que eu é você, mesmo que passe o tempo e ele agora está sem memória, pelo que sei isso não afeta a sexualidade ou mesmo personalidade… – Alex ficou pensativo. – Eu acho que não…
Xian entendeu aquelas palavras, seu coração ficou até um pouco esperançoso, mas depois ele bufou falando ainda chateado.
— Que seja, ele já escolheu quem ele quer, a noiva e filho que está esperando…
— Hum, até parece, noivado pode acabar e filho não prende ninguém… – Alex continuou de braços cruzados olhando Xian.
— Para vocês pode ser, mas não para Wang, ele é responsável e certinho demais para fazer algo que julgar errado. – Xian tomou um longo gole da caipirinha. – Wang não abandonaria ninguém que precisasse dele.
Alex continuou olhando para Xian e no fim inspirou deixando pra lá naquele momento, já havia conseguido que Xian relaxasse, não iria provocar novos aborrecimentos.
— Eu não o conheço, mas se diz… – Alex pediu mais uma rodada de caipirinha.
A dupla continuou bebendo até tarde da noite, no fim Xian amparava Alex quando entraram na cobertura. Xian resmungou.
— Garoto não aguenta beber… – Xian rolou os olhos quando ajudou o rapaz a sentar no sofá.
— Ahhhhh, sr. Wei é bom de copo hen… – Falou um tanto alto.
— Xiiii, vai acordar sua tia… – Xian passou a mão na cabeça. – Não pode ir para casa assim, vamos para meu quarto e tome um banho, vou ver algo para cortar essa bebedeira. – Estendeu a mão para ajudá-lo a chegar no quarto.
Alex tinha um leve sorrisinho sacana no rosto.
— Sr. Wei quer me levar para seu quarto hen…- Sorriu de novo. – Olha que isso é abuso hen… – Segurou a mão de Xian e se levantou. – Se bem que pode abusar que dou autorização.
— Idiota, vamos, antes que acorde sua tia e ela queira nos estrangular… – Fez uma careta. – Ou me fazer comer até estourar…
Alex sorriu e entrou no quarto junto com Xian, imediatamente este o levou para o banheiro e o fez entrar debaixo do chuveiro.
— Anda logo, tome um banho para despertar.
— Tá bom, tá bom…
Xian saiu do quarto e se sentou na cama para tirar o tênis, esperar o outro terminar o banho. Pensativo, não sabia o que fazer, afinal não podia chamar Jorge para levar o rapaz, aquela hora o motorista deveria estar dormindo.
— Você vai ter que ficar por aqui Alex.
— Eu vou embora sr. Wei, assim que ficar sóbrio… – Alex saiu do banheiro enrolado na toalha.
Xian chegou a ofegar com a visão, se levantou e rapidamente foi ao seu guarda-roupa pegar uma blusa larga que poderia dar no rapaz e uma bermuda.
— Pega, vista isso.
— Obrigado. – Sorriu e voltou para o banheiro para se vestir. – Sr. Wei, na cozinha minha tia tem sempre uma garrafa de café, traga um copo bem adoçado.
— Ok. – Xian saiu e voltou pouco depois com o copo cheio de café e o pote de açúcar.
— Eita, sr. Wei tem café para um batalhão. – Sorrindo pegou e adoçou. – Tá bom, vou beber tudo e aí eu desperto para ir para casa.
— Você não vai para casa a essa hora Alex. – Xian virou-se e foi pegar roupas limpas para seu banho. – Dorme aqui e amanhã antes de sua tia acordar, você vai para casa.
— Sério sr. Wei, vou para casa, se eu correr pego ainda o metrô aberto e…
— Não, vai dormir aqui, amanhã você vai embora… – Xian se virou e foi para o banheiro resmungando em mandarim.
Alex se sentou na beira da cama e começou a beber o café, estava ainda tonto com a bebida quando olhou para o outro entrando no banheiro.
— Sr. Wei onde vou dormir? – Piscou algumas vezes voltando a beber o café.
— Na cama, onde mais…?
— Sr. Wei?
— Na cama, onde mais…?
Alex ia falar algo, mas depois sorriu fazendo expressão puritana.
— E se tentar me agarrar de novo? – Começou a rir e se encolheu quando viu Xian ir pra cima dele com a toalha para bater. – Aí sr. Wei eu gosto de sadô, mas vai com calma, estou bêbado e isso é abuso hen…
— Vai dormir Alex. – Xian se virou e foi para o banheiro.
Alex riu e terminou de tomar o café, por fim se encostou e sentiu que estava se deitando nas nuvens.
— Minha nossa que cama maravilhosa… – Murmurou com os olhos pesados bocejando.
Alguns minutos depois Xian saiu do banheiro enxugando o cabelo e olhou Alex dormindo na cama, suspirou e estendeu a toalha se deitando no lado oposto.
Nesse instante, Alex se virou e envolveu a cintura de Xian, encostando a cabeça em seu ombro. Sorrindo baixinho deu um suave beijo na bochecha de Xian.
Xian ficou um pouco tenso e virou o rosto para Alex.
— Sr. Wei só quero ficar grudadinho em você, não vou te fazer nada.
— E nem quero que faça.
— Eu vou fazer quando você quiser por sua vontade.
— Vai ficar esperando.
— Espero, sou paciente.
Xian ainda olhava para o rosto de Alex, os olhos fechados do rapaz e aquela face calma o atraiu, de repente sentiu vontade de tocá-lo. No entanto, tinha um sentimento estranho que o impedia. Ficou um tempo olhando para Alex até que o rapaz abriu os olhos e o encarou.
Sorrindo inclinou o rosto e aproximou os lábios aos de Xian, parou a poucos centímetros como quem aguardasse autorização. Xian ofegou baixinho e seu olhos vagaram até os lábios de Alex, um desejo brotou em seu peito e inclinou beijando-os suavemente.
Alex sorriu e retribuiu, o beijo que iniciou tímido por Wei Xian fora intensificado por Alex e pouco depois ambos ofegavam com os toques a carinhos que trocaram. Foi quando Alex se afastou e olhou desejoso para a face de Xian.
— Sr. Wei, eu ainda não estou legal, está tudo rodando…
— Tudo bem, teremos outra chance. – Xian beijou leve os lábios dele e se aconchegou na cama. – Vamos dormir.
— Beleza, deixa eu ficar sóbrio que te pego de jeito hahaha…
— Boa noite Alex.
— Boa noite sr. Wei.
Continua…