O DESBRAVADOR

 

 

Amanheceu e Iago estava à espreita atrás dos carros aguardando a saída de JP Andrade na porta de sua casa, alguns instantes depois o vereador entrou na varanda e neste momento o pistoleiro viu a oportunidade.

— JP Andrade?

O vereador olhou para Iago com a arma apontada pra ele e sem ter como fugir foi alvejado com nove tiros e morto no chão. Iago subiu no cavalo e saiu em disparada. Madá, a empregada, apareceu na porta da varanda e aterrorizada ficou ao ver a cena de seu patrão morto à tiros.

— Vereador? Socorro! Mataram o vereador! Mataram ele!

Dario continuava cavalgando pela estrada quando viu alguns corpos jogados em uma propriedade e de longe seu pai.

— Painho? Oxente, o que houve? — desceu do cavalo, pulou a cerca de arame e correu.

Seu Romão se encontrava deitado próximo à algumas pedras, Dário se agachou ao lado dele.

— Painho, o que aconteceu?

— Dario…fio…meu fio…— seu corpo jorrava sangue pelos tiros que levou no abdômen.

— Quem fez isso com o senhor, painho? Quem fez? — segurava a mão dele.

— Levi…irmão do Cris…Cristiano.

— Ele fez por vingança!

— Sim…fio…eu tô morrendo…eu tenho muito…orgulho de ser…teu pai…Dario.

— O senhor vai ficar bem, eu vou te levar para o hospital…— começou a chorar.

— Não, fio…deixa eu ir…diz a tua mãe que a amo…Manuela…me perdoe.

De repente Seu Romão falece.

— Painho…descansa em paz…meu vêio. — passou a mão sob os olhos do pai os fechando.

Iago entrou na sala da mansão do prefeito Zé Barbosa e o encontra sentado no sofá e Giovanna em pé ao seu lado.

— Prefeito, eu matei JP Andrade.

— É mesmo? — tragava um charuto. — O que você quer?

— A minha recompensa ser prefeito de Vila de São Cristóvão e me casa com essa morena.

Logo, entraram quatro homens armados e Zé Barbosa dava uma gargalhada.

— Quem são esses cabas? — perguntou Iago.

— Você achava mesmo que eu iria permitir que um cabrobó, um bandido, um pistoleiro sentaria na cadeira da prefeitura e se casaria com minha filha? Você é muito tapado! Levem ele daqui e o mate porque não quero que depois ele venha dizer por aí que eu o contratei pra matar o JP Andrade. Vão, sumam com esse miserável e não quero que deixem sujeira no meu quintal.

Os homens detiveram Iago.

— Não! Prefeito, por favor, doutor, não me mate eu juro que não vou abrir a boca, eu juro.

— E não vai mesmo. Teu primo foi mais esperto e tu foi ambicioso por demais.

— Giovanna! Giovanna, me ajuda!

— Jamais me casaria com um traste como você, aliás já estou noiva de um deputado e você pra mim foi apenas uma diversão qualquer e nem é isso tudo.

— Não! Não me matem! Não! — gritava Iago sendo levado pelos quatro homens para os fundos da mansão.

Na estrada, Dario cavalgava e já havia chegado ao meio-dia e sentia sede e sudorese.

— Catamarã, será que tem algum açude por aqui? Tô com uma sede e tu também, não é? Falta muito pra gente chegar em Piaçabuçu e encontrar Maria Rita. Eu vou me encostar nesse pé de umbu pra tomar uma sombra até o meio-dia passar.

Ele desceu do cavalo, sentou de baixo da sombra da árvore e cochilou quando de repente ele acordou com um forte relinchar.

— Catamarã? — olhou para os lados e não viu o cavalo, se levantou e o procurou, andou ao redor quando o encontrou entre uma pedras e mancando. — Catamarã! — correu até o cavalo. — O que foi isso? O que tu fez, caba? — viu de longe um boi. — Pra quê tu foi reinar no boi? — olhou para a pata do cavalo que estava ensanguentada. — Não, Catamarã, não! — abraçou o cavalo com os olhos cheios de lágrimas. — Vem, deve ter alguma casa por aqui e vou dar um jeito.

Dario queria negar a si mesmo, mas sabia que seu amigo fiel corria risco de vida. Ele seguiu pela estrada guiando cavalo pela corda que andava com dificuldade. No meio da tarde após tanto andar encontrou uma casa de reboco e na frente havia um carro esportivo.

— Espera aí, Catamarã, vou ver se alguém dar pra gente um caroço d`água. — amarrou o cavalo em uma árvore e saiu.

Na varanda da casa um cinegrafista filmava a família que eram de quatro meninas, dois meninos e outro bebê nos braços da mãe que estava sentada no chão e encostada na parede e o pai sentado em um banco e olhava para o outro lado.

Um homem de cabelos longos e grisalhos, camisa florida, bermuda branca e tênis se apresentava a frente da câmera.

— Vocês não estão recebendo a ajuda do governo?

— Não, doutor. — disse a mulher.

— E o senhor está quanto tempo sem trabalhar?

— Oxe. — deu um riso. — Já perdi as contas já, doutor.

— Do que vocês vivem? Do que comem?

— Às vezes a gente pega uma ajudinha ali e outra aqui dos vizinhos que também não tem lá muita coisa. — respondeu a mulher.

Dario viu uma mulher encostada no carro e um homem sentado no volante.

— Olha esse cara, Jaime, parece mais uma figura vindo de um filme de faroeste.

— Tá olhando o quê, madame?

— Eu nada.

A mulher ficou assustada com o olhar de Dario.

— Oh! De casa! — bateu palmas. — Tem um gole d’água, fios de Deus? — perguntou Dario ao casal.

— Tem, seu moço, é pouca mais tem um pouco no poço. — a matriarca apontou para o lado direito.

Dario saiu e o entrevistador ficou surpreso com Dario.

— Vocês o conhecem?

— Esse caba é caboco perigoso, é um bandido e matador.

— Vocês não tem medo? Estamos correndo risco com esse delinquente aqui.

— Não, doutor. — riu o patriarca. — Há perigo maior nas quebradas deste sertão: a fome e a sede elas sim são traiçoeiras como uma serpente.

No poço, Dario retirava a água com uma panela e levou para o Catamarã que se encontrava deitado aos pés da árvore.

— Trouxe um pouco d´água. — encostou o fusinho do cavalo no balde e o cariciou a crina. — Tu vai ficar, bem, caba. No caminho encontrei um pé de aroeira e vou fazer um chá pra curar essa ferida antes que entre bicho. — saiu.

Meia hora se passou e Dario estava sentado junto de Catamarã, havia feito uma fogueira e um chá para o cavalo que agonizava até que o pai da família se aproximou.

Caba, tá carecendo de ajuda? O que houve com o cavalo?

— Brigou com um boi e tá ferido na pata. Fiz um chá de aroeira pra ver se ele melhora.

— Já deu a ele?

— Sim. Agora ele tá queto.

— Quer comer alguma coisa?

— Querer eu quero, macho. Desde ontem que pego estrada.

— Venha comigo que ainda tem um pouco de feijão.

Os dois andavam em direção a casa.

— E aquele povo veio de onde?

— É gente lá do sul que estão fazendo um filme.

— Filme?

— É pra mostrar a nossa vida no sertão.

Alguns minutos depois, Dario comia um pouco de feijão, que tinha mais caldo do que caroço, dentro de um pote de margarina e sentado nos degraus comendo com mão. As crianças corriam brincando no terraço e na porta da casa estava mulher com o bebê nos braços que olhava para Dario com medo e o marido percebeu a aflição da esposa e se sentou ao lado dele.

— Me sinto um inútil. Não tenho o que oferecer meus menino e a mulé. Serviço por essas bandas é difícil.

— É.

— Às vezes passa umas ideias na minha cabeça que penso até fazer besteira. Eu queria ter tua coragem.

— De quê?

— De fazer o que tu faz, caba, quem fazer o que tu faz não faltaria comida e nem água em casa.

— Aqueles ricaços que estavam aqui não te deram nada?

— Não, fizeram foi um monte de pergunta, filmaram a casa e a gente e se mandou. Me sentir foi pior com a presença deles.

Oxe, eles deviam ter dado pelo menos um saco de feijão que já ajudava.

— A mulé até perguntou se eles poderiam dar uma ajuda e a resposta deles é que não podia ajudar pra gente não se acostumar.

Oxente, conversa doida. Isso que eles fizeram é ruindade mermo.

— São tantos com pouco e ainda oferece que tem e outros com muito e nada ajuda.

— Eu vou ver como tá o Catamarã. — saiu.

O cavalo agonizava deitado de baixo de uma árvore, Dario se agachou e emocionado ficou ao ver seu amigo fiel morrendo.

— Eu vi tu nascer, caba. — o acarinhava a crina. — Quem mandou arengar com o boi, macho? Vai doer muito fazer isso com você, mas entenda é porque não quero te ver sofrer. — levantou. — Vá com Deus, Catamarã. — pegou a arma e deu um tiro no cavalo que morreu.

Após dá um tiro de misericórdia para cessar o sofrimento do cavalo, Dario deu um grito de desespero e retornou a casa da família que o acolheu. Na varanda estava o casal sentado no chão e Dario se aproximou.

— Eu tive que sacrificar o meu cavalo.

— Que pena, quando eu vi aquela ferida já imaginei que o bicho não iria aguentar.

— Vá lá e pegue a carne dele. Pelo menos esses menino não fica com fome, nem tu e nem tua mulé.

O homem se ajoelhou aos pés de Dario.

— Obrigado, caba, que Deus te abençoe. Deixa eu trabaiar com tu, me ensine o que tu sabe…quero ser matador também…não aguento ver minha família com fome…

— Te aconselho a nunca entrar nesta vida porque se tu entrar vai perder as únicas coisas que tem que é a tua família e o teu juízo. Agradecido por ter me dado um pouco de comida. Eu tenho que ir. — saiu.

O casal e as crianças observavam Dario caminhando pela estrada.

Anoiteceu e ele subiu em umas pedras, deitou na areia e observou as estrelas e a lua nova no céu e ansioso por pensar em Maria Rita, quando uma música o chama atenção.

— Que boba é isso? — sentou. — De onde vem? — olhou ao redor e viu de longe um palco iluminado com um holofote.oxente, quem é o doido? — caminhou até o palco.

Em cima do palco havia o ator vestido de cangaceiro sob a luz do holofote.

— Quem pensam que eu sou? Eu sou uma das maiores estrelas da dramaturgia brasileira, sou do tempo de ouro da televisão e acham que eu daria alguma importância à um personagem qualquer e escrito por alguém desconhecido? Não tenho tempo pra isso, não vou ler e alias terá sorte se um dia eu ver aquele livro em alguma livraria.

O ator viu Dario e tomou um susto.

— Vejam só, temos plateia! Aumentem mais a luz sob mim!

— Cuidado pra não ficar cego dos zôios. — disse Dario risonho.

A atriz vestida de mulher do cangaço surgiu no palco.

— Quem é você? — ela o perguntou.

— Dario, e vocês o que fazem no meio da noite e com esse tramboio?

— O tramboio que você falou se chama palco, seu ignorante. — falou o ator em tom de arrogância.

— Sou ignorante sim e daí?

— Por favor, ator, não vamos distratar o nosso fã.

— Oxente, que diacho de fã. Eu não sou fã de seu ninguém, homi, já inventam cada uma.

— Se você veio até nós é porque você é nosso fã e não precisa ficar tímido, aliás é o que queremos. — disse a atriz.

— Fã e mais fãs que só servem para aumentar o meu ego e o meu bolso. — falou o ator.

— Tá, estão enrolando…enrolando e não desembucha pra falar o que estão fazendo com esse troço.

— Troço? Isso é uma ofensa de extrema magnitude e que os deuses do teatro te castiguem por sua blasfêmia e desonra esse templo sagrado. — disse o ator.

— Dario, estamos apenas ensaiando para uma peça em Vila de São Cristóvão e aproveitamos para nós ambientar com esse lugar, sabe? Fazer tipo um laboratório.

— Labo…o quê?

— Santa do teatro brasileiro é muita burrice para uma criatura só. Eu desisto! — disse o ator se sentando na borda do palco.

— Quero dizer que estamos aprendendo como as pessoas aqui se comportam, vivem, como falam, o que comem e como se vestem.

— Pra quê?

— Para ajudar fazer a peça, ué? O estória se passa no sertão de Alagoas. Você bem que poderia nos ajudar, o que acha, Dario?

— Não, moça, eu tenho mais é que fazer.

— Eu insisto que nos ajude, Dario. Veja se eu tô falando o sotaque nordestino bem. — deu uma tossida na garganta. — Oxente, esse calor tá demais, vice? E aí tá bom?

Mulé, quem fala vice é pernambucano, a gente aqui não fala vice.

— Não?

— Não mermo. — riu.

— O que importa se o sotaque é pernambucano ou alagoano? Ninguém vai notar a diferença são todos baianos. — disse o ator.

— Como é caba? Baiano é uma pinoia. Me respeite que eu sou Alagoano! Baiano é baiano e alagoano é alagoano e não mistura as coisas, seu caba de peia.

— Então, vá embora, você não tem serventia nenhuma. — falou atriz.

Dario saiu dizendo:

— É cada doido que aparece e fique sabendo que o povo daqui não veste essas roupa do tempo do ronconcom!

— Eu sabia! — jogou o chapéu no chão. — Que eu não devia ter aceitado fazer essa peça. A minha carreira está em decadência. Quem diria que eu um galã da televisão estaria nesse fim de mundo fazendo uma peça para um bando de ignorantes que nunca viram ou se quer um dia entenderão o que é um teatro?

— A peça é uma grande oportunidade para nós. Se lembre o quanto vamos lucrar com isso.

— Sinto que estou traindo minha ideologia política, eu sou de esquerda e aquele prefeitinho mequetrefe e coronel da caatinga é de direita, mas…

— Se tem dinheiro na mão…

— Que Vila de São Cristóvão aguarde porque vem aí o pior cangaceiro que já pisou neste sertão. — pegou uma espingarda e apontou.

— Oxente, painho. — o abraça.

— Oxente, mainha. — a virou de lado e a beijou.

Amanheceu e Dario caminhou por horas com fome e com sede, tropeçou em uma pedra e caiu no chão e assim começou a delirar.

— Maria Rita…minha ceguinha…me espere…tô chegando…

Ele se arrastava pelo chão quando viu uma imagem de uma imensa gaiola de ferro, uma fila de pessoas que aguardavam para entrar na gaiola enquanto um casal os recebiam na porta. Essa cena chamou a atenção de Dario que com dificuldade andou em direção da gaiola. Ele passou pela fileira e parou na porta.

— Senhor, precisa respeitar a ordem da fila. — disse o homem.

— O que gota é isso? Tem comida, aí? Tô com fome e com sede.

— Depende de como é essa fome. É física ou mental? — perguntava a mulher que entregava os óculos de realidade virtual que estavam dentro de uma caixa transparente para as pessoas.

— Doutora, eu só seio que meu bucho ronca e minha língua tá seca. O que tem aí dentro?

— Uma outra realidade. Algumas pessoas estão tão cansada de suas vidas que encontraram um jeito de suportar suas dores. — disse o homem.

Dario olhou para as pessoas dentro da gaiola subindo nas grades com os óculos e outros deitados no chão.

— Qualquer dor?

— Sim, qualquer dor. Na gaiola não há preconceito com nenhuma dor seja qual ela for.

— E vocês o que são?

— Psicanalistas. Já ouviu falar?

— Não.

— E como se chama?

— Dario, sabe eu nasci e andei a vida toda neste sertão e nunca vi nada parecido.

— É uma experiência. — disse o psicanalista.

— Dario, é só preciso nascer nesta realidade para sofrer. Todo ser vivo seja ser humano ou animal sofre e a primeira experiência da vida é o choro. Assim como o choro é democrático, ou seja, não há quem nunca tenha de fato não chorado nesta vida, todos estão em uma eterna busca. Alguns a encontra em meios considerados honráveis e moralmente aceitáveis na sociedade com direito a troféus, prêmios, a calçada da fama ou simplesmente fazer parte da boa memória afetiva de alguém, entretanto alguns procuram em lugares que acendem mais ainda a dor como os vícios e o crime. — falava a psicanalista.

— Acho que tô entendo o que os doutor quer dizer. O que esse negócio no zôio faz?

— Com os olhos vendados os pacientes apenas ficam perdidos nas imagens do passado que estão em suas mentes e a gaiola faz com eles se sintam seguros. Nós somos os guardiões dessa gaiola…os guiamos…eles entregaram totalmente em nossas mãos as suas seguranças e se sentem incapazes de caminhar sozinhos.

— Doutor, por que não tira esses óculos dos zôios desse povo?

— Pra quer? Dario, eu vivo da tristeza dos outros e se eles não veem ao seu redor não terão novas memórias, nem novas experiências e ficaram presos ao passado.

— Acha certo o que tá fazendo? Esse povo sofrendo com esse troço nos zôio e presos na gaiola como um Assum preto?

— O que fazem com o pássaro? — perguntou a psicanalista.

— Furam os zôio do Assum preto pra ele cantar meior.

— Aqui ninguém é obrigado a ficar e a porta da gaiola está sempre aberta. — disse a psicanalista.

Oia pra aí, tá medindo o meu pensar, é madame? Como o povo vai fugir se estão com os zôio vedado.

— É por esse motivo que estão na gaiola. Quem está disposto a sair, tirar suas vendas e enfrentar o que tiver que enfrentar? Quer tentar, Dario? — falou o psicanalista pegando um óculos para o entregar.

— Não, eu vou cair é fora. Quem vai ficar é o guarda, só tem doido. — saiu correndo.

Dois dias haviam se passado e Dario se encontrava desidratado e com muita fome já havia três dias que não comia e nem bebia e somente caminhava pelas estradas sob o alto sol do sertão.

Já perdendo quase todas as forças ele viu de longe um açude e um pé de juazeiro, será que era uma miragem? Ele com toda a dificuldade correu à caminho do açude, mergulhou e bebeu da água.

— Graças à Deus! Graças ao Padim Padi Cíço! — mergulhou.

Um hora depois ele comia alguns joás e encostado no pé do juazeiro.

— Eu tenho que aguentar…me espere…Rita…eu te amo…minha Rita. — fechou os olhos.

— Dario? — a voz de Maria Quitéria. — Como estou decepcionada mais uma vez com você.

— Maria Quitéria, o que tu quer? Já te disse que não se meta nos meus assunto com Maria Rita.

— Você tem que decidi, Dario, ou ela ou eu. As duas você não pode ter.

— Eu já me decidi, escolho a Maria Rita. — abriu os olhos.

— Não! — o agarrou. — Você me deve a vida! Eu que te fiz ser quem você é. Olhe pra mim, Dario! — o segurou o rosto. — Não pode me deixar, não pode!

— Maria Quitéria. — soprou no rosto dela a fazendo fechar os olhos. — Tá na hora de você descansar. — enxugou as lágrimas dela passando o dedo.

— Dario, eu não quero ser de ninguém mais. Você foi o único…o único homem que me tocou, que me possuiu. — abriu os olhos. — Não me venda…— chorava em desespero. — Não me dê…eu sou sua.

Ele a beijou.

— A sua última bala foi a que atirei em Catamarã. Não vou te vender e nem te dá.

— O que vai fazer comigo?

Dario a colou no braços. Os dois entraram no açude e se beijaram.

— Nosso último banho…nosso último adeus. — acarinhava o rosto dele.

— Adeus, Maria Quitéria.

Ela flutuava pelas águas e o seu corpo de mulher se transformou em uma arma e se afundou. Dario saiu do açude e continuou a caminhar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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