Julgamento

Fórum de Curitiba, 15h00 = Hora do Julgamento.

Após ter batido com o martelo, o juiz pede para que todos os presentes se assentem.

— Senhoras e senhores, podeis tomar assento. Vamos dar início a esta audiência.

Enquanto isso, em todos os noticiários, os repórteres estão dando cobertura do tão aguardado julgamento para os moradores daquela cidade. Os presidiários puderam ver as notícias através de um televisor antigo que disponibilizaram no balcão do pátio justamente para acompanharem o resultado do julgamento. Voltando ao fórum, o juiz prossegue:

— Bem, podemos começar.

Ele pega um papel e ajeitando seus óculos diz:

— Que entre a primeira testemunha, trata-se do menor Henrique Mendes.

Grande expectativa para os presentes, Henrique sai da porta de uma sala acompanhado por um guarda e se dirige até a cadeira das testemunhas. O garoto olha para todos e parecia estar completamente assustado, o semblante de Tatiana e Israel só piorava o desconforto dele, o juiz prossegue.

— Quero informar primeiramente ao júri que o depoimento da testemunha foi tomado em outras reuniões pelo fato dele ser menor de idade, porém tanto o estado quanto a defesa achou por bem trazê-lo para testemunhar.

O júri consente com a decisão do juiz.

— Bom, a defesa está com a palavra. Dr. Eduardo Castanho?

— Claro, meritíssimo!

Eduardo levanta e se aproxima de Henrique.

— Então, teu nome completo é Henrique Mendes Ribeiro, certo?

— Sim, senhor.

— Quantos anos você tem, Henrique?

— 12.

— Pelo que sabemos você é o integrante mais jovem que trabalha no circo MAXIMUS, estou certo?

— Sim, senhor.

— Há quanto tempo trabalha no circo?

— Desde os meus 8 anos.

— Os teus pais sempre te deram apoio nessa área?

— Bom, o meu pai até que sim, mas minha mãe…

Tatiana murmura em voz baixa de onde está.

— O que esse moleque tá pensando?

Israel a repreende:

— Shh cala a boca! Escuta.

Henrique prossegue.

— … A minha mãe nunca foi muito fã de circo.

— Hum, mas você trabalhava lá com a permissão dela também, certo?

A promotora interrompe:

— Protesto! Tem relevância?

— Eu estou tentando estabelecer uma linha de raciocínio com a testemunha, meritíssimo.

— Protesto negado, continue Dr. Eduardo.

Josy comemora na cadeira em voz baixa:

— Isso! Na tua cara, vadia!

Eduardo prossegue:

— Eu vou reformular a pergunta: Você sempre teve permissão de teus pais para trabalhar no circo?

— Sim, mesmo minha mãe não gostando, eles deixavam.

— Ótimo. Henrique, qual relação você tinha com o réu, Miguel, e com a falecida, Victoria Lopes?

— Bom, eles eram meus melhores amigos. Eu até queria que eles fossem meus…

Henrique ao ver que seus pais estão atentamente o escutando, disfarça o que iria concluir:

— …Queria que fossem meus irmãos, eu gostava muito deles e… Continuo gostando muito do Miguel.

Miguel faz expressão de ternura enquanto ouvia o depoimento de Henrique. Eduardo segue o interrogatório.

— Você se lembra do que aconteceu no dia da morte da Victoria?

— Bom, eu me lembro que a Victoria estava bem nervosa alguns minutos antes da apresentação dela. Ela nunca ficou assim em uma apresentação.

== FLASHBACK== NOITE DO ACIDENTE.

Miguel: Meu amor, os outros trapezistas estão te chamando pra ir lá pro outro lado se preparar.

Victoria: Tudo bem, eu… Acho que chegou a hora.

Miguel: Ei, por que você tá tão nervosa?

Victoria: Eu não sei, Miguel, normalmente eu não fico tão nervosa antes de uma apresentação como eu estou hoje.

Miguel: Você precisa relaxar tá bom? Vai dar tudo certo, eu estarei te assistindo junto com os outros e te dando energias positivas. Não é, garotos?

André: Com certeza!

Henrique: Pode crê que sim!

Victoria: Obrigada, eu amo muito vocês!

Miguel: Agora vá se preparar!

Victoria: Estou indo.

==FIM DE FLASHBACK==

Henrique prossegue:

— Dava pra perceber que a Victoria não estava bem, eu nem sei por que ela estava daquele jeito.

— Henrique, você lembra de ter visto ou escutado alguma coisa estranha antes desse terrível acidente acontecer?

— Não, eu não estou lembrado. Na verdade não tinha nada de estranho antes disso, mas eu vi que a Victoria estava bem nervosa, mas não foi isso que fez com que ela caísse do trapézio. Ela podia estar nervosa, mas ela sabia se cuidar.

— Você acha que o Miguel teria motivos para matar a Victoria?

— Claro que não! O Miguel e a Victoria sempre se deram muito bem, não entendo porque estão acusando ele.

— Então você acha que a faca que seria a arma do crime, foi colocada de propósito junto com as coisas dele? Meritíssimo, Prova A.

—Sim, com certeza.

Eduardo se dirige ao júri.

— Senhores do júri, é bem claro que mesmo com a pouca idade, o garoto Henrique trouxe um depoimento sólido dos fatos que ocorreram há 6 meses atrás. E é óbvio que temos aqui uma acusação gravíssima contra o meu cliente sendo que amigos e familiares negam qualquer tipo de rincha ou vingança por parte do réu contra a vítima. Não tenho mais perguntas, meritíssimo.

— Obrigado, Dr. Eduardo. A senhorita Barreto deseja interrogar a testemunha?

— Ah, mas é claro que sim.

Caroline se levanta como um raio e se aproxima firmemente de Henrique.

— Henrique, é verdade que no dia que o réu Miguel de Paula foi detido, você fugiu de casa?

Todos foram pegos de surpresa pela pergunta da promotora, Susana no recinto murmura com Alexandra:

— Como ela soube disso?

Caroline prossegue:

— Acho que você não entendeu a minha pergunta, Henrique. É verdade que você fugiu de casa na mesma noite que Miguel de Paula foi preso pela morte de Victoria Lopes?

— É… É… Sim, é verdade.

— Posso saber o motivo?

Eduardo interrompe:

— Protesto! Qual a relevância no caso?

A promotora ignora o comentário de Eduardo.

— Senhores do Júri, há 6 meses atrás este mesmo garoto ficou desaparecido por uma noite inteira e junto com ele estava a mãe do réu, Susana de Paula.

Todos ficam atônitos e começam alguns burburinhos.

— Sim, sim, mas esse não é o problema. Acontece que ele ficou desaparecido porque fugiu de casa, ou seja, por desobediência aos pais.

Isabelly murmura:

— Que desgraçada!

Henrique tenta se explicar.

— Não, não, eu estava naquela…

—… Sim, nós sabemos, Henrique o que garotos da tua idade fazem, se é capaz de fugir de casa por desobediência, achas que está em condições de vir ao tribunal e depor sobre uma acusação como essa?

Eduardo se levanta irado:

— Protesto, meritíssimo! A senhorita Barreto está pressionando a testemunha.

— Queridos jurados, acham mesmo que o depoimento de um garoto desobediente vale a pena neste tribunal?

No recinto, Tatiana fica incomodada a ponto de levantar-se.

— Eu não vou deixar que humilhem meu filho dessa maneira.

Israel tenta segurá-la.

— Calma, não vai fazer nenhuma besteira.

Os olhos de Henrique começam a se encher de lágrimas e tenta falar alguma coisa, mas começa a gaguejar.

— Estão vendo, senhores? Ele sequer tem condições de arcar com um fato que aconteceu com ele mesmo, e olha que eu nem cheguei na parte da Victoria, imagine quantas mentiras ele não deve ter contado para confundir o júri.

— Eu não estou mentindo!

Eduardo fica cada vez mais nervoso e se aproxima.

— Meritíssimo, não vês que a senhorita Barreto está pressionando de maneira indevida um menor?

Ela ríspida responde:

— Deveria ter pensado nisso antes de trazer um menor de idade como testemunha nesse julgamento, Dr. Eduardo! Mas é claro que para defender a tua tese, utilizou do testemunho de uma criança pra poder explorá-la em um júri extremante sério. Nota-se completamente a tua inexperiência no caso.

O juiz intervém.

— Senhorita Barreto, por favor, recomponha-se.

— É claro que sim, meritíssimo. Ah! Senhores do júri, retire de seus registros o depoimento deste garoto, porque está na cara que ele não pode nem se defender por si próprio, sendo assim eu encerro a minha palavra.

Saltam lágrimas dos olhos de Henrique, o guarda o acompanha até a porta das testemunhas, Tatiana se levanta e corre para a porta principal, Israel a segue. Eduardo se senta novamente ao lado de Miguel, tenso e ainda nervoso. Miguel indaga:

— Eduardo, já era! Não temos como vencer esse caso.

— Não, Miguel, relaxa. Vai dar tudo certo.

O juiz questiona os advogados:

— Podemos continuar, senhores?

Caroline responde:

— Eu estou bem, meritíssimo, mas talvez o Dr. Eduardo esteja precisando de um copo d’água.

Caroline olha com sarcasmo para Eduardo, este tenta ignorar as provocações dela, mas não consegue disfarçar a insatisfação.

Nos corredores do fórum,Tatiana busca encontrar Henrique até que o encontra acompanhado de um guarda.

— Henrique, meu amor! Vem aqui, querido!

— Mãe, pai, eu estraguei tudo!

Israel tenta consolar o filho.

— Não, não meu filho. Você não estragou nada, tá tudo bem.

— O Miguel vai ficar na cadeia pra sempre por minha culpa! Tudo porque eu fugi de casa naquele dia.

Tatiana sem saber o que fazer apenas abraça o filho que chora inconsolavelmente. Na sala do julgamento, o juiz prossegue.

— Ok, senhores, vamos dar continuidade. Que entre agora a testemunha Leandro Novaes.

Leandro entra pela porta das testemunhas e se assenta na cadeira, Isabelly pensa consigo mesma:

“Não vai falar nenhuma besteira, Leandro”.

O juiz dita as ordens:

— Quer começar desta vez, senhorita Caroline?

— Claro que sim, meritíssimo. Obrigada!

Ela se levanta da cadeira e dirige-se a Leandro.

— Então Leandro, o senhor é trapezista no circo MAXIMUS, certo?

— Sim. Já faz algum tempo.

— Você e a Victoria se davam bem como colegas de profissão?

— Sim, nós sempre éramos muito unidos.

— Interessante, o Miguel apareceu antes ou depois de você já trabalhar no circo?

— Foi depois.

— Pode-me dizer como era a tua relação com o réu?

— Bom, pra ser sincero o Miguel e eu nunca fomos tão próximos. Trocávamos algumas palavras, mas… Nada além disso.

— Estranho que você não tenha uma relação estabelecida com o réu, mas tinha com a vítima.

Eduardo ressalta:

— Protesto! É argumentativo.

O juiz aceita o protesto.

— Mantido.

— Vou retirar. Leandro, você se lembra exatamente do que aconteceu na noite em que a Victoria morreu?

— Bom, eu lembro que ela estava demorando um pouco pra subir, então pedi pra que avisassem a ela pra se apressar. Depois disso eu fui vê-la no camarim e ela estava lendo uma carta, pedi pra que ela se apressasse porque o número dela já iria começar, então…

Os olhos dele lacrimejam.

— … Foi a última vez que eu a vi com vida.

— Então tecnicamente você foi a última pessoa que viu a Victoria antes dela cair daquele trapézio e morrer?

— Eu… Eu acho que sim.

— Vocês fizeram alguma revisão nas cordas antes do espetáculo?

— Nós sempre verificamos tudo, nesse dia tínhamos olhado mais cedo para ver se estava tudo ok.

— Você se lembra a que horas vocês fizeram a revisão nas cordas?

— Bom, creio que pela manhã. Umas 10h.

— Aí é que está o erro. Pois acredita-se que foi pela parte da tarde que o réu, Miguel de Paula, aproveitou-se da ausência das pessoas do circo para subir até o trapézio e cortar as cordas que sua “amada” iria utilizar no número.

— Não foi isso que eu quis dizer.

— Você acredita que Miguel seria capaz de matar a Victoria Lopes?

— Eu, eu…

—… Você crê que existe algum fato que não sabemos em jogo que o fez assassiná-la?

— É que…

Leandro começa a ficar nervoso.

— Vamos, Leandro! Responda a minha pergunta.

— Olha, eu não sei, beleza?

Eduardo e Miguel levam as mãos até a testa ao igual que Isabelly que não sabe onde se esconder de vergonha. Leandro prossegue.

— Eu só estou dizendo o que eu vi, não sei dizer se o Miguel e a Victoria tinham um relacionamento perfeito, ou se eles tinham alguma rincha entre eles a ponto do Miguel querer matar ela.

— O mais interessante é que até agora você não conseguiu responder a minha pergunta, querido… Você acha que o Miguel tinha motivos pra matar a Victoria?

Leandro não consegue dizer uma só palavra, ele olha para Miguel que está aflito e também lança o olhar para Isabelly que o olha com reprovação. Vendo que ele não conseguiria dizer mais nada, a promotora desiste de interrogá-lo.

— Acho que o silêncio dele já disse tudo. Não tenho mais perguntas, meritíssimo.

Leandro respira fundo ainda desconternado, o juiz prossegue.

— Com a palavra o advogado de defesa.

Eduardo se aproxima de Leandro com a mão no queixo fazendo expressão de pensativo. Ele anda para um lado e inicia o interrogatório:

— Leandro, você era praticamente o parceiro de trapézio da Victoria, certo? Me diga, como que justo nesse dia você não estava lá em cima com ela?

— Eu, eu… Bom, era um número especial dela e…

— …E coincidentemente só ela poderia estar “voando” ali para poder cair e morrer, né? A pessoa que fez isso teria que conhecer o trapézio muito bem. Meritíssimo, quero te mostrar a Prova B do caso, um laço cor de rosa que foi encontrado amarrado em uma das cordas do trapézio para disfarçar o corte feito com a faca que depois foi vista nas coisas do reú, Miguel de Paula. Vale ressaltar também, senhores, que um dia antes do crime, a vítima Victoria Lopes recebeu uma carta por volta das 22h30 em sua casa. Senhorita Isabelly, poderia por gentileza me trazer as cartas?

Isabelly se levanta e leva as cartas que foram deixadas para Victoria naquele dia.

— Obrigado, Isabelly! Aqui estão as Provas C e D, senhores. Na primeira carta está escrito “Tenha um bom espetáculo amanhã”e foi deixada na porta da casa da vítima um dia antes. A segunda está escrito “Rosa é a tua cor” e foi deixada sarcasticamente para ela minutos antes de sua morte. O mais curioso disso, senhores é que através de uma tese muito bem elaborada pela detetive Isabelly… Essa carta foi quase um aviso para que a vítima, Victoria Lopes, utilizasse justamente a corda onde esse laço estava amarrado. Analisando tudo isso, chegamos à conclusão de que o assassino conhecia muito bem aquelas cordas, agora me diga Leandro: Você era o trapezista mais experiente do circo MAXIMUS, como deixou aquela barbaridade acontecer?

— Eu, eu…

— Você mesmo dizia que sua relação com o réu não era das melhores, tinha algum motivo em especial? Será que pra você a Victoria era apenas uma colega de trapézio?

Caroline se levanta.

— Protesto! O advogado de defesa está especulando fatos por cima do direito de resposta da testemunha.

— Apenas me responda com sinceridade, Leandro. A pessoa que matou a Victoria possivelmente teria motivos. E se um desses motivos não foi despeito?

— O que o senhor está tentando insinuar?

— Aqui quem faz as perguntas sou eu, meu caro.

Luíza argumenta com André.

— O que o Eduardo tá fazendo? Ele vai acabar com o Leandro.

Eduardo prossegue.

— Eu acredito que existe muito mais coisas por trás dessa história que você não está nos contando, senhor Leandro, e uma dessas coisas é o fato de que você pode ter matado a Victoria e ter incriminado o Miguel porque convém a você que isso viesse a cabo.

— Não! Não é verdade!

— Ah não? Vai me dizer que não sentiu ciúmes porque ela era uma trapezista com menos tempo de experiência que você e estava brilhando em um espetáculo solo e até recebeu um convite para se apresentar na Califórnia? Conte para nós de uma vez por todas, Leandro, que você tinha todos os motivos pra assassinar a Victoria.

— Não! Eu jamais seria capaz de matar a Victória porque…

— Ah não? Então me diga por que você não seria capaz de matar a Victoria?

Leandro olha para Isabelly, em seguida olha para todos e mal conseguia respirar.

— Responda, Leandro! Por que você não mataria a Victoria? RESPONDA!

— Porque eu amava ela, caralho!

A revelação cai como uma bomba! Miguel arregala os olhos a ponto de cair da cadeira, todos se entreolham e começam burburinhos altos, Leandro percebe a besteira que causou e coloca as mãos na cabeça não acreditando no que havia dito. Isabelly olha pra ele completamente extasiada e pensa:

“O que você fez seu desgraçado?”.

Os burburinhos continuam, o juiz Álvaro teve que interver.

— Ordem! Ordem no recinto agora mesmo! Dr. Eduardo, ainda vai interrogar a testemunha?

Eduardo tarda a responder olhando para Leandro com reprovação.

— Não meritíssimo, já perguntei tudo que eu queria.

— Senhorita Barreto, pretende fazer alguma consideração?

Caroline olha para Eduardo com asco e responde ao juiz:

— Não meritíssimo, pra mim já foi o suficiente.

— A testemunha pode se retirar.

— Espere um pouco, não foi isso que eu quis dizer, eu estava…

— Teu depoimento já acabou, senhor Leandro, por favor, retire-se.

O guarda precisou pegar Leandro pelo braço e levá-lo até a porta da sala das testemunhas. O juiz prossegue.

— Solicito uma pausa de 15 minutos e em seguida retornaremos com o depoimento das outras testemunhas.

Ele bate o martelo e as pessoas se levantam para se retirar do recinto. Miguel fica com as mãos na cabeça sem acreditar no que acabou de escutar, Eduardo se aproxima dele.

— Eu sinto muito, Miguel, mas por essa nem eu esperava.

Miguel apenas olha para Eduardo e não consegue dizer uma só palavra.

Do lado de fora do recinto, Josy está saindo com Isabelly cochichando.

— Você viu que babado? O trapezista gostava da outra!

— Não tenho tempo para fofocas, Josy. Eu preciso tomar um ar.

— Tá bom, vai lá. Mas que foi um bafo, isso foi.

Susana e os demais estão do lado de fora do recinto impactados com o que acabaram de escutar.

— Esse julgamento tá pior do que eu imaginei, como assim o Leandro gostava da Victória?

Alexandra recebe uma mensagem de texto e se afasta dos amigos.

— Gente, só um minuto.

Ao se afastar, os demais prosseguem a conversa. André ressalta:

— Pessoal, mas pra mim quem gostava da Victoria era o Nando, e não o Leandro.

Luíza responde.

— Por favor, André, você e o Edgar eram os únicos homens que não tiveram uma queda pela Victoria. Mas o Edgar porque era louco pela Gardênia, mas e você André? Gostava de outra pessoa?

André fica vermelho.

— Eu, eu…

Susana interrompe.

— … O mais incrível é que essa tal de Caroline está se mostrando implacável, você viu o jeito que ela tratou o pobre do Henrique?

Neste momento, Tatiana, Israel e Henrique se aproximam. Esta primeira questiona.

— O que houve? Por que estão aqui fora?

Susana é quem responde.

— Deram um recesso de 15 minutos.

Henrique ao ver Susana corre até ela.

— Dona Susana!

Henrique se desprende dos pais para abraçar Susana. Tatiana olha com asco, Susana percebe a reação dela.

— Por favor, Tatiana, não é hora para retaliações no momento. Precisamos todos nos unir, veja o que aconteceu lá dentro.

Israel põe a mão no ombro da esposa e concorda:

— Ela tem razão, amor. Não vale a pena.

Henrique ainda em prantos tenta achar consolo em Susana.

— Dona Susana, me desculpa, por favor.

— Ei, ei, a culpa não foi tua.

Luíza indaga:

— Claro que não, a culpa foi daquela “monstra” da tal da Caroline, que mulherzinha insuportável!

Alexandra se aproxima novamente de todos.

— Gente, tenho notícias do meu marido. Ele disse que os jurados vão desconsiderar o depoimento do Henrique.

Todos ficam ainda mais preocupados. Susana leva às mãos à cabeça.

— Essa não! Esse vai ser o nosso fim! Nunca vamos conseguir provar a inocência do Miguel dessa forma.

Israel incomodado responde.

— Olha, eu preciso ir ao banheiro, toda essa história de julgamento tá me deixando tenso. Quer vir comigo, filho?

— Eu estou bem, pai.

— Ok. Tatiana… Melhor você ir tomar uma água.

— Eu também acho, com licença.

Tatiana sai rasgando o caminho no meio dos demais. Eduardo enfim saiu do recinto e vai de encontro à Susana.

— Dr. Eduardo, o que tá acontecendo? Por que eu sinto que tudo tá dando errado?

— Estou fazendo o melhor que posso, dona Susana, mas tenho que admitir que a senhorita Barreto veio com armas muito mais letais do que eu pensava.

André opina.

— Mas ainda dá pra inocentar o Miguel, não dá?

— Bom, ainda tem muitas pessoas para testemunharem. Vocês ainda não deram seu testemunho, mas eu posso dizer que essa primeira parte da audiência foi um soco no estômago pra a gente. Vão anular o depoimento do Henrique e o Leandro dividiu opiniões com o que ele disse.

Luíza argumenta.

— Era isso que eu ia perguntar. Por que o senhor tratou ele daquela forma?

— O meu trabalho aqui é provar a inocência do Miguel, senhorita Luíza. E não posso esquecer que o assassino da Victoria e da Gardênia está à solta, e é bem provável que o verdadeiro assassino seja uma dessas pessoas que vão sentar no banco das testemunhas.

Todos ficam impressionados e apreensivos com as palavras de Eduardo.

Na porta do banheiro masculino, Leandro se aproxima quando é surpreendido violentamente por Isabelly que o empurra para dentro do banheiro, o prensa na parede puxando-o pelo colarinho.

— Que porra você pensa que tá fazendo, seu estúpido?

— Calma, Isabelly! Você tá louca? Esse aqui é o banheiro dos homens!

— Foda-se! Então é isso? Fez toda aquela ceninha comigo no apartamento pra vim falar no júri que você realmente gostava da Victoria? Seu safado!

— Não, não era nada disso!

— Como não era isso, Leandro? Eu ouvi perfeitamente! Todo aquele júri ouviu! Tá achando que pode me enganar só porque você tem um apetrecho a mais entre as pernas? Seu idiota!

Isabelly prensa ainda mais Leandro contra a parede. Ele urrando de dor ressalta:

— Eu precisava falar aquilo, caralho! O teu colega estava tentando me persuadir, não percebeu isso?

— A única coisa que eu percebi é que você cavou a sua própria cova. Este tipo de declaração em um tribunal pode acarretar sérios prejuízos, adivinha pra quem? Pra você, seu otário!

Isabelly solta Leandro e se afasta dele completamente irritada. Leandro colocando a mão no pescoço ressalta:

— A única mulher que eu verdadeiramente amei foi vo…

— … CALA ESSA BOCA! Não tem o direito de dizer mais do que você já falou, seu saco de merda!

— Por favor, Isabelly! Eu fiz isso pensando em nós.

— Pensando em nós? Você é patético. Se tiver sorte, você pode sair daqui preso por assassinato ou cúmplice, mas esperem descobrir que você é um viciado em heroína.

Isabelly se retira do banheiro como um furacão! Leandro continua ali e enfurecido soca a parede.

— AHH DESGRAÇA!

Após socar a parede e urrar de dor, ele respira por alguns segundos se olhando no espelho, ele tenta se acalmar, abre a torneira, lava o rosto. Fica por alguns segundos olhando pra pia, enxágua as mãos, depois ele fecha a torneira e se seca com papéis toalha. Ao sair dali, ouve-se o barulho de descarga, a porta do box se abre e quem aparece é Israel que estava ali o tempo todo testemunhando a briga.

Nos corredores do fórum, Tatiana está tomando água num bebedouro quando avista Caroline passando por ali, ela imediatamente se apressa pra alcançar a promotora.

— Ei! Espera aí!

Caroline dá meia volta e a encara.

— Ow! Você deve ser Tatiana Mendes, a mãe do garoto Henrique, certo?

— Sim, e agora você vai me explicar porque tratou o meu filho daquela forma na frente de todo mundo?

— Como assim, querida? Eu apenas fiz o meu trabalho, nada de mais.

— Ele só tem 12 anos! Você fez ele chorar na frente daquele povo.

— Deveria ter pensado nisso antes mesmo de trazê-lo a um ambiente como esse, senhorita Mendes. Sabe muito bem que esse lugar não foi feito para os fracos, se teu filho sabia que iria ser interrogado dessa forma então por que aceitou vir depor aqui? Sendo que ele poderia muito bem dar apenas o seu depoimento perante uma reunião e ponto final. Se eu fosse você me sentiria culpada, porque isso aconteceu pela tua falta de maturidade em relação a ele.

— Não fale assim comigo, sua vaca!

— Ha! A gente percebe o nível de pessoa que você é por esses teus comentários de baixo calão, Tatiana.

— Você humilhou o meu filho e desonrou a minha família!

— Que culpa eu tenho de você ter sido uma mãe fracassada? Ha! Queridinha, eu até te admiro por ser tão sagaz e implacável, lembra muito a mim quando eu tinha a tua idade. Mas existe uma grande diferença entre nós duas, meu bem. Algo que nos separa uma da outra que se chama a inteligência, e isso é uma coisa que você não tem.

Tatiana cerra o punho quase avançando nela. Caroline provoca.

— Olha só pra você. Mal consegue ter uma conversa civilizada com alguém, realmente você é uma piada.

Caroline dá as costas para Tatiana, esta insiste:

— Espera um pouco, eu não terminei!

— Eu decido a hora de terminar o assunto, senhora Tatiana. Eu agora vou tomar um chá para retomar o meu trabalho, e acho melhor você ir pra casa, tomar um banho porque como eu falei anteriormente, este é um ambiente para os vencedores… Então uma fracassada como você não tem vez aqui. Boa tarde, linda!

Tatiana fica parada no meio do corredor completamente “possessa” com as palavras de Caroline.

O tempo do recesso se findou, todos já estão no recinto novamente aguardando a chegada do juiz. Ele chega, todos se põe de pé, em seguida ele pede para que tomem assento.

— Podem se assentar, senhoras e senhores. Bom, precisamos dar continuidade a este julgamento. Convidamos para entrar a testemunha Edgar Villiard.

Edgar sai pela porta das testemunhas e da mesma forma gera desconforto nos presentes, desta vez Tatiana, Israel e Henrique estão no recinto assistindo ao igual que Leandro que preferiu se assentar do outro lado deles. André sussurra com Luíza:

— Será que o Edgar vai fazer alguma coisa boa?

— Sinceramente? Duvido.

Edgar se assenta e o juiz prossegue.

— Com a palavra, o advogado de defesa.

Eduardo se levanta e dirige-se até ele.

— Edgar, você é o mágico do circo MAXIMUS, certo?

Edgar ríspido e ao mesmo tempo desanimado diz:

— Sim.

— Há quanto tempo você trabalha com o Seu Fausto?

— Faz uns 15 anos.

— Então você tem um legado muito grande ali no circo, não é?

— Digamos que sim.

— Segundo as informações que tivemos, você foi quem se apresentou antes da Victoria, procede?

Edgar olha ao léu e começa a ter flashes do dia que encontrou a cabeça de Gardênia dentro da cartola. Ainda perdido em seus pensamentos, Eduardo continua a interrogá-lo.

— Você viu alguma coisa relativamente estranha durante o teu número? Ou um pouco antes? Algo que possa ter provocado isso que aconteceu com a Victoria?

Edgar não responde, está completamente inerte.

— Senhor Edgar, estou lhe fazendo uma pergunta.

Ele permanece em silêncio, os espectadores começam a estranhar a atitude, Eduardo insiste.

— Senhor Edgar!

Edgar volta a olhar nos olhos de Eduardo e responde.

— Escuta… Por que nessa droga de julgamento vocês só estão falando da morte da Victoria?

— Como assim? O que quer dizer?

— Quero dizer que todos vocês estão apenas querendo saber do que aconteceu com a Victoria há malditos 6 meses atrás, mas esquecem da minha Gardênia que também foi morta! Por que não investigam o caso dela também? Hein?

— Edgar, se isso te consola, foi justamente pelo o que aconteceu com a Gardênia que estamos aqui hoje. Porque com certeza o verdadeiro assassino não ficou satisfeito em ter matado a Victoria, e também foi atrás da Gardênia.

— Claro, para ela teve toda essa comoção estúpida, enquanto para a Gardênia apenas um “meus pêsames”, seus hipócritas!

— Pedimos que, por favor, maneire o teu vocabulário, senhor Edgar.

Edgar irado levanta-se batendo as duas mãos no assento.

— Eu não vou maneirar nada!

Todos se assustam com a atitude grosseira dele.

— Querem saber de uma coisa? Vocês estão aqui fazendo um sacrifício inútil por causa de uma trapezista de merda e de um malabarista fracassado, sabem o que aconteceu com a minha Gardênia? Arrancaram a cabeça dela!

Edgar mostra as fotos da cabeça de Gardênia decapitada provocando o pavor em todos. Caroline se levanta.

— O que tá acontecendo? Contenha tua testemunha, Dr. Eduardo!

Edgar começa a provocar e se retira do assento para ir pra perto do júri.

— Todos vocês estão sendo enganados por essa milícia de cretinos que só pensam em seu próprio rabo, a minha Gardênia foi decapitada, enquanto a vagabunda da Victoria morreu linda e serena.

Joana não se aguenta e levanta-se irada.

— Não fale assim da minha filha!

A tensão no local aumenta, Edgar está relutante.

— Olha só a santinha do pau oco, né? Vai fazer o quê sua velha imunda? Você merece estar sofrendo por tudo isso. Principalmente você, Miguel!

Miguel se surpreende ao vê-lo fulminando-o.

— Você é o verdadeiro culpado de toda essa desgraça! Não me interessa que tenha matado a Victoria! Mas por que você matou a minha Gardênia, Miguel? A minha Gardênia!

Isabelly enérgica se levanta:

— Já chega! Tirem esse homem daqui!

Edgar continua irado e se aproxima de Miguel trincando os dentes, os guardas já estão de prontidão para impedi-lo.

— Você Miguel, você é a própria morte. Matou a minha amada, e só restou uma coisa dela e eu não posso ter ao meu lado, mas ainda me resta algo que eu possa fazer… E eu quero acabar com você agora mesmo, seu filho da puta!

Edgar avança com tudo pra cima de Miguel, o juiz aciona os guardas, os espectadores vão aos gritos com a confusão. Edgar tenta enforcar Miguel na cadeira, Nando vem correndo até o local e tira Edgar de cima de Miguel com um tremendo soco. Edgar sarcástico provoca:

— Tá defendendo ele agora, Nando? Ele já sabe que você era louco pra pegar a mulherzinha dele também?

— Cala essa boca!

Nando parte pra cima de Edgar. Eduardo tenta apartar os dois, os guardas chegam e os seguram. Miguel se prepara para revidar, mas Eduardo o impede há tempo.

— Não, Miguel! Não faça nenhuma besteira! Por favor…

Miguel hesita, mas prefere atender o pedido de Eduardo. Os guardas conseguiram segurar Edgar. O juiz mais uma vez intervém.

— Tirem esse homem daqui agora!

Edgar com muita raiva responde explosivamente:

— Não poderão fazer mais nada, pois já tiraram de mim o que eu mais amava, mas eu sei de coisas aqui que iria foder a vida de muita gente. E quando chegar a hora eu vou contar os podres de vocês!

Edgar arranca de seu paletó um lenço vermelho e faz um truque de mágica e de repente vários pássaros negros saíram do lenço invadindo o tribunal, os guardas tentando interver se deram conta que Edgar havia sumido.

Joana olhando para aquela cena assustadora, exclama:

— Corvos! Os pássaros da morte… (Segurando o seu crucifixo) Mais uma vez a morte vai bater na nossa porta.

 

 

 

 

 

 

 

Sexta, dia 26

Não percam o Penúltimo Capítulo

de NØ Magic!

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