ATENÇÃO!

*O EPISÓDIO A SEGUIR CONTÉM CENAS QUE PODEM SER CONSIDERADAS PERTURBADORAS*

DESTINADO AO PÚBLICO ADULTO.

O Lobo atrás da Porta

 

Henrique ouve o tiro vindo da direção da cabana, as aves cobriram o céu naquele momento e o garoto não tem a menor ideia do que fazer e começa a se desesperar.

— Dona Susana! Dona Susana!

A floresta que até então estava silenciosa, fica barulhenta com o ruído dos pássaros e dos insetos que estão entre as árvores. Henrique coloca suas mãos na cabeça tentando achar um modo de sair dali, mas está sem opções.

Casa de Miguel, 02:07 AM.

Alexandra tenta explicar para Eduardo tudo sobre a ligação que Susana havia feito à ela.

— … Eu só sei que ela parecia estar muito nervosa, e dizia que havia acontecido uma tragédia, bateu com o carro numa árvore e estava perdida. Ah! E disse que estava com um garoto que trabalha no circo, acho que é Henrique o nome dele.

Luíza: O Henrique? Mas o que ele estava fazendo com a Dona Susana?

Alexandra: Eu, eu não sei, parece que ambos estavam querendo ir à delegacia ver o… É verdade isso? O Miguel tá preso?

André: Sim, senhora. Toda essa história tá acabando com a gente.

Alexandra: Meu Deus! Coitada da Susana! Ela não merece passar por isso, perdeu o marido há um tempo, perdeu a futura nora, o filho tá preso e agora ela está desaparecida… Isso tá me deixando muito nervosa.

Luíza: Sim, mas tem uma coisa que não faz sentido. Por que o Henrique estaria junto com a Dona Susana? Os pais dele nunca o deixariam sair de casa, e ainda mais uma hora dessas.

Eduardo: O que supõe?

Luíza: Eu não sei, mas é muito estranho.

Eduardo: Creio que devemos falar com os pais do garoto.

André: Não, ficou louco? Você não sabe como são os pais dele. Dois malucos que não sabem o que querem.

Alexandra: Olha gente, o meu marido nem sabe que eu saí de casa, se ele descobrir, eu terei sérios problemas. Então é melhor eu voltar pra casa antes que ele se dê conta.

Eduardo: Tudo bem, a essa hora não podemos fazer mais nada, o jeito é esperar amanhecer pra começar as buscas. Eu não sei vocês, mas tenho uma leve sensação que tudo isso tem a ver com o que está acontecendo com o Miguel.

Na floresta, Henrique continua andando lentamente e com expressão de sofrimento em seu rosto sem saber o que aconteceu com Susana e pra onde ele poderia ir. De repente ele ouve um barulho pela floresta e se detém por uns instantes.

Ele percebe que o caminho está começando a ficar iluminado lentamente na direção oposta e ele avista alguém se aproximando. Sim, é ele! O homem da cabana com a sua tocha procurando por alguém, certamente o próprio Henrique.

Henrique não vê outra saída a não ser subir em uma enorme árvore que está ali perto, ele vai escalando-a até chegar num ponto alto o suficiente para que ninguém percebesse que ele estaria ali. A floresta é escura, mas a tocha do homem misterioso seria uma inimiga mortal para alguém que precisava se esconder.

O garoto fica encostado no tronco aguardando impacientemente para que o homem passasse, ele abraça o tronco da árvore com bastante medo de ser descoberto e vê que o homem carrega a espingarda nas costas, e ele entendeu que aquele tiro que ouviu outrora foi para Susana. Não há mais escapatória, tudo conspira contra Henrique naquele momento… Então o homem passa e foi se afastando cada vez mais.

Henrique suspira aliviado e tenta andar sobre o galho até chegar à outra árvore. Os galhos são fortes, qualquer pessoa poderia passar por ali, pelo menos era pra ser assim… Henrique continua a andar e inesperadamente uma machadinha acerta o galho onde ele está andando e fica presa. Henrique se assusta e agacha em cima do galho quase se desequilibrando, ele olha para o chão e não vê nada.

Então ele se levanta mais uma vez e quando dá dois passos, ouve um rugido vindo em sua frente, ele não sabia do que se tratava e fica paralisado. Apenas vê dois olhos amarelados saindo da escuridão das árvores… Ao revelar-se para Henrique, é nada mais e nada menos que um animal selvagem, não se sabe ao certo que tipo de felino é aquele, principalmente por serem raros no Sul do país, mas existem! E agora mais uma vez Henrique está sem saída, tudo conspira contra ele.

Que decisão tomar? Ficar em cima da árvore e deixar que a fera lhe estraçalhe ou descer e ser pego pelo louco da cabana? Não há tempo para pensar, Henrique vai se afastando e o animal se aproxima dele cada vez mais. Ele olha para o chão e tenta não se desequilibrar.

Quando o animal se prepara para atacá-lo, ouve-se um disparo que acerta a fera em cheio! O animal cai morto no chão e Henrique fica sem reação… Ele olha para trás e vê o homem da cabana que conseguiu subir na árvore sem que o garoto visse.

— Não! Fica longe de mim!

Henrique se levanta e tenta correr pelo galho, o homem o persegue pelo mesmo caminho e ao invés de continuar a correr, ele pega novamente a sua espingarda e aponta para a direção de Henrique, o garoto continua a correr tentando se desviar das folhas.

Então o homem dispara na direção de Henrique, a bala passa de raspão fazendo com que o garoto se desequilibrasse e caísse da gigantesca árvore batendo em todos os pequenos galhos enquanto caía, até que por fim Henrique foi parar no chão daquela floresta totalmente inconsciente.

Será ali o seu fim?

Casa de Joana e Augusto, 02:33 AM.

Joana e Augusto estão em suas casas e ambos não conseguem dormir com toda a confusão que ocorreu. Joana vai até o quarto de Victoria e começa a passar levemente as suas mãos em cada retrato que há no quarto da filha, ela retira um crucifixo do bolso de seu sweater com uma novena e se ajoelha no tapete do quarto.

Ela começa a olhar para o teto e reza de maneira grotesca:

— Poderiam ter me tirado qualquer coisa nesse mundo… Mas por que tinha que ser logo a minha filha? Por quê? O que eu fiz pra merecer tudo isso? Eu sempre fui uma mulher boa, temente a Deus… Todos os domingos eu estava na Missa rezando para o futuro da minha família e é assim que me pagam? É isso que eu ganho por tentar salvar essa maldita família? Antes eu fosse castigada, mas a minha Victoria não tinha nada a ver com isso. (Ela aperta o crucifixo com força) Maldita sou! Maldita sou! (Começa a bater em seu próprio rosto várias vezes). Mas isso pode ter uma solução…

Joana se levanta, vai até a porta do quarto e pega um chicote que está atrás da cortina, ela chega de frente ao espelho do quarto de sua filha e segue o desabafo:

— Foi tudo por causa daquele dia não é? Aquele maldito dia! (Ela começa a tocar em seu rosto e seus olhos ficam avermelhados, ela parecia estar fora de si) Se sou uma pecadora… Mereço ser castigada.

Joana retira o seu sweater e o deixa no chão, ela olha para o espelho inerte e em seguida pega o chicote e começa a punir a si mesma.

— Maldita pecadora! O seu pecado resultou na morte da tua filha! O fogo do inferno será o seu destino. “Perdoai-me!” “Perdoai-me!”.

Ela continua a chicotear a si mesma, as marcas dos chicotes em suas costas formam cicatrizes ensanguentadas, ela não conseguia se perdoar e achava que fazendo isso seria perdoada de seu pecado. Mas qual foi o terrível pecado de Joana?

Ainda nesta mesma casa, Augusto está na sala e pôde ouvir os gritos de Joana se auto flagelando, ele poderia ir até lá impedi-la — ao menos era o que todo marido comum faria — mas ao invés disso ele prefere abrir o armário que há na sala e pega uma garrafa de Whisky. Augusto não bebia há anos, aquela garrafa deveria estar perdida ali e com toda a dor que está sentindo no momento, ele se lembrou dela.

Ele pega uma taça e enche até o topo do recipiente, os seus olhos estão inchados de tanto chorar. Ele leva o copo lentamente até a sua boca e ainda hesita em tomar um gole, mas ele está tão fraco e vulnerável que quando “piscou”, já estava “descendo” a taça pra dentro. Ele parou? Claro que não, imediatamente enche mais uma taça e começa a perambular pela sala.

O seu andar já era pesado por natureza, imagine estando embriagado? Ele ignora a taça e a deixa cair no chão espalhando cacos por todos os lados, ele pega a garrafa e começa a “virá-la” completamente. Gota por gota ia descendo rasgando a sua garganta, ele não precisava dizer nada ali, sua atitude já dizia por si próprio.

Ao ver que a garrafa já está vazia, ele sentou-se em seu sofá favorito ainda com a garrafa nas mãos e começa a chorar como uma criança, era como se todo o álcool que ele consumiu tivesse saído através de suas lágrimas. Naquela casa já não existe mais alegria… Apenas a dor, a amargura, o sofrimento e nada, além disso.

Casa de Alexandra, 02:45 AM.

Alexandra chega em sua casa após todo o ocorrido com Susana, ela não tem notícias da amiga e se encontra bastante chateada. Ao entrar em sua casa com muito cuidado pra não fazer barulho, o seu marido Pedro está sentado no sofá de braços cruzados e acaba assustando Alexandra.

— Ai meu Deus! Que susto Pedro! O que você tá fazendo?

— Me diz você… Querida esposa.

— Olha, você não vai entender, então é melhor eu me abster de ficar te dando satisfações.

Pedro se levanta do sofá e corre para deter a passagem de Alexandra.

— Pedro, deixa eu passar.

— Eu não vou deixar você passar enquanto não me contar que merda tá acontecendo.

— Eu não tenho que te dar explicações de nada, sai da minha frente!

Pedro a segura pelos braços.

— Me diz uma coisa, você tá me traindo, Alexandra? Essas tuas saídas é pra satisfazer tuas fantasias sexuais? Hein?

— Você tá maluco! Eu nunca te traí, Pedro! Me solta agora!

— Sim, sim, você tá me traindo, Alexandra. Me fala quem é o desgraçado que tá transando com você enquanto eu cuido dessa casa? Anda! Me fala!

— Cala a boca! Enlouqueceu? Você não era assim!

— Ah não? Então deixe- me apresentar cordialmente.

Pedro lança um tapa certeiro no rosto de Alexandra fazendo-a derrubar a sua bolsa no chão. Ela com a mão no rosto e totalmente sem entender a atitude do marido, vira para ele novamente e diz:

— Você me bateu? Nem o meu pai nunca me bateu na cara, quem você acha que é?

Alexandra só soube revidar o tapa que recebera.

Pedro lança um sorriso sarcástico e agarra Alexandra e a puxa para cima das escadas.

­ — Não! Me solta, Pedro! Me solta!

Pedro vai conduzindo Alexandra violentamente pela escada.

— Eu vou te ensinar a me respeitar, tá ouvindo?

— Para com isso! Você tá louco!

Pedro chega a seu quarto e empurra Alexandra na cama, em seguida ele desce outro tapa no rosto dela.

— Com quem você acha que tá brincando, sua vagabunda?

— Para, Pedro! Chega!

— Agora eu vou te mostrar que eu é que sou teu marido de verdade!

Pedro pula em cima da cama e começa a abaixar as suas calças, Alexandra compreende a sua intenção e faz de tudo para se livrar dele.

— Não, Pedro! Eu não quero! Socorro! Alguém me ajuda!

— Ninguém vai te ouvir, queridinha. Agora fica quietinha e deixa-me fazer o serviço, tá bom?

Alexandra começa a gritar por socorro, mas já era tarde.

Bom… Creio que vocês já imaginam o que acontece depois, certo?

Casa de André, 02:53 AM.

Aquela madrugada literalmente parecia que nunca ia ter fim, dessa vez vemos o pobre André entrando em sua casa. Ele vai andando pelo corredor e começa a chamar pelo seu pai.

— Pai! Tá acordado?

Ele vai até o quarto de seu pai e vê que ele não está na cama, então ele começa a vasculhar pela casa e chega até a cozinha. Vemos apenas a sua reação olhando para alguma coisa e pelo visto foi algo bastante sério, o suficiente pra fazê-lo levar as mãos à boca e exclamar:

— Meu Deus! Pai! Pai!

Cemitério Municipal, 03:00 AM.

Ah! Os cemitérios! Sempre tão cruciais em filmes de terror, mas… Não estamos em um filme… E a lua das 3 da manhã ilumina aquele cemitério da cidade, podíamos ver com ênfase o túmulo de Victoria. Alguém está se aproximando e ao chegar próximo do túmulo, a pessoa em questão é Nando.

Ele olha para o túmulo com uma aparente amargura e não consegue dizer uma só palavra, por que ele está ali sozinho às 3 da manhã em frente ao túmulo de Victoria?

Aliás, será que ele está mesmo sozinho? Ele ainda não percebeu que tem alguém por detrás de uma árvore ali no cemitério observando tudo. Quem é essa pessoa? Só o tempo dirá.

Casa de Leandro, 03:05 AM.

Leandro acaba de chegar em casa e parece estar ofegante, ele vai até o banheiro e começa a lavar o seu rosto e fica por minutos com a cabeça baixa olhando para a pia. Recordemos que ele estava há algumas horas atrás com uma pessoa no centro da cidade, com quem? Parece que o trapezista do circo MAXIMUS também esconde os seus segredos.

Ele termina de lavar o seu rosto, pega uma toalha e começa a secar-se, logo depois ele vai para o seu quarto.

Leandro senta-se na ponta de sua cama, fita seu olhar nas paredes e pensa alto:

— Isso tá errado… O que eu estou fazendo meu Deus? O que eu estou fazendo?

Leandro abaixa a cabeça e começa a chorar, ele está com algum objeto em mãos e parece ser alguma espécie de bijuteria, num impulso ele pega esse objeto e lança contra o espelho de seu quarto rachando-o no meio. Ele se levanta, olha o seu reflexo no espelho rachado e em seguida retira o espelho da parede e lança-o no chão com toda a força.

Os cacos daquele espelho se estilhaçam por todo aquele quarto tomando conta de todo o chão, Leandro não consegue se conter e vai até o chão encostando-se na cômoda de seu quarto, ele não está se importando com os cacos de vidro. A dor que exala de sua alma rasga muito mais do que simples fragmentos de cristais.

Delegacia de Polícia, 03:10 AM.

Miguel continua sobre a custódia da polícia, ele está totalmente preocupado com o que podia acontecer com ele, foi quando Eduardo chega à cela provisória onde ele está para falar com ele.

Miguel se levanta ansioso e se aproxima das grades.

— Detetive? Alguma notícia? A minha mãe veio aqui?

— Eu não queria te preocupar mais do que você já está, Miguel, mas esconder isso de você é o mesmo que ocultar um crime.

— Do que você está falando?

— A tua mãe está desaparecida. Procuramos ela em sua casa e teus amigos disseram que ela não chegou a vir aqui. Não sabemos onde ela estar.

— Não, não, não, minha mãe não é assim. Ela tem que estar em algum lugar.

— Eu sinto muito, Miguel. Vamos começar as buscas pela manhã, confia em mim.

— Não, Dr. Eduardo, espera! Volta aqui!

Eduardo não quis falar além do que já disse com Miguel e se retira deixando-o ainda mais aflito.

— Volta aqui! Mãe! (Começando a chorar) Mãe… Não, por que meu Deus? Por que isso tá acontecendo comigo? (Se agachando no chão da cela) Por que tinha que ser logo comigo?

Miguel começa a chorar inconsolavelmente dentro daquela cela, nada mais sabia do paradeiro de Susana, pelo menos por enquanto.

Interior da Cabana, 06:22 AM.

O dia já começa a raiar depois de uma madrugada bem intensa para todos ali. E para a nossa surpresa, Henrique sobrevive e começa a despertar pouco a pouco. Sua visão ainda está embaçada e ele percebe que está amarrado em uma cadeira, ele olha para a sua esquerda e vê que Susana também está amarrada e parece estar inconsciente.

Henrique olha para frente e vê que o velho louco da cabana está dormindo em sua poltrona velha com a espingarda na mão. Certamente passou a madrugada de guarda se caso um deles acordasse. O garoto Henrique começa a sussurrar chamando por Susana:

— Dona Susana! Dona Susana!

Susana começa a despertar pouco a pouco e ela parecia estar bem. Com certeza aquele tiro na noite anterior foi apenas o calor do momento, pois ela não parecia estar baleada.

Ela vai despertando e percebe a situação que se encontra no momento.

— Henrique! O que faz aqui? Eu falei pra você fugir.

— Não pude fazer nada, ele me pegou.

— Droga! Será que ele tá realmente dormindo?

— Eu não sei.

— Escuta, vira a sua cadeira de costas pra mim e tenta me desamarrar e eu tento fazer a mesma coisa contigo.

Os dois vão juntando vagarosamente uma cadeira na outra até que conseguiram desatar as cordas de suas mãos e consequentemente dos seus pés. Ao terminarem de se desamarrar, Henrique questiona Susana:

— E agora? Tem jeito da gente sair daqui?

— Eu não…

O homem se mexe na poltrona rapidamente e em seguida volta a dormir. Enquanto ronca, Susana vai se aproximando da porta segurando Henrique pela mão.

— Venha bem devagar, querido.

Eles vão andando até a porta, porém Susana percebe que a mesma está trancada com cadeado.

— Droga, o desgraçado trancou a porta.

— Será que as chaves são aquelas ali?

Henrique aponta para o bolso do homem onde há um chaveiro que fica pendurado pra fora mostrando algumas chaves. Susana percebe que a situação para eles só piorava.

— Essa não, vai ser impossível fazer isso.

— Eu posso fazer isso, Dona Susana.

— Não, você tá louco? Se ele fizer alguma coisa pra você?

— Shhh fala baixo! Não se preocupa, eu vou pegar as chaves.

Henrique vai se aproximando lentamente do homem, Susana fica com as mãos na boca totalmente aflita. Se ele acordasse naquele momento, ele não hesitaria em atirar neles com aquela espingarda.

Henrique está frente a frente com aquele homem, ele se agacha um pouco e estende a mão para pegar as chaves. Em sua testa pequenas gotas de suor começam a aparecer, pois qualquer movimento brusco ali seria fatal. Henrique aproxima suas mãos cada vez mais, Susana fica extremamente aflita quase sem querer olhar.

Quando Henrique coloca a ponta dos dedos em uma das chaves, o homem se assusta com os próprios roncos e agarra o braço de Henrique. Susana se assusta, mas Henrique faz sinal para ela fazer silêncio.

Henrique fecha os olhos e fica sem se mexer, possivelmente é um sonho que aquele homem está tendo, quase um sonambulismo.

Henrique corajosamente consegue retirar o chaveiro do bolso daquele homem e sai de perto da poltrona, ele entrega as chaves para Susana e agora mais um dilema os afastam do escape: Qual a chave verdadeira?

Ela vai colocando chave por chave e parece que nenhuma funcionava, ela começa a se desesperar.

— Nenhuma dessas chaves é compatível com o cadeado, Henrique.

— Não é possível, tem que ser uma dessas. A gente tem que sair daqui logo, ele vai acordar a qualquer momento.

— Você acha que eu não sei?

Após várias tentativas, Susana finalmente encontra a chave certa, ela não podia acreditar no feito que fizera que nem se deu conta do barulho que faria ao derrubar a corrente no chão e foi o que aconteceu.

O homem sentado e adormecido na cadeira vira a cabeça pra um lado e mais uma vez Susana e Henrique o encaram temendo o pior. Mas o velho parece estar completamente apagado e já é o momento perfeito para escapar. Susana e Henrique finalmente conseguem sair, eles encostam a porta devagar pra não levantar suspeitas.

— Conseguimos, querido! Agora vamos sair dessa floresta maldita o quanto antes.

Os dois se afastam o máximo que podem daquela maldita cabana e percorrem pela floresta, por sorte o sol da matina está favorecendo o caminho para eles.

— Dona Susana, à noite quando eu estava fugindo eu ouvi barulho de água vindo daquele outro lado.

— Sério? Então deve ter algum córrego por aqui por perto. Se tem córrego, tem saída. Vamos procurar!

Circo MAXIMUS, 06:35 AM.

Fausto não havia conseguido dormir na noite passada, ele está andando pelo camarim e nota-se a angústia que ele sente ao ver que aquele circo no qual ele sempre cuidou com todo o seu amor e dedicação estava se afundando devido a um assassinato brutal e várias pessoas entrando em conflito. Ele vai para o picadeiro, olha para os lados e o que já era esperado acontece, ele começa a chorar… Um senhor de 60 anos agora desabando em lágrimas como uma criança, não é fácil para ele, não é fácil pra ninguém ali.

Delegacia de Polícia, 06:45 AM.

Ainda é cedo, porém os trabalhos da polícia já começaram, as coisas não estão nada fáceis.

Isabelly chega ao local e vê vários policiais conversando e fazendo “montinhos” nos cantos, ela avista Eduardo no final do corredor e ele está conversando com alguns agentes da ROTAM, e isso fez com que Isabelly ficasse ainda mais desconfiada.

— Eduardo, o que tá acontecendo aqui?

Eduardo se dirige aos policiais que estão com ele:

— Então, senhores… Já podem ir iniciando os trabalhos e depois eu converso com vocês.

Eduardo espera que os policiais da ROTAM se afastem para responder Isabelly.

— Oi, Isabelly, primeiramente bom dia!

— Bom dia nada, Eduardo! O que tá acontecendo nessa delegacia?  Por que a ROTAM está aqui?

— Você quer uma notícia muito, mas muito ruim?

— Abre o verbo logo, Eduardo!

— A mãe do Miguel está desaparecida.

— Quê? Como assim desaparecida?

— Exatamente, e além dela um garoto que trabalha no circo MAXIMUS, o Henrique. Ele só tem 12 anos.

— Puta que pariu!

— É, eu sei. Já não basta a noite terrível que tivemos e agora temos mais isso com o que nos preocupar.

— E o Miguel? Ele sabe disso?

— Sim, ele sabe por alto, mas não dei muitas informações. Ele deve tá desesperado naquela cela.

Uma das recepcionistas entrega um papel para Eduardo.

— Chefe, aqui está!

­— Ah obrigado!

Isabelly questiona:

— O que é isso?

— É o número da casa do garoto. Vou ligar pros pais dele.

Eduardo disca o número da casa dos pais de Henrique. Tatiana, ainda na cama escuta o telefonema e atende.

— Alô?

— Alô, com licença! Eu gostaria de falar com os pais do Henrique.

— É a mãe dele que está falando. Tatiana Mendes.

— Senhora Tatiana, estamos ligando para informar que recebemos a informação de que teu filho está desaparecido.

— O quê? Como assim desaparecido? O meu filho não saiu de casa.

— Tem certeza?

— É claro que eu tenho. E eu vou provar!

Tatiana se levanta da cama bruscamente com o telefone na mão e vai para o quarto de seu filho. Israel não está ali, supostamente já havia saído pra trabalhar.

Ela entra no quarto de Henrique e percebe o monte de travesseiros sob a cama, ao tirar o edredom ela começa a buscar pelo filho incansavelmente pelo quarto.

— Henrique? Isso não tem graça! Apareça agora mesmo!

Eduardo do outro lado da linha enfatiza:

— Bom, acho que nossas suspeitas estão certas. Teu filho está desaparecido e a mãe de Miguel, Susana de Paula, também está desaparecida.

— O quê? A Susana tá desaparecida?

— Sim, vamos começar as buscas agora mesmo. Preciso que a senhora compareça à delegacia o mais rápido o possível. Não temos tempo a perder.

Eduardo desliga a chamada e Tatiana joga o telefone na cama de Henrique e fica atônita.

Na casa de Alexandra, esta começa a despertar aos poucos, o seu rosto está com a marca do soco que levou outrora de seu marido, ela apalpa os cobertores e percebe que Pedro não está ali.

Quando faz força pra se levantar, Pedro aparece com uma bandeja de café da manhã nas mãos “surpreendendo” Alexandra.

— Olha só a dorminhoca acordou! Ainda bem, preparei esse café da manhã com tanto carinho (sentando-se na cama), eu trouxe o teu favorito: torradas, café com leite, nutella não pode faltar né? Ah! E maçãs, e se caso você não quiser o café com leite, tem suco natural também. Bom, eu já preciso ir pro trabalho, meu amor, cuide-se!

Pedro dá um beijo na testa de Alexandra e sai do quarto deixando-a completamente espantada diante do que acabara de ver, ele não parecia o mesmo homem que a violentou na noite passada, por que essa mudança repentina de atitude? Será que ele se arrependeu pelo o que fez e está tentando reaproximar-se dela? Ou será que existe algo a mais em tudo isso?

Na floresta, Susana e Henrique continuam a caminhar e por fim encontram um córrego.

— Olha isso, Henrique, bem que você disse, tem um córrego mesmo ali.

— Sim, vamos logo embora, dona Susana. Não aguento mais ficar aqui.

— Claro, querido, vamos sim.

De repente uma flecha é cravada no chão próximo a eles, quando olham para trás, é nada mais e nada menos que o homem da cabana.

— Filho da mãe! Ele nos encontrou, corre Henrique!

Ambos começam a correr e o homem tenta acertar suas flechas neles.

— Dona Susana! A gente vai morrer!

— Nem pense nisso, entra no córrego!

— O quê?

— Faz o que eu estou te mandando, entra no córrego logo!

Os dois pulam para dentro do córrego e começam a ser arrastados pela forte correnteza, aquele homem não descansava e agora larga o arco e opta pela espingarda novamente, Susana percebe o possível ataque.

— Henrique, cuidado! Ele vai atirar!

— Dona Susana!

— O que foi?

— Eu não sei nadar!

— E você me diz isso só agora?

Henrique começa a ser arrastado pela correnteza e Susana tenta alcançá-lo a todo o custo.

— Tenta se segurar em alguma coisa! Um galho, uma pedra!

— Eu não vou conseguir!

— Você é um artista circense, Henrique, mostre o que sabe fazer!

Henrique ao ser arrastado avista um galho próximo à beira do córrego e consegue se segurar. Susana veio logo atrás e consegue segurar-se no mesmo galho protegendo Henrique.

— Você tá bem, querido?

— Eu não sei, acho que…

Ouve-se o disparo da espingarda. Eles não poderiam ficar mais ali ou seriam mortos.

— E agora, dona Susana?

— Agarre-se a mim e não me solte por nada!

— Mas…

—… Agora!

Henrique se abraça a Susana e esta solta a mão do galho e deixa ser arrastada pela correnteza e depois chegaram em uma cachoeira e ambos caem pela mesma até alcançar o rio calmo. Só se via apenas as águas serenas daquele rio e nem sinal de nenhum deles… Até que por fim via-se uma mão se aproximando da superfície, é Susana com Henrique, mas um porém… Ele está inconsciente.

— Não, Henrique, não faz isso comigo, a gente não lutou tanto pra você morrer aqui. Por favor!

Susana leva Henrique pra fora do rio e deita-o no chão e começa a fazer respiração boca a boca, mas o garoto continua inconsciente.

— Não faz isso comigo, Henrique, reage pelo amor de Deus!

Susana tenta mais uma vez e agora dá uma pancada na barriga de Henrique e automaticamente este desperta jogando pra fora toda a água que engoliu.

— Graças a Deus, graças a Deus, pensei que fosse te perder.

— Me… Me desculpa.

— A gente tem que dar o fora dessa floresta.

Susana avista algo.

— Meu Deus! Passando por ali vamos chegar na BR. Rápido!

Susana e Henrique saem dali e encontram uma rodovia aberta, mal pisaram na mesma e ouve-se o disparo da espingarda do homem da cabana.

— Dona Susana, ele de novo!

— Esse cara não desiste!

Ambos correm para o meio da pista, um caminhão está vindo e Susana pára bem no meio da rodovia tentando pedir ajuda, o motorista ao vê-la desvia bruscamente da direção, ela tapa os olhos e o caminhão está indo direto na direção de Henrique.

Susana olha novamente e se desespera ao ver a cena, Henrique tapa os seus olhos esperando a sua morte até que um oficial da ROTAM o apanha pelos braços caindo para o outro lado, o caminhão vira e capota na direção norte da pista. O oficial da ROTAM — com Henrique no chão— o questiona:

— Você tá bem, garoto?

— Dona Susana, cuidado!

Susana vira de costas e o homem da cabana está prestes a atirar nela até que outro carro veio em alta velocidade e o atropela em cheio, o sangue do indivíduo espirra em Susana enquanto o carro em questão acaba parando bem lá na frente com apenas o “resto” de um corpo humano em seu vidro.

— AAAAAAAAAHHH!!!

Susana grita de desespero e em seguida desmaia. Os outros policiais chegam bem na hora e se preparam para socorrê-la. Não foi uma noite nada fácil pra nenhum deles, parece que a morte de Victoria não é o único segredo que as pessoas daquele circo e seus familiares escondem.

Qual será o segredo de cada um deles? Qual o seu maior pecado? Qual o seu maior trauma? Ainda não sabemos, bom… Pelo menos, não por enquanto.

Camarim do Circo MAXIMUS, 08:00.

Edgar está jogando suas cartas de baralho, até que uma delas vai parar no chão, uma figura entra no camarim e segura a carta de um valete. Edgar olha nos olhos da pessoa em questão e indaga:

— Eu sabia que cedo ou tarde você voltaria. Então… Qual será o jogo dessa vez?

 

 

 

 

Próximo Capítulo:

Terça, 02 de Abril.

 

A Widcyber está devidamente autorizada pelo autor(a) para publicar este conteúdo. Não copie ou distribua conteúdos originais sem obter os direitos, plágio é crime.

Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

Publicidade

Inscreva-se no WIDCYBER+

O novo canal da Widcyber no Youtube traz conteúdos exclusivos da plataforma em vídeo!

Inscreva-se já, e garanta acesso a nossas promocionais, trailers, aberturas e contos narrados.

Leia mais Histórias

>
Rolar para o topo