Respeitável Público

 

Em uma noite barulhenta, sirenes de polícia soam por toda a cidade, algo estava errado. Em uma delegacia de polícia um tumulto acontecia, pessoas atônitas e que aparentavam estar bastante estressadas com alguma coisa, discutiam nos corredores. Uma senhora de aparentemente 50 anos parecia estar ainda mais histérica e conversava com um homem que era supostamente o seu marido.

—… Eu não posso ficar calma enquanto não descobrir o que aconteceu com a minha filha!

O marido tentando acalmá-la responde:

— Fique calma, querida. Se continuarmos nesse estresse todo, só vamos prejudicar o trabalho deles.

— Eu não me importo! Eu só quero saber o que diabos eles descobriram a respeito da nossa filha!

Um senhor de aparentemente 60 anos chega ao local e parecia conhecer o casal que está atônito.

— Com licença!

A mulher responde:

— O que você quer?

— Como assim? Eu sou o dono do circo, tenho todo o direito de saber o que está acontecendo.

A mulher histérica diz:

— Tudo isso está acontecendo por causa do teu maldito circo!

Enquanto isso, em uma casa não muito distante dali, um jovem rapaz está sentado no sofá da sala, a luz principal está apagada, e apenas as luzes dos abajures permanecem ligadas. Ele está com um cubo mágico nas mãos e parece estar bem nervoso, cada instante parava pra coçar o cabelo — ele parecia estar esperando alguma notícia. A sua mãe chega até a sala para falar com ele.

— Filho, vai deitar, não pode ficar a noite toda aqui pensando nisso.

— Mãe, eu não posso dormir enquanto não descobrir o que está rolando, tem alguma coisa de muito errada, do contrário não chamariam os pais dela para a delegacia após o enterro.

— Tudo bem, mas não vai dormir muito tarde. Quer que eu traga um café com leite pra você?

— Pode ser, mãe. Obrigado!

— Eu vou lá trazer.

A mãe do rapaz sai da sala deixando-o sozinho, enquanto na delegacia continuava o tumulto, pessoas não paravam de discutir, ninguém entendia o que estava acontecendo, até que o delegado chega ao corredor e pede para todos fazerem silêncio.

— Silêncio, por favor!

A mulher ainda nervosa questiona o delegado:

— Delegado, o que houve? O que descobriu a respeito da minha filha?

O delegado olha para a mulher e para todos os presentes e seu olhar é de preocupação, mas ainda sim preferiu dar o recado do qual veio trazer.

— Vocês vão precisar ser bastante fortes com o que eu vou dizer.

A mulher quase chorando questiona:

— Por favor, delegado, o que aconteceu? Por que tanto suspense?

O marido também questiona o delegado:

— Delegado, seja lá o que for, conte-nos! Temos o direito de saber.

— Bom… Saiu o resultado da perícia, fizeram uma análise completa no circo e principalmente no trapézio, e além do que já sabemos, existe outro fator que a perícia descobriu que… Não estávamos esperando.

A mulher a cada instante mais preocupada e se agarrando às mãos de seu esposo pergunta:

— Do que está falando, delegado?

— Estou falando que o que aconteceu com a tua filha não foi um acidente.

Os demais que estão ali começam a fazer várias perguntas. O delegado os interrompe.

— Chega! Calem a boca!

O homem questiona o delegado mais uma vez:

— Delegado, o que o senhor quis dizer com “não foi um acidente”?

— Exatamente isso que o senhor ouviu. Não foi um acidente, alguém sabotou o trapézio pelo qual a tua filha se apresentava… A tua filha foi assassinada, senhores!

Inicia-se um terrível tumulto, o que parecia ser o dono do circo dá um passo a frente e se aproxima do delegado.

— Como assim? Como isso pode ter sido homicídio?

— E isso não é o pior, nós já descobrimos quem está por trás disso.

Cerca de 15 minutos depois, o rapaz continuava em sua casa jogando o seu cubo mágico, alguém bate na porta, a mãe do rapaz ouve da cozinha.

— Pode deixar, mãe. Eu abro!

Ele se levanta do sofá e vai até a porta, quando abre a mesma, se depara com dois policiais.

— Pois não?

Um dos policiais pergunta:

— O senhor é Miguel de Paula?

— Sim, sou eu, em que posso ajudar?

O outro guarda mostrando o distintivo responde:

— O senhor está preso… Pelo assassinato de Victoria Lopes!

 

==OPENING==

 

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5 dias antes…

Uma noite de muita alegria e festa mana do Circo MAXIMUS, a plateia está bastante animada, e neste momento está acontecendo um número de malabarismo. Quem está na arena é Miguel, um jovem de 22 anos de ótima aparência, tem os cabelos curtos e pretos, ele está jogando para o alto 5 claves de malabarismo , em um momento que ele lança as claves para o alto, um dos assistentes de palco coloca um aro no braço esquerdo dele e ele fica girando o aro em seu braço enquanto fazia malabarismo com a outra mão. A plateia não parava de gritar estando totalmente impressionada, na arquibancada alguns colegas de Miguel gritavam dando energias positivas para ele.

— Vai Miguel!

— Arrasa!

Miguel olha para o assistente que está á direita e mesmo concentrado conversava com ele.

— Agora nós vamos finalizar o número.

— Tem certeza que vai querer isso?

— Mais do que nunca! Eu vou contar até 3 e você vai colocar o aro no meu braço direito, pronto?

— Pronto!

— Um… Dois… Três!

O assistente coloca o aro no braço direito de Miguel e agora ele fazia seu número com 5 claves e um aro em cada braço, ele toma os dois aros em mãos e deixa todas as claves cair (propositalmente) para dentro dos dois aros e assim finalizando o seu número e agradecendo a plateia que o aplaudia de pé. O dono do Circo e Grande Anfitrião fala ao microfone para a plateia, seu nome é Fausto, senhor de 60 anos com aparência simpática.

— Respeitável público! Vocês acabaram de ver mais um verdadeiro espetáculo do grande malabarista Miguel! Um turbilhão de aplausos por gentileza!

Miguel sai da arena mandando beijos ao público, algumas garotas que estavam na arquibancada gritavam enlouquecidas:

— Miguel! Eu sou tua fã!

— Lindo!

Miguel chega ao camarim e no mesmo instante chega o seu amigo André que tem 21 anos, possui cabelos lisos e castanhos escuros, e tem um rosto de menino apesar da idade.

— E quem foi o astro da noite?

— Para com isso, André! Deixa de ser puxa-saco!

— Tenho orgulho de ser puxa-saco, pois o meu mano arrebentou hoje!

André pula em cima de Miguel abraçando-o.

— Calma, calma garoto! Guarda essa energia toda pra a gente comemorar depois. Já falei que amo você né?

— Claro, eu iria te deserdar se não me amasse.

— (Sorrindo) Deixa de ser doido! Então, a minha mina vai se apresentar agora, vamos ver?

No camarim também chegava Luíza, uma das acrobatas, tem cabelos loiros e usa sempre um marcante batom vermelho. Ela questiona Miguel:

— Miguel, vai ficar aqui dando estia pra esse palhacinho aí?

— Eu não sou palhacinho, faço parte da turma do humor, mas não sou um palhaço consagrado.

— Com essa carinha de neném você tem que tomar cuidado pra não ser confundido com uma das crianças da plateia.

André faz careta para Luíza e ela responde:

— Besta!

O Sr. Fausto narrava e eles escutavam do camarim.

— “… E ela está mais linda do que nunca, nossa trapezista estrela! Victoria!”.

Miguel cutuca André.

— Se liga André, ela já tá se apresentando, vamos lá ver.

— Vamos!

Eles saem do camarim, vão para uma das bancadas e lá está se apresentando Victoria, uma jovem de 22 anos com um rosto angelical e cabelos loiros e lisos, com belos olhos azuis. E ela está em um dos trapézios e se prepara para passar para o próximo.

Fausto vai narrando.

— Parece que a nossa trapezista está pensando em fazer algo novo, será que ela vai conseguir fazer isso meu público?

Todos: SIM!!!!

— Então vai que é tua Victoria!

Victoria pega impulso para trás no trapézio e na hora de voltar ela se solta do mesmo dando uma pirueta e em seguida segura suas mãos firmemente no outro trapézio. Fausto vibra dizendo:

— E ela conseguiu!

A plateia vai ao delírio.

— Aplausos e mais aplausos para esta artista sensacional!

Miguel um pouco afastado de André e Luíza aplaudia e assobiava.

— É isso aí meu amor!

André e Luíza observam Victoria na arena com bastante admiração. André aplaudindo bate o cotovelo em Luíza e pergunta:

— A namorada do Miguel é linda né?

— Não é pra tanto, eu em vista dela sou uma diva!

— Dando uma de invejosa agora é?

— Ah menos ow delicadinho!

— Delicado igual coice de mula, aprendi com você.

André sai correndo e sorrindo, Luiza vai atrás dele.

— André, seu moleque! Volta aqui! Como se atreve a me chamar de invejosa?

Enquanto Luíza e André correm para dentro do camarim, Miguel aguardava a descida de sua amada, alguns minutos depois ela já havia descido do trapézio e vai de encontro a Miguel.

— Você ficou aí o tempo todo? (Dando um beijo de leve na boca dele)

— Quase o tempo todo, tive que apartar a briga do André e da Luíza.

— De novo? Escuta o que eu estou dizendo, esses dois vão acabar se casando.

— Disso eu não tenho dúvidas, afinal os opostos se atraem não é?

— Nós não somos tão opostos assim, Miguel.

— Quem disse que precisamos ser igual a todo mundo?

— (Sorrindo) Verdade.

Enquanto conversavam, o Sr. Fausto está anunciando a apresentação de Karina, uma belíssima acrobata de cabelos pretos e cacheados, tem 32 anos e é uma das artistas que tem mais tempo de casa no Circo MAXIMUS. Ela está se preparando para um número no tecido acrobático, ela está pendurada em uma parte do tecido roxo. Fausto anunciava:

— Nossa veterana Karina mais uma vez mostrando todo o seu charme e o seu talento.

A plateia aplaudia, pois Karina era sem dúvidas a artista mais renomada do circo, está ali desde seus 20 anos… Em um ato arriscado, ela se enrola no tecido acrobático lá no alto perto do topo e depois vai se desenrolando até chegar próxima ao chão, a plateia fica assustada, mas rapidamente ela se segura nas pontas e pousa metros do chão se segurando no tecido com uma das mãos e fazendo a posição da garça. Fausto vibra para a plateia:

— Esta mulher é um verdadeiro espetáculo! Aplausos, por favor!

A plateia aplaude a atuação da acrobata, Miguel e Victoria estão próximos à arquibancada e aplaudiam completamente perplexos.

— Uau!

— Olha, não é por nada não. Mas a Karina é muito maravilhosa! Você viu isso que ela fez, Miguel?

— Amor, você também é maravilhosa.

— Quem me dera eu ter metade do talento dela, ela é perfeita!

Algumas horas se passaram e o espetáculo já havia acabado, as pessoas já estavam todas indo embora e os artistas do circo ainda estavam ali, então o Sr. Fausto chama Miguel num canto para dar-lhe uma notícia.

— Miguel, meu filho!

— Diga Seu Fausto.

— Tivemos olheiros internacionais nas nossas últimas apresentações, e vamos levar o nosso espetáculo em uma turnê na Califórnia. Querem você como uma das principais atrações.

— Ah meu Deus! Sério? Mas… Se eu for pra lá eu tenho que levar a Victoria.

— Claro, a Victoria precisa ir, ela é cotada para uma das favoritas também.

— Isso é muito legal! Mas… O senhor falou de mim e da Victoria, mas… E a Karina?

Enquanto conversavam, alguém os observava por detrás de umas cortinas, não mostrava quem era a figura, apenas a sua visão limitada para Fausto e Miguel.

— A Karina? Você… Não ficou sabendo?

— Não, o que aconteceu?

— Eu prefiro que ela mesma conte, não vamos estragar esse momento.

Ouve-se uma voz feminina chamando pelo Seu Fausto.

— Fausto, vem aqui fofo!

— Essa não!

— Quando a Madame Gardênia chama, é melhor se apressar, Seu Fausto.

— Deixe-me ver o que essa mulher quer.

Fausto entra pra dentro do camarim e Miguel ficou sozinho por uns segundos até que Victoria chega abraçando-o.

— O que o meu artista está pensando?

— Amor, o Seu Fausto disse que o nosso Circo vai se apresentar na Califórnia, já pensou?

— Meu Deus! Sério?

— Sim, e ele quer que nós dois sejamos as atrações principais.

— (emocionada) Ah meu Deus, não acredito!

Miguel abraça Victoria e a levanta do chão, ambos sorriam, enquanto alguém continuava a observá-los por detrás de uma das cortinas. A respiração de quem seja essa pessoa estava ofegante e parecia enfurecida diante do que via. Os dois continuavam se abraçando e comemorando, e neste momento Luíza chega.

— Desculpa interromper os pombinhos, mas eu acho que você vai ter que levar o André pra casa, Miguel.

— Mas por quê?

— Ele dormiu na minha poltrona favorita você acredita?

Miguel e Victoria começam a sorrir. Luíza resmunga.

— Absurdo! Nem o Henrique que tem 12 anos de idade não é tão imaturo, ele tá lá jogado na minha poltrona, pode tirar ele de lá, Miguel, por favor?

— Tá bom Luíza, daqui a pouco eu vou lá.

— Que bom, eu estou saindo fora, beijos!

Luíza se retira e Miguel e Victoria continuam sozinhos, eles estavam de costas e alguém se aproximava deles a passos lentos, até que os passos começam a acelerar na medida que se aproximava do casal, Victoria notou que alguém estava chegando perto e quando olha para trás percebe que se tratava de Karina.

— Miguel? Victoria?

Victoria aliviada responde:

— Nossa Karina! Você me deu um tremendo susto!

Miguel questiona:

— Karina? Você aqui a essa hora? Pensei que já tinha ido embora.

— Eu já ia, mas tinha algumas pendências a tratar.

Victoria: Olha, você estava divina na apresentação hoje!

Karina: Creio que não tanto quanto você.

Victoria: Claro que não, você está aqui há mais de 10 anos, eu acabei de chegar praticamente.

Miguel: Sim, eu também não me vejo mais merecedor do que você, Karina.

Karina: Bom, vamos deixar os elogios pra depois. Eu queria comunicar a vocês uma coisa.

Victoria: O quê?

Karina: Eu fui convocada para trabalhar num Circo na Argentina, e estarei indo embora amanhã no final da tarde, e eu não sei se já falei pra vocês, mas tenho parentes em Buenos Aires.

Miguel: Uau! É sério?

Karina: Sim, já me acertei com o Seu Fausto a respeito.

Victoria: Eu… Eu não sei o que dizer, eu sempre tive você como minha referência. Vou sentir a tua falta.

Karina: Também sentirei de vocês. Bom, eu preciso ir agora, já é tarde, algum de vocês quer carona até em casa?

Miguel: Não, tá tudo bem, a gente se vira.

Karina: Sendo assim, boa noite aos dois!

Ambos respondem:

— Boa noite!

Karina se retira. Victoria perplexa conversa com Miguel:

— Nossa que chato, Miguel! Eu já estava começando a fazer amizade com ela e agora ela vai embora.

— Assim é a vida meu amor, afinal ela é uma mulher talentosa demais pra se limitar apenas a isso aqui. Agora precisamos ir embora, já está tarde.

— Vamos!

Cerca de meia hora depois, Miguel chega em sua casa e lá está a sua mãe Susana lavando a louça. Ela tem 42 anos, mas sua aparência é bem jovem, tem cabelos pretos, cacheados, corpo modelado e se cuidava muito bem. Miguel chega à cozinha e a cumprimenta com um beijo no rosto.

— Como está a mãe mais linda do mundo?

— Miguel, você chegou tarde hein filho? Eu já jantei, fiquei tanto tempo te esperando.

— Foi uma longa história, mãe! Depois do espetáculo, eu tive que levar o André até em casa, você acredita que ele dormiu depois de horas correndo da Luíza que estava querendo matar ele?

— Ás vezes vocês me assustam.

— Você precisava ver a cena! Pareciam aqueles personagens de desenho animado.

— Espera aí, se você foi deixar o André em casa, então quem veio te deixar?

— Uber.

— Uber?

— Claro, mãe! Ou você acha que alguém daria carona pra alguém com o rosto pintado depois das 10 horas da noite? Nem eu daria.

— Já falei que é só você me ligar que eu vou te buscar de carro. Temos que aproveitar a herança que teu pai nos deixou.

— Verdade. Bom, eu vou tomar banho e vou dormir. Te amo!

— Também te amo meu filho, durma com Deus.

Na casa de Victoria, esta cumprimenta seus pais.

— (Em tom de brincadeira) Olha só os traidores, disseram que iriam hoje e nem foram não é?

Quem responde é a sua mãe Joana, mulher de 50 anos com aparência robusta e cabelos curtos e castanhos claros.

—Você sabe que eu não sou muito fã de circo, filha. Só de pensar que eu vou lá e encontrar palhaços, eu já me arrepio toda.

— Você está ouvindo isso, papai? A minha mãe tem uma filha que é circense e ela não gosta de circo, pode uma coisa dessas?

O pai de Victoria se chama Augusto, um senhor de 55 anos, é alto, robusto e de cabelos um pouco grisalhos.

— A tua mãe não sabe o que é apreciar o talento de sua filha única.

— Vocês vão começar com o complô contra mim? Eu só disse que não gosto muito de ir ao circo, não disse que não apoio a minha filha.

— A gente sabe disso, mãe. Mas na minha apresentação solo de amanhã á noite vocês vão né?

Augusto a responde:

— É claro que iremos, filha! Bom, eu vou terminar de ler o meu jornal e vou deitar.

Augusto se levanta do sofá e sobe às escadas em direção ao quarto. Joana estala os dedos e diz:

— Eu preciso passar as roupas do teu pai.

— Vai passar roupa a essa hora?

— “Não deixe pra amanhã o que pode fazer agora”. E é melhor você ir se ajeitar pra dormir também porque amanhã será um novo dia, garotinha.

Joana aperta o nariz de Victoria e vai para as escadas, quando esta primeira está subindo, a campainha toca.

— Victoria, você pode atender? Deve ser o vizinho que deixou a bola cair no quintal de novo.

— Pode deixar, mãe.

Victoria se dirige até a porta para atender e quando abre, não tinha ninguém ali.

— Pois n…? Ué?

Ela sai na porta e olha para o lado e para o outro e não viu ninguém.

— Que estranho!

Ao olhar no chão, há uma carta na calçadinha, ela se agacha para apanhá-la e parecia que alguém a estava observando atrás de uma árvore do outro lado da rua. Victoria abre a carta e lá está uma mensagem com letras grandes e avermelhadas:

Tenha um bom espetáculo amanhã!”

Victoria estranha a mensagem na carta que por sinal não tinha remetente. Ela mais uma vez olha para os lados e não avista ninguém, depois ela entra, tranca a porta e vai andando com a carta na mão totalmente intrigada.

— Muito estranho isso.

A mãe de Victoria a chama de cima das escadas.

— Quem era, filha?

— Não era ninguém, mãe, você acredita que deixaram uma carta aqui?

— Uma carta? Como assim?

— Sim, aqui tá escrito: “Tenha um bom espetáculo amanhã!”. Mas não diz quem mandou.

— Ah filha, no mínimo é o teu namorado, talvez ele queira te fazer alguma surpresa.

— Eu não sei… Isso não é muito do feitio do Miguel.

— Olha, tranca bem a porta tá bom? E vá logo pro seu quarto deitar antes que fique muito tarde.

Joana se retira, porém Victoria continuara no andar de baixo bastante intrigada, pois não tinha ideia de quem poderia ter colocado esta carta na porta de sua casa. Ela vai andando até a sala, senta no sofá e fica bastante pensativa.

No dia seguinte, por volta de 2 horas da tarde, Victoria está andando pelo terreno do circo perto de onde ficam os animais, ela bastante sorridente avista Nando, um domador de leões de 25 anos, pele mulata e está quase sempre sem camisa e com uma calça que ele corta as barras para fazer um short . Nando está colocando carne na jaula dos leões.

— Vamos, bom garoto!

— Alimentando os “gatinhos”, Nando?

— Ah, Victoria (encabulado) me desculpe, não tinha visto que você estava chegando.

— Não tem problema, Nando. Eu teria que vir aqui de qualquer maneira.

— Ah! Você veio ensaiar para tua apresentação solo de hoje né?

— Exatamente!

— Torço pra que seja um sucesso como sempre foi. A propósito, você estava muito bonita ontem no espetáculo, quer dizer, eu falo isso com todo o respeito, por favor.

Victoria sorri com ternura. Nando conclui.

— É sério, eu não quero ter problema com o Miguel que é um cara sensacional.

— Tá tudo bem Nando, você não fez nada de errado, eu sei que você é uma ótima pessoa também.

— Bom, sendo assim eu fico aliviado. Se me permite, vou dar água para os elefantes.

— Fique à vontade.

Nando se retira deixando Victoria sozinha, em seguida Karina aparece.

— Victoria!

— Karina? O que faz aqui ainda? Pensei que você iria viajar hoje à tarde.

— Sim, eu iria, mas eu ainda precisava resolver algumas coisas com o Seu Fausto, então consegui que me encaixassem no itinerário da noite, viajo às 20h.

— Entendi.

— Então… Hoje é a tua grande apresentação solo né?

— Sim, é hoje, por isso que eu vim aqui agora ensaiar, estou muito nervosa.

— Não se preocupe, você é muito talentosa, pode acreditar em mim.

— Você acha?

— Sim, eu tenho certeza. Victoria, você é muito linda! E tem um futuro brilhante pela frente! Ah! Quero te presentear com uma coisa.

Karina retira um pingente com a moldura de uma águia do pescoço e entrega nas mãos de Victoria.

— Tome, quero que fique com isso. Eu ganhei da minha professora de acrobacia, ela me entregou e me deixou claro que no dia que eu encontrasse alguém que merecesse esse pingente, era pra eu entregar pra essa pessoa. Bom, agora eu estou entregando a você.

— Eu… Eu nem sei o que dizer.

— Não precisa dizer nada, quero que use este pingente hoje á noite na apresentação, vai te dar sorte.

— Obrigada!

Victoria abraça Karina emocionada, esta retribui o abraço.

— Então… É um adeus não é?

— Por favor, Victoria! Você fala assim como se nunca mais fosse me ver. Claro que não é um “adeus”, é apenas um “até logo”, na temporada de férias estarei retornando aqui ao Brasil pra visitar vocês, então não se preocupe.

— Fico feliz então.

— Bom, eu preciso ir pra casa terminar de arrumar tudo e você precisa ensaiar , ah! E não sei se você se importa, eu peguei o teu whatsapp com o Sr. Fausto pra te mandar mensagem quando eu estiver saindo.

— Por mim está tudo bem, será muito bom manter contato contigo.

— Então… Até a próxima, Victoria!

— Até mais, Karina!

Karina se retira e Victoria fica com um sorriso estridente no rosto enquanto olha para o pingente que ganhara,  ela guarda o mesmo dentro de sua bolsa. Em seguida ela vai se dirigindo até o camarim, e lá estavam Miguel e André brincando como duas crianças.

Miguel: Por que você não repartiu o lanche comigo hein?

André: Amigos, amigos, lanches a parte.

Miguel: Ah é? Eu vou te encher de porradas, moleque!

Victoria entra no camarim.

— Que brincadeira é essa aqui hein? Se eu não soubesse que o Miguel é meu namorado, diria que vocês dois estão tendo um caso.

André: Cuidado que eu vou acabar roubando teu namorado, Vi.

Victoria: Estou percebendo isso.

Miguel: Ah qual é, amor? Eu sempre tiro todo o tempo do mundo pra você, mas agora eu sou apenas do André.

Victoria: Me trocando pelo amigo? Os valores estão se invertendo mesmo.

Miguel: É brincadeira, amor.

Victoria: Eu sei seus bobos, eu vou indo lá pra arena ensaiar meu número, vou deixar os dois bonitinhos em paz.

André: Ela ficou com ciúmes!

Victoria: Bobo!

Victoria se retira do camarim rindo muito e deixando Miguel e André sozinhos, este primeiro tira algo do bolso e mostra ao amigo.

— André, olha isso.

É uma caixinha com um par de alianças douradas.

— Ah meu Deus! Não me diga que…

— …Sim, vou pedir ela em casamento hoje depois do espetáculo.

— Caramba mano, estou até emocionado!

Enquanto conversavam, em outra parte do interior do camarim, Nando está ouvindo a conversa e ele suspira enquanto ouvia as gargalhadas dos dois rapazes falando sobre casamento. Ele pareceu se sentir incomodado com o assunto e se retira do local sem ser percebido.

15 minutos depois, Victoria está lá em cima treinando sua performance, Miguel entra na arena e fica a observando. Ele olha pra cima e bate palmas pra ela.

— Miguel, sai daqui! Você vai me deixar mais nervosa ainda.

— Claro que não, é minha namorada linda que está ensaiando e quero vê-la fazendo o melhor.

Miguel observa Victoria e ela faz um verdadeiro espetáculo acrobático em meio aqueles trapézios, os olhos de Miguel brilhavam e ela fica cada vez mais segura do que está fazendo. Após alguns minutos ela desce à arena e vai de encontro a ele.

— Como eu fui, amor?

— Se você se apresentar assim à noite, estará divina!

— Você acha mesmo?

— Tenho certeza!

Miguel beija Victoria e neste momento corria até a arena, Henrique, garoto de 12 anos com cabelos castanhos e lisos e é um dos humoristas do circo.

— Victoria! Miguel!

Henrique veio correndo com um sorriso no rosto e Miguel o abraça e o coloca nas costas.

Miguel: Chegou o nosso guerreiro Henrique!

Victoria: Por que você tá correndo tanto hein?

André aparece e diz:

— Está correndo de mim.

— Essa não!

André vem em direção à arena onde os demais estão.

— Ele perdeu uma aposta e agora vai ter que me pagar um sorvete, venha aqui, garoto!

— Me põe no chão, Miguel, ele vai me pegar.

Miguel coloca Henrique no chão e este último sai correndo, André vai correndo atrás dele até saírem do circo.

— Henrique, volta aqui! Ah você está devendo o meu sorvete!

Victoria rindo indaga:

— Crianças!

— Sim, e por falar nisso meu amor, o que acha de sairmos pra dar uma volta? A gente poderia ir lá na praça mesmo.

— Mas Miguel, a minha apresentação é hoje.

— Por favor, Victoria, a apresentação começa às 20h, eu só quero passar mais tempo com você antes do show.

— Tá bom, tá bom. Vamos!

— Yes!

Victoria e Miguel se retiram do circo e passando-se alguns minutos ele parecia estar deserto. Ao menos era o que parecia…

Uma figura aparece na arena e sobe pelas escadas que levam até o trampolim onde fica o trapézio, não mostrava seu rosto e nem suas características físicas, quando chega lá em cima, pega um dos trapézios com um gancho pra trazê-lo até ela. Já com um dos trapézios em mãos, a pessoa misteriosa faz um pequeno corte com uma faca de cabo preto em uma das cordas que amarravam a barra de ferro, e após isso ela amarrou um pequeno laço rosa na corda antes de devolvê-lo para o mesmo lugar. As intenções dessa pessoa não eram nada boas — e por que ela colocaria um laço rosa no trapézio além de ter cortado levemente uma das cordas?

Praça Pública, 15h20.

Victoria e Miguel estão em uma mesa na praça tomando milk-shake.

— Viu como foi bom você vir até aqui? Tomar um milk- shake com seu namorado antes do show à noite, pra quê coisa melhor?

Victoria sorri.

— Você não existe mesmo. Escuta Miguel…

— Sim?

— Eu preciso te mostrar uma coisa.

Victoria abre sua bolsa e retira a carta que havia recebido na noite anterior.

— Ontem eu recebi essa carta aqui e não tem remetente e nem nada, dê uma olhada.

— Hum… Pelo jeito a pessoa que escreveu é até criativa.

— Você não acha isso o tanto assustador?

— Claro que não, no mínimo é algum fã seu que quer te dar os parabéns e sabe que não poderia fazer isso pessoalmente porque eu sou um namorado muito ciumento.

— Ah para Miguel! O que mais me assusta é que deixaram esta carta ontem era mais de 10 horas da noite, minha mãe até pensou que pudesse sido você.

— Não mesmo, eu jamais faria algo assim.

— Foi exatamente isso que eu pensei.

— Meu amor, esquece isso. Você está bem, eu estou aqui, nós estamos bem… E não é uma carta idiota que vai mudar isso.

— Bom, nisso você tem razão, acho que estou sendo paranoia demais. Ah! A Karina também me deu esse pingente (retirando da bolsa), ela disse pra eu usar na hora da apresentação pra me dar sorte.

— Olha, se a Karina disse isso, vai por mim, é melhor usar.

— Farei isso.

Victoria guarda o pingente e a carta na bolsa novamente e Miguel fica observando ela sem piscar.

— O que foi?

— É que… É que eu ainda não reparei o quanto você é linda!

— Deixa de ser bobo, Miguel!

— Eu te amo muito, Victoria!

— Eu também te amo.

Ambos se beijam apaixonadamente.

Chega a Grande Noite da Apresentação, muita música e celebração, o público está bastante animado, na plateia está Susana de um lado e do outro lado estão os pais de Victoria, todos ali prestigiando aquele momento. E quem está no palco é André juntamente com o garoto Henrique fazendo um número envolvendo uma foca que equilibrava uma bola, ambos faziam palhaçadas, André tentava equilibrar pratos e chegava Henrique tropeçando no braço dele fazendo-o derrubar tudo no chão, a plateia sorria sem parar, na arquibancada algumas moças comentavam.

— Esse André é um fofo não é?

— Um bebê!

Os dois encerram o número e agradecem a plateia que seguia aplaudindo enquanto o Sr. Fausto interagia com o público.

— E essa foi mais uma apresentação formidável desses nossos humoristas e nossa foca equilibrista!

Dentro do camarim notava-se Victoria um pouco nervosa.

— Madame Gardenia, como eu estou?

Gardenia é uma mulher de 40 anos e é assistente de mágica, quase sempre usava roupas pretas extravagantes e possui cabelos bem pretos e vivia com um batom roxo bem escuro.

— Querida, pare de se menosprezar. Por favor!

— É que…

—… É que nada, vai se preparar logo!

Neste momento chega Edgar, um dos mágicos do circo, ele é alto e tem cabelos pretos e um bigode grande e fino.

— O que está acontecendo aqui?

— A menina Victoria está nervosa.

— Oh pobrezinha , espere um pouco.

Ele pega a sua cartola e tira um coelho de dentro.

— Tome, pegue o “Geraldo”, ele vai te dar sorte.

Victoria sem jeito diz:

— Não, é que…

—… Madame Gardenia, vamos apresentar nossos truques. Me acompanha (estendendo a mão)?

— Que cavalheiro! Agora mesmo meu amor.

Gardenia e Edgar vão para o palco, e neste momento André e Henrique chegam ao camarim.

André: Ei Victoria, você já é a próxima! Será depois do Show de Mágica do Edgar.

Victoria: Ai meu Deus, estou muito nervosa!

Henrique: O que o Geraldo está fazendo contigo?

Victoria: Ai é verdade, pegue ele Henrique, nem sei por que peguei esse coelho.

Miguel entra no camarim.

Miguel: Meu amor, os outros trapezistas estão te chamando pra ir lá pro outro lado se preparar.

Victoria: Tudo bem, eu… Acho que chegou a hora.

Miguel: Ei, por que você tá tão nervosa?

Victoria: Eu não sei Miguel, normalmente eu não fico tão nervosa antes de uma apresentação como eu estou hoje.

Miguel: Você precisa relaxar tá bom? Vai dar tudo certo, eu estarei te assistindo junto com os outros e te dando energias positivas. Não é, garotos?

André: Com certeza!

Henrique: Pode crê que sim!

Victoria: Obrigada, eu amo muito vocês!

Miguel: Agora vá se preparar!

Victoria: Estou indo.

Alguns minutos se passaram, a arena já está livre, Victoria já está no trampolim e Fausto anuncia a apresentação.

— E com vocês a nossa estrela Victoria! Ela vai apresentar um novo número e sem nenhuma proteção.

O público aplaudia, Miguel e seus colegas estão de pé no final da arquibancada, Susana também está aplaudindo assim como Joana e Augusto, todos estão muito felizes sem saber que uma tragédia estava prestes a acontecer. Victoria colocou as mãos em um dos trapézios e iniciou seu número “voando” pelas cordas e passando para o outro trapézio, ela se detém por instantes neste último e faz uma pose mandando beijos para o público, obviamente o público retribui com uma rajada de aplausos e assobios, ela vai até o outro lado e se prepara para fazer o mesmo percurso voltando. Ela percebe que o trapézio daquele lado estava com um laço cor de rosa, o que chamou a atenção dela, porém ignorou o objeto e optou por pegar no trapézio mesmo assim.

Chega o momento, ela segura no trapézio e faz o primeiro balanço com ele. Todos observam de lá de baixo, ela opta por balançar no trapézio mais uma vez para trás pra pegar impulso suficiente para saltar para o próximo, mas quando ela vem para trás até o limite, a corda que amarrava a barra de ferro desata e naquele momento Victoria não conseguiu se agarrar em mais nada e observa o topo da tenda do circo se distanciando cada vez mais. À medida que ia caindo, os olhares do público paralisaram, os aplausos cessaram quase que imediatamente, até que por fim ela caiu no meio da arena provocando um grande impacto em todos os presentes. Na arquibancada, Susana se levanta completamente desconcertada e da mesma maneira Joana e Augusto se levantam e arregalam os olhos, Miguel está abaixo da arquibancada e em questão de segundos os seus olhos se encheram de lágrimas.

— VICTORIA!

Miguel corre desesperado até a arena. André, Henrique, Luíza e os demais também se aproximam. O Seu Fausto não sabia mais o que dizer no microfone ao seu público, pois estava em choque. Miguel encosta a cabeça de Victoria em seus braços.

— Victoria, não me deixa, por favor!

Com sangramento na boca e dificuldade pra falar Victoria responde:

—Mi… Miguel, me perdoa! Me… Perdoa!

— Não meu amor, tá tudo bem, você vai ficar bem.

Os pais de Victoria juntamente com Susana chegam perto da arena, esta última pergunta:

— Miguel! Me diz que ela está bem, ela está?

— Ela vai ficar bem não é meu amor?

— (Chorando) Me desculpe… Eu vou te amar… Pelo resto da minha vida.

Victoria torce três vezes e depois dá um último suspiro, uma lágrima escorre de seus olhos e ela morre nos braços de Miguel.

— Victoria? Não, não Victoria! Acorda! Acorda, por favor!

Joana cai em desespero.

— NÃO! Minha filha! Minha filha!

Todos os que estão ao redor levam as mãos até a cabeça e seus olhos lacrimejam, o público ficou petrificado, Miguel está relutante e tenta fazer de tudo para reanima-la, mas já era tarde demais.

— Não pode ser, Victoria, não me deixe! Não me deixe! NÃAAAO!

A alma de Miguel gritava naquele momento, mal sabia ele que a morte de sua amada era apenas o início de seu pesadelo.

 

 

 

 

PRÓXIMO CAPÍTULO:

SEXTA, 15 DE MARÇO.

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