O Cárcere
Edgar acaba de receber uma “visita”.
— Eu sabia que cedo ou tarde você voltaria. Então… Qual será o jogo dessa vez?
A figura que está com a carta de baralho nas mãos se revela e trata-se de Israel, o pai de Henrique.
— Jogo, um caralho!
— Nossa! Pra quê tanto mal humor a essa hora da manhã?
— Não me venha com rodeios, eu estava indo para o trabalho e soube do meu filho. Ele está aqui, não é? Onde tá o Henrique?
— Tá ficando louco? Teu filho bebezão não tá aqui não, o que ele iria fazer aqui no circo uma hora dessas? Você e a louca da tua esposa jamais deixariam ele vir aqui antes das 7 da manhã.
Israel puxa Edgar pela gola da camisa.
— Escuta aqui, seu mágico de meia tigela! Não se atreva a falar da minha família desse jeito, tá ouvindo?
— Ponha-se no teu lugar, Israel. Lembre-se que o único que tem moral pra falar alguma coisa é o papai Edgar aqui, então você pode ir começando a remover essas tuas mãos imundas de mim antes que eu solte aos quatro ventos o que você e sua querida e amada esposa fizeram.
Israel franze a testa, Edgar prossegue.
— Você acha que eu não sou capaz de abrir a boca? Muitas coisas estão acontecendo neste circo, Israel. Temos uma garota assassinada, intervenção da polícia… Quer acabar sendo envolvido nesse escândalo também? Você que escolhe.
— Seu maldito! Eu poderia…
O celular de Israel toca. Ele atende e se trata de Tatiana.
— Alô?
— Israel, sou eu, você precisa sair do teu trabalho agora mesmo e vir à delegacia, parece que encontraram nosso filho e vão trazê-lo pra cá.
— O quê? É sério? Graças a Deus, quando vi tua ligação mais cedo fiquei desesperado, mas graças a Deus o encontraram. Eu estou indo pra aí, até mais!
Israel desliga o telefone e Edgar o observa com deboche.
— Vai lá, garotão. Mostra o pai e marido super presente que você é.
Israel apenas olha para Edgar desafiante e depois se retira.
Em seguida, Fausto chega e se surpreende ao ver Edgar ali.
— Edgar? O que faz aqui uma hora dessas?
— Seu Fausto! Achei por bem vim pra cá te fazer companhia, sei que toda essa história da morte da Victoria e do processo que o Circo MAXIMUS está respondendo, não deve está sendo nada fácil para o senhor.
— Sim, eu confesso que realmente não está.
— Bom, mas sente-se, vamos fazer um pequeno show de mágica, assim você vai conseguir se alegrar um pouco.
Cerca de duas horas se passaram, a polícia já havia levado Susana e Henrique em uma viatura, esta primeira está recebendo cuidados médicos na porta da delegacia enquanto Eduardo a interroga.
— … Então você nunca viu esse homem na tua vida antes?
— Não, eu já disse que nunca vi uma pessoa assim antes.
Um dos policiais se aproxima.
— Dr. Eduardo! Descobriram quem era o cara. (Mostra uma foto) Ele era um velho louco que sofria de problemas mentais, parece que a família o abandonou e ele ficou sozinho morando naquela cabana.
— Ele foi um velhote bem problemático então.
Henrique se aproxima de Susana.
— Dona Susana, a senhora está bem?
— Estou sim, querido. Estou bem melhor agora ao ver que você está bem.
— A senhora desmaiou quando, bom, quando…
— … Não tem necessidade de lembrar-se disso agora. Vai ficar tudo bem.
Um tumulto se inicia próximo dali, quando Susana e Henrique viram de costas, puderam avistar Tatiana acompanhada de Israel. Ela chega ali furiosa.
— Henrique! Henrique! Graças a Deus, meu filho! O que você estava fazendo com essa vagabunda?
— Calma, mãe, ela não me fez nada.
— Diz pra mim! Ela te machucou não é? Tá na cara que essa inútil te machucou.
Israel a repreende.
— Chega, Tatiana!
— Não se meta, Israel! E você fica longe do meu filho, sua imunda!
Susana friamente acerta uma bofetada em Tatiana, esta arregala os olhos impactada.
— Escuta aqui, sua ridícula! Eu era que estava cuidando do teu filho enquanto quase fomos mortos por um velho lunático numa floresta louca. Eu salvei ele de morrer afogado e você vem aqui me ofender? Que tipo de mãe é você? O meu filho está preso enquanto eu estava cuidando do teu filho, uma coisa que por sinal você não faz.
— Eu sempre cuidei do…
— … Não me interrompa, garota! Não terminei de falar! Acho que foi por isso que o Henrique fugiu de casa na noite passada, até eu fugiria ao ver os pais fracassados que vocês dois são.
Israel: Espera, como assim? O Henrique não faria isso.
Henrique: Mas eu fugi mesmo, pai! Vocês dois só vivem brigando! Nunca estão quando eu preciso, por isso eu amo estar no circo, lá eles me amam de verdade. E a dona Susana foi muito mais minha mãe do que a senhora.
Tatiana: Como se atreve, Henrique?
Susana: É melhor você ir pra casa, Tatiana. Esse teu mal humor deve ser falta de taca, o que houve? O Israel não tá te correspondendo como se deve?
Tatiana: Desgraçada!
Israel: Calma, Tati! Não liga pra ela.
Tatiana: Se encostar no meu filho de novo, vai se arrepender.
Susana: Você sabe o que é ser mãe “Tatizinha”? Porque tá na cara que não sabe.
Tatiana encara Susana uma última vez e decide se retirar.
— Vamos pra casa, Henrique!
— Mas mãe…
— … Eu disse: Vamos pra casa! Eu estou mandando!
Tatiana, Henrique e Israel saem dali, Eduardo questiona Susana:
— Você tem vizinhos muito “simpáticos”, né?
— Eles não são meus vizinhos e jamais queria que fosse.
Enquanto conversa, Alexandra chega ali e avista Susana.
— Susana, amiga! Graças a Deus!
— Alexandra!
Ambas se abraçam emocionadas. Alexandra questiona:
— Você tá bem? Eu fiquei tão preocupada, pensei que ia perder minha melhor amiga.
— Tá tudo bem, obrigada por se preocupar.
Susana estranha que Alexandra está com óculos escuros grandes, sendo que a mesma não gosta de usar.
— Por que você tá usando óculos? Você odeia.
— (Disfarçando) Ah! Sabe como é né amiga? Tem feito muito sol ultimamente pela manhã, é melhor a gente se proteger.
— É sim. Você tem razão.
Enquanto as mulheres conversam, Eduardo recebe uma ligação.
— Sim? Claro, claro… O quê? Mas tão rápido? Droga, isso não vai ficar nada legal. Tudo bem, pode deixar. Até mais!
Eduardo desliga o telefone e se aproxima de Susana novamente.
— Tenho péssimas notícias, dona Susana.
— O que aconteceu, detetive?
— Acabaram de me ligar dizendo que o Miguel será transferido hoje para a Penitenciária de Curitiba para aguardar julgamento.
— Ah meu Deus! Insistem nessa ideia louca que meu filho matou a Victoria?
— Escuta, além de detetive, eu também sou advogado e eu me ofereci para cuidar do caso do Miguel. Eu tenho quase certeza que ele é inocente, mas infelizmente eu não posso impedir que a justiça o leve para lá… Teremos que aguardar.
Alexandra lamenta.
— Pobre Miguel, essa não é a vida que ele sonhou.
Passaram-se algumas horas e lá está Miguel algemado e sendo levado pelos policiais até um camburão juntamente com outros presos, Eduardo chega por ali e pede ao motorista para ele ir acompanhando o trajeto. A permissão foi concedida, enquanto o camburão ia na frente, Eduardo vinha atrás com sua viatura.
Dentro do camburão, Miguel está bastante aflito, ele não está se importando com os outros presos que estão ali do lado, porém todos possuem o mesmo medo no olhar, pois eles estão indo para o verdadeiro inferno.
Passou-se algum tempo e o camburão chega à penitenciária e os guardas pedem para que os novos presidiários entrem em fileira pela entrada principal. Em seguida eles já estão na parte de dentro da delegacia andando em fileira pelos corredores e já começam a ouvir piadas dos presos veteranos.
— Opa, qual dessas gracinhas eu vou pegar primeiro?
Miguel apesar de aflito, não demonstra medo dos presos. Ao menos era o que parecia.
Na vistoria, Miguel precisou passar pela humilhação de ficar nu em frente ao policial enquanto o mesmo guarda todos os seus pertences e o revista para ver se não transportava alguma droga pelo corpo. Miguel tapa os órgãos genitais e olha para o lado até que o guarda o encara e diz:
— Eu preciso que tire a mão daí, preciso revistar por completo.
Miguel acaba concedendo que o guarda revistasse seus órgãos sexuais, vimos apenas a expressão de aflição de Miguel, não é um momento nada agradável para um homem de bem como ele.
— Ok, cidadão, pegue a sua roupa e vista-se! Tem 5 minutos.
Miguel rapidamente se veste e o guarda o acompanha até a cela onde ele ficará.
— Essa aqui é a tua cela. Vai fazer companhia pro Billy.
Miguel entra na cela e a observa enquanto o guarda tranca as grades. Miguel se aproxima das camas e percebe que um dos presos está deitado no beliche de cima virado para a parede. Miguel vai sentando-se lentamente na cama de baixo até que o preso questiona:
— Roubo ou estupro?
— Quê? É claro que não! Não foi nada disso.
— Se for roubo, o mínimo que pode acontecer é você sair para o pátio e não encontrar nada nas tuas coisas quando voltar, agora se for estupro, meu amigo, você tá enrolado.
— Eu não estuprei ninguém!
O preso se vira na cama e olha para Miguel.
— Então o que você está fazendo aqui, mauricinho?
— Eu estou aqui por engano, sou inocente!
— Hahahahaha inocente? Corta essa, cara! Em pleno século 21 você vem pra cadeia e me fala que é inocente? Pelo amor né?
— Mas eu sou, quer acredite ou não.
O preso desce do beliche.
— Então por qual motivo está aqui, hein?
— Me indiciaram pela morte da minha namorada, só que eu…
— …Uhhh, crime passional! Interessante! Igual nos filmes.
— Eu não matei a minha namorada, eu a amava! Estou aqui enquanto o verdadeiro assassino está à solta.
— Quer que eu acredite em você?
— Não me interessa se você acredita, essa é a minha verdade.
— Interessante você. Meu nome é Billy, prazer em conhecê-lo!
Miguel hesita em pegar na mão de Billy.
— Ah qual é cara? Eu não mordo.
— Ok, prazer em conhecê-lo, me chamo Miguel.
— Ora, ora, Miguel. Fica esperto por aqui, cara. Agora você está numa prisão e não na Disneylândia.
— É, deu pra notar.
— Daqui a pouco vão liberar a gente pra ir ao pátio, eu vou te mostrar alguns caras que você precisa ficar ligado, confia em mim que vai dar tudo certo.
— Como eu posso confiar em você? Já que está aqui é porque você também não é santo, me diz: Por que você está aqui?
— Temos um Sherlock Holmes aqui! Elementar, meu caro Miguel… Mas não é da tua conta.
— Quer que eu confie em você e não me fala nada sobre si mesmo?
— Eu disse que era pra você confiar em mim em relação aos outros, não que eu deva satisfações da minha vida a você. Lembre-se que agora a tua vida é aqui, esqueça lá fora, garoto! Acabou pra você!
— Aí é que você se engana, eu vou sair daqui! Eu preciso sair e descobrir quem foi o assassino que matou a minha mulher.
— Você é bem iludido, né?
Enquanto conversam alguns presos passam por perto da cela, são os primeiros que estão sendo liberados para irem ao pátio.
— E aí, Billy! Putinha nova?
— Cai fora daqui, Celso! Você e essa tua corja de libélulas.
— Qual é, Billy? Vai me dizer que não vai querer repartir com os manos um rabão desse tamanho?
Miguel cerra os punhos e se aproxima da grade.
— Escuta aqui…
Billy se coloca na frente.
— Opa, opa, calma, calma! Não precisamos nos estressar.
— Já vi que tua nova putinha ficou irritada, Billy.
— Olha Celso, se eu fosse você tomaria cuidado. Sabe por que ele está aqui? Por assassinato! Exatamente isso, assassinato! Então toma cuidado pra não ficar transitando por aí sozinho, nunca se sabe quando um assassino a mais aparece por aqui, não é mesmo?
Celso fica intimidado e sai dali com os outros presos.
— É bom mermo, quero papo contigo não.
— Você não precisava fazer isso, eu sei me defender sozinho.
— É, dá pra notar, ferrando todo o sistema né? Mas relaxa, o Celso é só um viadão enrustido, o máximo que ele queria fazer era te dar.
— Dá pra parar de falar essas coisas! Isso é nojento!
— Uuuui, ele ficou todo nervosinho. Escuta aqui, garoto! Se quiser sobreviver nessa desgraça, você vai ter que seguir as regras, tá ligado? Tem sorte de ter caído na minha cela e não na de outra pessoa, do contrário a recepção não teria sido nada agradável pra você.
Ouve-se os gritos dos carcereiros e eles estão carregando nos braços um dos presos que havia chegado junto com Miguel, ele parecia ter sangue escorrendo pelas pernas enquanto os guardas o levam dali. Miguel olha a cena assustado enquanto Billy fala ironicamente:
— Olha, vejam só! Mais um dia normal de estupro aqui no presídio, nada que eu não tenha visto antes.
Miguel percebe mais do que nunca o terrível lugar onde foi parar.
Na casa de Henrique, este está sentado no sofá da sala e seus pais estão de pé olhando pra ele pensando em uma forma de conversar. Tatiana inicia.
— Então… Pode me explicar… O que aconteceu?
— Amor, pega leve.
— Eu não estou me dirigindo a você, Israel. Então Henrique? Vai nos contar?
— É claro que eu vou contar. Vocês dois vivem brigando por motivos idiotas, querem brigar por minha causa sendo que não tem necessidade nenhuma disso. Qual é a de vocês? Eu já sou bem grandinho pra saber me cuidar sozinho.
— Você só tem 12 anos ,Henrique!
— E sou muito mais inteligente que você.
— O que você disse, moleque?
— É isso mesmo. Eu ouvi toda a discussão de vocês. O que é que eu não posso saber que tanto vocês falam pelos cantos?
— Escuta, filho, no estresse a tua mãe e eu acabamos falando coisas da boca pra fora.
— Então vocês falam sempre da boca pra fora? Ou acham que é a primeira vez que eu vejo vocês cochichando?
Tatiana insiste.
— Você é uma criança! Não tem ideia dos nossos problemas.
— Eu teria se me contassem. Mas já vi que vocês gostam de esconder tudo de mim, eu não vou ficar escutando vocês. Saiam da minha frente!
Henrique se levanta do sofá e abre passagem pelo meio dos pais.
— Henrique, volta aqui! Henrique!
— Conseguiu o que você queria, Tatiana. O ódio do nosso filho.
Israel deixa Tatiana sozinha e impactada com a reação de Henrique.
Instituto Penitenciário de Curitiba, 14h25.
No pátio da prisão vemos todos os presos por ali, uns conversando, outros trocando “baseado” escondido. Billy caminha com Miguel, este primeiro o apresenta para outros colegas da prisão.
— Aí rapaziada. Esse aqui é o Miguel, nosso novo comparsa.
— Ora, ora, conseguiu esse aí aonde Billy? Na Broadway?
Todos começam a dar gargalhadas. Miguel se incomoda.
— Parem de rir de mim, eu não sou nenhuma piada.
— Calma ae, bonitão! A gente só tá brincando. Acredite, você vai preferir estar com a gente do que com qualquer outra pessoa.
— Eu não acredito em nada do que você fala, pra mim não passa de lorota.
— Aí!
Billy se aproxima do ouvido de Miguel.
— A gente tá pensando em fugir daqui, tá ligado? Estamos com um plano bem doido.
— Tá maluco? Não dá pra escapar de um lugar como esses?
— Shh, fala baixo, malandro! Tem umas pessoas aqui que não podem descobrir sobre esse plano, e eu não estou falando dos policiais.
— Do que você está falando?
— Tá vendo aquele carinha bem atrás de mim? Toma cuidado, não encara muito.
— Estou sim, o que tem?
— Ele é o cara mais barra pesada daqui da quebrada. Não se engane se é apenas pelo tamanho dele ou pelas tatuagens, ele é perigoso. Todo mundo que mexeu com ele acabou morrendo, sem contar os inúmeros caras que ele já estuprou quando chegou aqui, ele não pode descobrir o nosso plano.
— E o que quer que eu faça?
— Faça amizade com ele.
— O quê? Tá ficando louco?
— Esse é o único jeito de executarmos o nosso plano de fuga, vamos fazer com que ele provoque uma rebelião.
— Eu não vou participar disso.
— Você não tem escolha! Se quiser sobreviver aqui vai ter que fazer o que eu mandar. E como garantia levamos você juntamente conosco.
— Eu não quero fugir daqui como se eu fosse um criminoso.
— Ótimo, faz o plano, não deixa ele descobrir que você tá envolvido, a gente escapa e você fica aqui com as donzelas. Agora faz o que eu estou te pedindo.
Billy empurra Miguel para frente do pátio perto de onde o preso que ele mencionou está.
— Aí “Granada”, o novato aqui tem algumas palavras pra você.
— Tá louco?
— Problema é teu, playboy. Se vira.
O preso apelidado por Granada se aproxima. Ele é grande, barbudo, careca e cheio de tatuagens.
— O que tá pegando aqui?
Miguel fica desconcertado, mas consegue se sobressair.
— Eu… Eu achei muito foda essa tatuagem nas tuas mãos.
Granada olha para suas mãos e estranha o interesse de Miguel.
— Por que o interesse na minha tatuagem?
— É um coringa não é? Eu me identifico muito com tatuagens de coringa, pois eu…
—… Aí macho, se você só queria me dar, não custava nada pedir. Não precisa ficar me bajulando, não é a primeira vez que eu vou pegar um mauricinho como você.
— Não, não é isso. É que… O coringa… Bom, eu sou circense.
— Olha aí, meu povo! Temos um cara do circo aqui na cadeia.
Todos começam a gargalhar com deboche. Billy no canto murmura.
— Isso vai dar merda.
—É sério, por isso que de imediato me chamou a atenção a tatuagem.
— O que você sabe fazer, boy? Porque não estou botando muita fé em tu não, se liga?
— Bom, eu preciso de uma demonstração. Alguém tem alguma coisa? Uma bola, ou… Sei lá, coisas do tipo.
— Aí, arrumem pra ele aquelas laranjas que a gente estava chupando ainda agora. Laranja serve?
— Se for três ou mais…
— Quantas temos aí ainda, Biel?
Biel é um dos comparsas de Granada, é magro e tem bigode.
—Temos 5 laranjas aqui, Granada.
— Vai querer 3?
— Não, me passe as 5.
— Você é bem atiradinho, né? Entrega as laranjas pra ele, Biel.
Miguel interrompe.
— Espere!
— O que é?
— Não precisa me entregar, jogue elas no alto pra mim.
— O quê?
— Sim, por favor, eu insisto.
— Se você diz… Faça isso, Biel.
— Pode deixar comigo, chefe.
Biel joga as 5 laranjas no alto e Miguel as observa e rapidamente consegue apanhá-las e faz malabares com elas. Os presos ficam impressionados com a habilidade dele, enquanto faz o “número”, um dos presos tenta “estragar” tudo e lança uma faca pequena em direção a Miguel.
Ele percebe a emboscada e quando o preso lança a faca na direção dele, ele joga as 5 laranjas para o alto, pega a faca e em seguida perfura todas as 5 laranjas com a mesma.
Todos ficam surpresos e até aplaudem. Miguel fica impressionado com ele mesmo.
— Eu nem sabia que conseguia fazer isso. Mas valeu o incentivo. Quem foi que mandou essa faca mesmo?
Quando olhou para os demais presos, quem jogou a faca já havia sumido. No meio da comemoração, um carcereiro chega.
— Parem de fazer zorra, rapazes! Miguel de Paula?
— Sim, sou eu mesmo.
— Você tem visitas.
— Pra mim?
Em seguida vemos Miguel chegando à sala de visitas, e ali estão Eduardo e Susana. Ao ver esta última, Miguel corre para abraçá-la.
— Mãe!
O guarda impede o abraço que ele ia dar em sua mãe.
— Não é permitido nenhuma aproximação, por favor!
— Mas ela é minha mãe!
— Se insistir, terei que puní-lo.
— Miguel, tá tudo bem, filho. O importante é que estamos nos vendo.
Eduardo: Fico feliz que esteja bem, Miguel.
Miguel: O que aconteceu? Me disseram que você estava desaparecida.
Susana: É uma longa história, meu filho. Mas não importa agora… O bom é que agora eu estou com você.
Miguel: Mãe, eu juro que eu não seria capaz de fazer isso com a Victoria.
Susana: Nós sabemos, por isso Eduardo está aqui.
Eduardo: Miguel, eu serei o teu advogado durante esse processo. Não se preocupe, pois eu farei o possível e o impossível pra tirar você daqui, mas você precisa ter paciência.
Miguel: Eu acho que estou paciente até demais, mas tudo bem. E como estão o André e a Luíza?
Susana: Eu ainda não vi eles, mas mandarei um abraço a eles quando os ver.
Eduardo: Miguel, sabe de alguém que poderia ter a Victoria como inimiga?
Miguel: Claro que não, a Victoria nunca fez nada pra ninguém, todo mundo gostava dela. Eu não entendo, não entendo mesmo.
Eduardo: Não se preocupe, vai dar tudo certo. Eu prometo!
Casa de Luíza, 15h30.
Alguém bate na porta da casa de Luíza, esta ao atender percebe que se trata de André.
— André? Tá tudo bem?
O jovem está com uma expressão triste e responde:
— Lú, será que eu posso… Ficar um pouco com você?
— Claro. Entra, amigo.
Luíza permite que André entre e fecha a porta, ele está com os olhos lacrimejando e Luíza o questiona:
— O que foi, André? Por que você tá chorando?
— Meu pai, Lú… Ele teve uma crise de novo essa madrugada.
— Meu Deus!
— Pois é, e eu não sei mais o que faço, se minha mãe estivesse viva saberia o que fazer, mas confesso que eu não sei como lidar com isso.
— André, para com isso! Você cuida do teu pai doente com apenas 20 anos, merece todo o crédito.
— Eu não sei nem cuidar de mim mesmo, Luíza. Você mesma já me disse isso.
— Você sabe que eu falo essas coisas brincando, no fundo eu acredito no teu potencial. Tem que parar de pensar assim, veja que tem pessoas piores que nós! Veja só o que tá acontecendo com o Miguel, acha que é fácil pra ele?
— Sim, às vezes eu sou muito egoísta, sabe? Eu aqui me preocupando com meus problemas enquanto meu melhor amigo tá preso e eu não posso fazer nada.
— Nunca pensei que diria isso… Mas que falta a Victoria tá fazendo!
— Sim, Lú. Ela faz muita falta, o Miguel faz falta, eu estou com saudades de como éramos antes de tudo isso acontecer.
André não se contém e abraça Luíza que corresponde o abraço sofrido do amigo.
Horas se passam, já é quase noite e na cela de Miguel, Billy o chama:
— Ei, garotão!
— O que é Billy?
— Já está na hora, vamos?
— O quê?
As celas individuais ainda estão abertas. Billy e Miguel saem dali.
Miguel reprovando a ideia, questiona Billy:
— Você tá ficando louco? O que tá pensando em fazer?
—Escuta, eu tive uma ideia. O Granada gostou de você.
— E eu com isso?
— Eu sei quem jogou a faca pra você. Foi o Failon, ele é um preso mesquinho que tem aqui. Você precisa fazer com que o Failon te ataque na frente do Granada.
— Você tá ficando maluco? Eu não vou fazer isso.
— É melhor você ir se adiantando porque o Failon tá chegando aí.
— Droga!
Billy sai correndo para a outra direção deixando Miguel sozinho com Failon que se aproxima dele.
— Algum problema, mauricinho? Por que tá me olhando, hein?
Miguel hesita, mas prefere responder conforme o plano de Billy.
— Problema nenhum, mas você deve ter algum problema comigo, né? Até tentou jogar uma faca em mim hoje.
— Era pra ter acertado bem no teu coração, seu playboy de merda.
— Pra quê tanto ódio no teu coração?
— Se continuar me provocando, eu te meto a porrada.
Enquanto isso, Billy se aproxima de Granada.
— Aí Granada, desculpa te interromper, mas lembra daquele mauricinho do circo que chegou hoje? Então, o Failon tá querendo caçar confusão com ele ali, ainda falou mal de você lá pra ele.
— O quê? Quem esse puto pensa que é? Eu vou até lá mostrar quem manda.
Granada vai imediatamente ao local acompanhado de outros presos, Billy sorri com malícia, mas disfarça rapidamente para segui-lo. Na contrapartida vemos Failon se segurando para não esmurrar Miguel.
— Eu poderia arrancar os seus miolos agora mesmo.
— Você teria que fazer muito mais do que isso, não pode nem consigo mesmo.
— Cala a boca, seu imundo!
Miguel percebendo que Granada está se aproximando o provoca:
— Eu não entendo como você pôde fazer isso e ainda falar mal do Granada, se eu fosse ele pegaria você e viraria do avesso pra pensar bem na besteira que você disse.
Granada escuta o que Miguel diz e se aproxima.
— Não precisa me defender, garoto! Então quer dizer que você anda falando mal de mim pelas costas, Failon? Vou te ensinar a me respeitar.
Granada passa na frente de Miguel e dá um soco na cara de Failon, os demais presos observam com expressão de espanto. Failon limpa a boca e saca uma faquinha do calcanhar.
— Eu vou acabar com você, seu desgraçado!
Failon tenta atacar Granada com a faca, os comparsas dele se aproximam, do outro lado dezenas de presos também se aproximam e entram no meio do tumulto.
Granada consegue tirar a faca das mãos de Failon e começa a esmurra-lo sem parar. Um dos presos chega para tentar impedir, mas Biel “toma as dores” e empurra o detento.
— Fica longe, comparsa!
Biel dá um soco no detento e outros vieram com tudo. Uma zona de guerra começa! Billy chama Miguel para se retirar dali.
— Bora, Miguel! É nossa chance, vamos dar o fora daqui!
Miguel fica impressionado com o que acabou de começar, mas prefere seguir Billy.
No meio da confusão, um dos guardas se aproxima e tenta deter Granada, até que este consegue tirar a arma das mãos do guarda e em seguida o puxa pela farda e o lança para o andar de baixo, daí por diante uma guerra acaba de ser declarada.
— Vamos transformar isso aqui num inferno!
O alarme do presídio dispara e os presos começam a se rebelar uns contra os outros, um cenário de violência e terror paira sobre o interior daquele lugar. Billy e Miguel correm até chegar perto de outros 2 presos que são comparsas de Billy.
— Aí rapaziada, a confusão já está semeada, agora precisamos entrar pela tubulação que eu mostrei pra vocês pra a gente fugir.
— Billy, isso é loucura, e se formos pegos?
Um dos comparsas, Valter de aparentemente 35 anos, magro e de cavanhaque responde Miguel:
— Se não quiser ir com a gente, mauricinho, tudo bem. Mas eu não fico mais nenhum segundo nessa desgraça de lugar.
O outro preso conhecido como “Fosco”, de 27 anos e quase a mesma aparência de Billy completa:
— Esse é o nosso momento, pessoal, temos que aproveitar que estão todos distraídos.
Billy insiste.
— Então Miguel, você decide… Prefere ir com a gente ou quer ficar aqui e morrer nessa pocilga?
Miguel olha de maneira fria para ambos, ele se encontra em um beco sem saída. Que decisão tomar num momento como esses? Afinal de contas, as duas alternativas estão erradas, mas haveria como escolher uma alternativa correta?
— Tudo bem. Eu vou com vocês.
Apartamento de Isabelly, 19h00.
Isabelly está em seu apartamento verificando alguns assuntos de trabalho em seu notebook quando ouve a campainha tocar, ela larga o que está fazendo e se aproxima da porta. Quando abre, um rosto conhecido por todos nós é quem está ali.
— Leandro! Estou surpresa por vê-lo aqui a essa hora.
— Oi, Isabelly. Nós… Podemos conversar?
Próximo Capítulo:
Sexta, 05 de Abril.