Consequências

Amanhece o dia, e Miguel se encontra deitado em sua cama ainda dormindo de bruços, seu punho está enfaixado, pois a noite anterior não foi nada fácil pra ele. Susana chega à porta do quarto para chamá-lo.

— Miguel, filho! Ainda tá dormindo?

Ela entra no quarto e Miguel vai despertando aos poucos.

— Acorda, querido!

Miguel coloca o travesseiro em cima da cabeça e resmunga:

— Ah! Que horas são?

— Já passam das 10 da manhã, e você precisa se levantar, pois tem visita.

Miguel tira o travesseiro da cabeça e pergunta:

— Quem é?

André, Luíza e Henrique entram no quarto.

André: Nós!

Luíza: Achou que iríamos te deixar em paz?

Henrique: Miguel! (Pulando em cima da cama)

Miguel: Calma, calma aí gente, eu nem sequer escovei os dentes e nem nada.

André: Relaxa, não vimos aqui para sentir o teu hálito. (Sorri)

Miguel: Eu sei, o problema é que… (Olhando para Luíza)

Luíza: Ah! Não precisa se preocupar comigo, Miguel. Eu já sabia que você dormia de roupa.

Miguel: Como você sabe?

Susana: Eu contei pra ela.

Miguel: Mãe?

Luíza: Isso não vem ao caso agora, nós estamos aqui por você.

Henrique: Eu senti saudades, Miguel, eu sempre tive você e a Victoria como se fossem meus outros pais.

Miguel: Ah! Campeão, eu nem mereço o título de ser pai de um garoto tão especial como você.

André: Miguel, tem uma pessoa aqui que gostaria de conversar com você.

Miguel: Não me diga que é o Nando?

André: Pra dizer a verdade não. Senhora Susana, pode chamá-lo?

Susana: Claro. (Susana vai até a porta do quarto) Pode entrar, querido.

Quem entra no quarto é Leandro e parece estar um pouco tímido.

— Oi, Miguel.

— Leandro? Que surpresa você aqui na minha casa!

— Me desculpa pelo incômodo, eu pedi ao André e a Luíza pra me trazerem até aqui, queria falar com você.

— Claro, podemos nos falar sim.

Susana ressalta:

— Bom, acho que vocês podem conversar depois do café da manhã. Vamos lá, garotos! Vamos todos pra baixo.

Alguns minutos depois os garotos estão na mesa tomando café e Leandro  conversa com Miguel.

— Eu juro que eu não entendo como isso pôde ter acontecido, Miguel… A Victoria nunca foi descuidada para “simplesmente” ela ter caído daquele trapézio, ela podia ter aparência de mulher frágil, mas tinha mãos firmes, não tem como o trapézio ter escapado das mãos dela.

— De que adianta? Não podemos fazer mais nada, afinal… Esses acidentes em circos costumam acontecer.

Luíza responde:

— Mas não com frequência, e a Victoria era muito habilidosa, eu estou tão arrasada com tudo isso.

O telefone da casa toca e Susana vai atender.

— Alô?… Sim. Ah! Claro, eu aviso sim. Até logo!

Ela desliga o telefone e vai até a mesa conversar com os garotos.

— Olha, eu detesto interromper a conversa de vocês, mas… Era o Seu Fausto, ele ligou dizendo que os detetives chegarão ao circo em 1 hora, é melhor vocês irem pra lá.

Leandro: Droga! Vamos galera!

André: Miguel, não precisa ir. Fica aqui com tua mãe e descanse.

Miguel: Tá legal, me liguem qualquer coisa.

Luíza: Deixa com a gente. Beijos!

Uma hora e alguns minutos havia se passado e na entrada do circo chegam dois detetives, um deles é Eduardo, homem alto de 38 anos, tem barba e é elegante. Ao lado dele está Isabelly, mulher bela de 28 anos com cabelo ruivo. Fausto chega à entrada para atender os dois.

— Em que posso ajudá-los?

— Eu sou o detetive e advogado Eduardo Castanho e esta é a minha colega, a detetive Isabelly Leal.

— Muito prazer, senhor!

— O prazer é meu, filhos. Então… Vieram investigar o que aconteceu com a Victoria?

Eduardo o responde:

— Sim, e se não se importa trouxemos o pessoal da perícia conosco. Eles estão logo ali atrás, se nos permite, gostaríamos de fazer uma análise completa em teu circo.

— Claro, podem entrar, fiquem à vontade.

Alguns minutos depois os detetives Eduardo e Isabelly estão próximos à arena e verificam o local. Fausto faz um convite a eles.

— Vocês aceitam um café ou uma água?

Eduardo o responde:

— Talvez mais tarde. Os artistas do circo estão por aqui?

— Alguns, se quiser eu posso chamá-los.

— Por enquanto não, nós te avisaremos se precisarmos de algo.

— Obrigado, se me permitem eu preciso ir lá dentro resolver algumas coisas.

— Pode ir, nós cuidamos de tudo.

Fausto entra para os seus aposentos enquanto os detetives caminham pelo meio da arena e verificam tudo o que podem.

— Veja, Isabelly, aqui foi o local onde ela caiu. Bem aqui no centro.

— Sim, pelo visto o picadeiro não foi mexido por mais ninguém depois do ocorrido.

Eduardo observa a areia e olha para o alto, em seguida ele indaga:

— Eu fiquei sabendo que uma das cordas havia arrebentado e por isso ela caiu.

Isabelly está agachada, ela se levanta, olha para cima e responde a Eduardo.

— Estas cordas foram feitas para suportar um peso superior ao trapezista, para arrebentá-la teria que ser forçada de maneira ainda mais intensa, não dava tempo dela ter forçado tanto a corda a ponto de arrebentá-la.

— Mas então como ela arrebentou?

— Eu não sei. Talvez devêssemos ir até lá em cima.

Alguns minutos depois Eduardo e Isabelly já se encontram em cima do trampolim do lado do trapézio o qual Victoria utilizou antes de cair. Eduardo coloca suas luvas de silicone azul nas mãos, Isabelly faz o mesmo procedimento e este primeiro percebe algo incomum.

— Espere, o que é aquilo? Pode puxar a corda até aqui?

Isabelly consegue puxar o trapézio até eles, ela estranha a presença do objeto na corda e questiona:

— Mas o que um laço cor de rosa está fazendo amarrado em uma das cordas?

— Muito estranho (Eduardo retira o laço e pega um plástico para colocá-lo dentro).

Isabelly intrigada questiona:

— Você acha que isso tem alguma ligação com o acidente?

— É possível… (Fita o olhar na corda) Isabelly, veja isso!

— O que houve?

— Há marcas de cortes, veja bem como está alinhado. Se ela tivesse sido arrebentada estaria desfiada ou coisa do tipo, mas… Veja bem.

— Foi um corte com faca. Droga! Precisamos falar com o dono do circo agora mesmo.

Alguns minutos depois os detetives estão lá embaixo conversando com Leandro e o Seu Fausto. Eduardo interroga Leandro.

— Você tem certeza de que estava tudo certo com todos os trapézios antes de começar o espetáculo?

— Sim, a gente sempre olhava tudo, a Victoria estava aqui ensaiando de tarde no dia da… Bom, no dia da…

Isabelly interrompe.

—… Sabemos disso, Leandro, mas você viu alguma coisa incomum na Victoria antes do acidente acontecer?

— Bom, quando eu entrei no camarim pra avisar que ela já podia subir… Ela estava lendo uma carta e parecia meio nervosa.

Eduardo: Uma carta?

Fausto: Espera um pouco. Que carta?

Leandro: Eu não sei, nem sequer peguei nela. Talvez ainda esteja lá, ninguém tocou naquele lugar desde então.

Isabelly: Nos leve até lá.

Leandro leva os dois detetives até a parte do camarim onde Victoria estava pela última vez, ao chegar lá eles se deparam com o celular dela ainda em cima da mesinha e do lado está o pingente. Em cima da cadeira está a carta.

Eduardo: Por acaso este era o celular da Victoria?

Leandro: Sim, pensei que a polícia havia pegado tudo.

Isabelly: Estranho, por que eles não confiscaram estas coisas antes?

Fausto: Quem sabe? Eu nunca entendo esses policiais.

Isabelly: Veja, tem um pingente aqui do lado do celular e… Olha só o que encontramos aqui… A tal carta. É esta?

Leandro: Sim, é essa mesma.

Isabelly: (Verificando a carta) Está escrito “Para Victoria”, mas não tem remetente. Vamos ver o que tá escrito.

Isabelly abre a carta.

Eduardo intrigado pergunta:

— O que diz nela?

— Aqui tá dizendo “Rosa é a tua cor”.

—Mas… O que isso significa?

Fausto coça a cabeça e indaga:

— Eu não estou entendendo.

Eduardo pega a carta e depois questiona Leandro:

— Você viu quem entregou esta carta pra ela?

— Não, eu não vi. Quando cheguei aqui, ela já estava lendo.

— Droga!

Isabelly se põe pensativa, e em seguida indaga:

— E se…O laço! O laço rosa, será que não há alguma ligação com o que está escrito na carta?

— Mas por qual motivo isso teria alguma ligação?

— Me mostre o laço.

Eduardo pega o laço que está dentro do plástico e entrega à Isabelly, esta segura os dois objetos nas mãos, olha bem pra eles e em seguida chega a uma possível conclusão.

— Olha gente, pode parecer loucura, mas… O Leandro disse que viu a Victoria lendo esta carta antes de subir no trapézio e aqui nesta mesma carta está escrito “Rosa é a tua cor”. Talvez isso seja um indicativo para que a Victoria utilizasse o trapézio onde estava amarrado esse laço em uma das cordas.

Fausto intrigado indaga:

— Esperem um pouco, senhores, mas quem colocou um laço rosa em um dos trapézios? Nunca fizemos isso antes.

Eduardo o responde:

— É o que estamos tentando descobrir, Seu Fausto. O que a Isabelly disse faz todo o sentido, mas precisamos ter certeza absoluta do que estamos lidando. Tem mais algum pertence da Victoria aqui neste camarim?

Leandro contesta:

— Bom, além do celular dela que vocês já estão com ele, a bolsa dela está bem aqui. Ela sempre a deixa neste canto.

Leandro pega a bolsa de couro preto de Victoria e entrega nas mãos de Eduardo, este verifica os acessórios que estão lá dentro e percebe outro objeto incomum.

— Esperem um pouco, olhem isso! (Tirando a carta da bolsa) É outra carta e bem semelhante à primeira.

Isabelly fica ainda mais confusa:

— Isso é muito estranho.

Eduardo lê o que diz na carta:

— Aqui diz: “Tenha um bom espetáculo amanhã!”.

Isabelly muda o semblante e Eduardo também percebe a linha de raciocínio que a colega está tendo apenas na troca de olhares.

Fausto: Por que estão agindo assim? O que tem de mais nesta carta?

Eduardo engole seco para responder ao Seu Fausto.

— Senhor, nós vimos que a corda a qual Victoria havia usado estava cortada. E foi feito com um corte de faca, lá encontramos este laço, e agora estas duas cartas.

Isabelly conclui:

— Se esta carta tem ligação com a outra significa que a Victoria a recebeu no dia anterior de sua morte. (Balançando a cabeça fazendo a negativa) Meu Deus! Não pode ser o que estou pensando.

Leandro: Esperem um pouco, do que vocês estão falando?

Eduardo: Não queremos criar falsas suspeitas. Vocês tem algum outro lugar que possamos observar?

Fausto: Claro, o nosso camarim é grande e tem dois lados opostos. Podemos ir até o outro lado do camarim se vocês quiserem.

Eduardo: Por favor, nos leve até lá.

Fausto e Leandro saem na frente guiando os dois detetives, Isabelly sussurra a Eduardo.

— É o que estou pensando, Eduardo?

— Sinceramente queria que não fosse. Estou até com medo de descobrir o que realmente aconteceu com essa garota.

Eles chegam até o outro camarim e lá estão André e Luíza. O Seu Fausto os apresenta aos detetives.

— Meninos, estes são os detetives Eduardo e Isabelly.

Ambos cumprimentam os dois detetives, estes dão um sorriso rápido para os dois artistas, mas rapidamente o semblante muda e eles começam a observar o local.

Luíza: Desculpa, mas… O que estão procurando?

Leandro: Eles encontraram umas coisas estranhas, Luíza. Tinha uma carta no camarim da Victoria.

Luíza: Uma carta?

André se põe pensativo e indaga:

— Espere, eu que entreguei esta carta pra Victoria naquela noite.

Eduardo e Isabelly param automaticamente o que estão fazendo e perguntam espantados:

­— O quê?

— Sim, foi alguém na plateia que me pediu pra entregar pra ela.

Flashback…

Edgar e Madame Gardênia estão se apresentando quando André chega fazendo gracinhas para o público entregando o coelho na mão de Edgar. Este pega o coelho e mostra para a plateia.

— Veja que coelho mais teimoso esse Geraldo, isso são modos, garoto?

A plateia sorri enquanto André se retira do meio da apresentação e vai para os cantos da arquibancada quando sente uma carta passando pelo seu ombro e o objeto cai no chão, André se abaixa para apanhá-la e quando vira de costas, não conseguiu ver mais ninguém, a não ser várias pessoas vidradas com o que está acontecendo no picadeiro, ele olha para os dois lados e não viu a pessoa a qual lhe entregou a carta, ao ver que está escrito “Para Victoria”, ele atravessa para o outro lado do camarim e avista Victoria próxima ao trampolim.

— Victoria! Espera! Me mandaram entregar esta carta pra você.

— Pra mim? Quem foi?

— Eu não sei, foi alguém da plateia. Eu vou lá ver o Miguel, até mais!

André volta para o camarim após deixar a carta nas mãos de Victoria.

Agora…

Isabelly segura André pelos ombros e pergunta:

— Escuta, você se lembra do rosto da pessoa que te entregou esta carta?

— Eu… Eu…

Todos os presentes se encontram completamente intrigados enquanto André tenta responder.

—Eu não pude ver, a pessoa simplesmente desapareceu no meio da multidão.

Luíza: Faz uma força, André, eu sei que você é muito bom de memória.

André: Sim, mas… Eu não consigo, não consigo me lembrar do rosto de ninguém.

Isabelly: Ao menos já temos algo ao nosso favor.

Eduardo está de costas para todos eles e verifica o armário de Miguel onde encontra a misteriosa faca.

— Isabelly, veja só o que encontrei!

— Mas… Isso é…

— … De quem é este armário?

Fausto o responde.

— É do Miguel, o namorado da Victoria.

Eduardo engoliu seco neste momento.

­— Puta que pariu!

— O que aconteceu?

Isabelly se aproxima de Eduardo.

— Eduardo… Não me diga que…

Eduardo pega o celular e telefona para um dos peritos.

— Venham com todos os peritos aqui no camarim agora mesmo! Temos evidências de um crime! Depressa!

Eduardo desliga o telefone e deixa Fausto ainda mais preocupado.

— Detetive, o que está acontecendo?

— Nós desconfiamos de que houve um homicídio aqui no teu circo, senhor, alguém calculou severamente o acidente e morte da Victoria.

Todos no local ficam completamente perplexos diante da revelação.

Conforme os minutos se passavam, os peritos verificam item por item e apanham todas as provas possíveis, um deles tirou fotos da corda cortada do trapézio, outros do camarim, do picadeiro e etc.

Cerca de 1 hora já havia passado e os detetives já estão prontos para voltarem à delegacia e levar todo o material o qual haviam apanhado. Na saída, o Seu Fausto se despede com semblante de preocupação.

— Até logo, detetives!

— Nós vamos entrar em contato com vocês de novo, não deixe que ninguém do circo saia da cidade, ok?

Fausto apenas consente enquanto observa Eduardo e Isabelly adentrando no carro, esta última questiona ao colega.

— É isso que está acontecendo mesmo, Eduardo? A garota foi assassinada?

— É muito cedo pra confirmarmos algo, Isabelly… Mas creio que sim. Se descobrirmos que aquela faca que encontramos foi a mesma que cortou a corda do trapézio… Então nossas suspeitas estarão certas.

— Eu nunca vi isso antes, se realmente nossas suspeitas se confirmarem, esse criminoso calculou tudo de maneira bem sagaz.

Eduardo começa a dirigir e continua a conversar com Isabelly:

— Verdade, agora aproveitando a ocasião, posso te fazer uma pergunta, Isabelly?

— Claro.

— Como você sabia o nome do trapezista?

Isabelly arregala os olhos e responde:

— O que disse?

— Perguntei como você sabia o nome dele? Eu lembro de você ter falado: “O Leandro falou que…” e etc.

— Ah, por favor, Eduardo! O Seu Fausto falou o nome dele quando foi nos apresentar.

— Ele apenas disse a função dele no circo, não mencionou o nome dele, os únicos nomes mencionados ali foram o da Victoria e o do namorado dela, o Miguel.

— Tá, mas o que isso tem a ver? Nossa preocupação agora é descobrir quem está por trás do crime contra essa garota.

— Você tem o endereço da casa dos pais dela?

— Sim, eu havia anotado.

— Vamos pra lá agora.

Casa dos pais de Victoria — Tarde.

Eduardo e Isabelly já se encontram na casa de Augusto e Joana discutindo sobre a visita destes primeiros ao circo. Joana tentando ser hospitaleira questiona:

— Vocês aceitam mais um pouco de café?

Eduardo: Não, senhora, muito obrigado.

Isabelly: O café estava ótimo, Dona Joana, já estamos satisfeitos.

Augusto: Então descobriram coisas lá no circo que podem estar ligadas à morte da minha filha?

Eduardo: Sim, senhor! Escuta, Seu Augusto (tirando a carta do bolso do paletó), reconhece esta carta?

Augusto pega a carta, porém não tem nenhuma lembrança de tê-la visto antes.

— Não, não sei do que se trata.

Joana observa e se lembra que na noite anterior à morte de Victoria, esta havia recebido uma carta na porta de sua casa.

— O que tá dizendo nesta carta?

Isabelly responde:

— “Tenha um bom espetáculo amanhã!”.

— Ah! Esta foi a carta que o Miguel deixou na porta de casa.

Eduardo intrigado a questiona:

— Espera um pouco, quem a senhora disse que deixou esta carta?

— Como quem? O Miguel, o namorado da minha filha.

Eduardo e Isabelly se olham e em seguida Eduardo se levanta do sofá com um semblante ainda mais sério.

— Escutem, seria melhor que vocês fossem até a delegacia daqui a umas duas horas.

Augusto: Mas o que houve? Por que essa urgência toda?

Isabelly: Nós descobrimos coisas incomuns no circo que fazem ligação com a morte de tua filha, a essa hora os peritos já devem está fazendo análises, por enquanto não podemos dizer nada sem ter certeza. Mas seria importante que vocês estivessem hoje lá para conversarmos com o Delegado.

Joana preocupada pergunta:

— O que aconteceu?

Eduardo e Isabelly apenas olham para Joana, mas evitam contar qualquer coisa antecipada a ela.

Em seguida vemos os dois detetives partindo da casa do casal.

— Eduardo, acha mesmo que foi melhor não ter contado pra eles que a filha foi assassinada?

— Precisamos do resultado da perícia, Isabelly. Do contrário não podemos adiantar nada, senão vamos acabar piorando tudo.

— Tem razão.

Horas depois no Circo MAXIMUS, todos estão reunidos e um verdadeiro tumulto está acontecendo.

Fausto: Silêncio! Silêncio seus idiotas!

Gardênia: É sério isso, Fausto? A Victoria foi assassinada?

Fausto: Não temos certeza, foram os detetives que tiveram esse palpite.

Nando: Mas para eles terem chegado a este palpite é porque algo de errado eles descobriram aqui.

Leandro: Encontraram duas cartas, uma estava dentro da bolsa da Victoria e a outra foi a que eu a vi lendo antes de subir no trapézio. A mesma no qual o André… Entregou a ela.

Gardênia: Quê? Entregou uma carta para a Victoria?

André: Alguém colocou no meu ombro e ela caiu no chão, eu levantei pra pegar a carta que estava escrito “Para Victoria” e eu apenas fui lá deixar pra ela.

Edgar: E quem te entregou esta carta, André?

André: Eu já disse que eu não me lembro.

Edgar: Não se lembra? Muito estranho isso não acha?

Luíza: (Com a mão no rosto) Eu é que sou a culpada por não deixar a Victoria ter usado o pingente da sorte.

Edgar: Para de ser supersticiosa, garota.

Luíza: Falou o cara que faz truques de mágica, lembrando que a Victoria morreu logo após o teu número.

Edgar: O que está insinuando, Luíza? Está me culpando pela morte da Victoria?

Nando: Vocês parecem um bando de idiotas! O Miguel está sofrendo uma hora dessas e com certeza nem sabe do que está rolando aqui.

Leandro: É muito fácil falar quando não foi você a última pessoa que viu a Victoria em vida, não é Nando?

Nando: Ah, por favor, Leandro! Vai se fazer de pobrezinho agora? Você é parceiro da Victoria no trapézio, você deveria ter se certificado se aquelas cordas estavam seguras, assim teria evitado tudo isso.

Leandro: Do que você tá falando?

Nando: O que foi? A culpa afetou o teu nível de QI?

Leandro: Engraçado ouvir isso de você, né Nando? Pois até onde eu sei você sempre foi muito afim da Victoria, então não estranharia que por ciúmes você mesmo tenha matado ela.

Nando se enfurece e dá uns empurrões em Leandro.

Nando: Retire o que disse agora mesmo!

Leandro: (irônico) Olha, ele ficou nervoso! Admita que você matou a Victoria!

Fausto: Parem com isso!

Leandro: Espera um pouco, a Luíza também estava no camarim da Victoria.

Luíza: Escuta aqui, eu não tenho nada a ver com isso.

André: A Luíza não é esse tipo de gente.

Gardênia: André, você nem conta porque sei o quanto defende essa daí, ou acha que eu não sei que a Luíza sempre teve uma ponta de inveja da Victoria desde que eu me conheço por gente?

Luíza: Você tá louca, sua velha!

Gardênia: Se me chamar de velha, eu não respondo por mim.

André: Escuta, estão todos culpando uns aos outros, e por que ninguém tá falando da Karina, hein?

Fausto: A Karina foi embora, estamos preocupados com quem está aqui.

André: Não acha estranho ela ter ido embora no mesmo dia que a Victoria morreu? Já que estamos culpando uns aos outros, vamos colocar as cartas na mesa então.

Todos começam a discutir até que o garoto Henrique — que até então, não se manifestava — os interrompeu com bastante raiva.

— Já chega! Calem a boca todos vocês! Eu já estou cansado disso! Tudo o que vocês sabem fazer é brigar. A Victoria tá morta por culpa de todos vocês… Vocês mataram a Victoria! Eu não vou ficar aqui ouvindo discussões, vou pra minha casa.

Henrique sai correndo em prantos, André tenta seguí-lo, mas no meio do caminho desiste e percebe que é melhor deixar o garoto ir.

Ainda há um momento de tensão entre todos aqueles artistas. Fausto tenta acalmar os ânimos deles.

— Alguma coisa aconteceu e é agora que precisamos ficar unidos, bando de palhaços!

O celular de Fausto toca.

— Alô? Sim… (olhar de preocupação) Ok, tudo bem, eu… Eu irei, claro! Eles já estarão lá?… Tudo bem, em meia hora no máximo eu chego aí. (Desliga o telefone)

Gardênia: Quem era Fausto?

Fausto: Era o Detetive Eduardo, pediu pra eu comparecer à delegacia, parece que… Vão fazer mais algumas perguntas.

André está observando por trás das cortinas.

Nando: Mas… Por quê, Seu Fausto?

Fausto: Eu não sei, mas… Os pais da Victoria também foram convocados e já devem estar chegando lá.

Leandro: Merda! E agora?

Fausto: Quem quer ir comigo?

Luíza: Eu vou.

Edgar: Eu também.

Gardênia: O certo é que todos nós fôssemos.

Nando: (Olhando para trás) André, você vem?

Ele não avista André em lugar nenhum.

Nando: Ué, cadê ele?

Fausto: Deve ter ido atrás do Henrique, vamos depressa!

André esperou que todos se afastassem para fazer uma ligação.

Casa de Miguel…

Miguel está deitado no sofá sob o colo de sua mãe, ela passa a mão em seus cabelos enquanto conversam.

— Sabe mãe? Eu… Ás vezes… Ah! Eu nem sei mais o que eu ia falar.

— Tá tudo bem, meu filho, toda essa história te abalou muito. Mas sabe de uma coisa? Você é o homem mais corajoso do mundo! E é o homem desta casa, a gente sempre esteve cuidando um do outro e vamos continuar assim.

— Obrigado, mãe. A senhora é tudo o que eu tenho agora.

O celular de Miguel toca, quando ele vai atender percebe que se trata de André.

— E aí André, o que você manda?

Do outro lado da linha, André responde:

— Miguel, preste bastante atenção! A polícia convocou o Seu Fausto e os pais da Victoria até a Delegacia.

— Mas por quê? Com qual finalidade?

— Irmão, estão desconfiando de que a morte da Victoria possa ter sido forjada.

— Como assim forjada, André? Do que você está falando?

— Eu não sei direito, mas os detetives encontraram algumas coisas estranhas aqui no circo, agora mesmo o Seu Fausto e a galera do circo estão indo pra lá. E pelo o que eu entendi, os pais da Victoria também foram convocados.

— Droga! Eu preciso ir até lá agora mesmo!

— Não, você não pode ir pra lá. Vão acabar descobrindo que eu te contei.

— Mas estão falando da Victória, André! A minha Victoria.

— Eu sei, mas neste momento você precisa permanecer em casa e aguardar, eu darei um jeito de ir até lá e vejo se descubro alguma coisa… Eu vou dar um jeito de te manter informado de tudo.

— Tudo bem meu amigo, eu estarei esperando notícias, até mais!

Miguel desliga o telefone. Susana preocupada pergunta:

— O que foi Miguel? O que o André disse?

— Convocaram os pais da Victoria e o Seu Fausto até a delegacia, estão desconfiando de que a morte da Victória possa ter sido forjada.

— Meu Deus! Quem faria uma coisa dessas? Filho, isso é uma acusação muito séria. Já basta que a louca da Joana está entrando com um processo contra o circo.

— Sim, e isso será um prato cheio pra ela.

— E agora? O que vamos fazer?

— O André pediu pra esperarmos que ele vai tentar descobrir alguma coisa. Eu estou com medo, mãe, muito medo. (Abraçando Susana)

— Calma, filho, vai ficar tudo bem.

Delegacia de Polícia – 3 horas depois.

Já é noite e todos estão ali sem saber o que está acontecendo, uma inquietação paira no meio de todos eles, depois vemos Fausto que está no banheiro da delegacia lavando o seu rosto, em seguida ele se olha no espelho por alguns segundos até que seu celular toca.

— Alô?

Do outro lado da linha, quem fala é Tatiana, a mãe de Henrique, tem 29 anos, cabelos lisos e escuros.

— Escuta aqui, Seu Fausto! Como se atreve a fazer meu filho chorar daquele jeito hein?

— Senhora Tatiana, eu…

—… Não me venha com tuas desculpas! Eu já estou cansada de tudo isso! Eu só te digo uma coisa: Se algo acontecer com o meu filho, eu juro que vou afundar esse teu maldito circo!

Tatiana desliga o telefone furiosa, Fausto continua no banheiro pensativo.

Na entrada da delegacia alguém se aproxima do balcão, só podíamos ver a figura se aproximando da recepcionista até que esta pergunta:

— Pois não? Em que posso ajudar?

—É, eu vim para…

Luíza chega ao corredor.

— … André? O que você tá fazendo aqui?

— Luíza? Eu vim aqui pra…

A recepcionista estranha e insiste em questionar.

— Tá tudo bem?

Luíza responde:

— Tá tudo ótimo, ele tá com a gente, vamos André!

Luíza leva André para o fundo de um dos corredores e cochicha com ele.

— Você tá louco, André? Onde você se meteu?

— Eu fiquei sabendo de tudo e vim até aqui. Então é verdade o que disseram?

— Ainda não disseram nada, parece que eles só estão esperando o resultado da perícia.

— Mas isso não demora dias e dias?

— Pelo jeito a tecnologia deles tá bem mais avançada do que imaginávamos. Mas vamos esperar.

Ainda na delegacia, Eduardo e Isabelly estão no gabinete do Delegado Monteiro, tem 45 anos, alto e boa aparência. Ambos estão numa incessante discussão no campo das ideias. Até que Monteiro interrompe.

— Já chega os dois! Será que podem parar de falar um só minuto?

Eduardo: Delegado, você já viu o que trouxemos. Tudo aponta que essa garota foi assassinada.

Monteiro: (Levantando-se da mesa) Sim! Mas nem por isso precisamos perder a cabeça, assim a gente só piora tudo! Dá pra parar de bancar os estagiários?

Isabelly: Então prefere que a gente faça o quê? Assumimos esse caso e agora não tem por onde correr.

Monteiro: Eu já falei que devemos esperar!

Neste momento, alguém bate na porta do gabinete.

Monteiro: Entra!

Uma das funcionárias da perícia entra no gabinete com um envelope na mão.

— Com licença, delegado. Mas já saiu os primeiros resultados das nossas investigações sobre o que encontramos naquele circo.

Monteiro: Sério? E o que descobriram?

— A faca que foi encontrada no camarim foi exatamente a mesma que fez o corte nas cordas no trapézio.

Isabelly e Eduardo olham um para o outro impactados, Monteiro engole seco e tenta indagar:

— Você quer dizer que… Que…

— …Não resta nenhuma dúvida, delegado. Essa garota, Victoria Lopes… Foi assassinada!

 

 

 

Próximo Capítulo:

Sexta, 22 de Março.

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