ATENÇÃO!
O EPISÓDIO A SEGUIR CONTÉM CENAS E SITUAÇÕES QUE PODEM SER CONSIDERADAS EXTREMAMENTE PERTURBADORAS. SE VOCÊ TEM ALGUMA SENSIBILIDADE COM O CONTEÚDO QUE IRÁ CONSUMIR, É NECESSÁRIO CAUTELA POR CONTA DE POSSÍVEIS GATILHOS.
Desde os séculos passados, a mente humana continua se tornando algo quase indecifrável, se revista de sua complexidade e mutação desenfreada.
Segundo a teoria de Sigmund Freud, a psique humana é dividida em três partes: ID, Ego e Superego.
O ID representa o inconsciente completo, parte impulsiva da psique que, durante a infância, proporciona apenas as capacidades básicas. Também podemos dizer que é o início do prazer e da busca para preencher as suas vontades.
O Ego já observa que o ID não é capaz de obter tudo aquilo que deseja, em outras palavras, o Ego existe para nos aproximar mais da realidade.
O Superego possui um aspecto autocrítico a partir dos 5 anos de idade e compõe a parte moral da mente humana.
Freud acreditava que boa parte daquilo que vivemos- emoções, impulsos e crenças- surge a partir de nosso inconsciente e não é visível pela mente consciente. Lembranças traumáticas podem ficar bloqueadas na memória de um indivíduo e ainda sim continuam ativas sem sabermos, e que, ora ou outra, podem reaparecer.
Um terceiro nível da psique foi chamado de subconsciente: parte da mente que recupera informações das quais nem sempre lembramos, mas que podemos acessar quando necessário.
Analisando todos esses pontos, podemos concluir (ou não) de que parte do comportamento dos seres humanos de hoje, veio de seu superego, que são os princípios morais e que seguem fixados a nós desde os primeiros anos de vida.
Então como pessoas como o Dr. Addan, Hilda, Naraj, General Maximilion, Petter Krueger, Duque Washington, entre outros, desenvolveram esse lado obscuro de seu superego?
É como se o seu ID assumisse uma personalidade agressiva e invasiva capaz de ofuscar os limites da consciência. Tornando atitudes impulsivas, um ato de misericórdia, se revista da não lógica moral do indivíduo que pratica.
Passarão anos, céus e terra, e talvez nunca vamos entender de fato como funciona a mente humana. Como é desenvolvido sua psique, e muito menos… Como pôr um fim em algo que já foi estabelecido.
Possivelmente… Nunca teremos respostas, apenas teorias e teorias de um assunto expansivo e controverso.
SALA ESCURA, ALGUM LUGAR DOS PORÕES DA CENTRAL.
Em uma sala bem pequena com tonalidades escuras, se encontra Hilda agachada e encostada na parede de metal. Ela está com o olhar distante e totalmente sem rumo.
— Não vão apagar a minha história… Não irão apagar!
OPENING:
EPISÓDIO 6:
“HILDA”
ATO I
BEACONSFIELD, INGLATERRA- RESIDÊNCIA DA FAMÍLIA GREENFIELD, 1978.
Vemos um enorme casarão com arquitetura Art Déco, bem similar às casas do século 19. Na frente, um enorme campo verdejante, e atrás, a estrutura da fazenda por qual é administrada e regida por Samuel Greenfield, homem de 46 anos, alto, cabelo grisalho, bigode avantajado e usa sempre terno e calça de cores acinzentadas com listras.
Sua esposa, a senhora Adelaide Greenfield, uma mulher de temperamento forte, 40 anos, usando sempre uma roupa comportada com blusas de manga cumprida e uma saia até os calcanhares. Seus cabelos levemente loiros, recebia um penteado de cerimônia típico dos anos 50.
Os Greenfield era a família mais poderosa daquela pequena e pacata Beaconsfield. Mas engana-se que eles eram uma família perfeita. Ambos estavam atrelados a um sistema de corrupção em um complexo hospitaleiro na cidade. A fazenda Greenfield era responsável por bancar os equipamentos para os procedimentos ilícitos da Melvick S.A.
Esse sobrenome parece o tanto familiar? Sim. A Melvick S.A era o complexo hospitaleiro e científico de Craig Melvick, nada mais e nada menos que o pai do Dr. Addan.
Craig tinha 42 anos, mas diferente do que imaginávamos, ele tinha um aspecto mais charmoso. Um bigode fino e charuto na boca eram suficientes para arrancar suspiros das mulheres que olhavam para ele.
O que causava um ciúme considerável em Tania Melvick, mãe do Dr. Addan e, incrivelmente, bem mais velha que Craig. Uma diferença de 8 anos. Tania já estava com seus 50 anos, usava um penteado chanel ruivo e, engana-se que ela era boazinha.
Não passava de mais uma parasita na sociedade se aproveitando do dinheiro alheio para se beneficiar de seus cosméticos. Enquanto Adelaide era uma mulher extremamente rigorosa e julgava qualquer uma que tenha espírito de vaidade. Era o oposto com Tania, que passava horas testando seus cremes, pois nunca se conformou que a velhice chegara a ela.
Não muito diferente de seu marido, que era tão vaidoso quanto a esposa. Sempre andava com um pente no bolso do paletó para deixar seu cabelo preto o mais liso e comportado possível.
A sociedade entre a família Greenfield e a família Melvick estava muito além do que eles mesmo imaginavam. E seus planos eram expandir ainda mais essa sociedade fazendo com que Addan, nessa época, em seus 21 anos de idade, se casasse com a única filha dos Greenfield: Hilda.
Pela primeira vez, descobrimos de onde veio Hilda e seu parentesco. Aqui ela tem apenas 16 anos de idade, é uma jovem alegre, compromissada e que mesmo contra a sua vontade, procura atender às demandas (diga-se caprichos) de seus pais.
Mas os senhores Samuel e Adelaide esqueceram de que Hilda não pode mandar em seus sentimentos, e que não poderia atender às vontades deles se casando com alguém que não ama. Hilda já estava com seu coração destinado à outra pessoa, e foi por causa disso… Que iniciou a jornada para a sua ruína.
Saindo da estrada e se aproximando do terreno do casarão, está Hilda, no auge de seus 16 anos. Usando um cabelo liso que é repartido por uma tiara e vestido amarelo até os pés. Ela está andando em uma bicicleta de cestinha ao lado de seu melhor amigo Wes, um jovem da idade dela de cabelos castanhos claros e um pouco encaracolados.
Os dois brincam de apostar corrida e trocam olhares e sorrisos.
— Eu sou mais rápida que você, Wes.
— Não mesmo. Eu sou muito mais rápido que você.
Eles param a bicicleta, Hilda olha para o casarão.
— Bom… Acho que já tá na hora de eu ir.
— Podemos andar de bicicleta juntos de novo no fim de semana que vem?
— Se minha mãe e meu pai deixarem… Farei de tudo pra te ver.
— Então tá bom. Até logo, Hilda!
— Tchau, Wes!
Hilda se despede do amigo e vai levando a sua bicicleta até a entrada da casa. Ela entra, tira seus sapatos e coloca na sapateira ao lado da porta e coloca sandálias confortáveis. Ao ajeitar a bicicleta em seu devido lugar, ouve a potente voz de sua mãe Adelaide descendo às escadas.
— HILDA!
— S… Sim, mãe?
— Onde pensa que estava à uma hora dessas?
— Mãe, é 4 da tarde.
— Como ousa me questionar?
— Me desculpa!
— Onde estava? Ou melhor… Com quem estava?
— Eu… Eu só estava andando de bicicleta, mãe.
— Com quem você estava?
— Eu… Eu…
Adelaide aperta no pulso de Hilda.
— Eu perguntei: Com quem você estava?
Hilda hesita em dizer o nome. Então seu pai Samuel acaba de adentrar a casa.
— Adelaide? O que está fazendo?
— A sua filha anda perambulando por aí como uma prostituta, Samuel.
— Mãe? Eu apenas estava…
— CALE-SE!
Adelaide esbofeteia o rosto de Hilda.
— Sempre tão respondona.
— Querida, por favor, não é o momento.
Samuel coloca o chapéu no mancebo ao lado da porta e pendura seu paletó.
— Precisamos nos arrumar, o Dr. Melvick virá aqui dentro de duas horas.
— Claro. Agora virou moda o Mr. Craig vir de Amersham para Beaconsfield quase toda semana.
— Por favor, querida. Entenda… Sabe bem que só temos benefícios nessa sociedade com os Melvick. E mais… Dessa vez ele virá com o filho dele, o Addan. Será uma ótima oportunidade da nossa Hilda conhecê-lo.
— Tá, mas o que faremos com ela? Você viu como ela me desrespeitou agora.
— Não sei… Talvez… Deixe ela de castigo por uma semana.
— O quê? Mas eu não fiz nada.
— Suba, toma um banho e vista-se adequadamente, mocinha! Não quero que o filho do Sr. Melvick veja você com essa cara de sonsa.
Hilda sobe às escadas, claramente chateada. Ela entra no quarto e se joga na cama de bruços chorando. Seus pais sempre a mantiveram em um regime curto e dificilmente ela conseguia fazer amizades, pois quase não saia.
Seu sentimento por Wes era muito mais que uma amizade, e ela sabia disso. Mas para proteger seu primeiro grande amor, teria que abaixar a cabeça e acatar os métodos de ensino questionáveis de seus pais.
RESIDÊNCIA DOS GREENFILED, 18H.
A campainha é tocada e a empregada doméstica abre a porta. Trata-se de Craig, como sempre, esbanjando o seu charme.
— Boa tarde, senhora! Pode anunciar o Sr. Craig Melvick e o seu filho Addan, por gentileza?
— Claro, doutor.
Antes mesmo que a empregada se mova direito, o próprio Samuel fez questão de ir na porta recebê-los.
— Meu camarada Craig! Quanta honra recebê-lo mais uma vez em minha residência.
— Senhor Samuel, pra mim é que é uma honra. Veja, quero te apresentar o meu filho Addan.
Addan está com 21 anos, é um jovem formoso, rosto muito bem delineado com uma pele macia e cabelos pretos e lisos. Não utiliza barba, diferente de seu pai que possui um bigode fino que o deixa mais sensual. Apesar disso, é um jovem belo para a sua idade.
— Muito prazer, senhor!
— Ora, ora, ora… Então você é o Addan? O futuro legítimo herdeiro do legado de seu pai.
— Bom… A não ser que meu pai mude de ideia e queira deixar tudo para o meu irmão Tommy.
— Ah, por favor, filho! Teu irmão adolescente ainda não sabe nem se vai terminar o ensino médio.
— Imagino que Addan seja teu primogênito, Dr. Craig?
— Na verdade não. Florence é minha filha primogênita. Mas não creio que ela seguirá os passos do pai, então deixamos isso para outro assunto.
— Como queira, doutor Craig.
Adelaide se aproxima dos senhores.
— Dr. Craig?
— Oh! Miladie… (A cumprimenta beijando sua mão)É uma satisfação vê-la, senhora Greenfield.
— Disponha, Mr. Melvick.
— Filho, não vai cumprimentar a senhora Greenfield?
— Claro… Muito prazer, miladie!
— Que cavalheiro! Vejo que ele teve a quem puxar, Mr. Craig. É um jovem muito bonito por sinal, Addan.
— Obrigado, senhora. Mas não é pra tanto.
— Ele está de falsa modéstia, não se preocupem.
Samuel o pergunta:
— E a sua esposa não quis vir, doutor?
— Sabe como é a Tania, na medida que a idade avança, ela vai perdendo a aptidão de estar viajando. Minha nobre senhora já não é mais tão jovem como já foi.
— De fato, uma pena! Mas, por favor, envie os meus cumprimentos a ela quando retornares.
— Claro que sim, senhor Greenfield.
— Bom, por favor, não fiquemos aqui na porta, acomodem-se! Podem deixar seus paletós ali, pois acredito que em meia hora estará sendo servido o jantar.
— Obrigado, senhor!
Os cavalheiros colocam seus respectivos chapéus e paletós no mancebo. Adelaide começa a chamar por Hilda.
— Hilda? Hilda, querida. Desça!
Hilda desce às escadas com um vestido vermelho amarrado a uma fita de cetim preta. Claramente está envergonhada e se pudesse, jamais sairia de seu quarto.
Adelaide pega em sua mão gentilmente e a leva à sala de estar.
— Cavalheiros. Minha unigênita já se encontra no recinto.
— Ow! Como ela está linda! Que prazer em vê-la, senhorita Hilda. Addan, por favor, cumprimente a senhorita!
Addan fica ligeiramente encantado por Hilda, afinal ela não era uma moça difícil de não ser notada por um homem da idade dele.
— É um privilégio conhecê-la, Miss Hilda.
Ele beija sua mão e Hilda parece agir indiferente à gentileza de Addan.
Ela se assenta no sofá. Craig pega um charuto do bolso de sua camisa e acende com o isqueiro.
— Bem, senhor Greenfield… Sabes bem a importância da nossa sociedade com a Melvick S.A, não sabe?
— Claro que sim, senhor Craig. Teremos muito o que falar sobre isso.
— Por favor, senhores. Deixamos os negócios de lado um pouco, melhor confraternizarmos e aproveitarmos este momento solene em família, o que acham?
— Sempre soube que era uma santa, querida.
— Não é pra tanto, querido.
— A sua esposa sempre foi uma mulher vivaz, Mr. Greenfield. Possui pulso firme, está faltando matriarcas assim no nosso dia a dia.
— Adelaide é uma mulher de princípios. Afinal foi criada com a doutrina da igreja católica, por isso sempre tão metódica com seus assuntos. E essa é sua maior qualidade.
— Fascinante! E quanto a você, Hilda? Ainda estudando? O que pretende fazer depois que se formar?
Hilda fica eufórica sem saber o que responder. Olha para o seu pai, olha para a sua mãe, não sabe bem quais palavras pronunciar. Até que sua mãe rompe o silêncio.
— A Hilda está focada em terminar o ensino médio, e claro que iremos apresentar os negócios da família pra ela assim que completar a maioridade.
— Perfeito! Ainda é cedo, não é? Ela ainda precisa aproveitar muito a vida.
A empregada chega à sala.
— Com licença, senhora. A mesa já está pronta. Se quiser, podem se direcionar a sala de jantar que serviremos os pratos.
— Ótimo! Vamos, senhores?
MEIA HORA DEPOIS…
Os Greenfield e os Melvick estão na metade de sua refeição.
— A comida está estupenda, Mr. Greenfield!
— Por favor, doutor Craig. Me chame apenas de Samuel. E não me agradeça, agradeça à Adelaide que redige a receita aos empregados.
— Verdade? Então também é uma excelente cozinheira, senhora Greenfield?
— Não é nada de mais. Estão saboreando um simples Chicken tikka masala. Frango marinado em curry e iogurte. Possui uma forte influência à culinária indiana.
— Deveras estupendo, senhora! O que achou, filho?
— Está divino, senhora!
— Obrigada, cavalheiros! Mais tarde serviremos a sobremesa.
Craig limpa a boca com o lenço e diz:
— Então Samuel… Crê que agora teremos uma maior participação nas ações se… Unirmos os nossos herdeiros em matrimônio?
Hilda fica claramente incomodada.
— Claro que sim, doutor Craig. Será uma honra nos tornarmos parte da família. Acredito que o Addan seria o pretendente mais adequado para a minha filha.
— Espera, o quê?
Hilda questiona e provoca um desconforto tremendo na mesa. Adelaide a repreende em tom baixo e falando entre os dentes.
— Hilda… Por… Favor.
— Não, gente! Casar? Olha, desculpa, Addan, nada contra você, mas não podem me obrigar a casar com uma pessoa que eu sequer conheço.
— Hilda!- Repreende Samuel.
— Papai, eu todos os dias faço exatamente aquilo que vocês me pedem pra fazer. Não é porque tem um cara bonito e rico, que eu sou obrigada a me casar com ele, isso não é uma decisão terceirizada, eu que tenho que decidir com quem eu vou me casar ou não.
— JÁ CHEGA, HILDA!- Se enfurece Adelaide- Vá agora mesmo para o seu quarto.
— M… Mas… Mãe, eu…
— Vá para o seu quarto, mocinha! Ficará sem sobremesa pra largar de ser atrevida. Agora peça desculpas ao Addan e ao Mr. Craig.
Hilda olha para os dois, em seguida olha novamente para os seus pais, e diz:
— Vão se foder!
Hilda se levanta da cadeira furiosa, Adelaide também se levanta e fica completamente irritada e envergonhada com a atitude da filha.
— HILDA, HILDA, VENHA AQUI AGORA!
Addan, irônico, diz:
— Legal, tem atitude, gostei dela.
— Ai, meus pesares, senhores Melvick. Não sei o que se passa pela cabeça da minha filha, ela nunca agiu dessa forma.
— Tá tudo bem, senhora. É uma adolescente, se eu te disser que o meu caçula, o Tommy, também possui uns comportamentos questionáveis às vezes.
— Mas o Tommy ainda é imaturo, papai. Eu confesso que gostei da Hilda.
Adelaide diz:
— O quê? Mesmo depois desse comportamento?
— Tenho quase certeza de que ela está passando por aquele período desconfortável que acontece em todas as mulheres.
No quarto de Hilda, esta se encontra deitada na cama furiosa, ainda mais com a audácia de seus pais em querer obrigá-la a se casar com um homem que sequer conhece.
Nem mesmo toda a formosura do Addan foi suficiente para fisga-la. Ela já estava com o coração voltado ao nobre Wes. Mas sua família jamais poderia saber desse sentimento.
1 HORA DEPOIS…
Um pequeno chuvisco começa e Craig sente a urgência de ir embora.
— Oh! Nem vimos o tempo passar, está tarde. Acho que Addan e eu precisaremos partir.
Adelaide diz:
— Por favor, Mr. Craig. Peço que, como pedido de desculpas, fique esta noite em nossa residência junto com o seu filho. Não é bom viajar para outra cidade de noite, temos quartos para hospedá-los.
— Minha esposa tem razão, senhor Craig. Fique esta noite e amanhã pela manhã vocês podem partir.
— Se não tem outro remédio… O que acha, filho?
— Por mim está tudo bem, mas tem que avisar a mamãe, sabe como ela fica paranoica se não voltarmos.
— Claro que sim. Samuel, tem um telefone que eu possa falar com minha esposa?
— Claro, na mesa ao lado da escada.
— Muito obrigado!
Já passa das 10 da noite, Samuel e Addan estão se acomodando no quarto de hóspedes que possui duas camas de solteiro.
— Sei que vai ser a coisa mais estranha do mundo pra você dormir com seu velho pai em outra casa, agora que você é um adulto.
— Relaxa, pai. Uma noite não mata ninguém. E achei melhor ficarmos mesmo, sabe lá a hora que iríamos chegar em casa.
— Verdade… O que achou da Hilda?
— Ah! Bonita… Atraente… Bastante enérgica, eu até gostei dela. Mas ela claramente não gosta nem um pouco de mim.
— Que é isso, filho? Ela só estava um pouco assustada, tadinha.
— Não é pra menos, pelo o que eu entendi, nenhum de vocês haviam mencionado com ela antes sobre se casar comigo.
— Sim, pela atitude dela, foi pega de surpresa, mas logo ela vai ceder. Tenho certeza que irá ceder aos encantos do meu belo filho.
— Veremos… E a esposa do senhor Greenfield? Ela é muito bonita, né?
— Filho? Por favor, mais respeito.
— Por favor, papai, eu não sou cego.
— Sim, mas não precisa se referir a ela desse jeito dentro da casa dela.
— Papai, o senhor às vezes esquece que eu sou homem, e o senhor também é. Não pode negar que ela é uma mulher atraente. Se eu fosse o senhor… Faria de tudo pra deixa-la cada vez mais a vontade com a sua presença.
— Está insinuando que eu deva… (Diminuindo o tom de voz)Seduzir a senhora Adelaide?
— Não estou dizendo que é pra você trair a mamãe. Se fizer isso, nem eu vou te perdoar.
— E então?
— Papai, o senhor é bonitão. Com todo o respeito ao Samuel, mas ele nem parece que é apenas quatro anos mais velho que o senhor, eu acho ele um pouco acabado pra idade. O senhor ainda é jovem, tenho certeza que deve arrancar suspiros em muitas mulheres casadas por aí. Então… Por que não fazer com que a senhora Greenfield fique caidinha aos seus pés?
— Ela não tem cara de que cai nos encantos de qualquer homem, filho.
— O senhor não é qualquer homem, pai. Pensa por um lado? O senhor tenta seduzir a Adelaide, e eu a Hilda. Mas no meu caso, vou me casar com ela para fixar a nossa sociedade com a fazenda Greenfield e a Melvick S.A. Se a Adelaide estiver apaixonada pelo senhor, vai facilmente liberar verbas e assinar contratos sem ler as letras miúdas.
— Ás vezes eu me assusto com a geniosidade do meu próprio filho.
— Dá para o senhor fazer tudo isso sem precisar levar ela pra cama. E também, que nojo! Eu não queria uma cena dessas, tadinha da minha mãe.
— Bem, esse será o nosso segredo então, Addan.
— Pode deixar, eu não vou contar nada. Agora eu vou dormir porque estou pregado. Boa noite, pai!
— Boa noite, filho!
O plano perverso de Addan parece ter nutrido algo na mente de Craig. Será que ele irá acatar?
HORAS MAIS TARDE.
É perto da meia-noite, Samuel está na janela com seu pijama de seda lilás e uma taça de vinho na mão, apreciando a chuva que cai.
Ele é surpreendido pela voz de Craig que chega ali.
— Não consegue dormir?
— Mr. Craig? O que faz acordado a essa hora?
— A famosa leve insônia de quando você não dorme em sua casa.
— Sinto muito, queria deixa-los os mais confortáveis o possível.
— Não se acomode com isso, o meu filho está dormindo feito uma pedra.
— Aceita um vinho, senhor?
— Claro. Por que não?
Samuel serve uma taça de vinho para Craig. Ambos ficam parados olhando pela janela segurando suas taças com delicadeza.
— Sabes, senhor Samuel… Eu estive pensando que… Talvez eu precise vir mais vezes à Beaconsfield nas próximas semanas.
— Sério? Isso é excelente!
— É, eu só vou precisar procurar um hotel fixo para ficar todas as vezes que eu precisar viajar pra cá a trabalho.
— Ah! Por favor, Mr. Craig. Me ofende falar dessa forma. Não tem que se preocupar em procurar um hotel, poderá se hospedar na minha casa sempre que quiser.
— Verdade? Mas… Eu não quero incomodar o senhor e muito menos a tua esposa.
— Não é incômodo nenhum, senhor Craig. Será uma honra!
— Bem… Descobri que aqui tem coisas que me interessam muito mais do que os próprios negócios.
— Sério? E o que seriam essas coisas?
Craig dá um sorriso sarcástico e diz:
— Breve saberás, senhor Samuel… Breve saberás.
— Se o senhor está dizendo.
— Bem… (Se vira para ele estendendo a sua mão). Podemos fechar a nossa parceria a partir de hoje?
Samuel olha triunfante para Craig e, em seguida, aperta a sua mão.
— Está fechado, senhor.
Amanhece o dia, Craig e Addan estão se preparando para partir. Hilda desce e fica ali à espreita totalmente envergonhada.
— Senhor Craig e seu filho Addan, foi um prazer recebe-los em nossa casa. Por favor, voltem mais vezes!
— Não há que agradecer, senhor Samuel.
Addan diz:
— Escute, senhores Greenfield, eu posso entregar uma coisa para a Hilda como minhas desculpas?
Adelaide fica meio apreensiva.
— Aahh… É… Claro, eu só não acho que ela…
—… Muito obrigado, senhora!
Ele entra imediatamente passando por eles. Entra na casa e ali está Hilda no pé da janela.
— Oi! Hilda!
— Me… Me desculpa por ter falado aquelas coisas, não era a minha intenção.
— Relaxa, tá tudo bem. Eu vim te entregar isso aqui. (Mostra um pequeno envelope pra ela).
— É o meu telefone. Se precisar de ajuda e de qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo… Me ligue! Mas, com todo o respeito… Deixa os teus pais de fora disso. Tá ok?
Hilda hesita a princípio, mas decide pegar o envelope.
— O… Obrigada.
— Disponha. Até logo, miladie!
Minutos depois, os senhores já se encontram em um coche se despedindo da família Greenfield.
HORAS MAIS TARDE…
Hilda se encontra em seu quarto lendo um livro. A porta de seu quarto se abre e ali está a sua mãe com um semblante sério e nem um pouco amigável.
Ela não diz nada, absolutamente nada. Hilda fica a olhando e já entende o que ela quer dizer com apenas o olhar.
Hilda se levanta da cama bruscamente e pula do outro lado, Adelaide a encurrala.
— Não vai pra lugar nenhum, mocinha! (Segurando firme em seu braço).
— Mamãe, por favor!
— Me envergonhando na frente dos Melvick. Quem você pensa que é, sua vadiazinha?
Ela a empurra para o chão perto da cama.
— Por favor, mamãe. Eu já pedi desculpas!
Samuel entra no quarto com uma vara palmatória em sua mão.
— Foste uma menina mal criada, Hilda.
— Papai!
Adelaide a segura no seu braço arrancando-a do chão e jogando-a em cima da cama.
— Levanta, sua pestinha! Agora você vai aprender a nos obedecer.
— Eu deixei passar a punição de você ter ficado até tarde fora, filha. E é assim que você me retribui? Me envergonhando na frente dos nossos sócios?.
— Papai, eu…
— CALE-SE!
Ele acerta a palmatória no rosto dela. Adelaide a segura pelos seus cabelos fazendo com que ela encare o seu pai.
— Olhe bem, sua pestinha! Pra você aprender a nunca mais nos desafiar.
— Querida filha… Tudo o que fazemos é para o seu bem, só queremos te dar todo o amor e carinho que bons pais dariam.
— Então é isso que vocês aprendem na maldita igreja de vocês aos domingos? Que espancar a filha de vocês é um ato de amor?
Os pais ficam segundos em silêncio sem acreditar na astúcia de Hilda. Samuel mais uma vez pega a palmatória e acerta no rosto dela.
— AHHH!
— Sua maldita malcriada!
Adelaide segura Hilda pelo pescoço a tirando da cama.
— É assim que você me agradece, sua filha do diabo?
Ela acerta vários tapas em Hilda, a segura pelo braço e a arremessa contra a penteadeira.
Hilda cai ao lado da penteadeira e seus pais a encurrala.
— EU SEMPRE FUI UM BOM PAI ASSIM COMO A SUA MÃE SEMPRE FOI UMA BOA MÃE! NÓS SEGUIMOS OS MANDAMENTOS DO SENHOR!
— Mandamentos? Não sejam ridículos! Vocês não passam de dois velhos patéticos.
— SUA VAGABUNDA!
Samuel levanta a mão mais uma vez para Hilda e ela se levanta e empurra seu pai no chão. Adelaide tenta detê-la e Hilda acerta um tapa na cara dela que faz com que ela caia ao chão.
Hilda se levanta, cambaleando, vai para o corredor, mas está fraca. Seu pai consegue se levantar a tempo, a alcança puxando a sua perna e derrubando-a ao chão.
— ME SOLTA! ME SOLTA!
Samuel tira o cinturão da calça, entrega a palmatória nas mãos de Adelaide que veio em seguida.
— Você vai aprender a respeitar os seus pais, sua enviada de satanás!
Samuel acerta o cinturão nas costas dela. Em seguida, Adelaide dá continuidade com a palmatória. Hilda grita de dor. Os pais continuam espancando-a covardemente naquele casarão.
Os gritos de Hilda não foram suficientes para ecoar na fazenda e chamar a atenção dos outros empregados. Ela estava terrivelmente sozinha.
Mal sabia ela… Que seus abusos só estavam começando.
ATO II
TRÊS SEMANAS DEPOIS…
É óbvio de que os pais de Hilda precisaram arrumar todas as desculpas possíveis para que a filha não frequentasse a escola, porque convinha a eles que ninguém visse as marcas das agressões em seu corpo.
Samuel e Adelaide seguiam as suas vidas normalmente, enquanto Hilda mal podia desabafar com o seu próprio diário pessoal, pois temia que sua mãe o encontrasse e descobrisse os pensamentos mais macabros que já passou por sua mente.
Hilda está na fazenda, próxima ao feno. Há trabalhadores e capatazes ali por perto. Um deles em especial, um homem negro, que deve ter por volta de uns 24 anos, não deixou de olhar e admirá-la.
Outro trabalhador percebe o transe momentâneo daquele jovem e o alerta.
— Ei! Se eu fosse você, tomaria mais cuidado, ela é a filha do patrão.
— Mas eu não estou fazendo nada.
— Eu percebi de longe como você tá olhando pra ela, não deixe que nenhum dos patrões veja você com esse olhar. Vai por mim… Vai preferir morrer do que ser pego por eles.
O jovem acata, decepcionado, o alerta de seu colega. Enquanto a Hilda, ela está cada vez mais reclusa de tudo e, na maioria das vezes, prefere ficar calada sem soltar um único som de sua boca.
AMERSHAM, BUCKINGHAMSHIRE, INGLATERRA- RESIDÊNCIA DA FAMÍLIA MELVICK.
Em pé no balcão da cozinha e mexendo em uns tecidos de tricô, está Tania, a mãe de Addan. Seu caçula, Tommy, de 17 anos, está sentado na mesa lendo uma revista em quadrinhos. Ele tem olhos verdes como a mãe, cabelo loiro e mais ou menos 1,70.
Addan acaba de entrar em casa e cumprimenta a sua mãe com um beijo na testa enquanto vai tirando o seu paletó.
— Oi, mãe!
— Que bom que está aqui hoje, filho! Nunca fica em casa essa hora da tarde.
— Resolvi me dar um dia de folga.
— E onde está o teu pai?
— Ah, ele foi para Beaconsfield.
— De novo? O que tanto o seu pai faz em Beaconsfield?
Chegando à cozinha com um vaso de flores na mão, vêm Florence, a irmã mais velha de Addan. Tem 23 anos, cabelos loiros, compridos e um pouco encaracolados, usa um vestido floral esverdeado. Ela ainda não sabe que futuramente vai se tornar a avó de Lisa e Emily, mãe da falecida Violet, esposa de Makoto.
— Eu não duvidaria de que o papai estivesse encontrando algumas pessoas de saia nessas idas e vindas em Beaconsfield.
— Florence?
Tommy diz:
— A Florence diz isso só porque sabe que não tem homem nenhum que queira ela, mãe.
— Ah é, seu garanhão? Então vai me dizer que arrumou alguma namoradinha no colégio? Ou namoradinho? Sabe lá se você é gay.
— Cala a boca!
— Ei, ei, galera. Vamos parar, não é todo dia que eu venho pra casa essa hora. Deveriam agradecer, pois estão olhando para um futuro cientista poderosíssimo.
— Então é melhor descobrir logo se quem veio primeiro foi o ovo ou a galinha, maninho. Pois estou farta de ouvir teorias de tantos cientistas idiotas, enquanto eu tento descobrir como foi que um macaco se tornou humano.
— Olha, eu vou tomar um banho. Vocês três precisam relaxar, hein?
Addan sobe as escadas. Florence dá um sorriso e diz:
— Ai, ai, ele não muda mesmo!
Tania ficou todo esse tempo pensativa.
— Mãe? Tá tudo bem?
— Ele está me traindo, Florence. Seu pai está me traindo.
— Não, mãe. Por favor, o que eu falei agora era uma brincadeira.
— Não, já não é de agora que eu tenho reparado nessa mudança no comportamento dele. Está cada dia mais vaidoso, se perfumando mais pra sair. E quase toda semana está viajando para esta maldita cidade! Eu tenho certeza que ele está com alguma sirigaita.
Tommy responde:
— Aí, mãe. Pega leve. O papai não faria algo assim com a senhora.
— Mas era de se esperar, eu estou ficando cada vez mais velha e feia, e ele envelhecendo como vinho. É de se esperar que ele me troque por uma mulher muito mais jovem e bonita que eu.
— Mamãe, a senhora é linda! Não precisa se preocupar com isso.
— Não, Florence! Eu espero que o teu pai me dê explicações de tudo o que está acontecendo. Parte do que ele é hoje, ele precisa agradecer a mim… Do contrário seria mais um pobretão dos subúrbios londrinos.
Tânia, se sentindo menosprezada, vai para o seu quarto deixando Florence e Tommy com o peso da dúvida.
— Não devia ter falado aquilo, Florence. Agora a mamãe tá paranoia com isso.
— Eu não falei por mal, Tommy. Se eu soubesse, teria ficado calada.
— Tá, mas… O que você acha? Será que o papai realmente têm outra mulher em Beaconsfield?
Florence fica pensativa. Imediatamente somos transportados direto para a residência dos Greenfield com Craig assentado no sofá provando mais uma das receitas esplendorosas de Adelaide.
— Como sempre acertando no ponto, senhora Adelaide! Têm mãos mágicas.
— Ah, por favor, Mr. Craig, não seja exagerado.
— Eu falei para ele que logo iria ficar mal acostumado com as suas receitas, querida.
— Confesso que realmente estou mal acostumado. Não posso negar que esse também é um dos motivos de eu querer visita-los.
Os 3 dão uma gargalhada. Craig percebe o silêncio de Hilda no outro sofá e diz:
— O Addan te mandou um abraço, Hilda.
Hilda estranha a princípio que tenha se dirigido a palavra a ela, mas decide responder normalmente.
— Ah… Obrigada!
— Em outra oportunidade, quero que vocês venham comigo até Amersham conhecer a minha casa, minha esposa e filhos.
— É claro, senhor Craig. Minha esposa, minha filha e eu, ficaríamos lisonjeados.
— A propósito, vai ficar em casa esta noite, certo Mr. Craig?
— Sim, senhora Adelaide, e na verdade, estava pensando em retornar apenas na Segunda-feira, se não for incômodo pra vocês.
— Ah, por favor! Incômodo nenhum, não é, Samuel?
— Claro que não, é sempre bem vindo em nossa casa.
— Agradeço a todos pela hospitalidade.
HORAS MAIS TARDE…
Samuel se encontra sentado na mesa de seu escritório fazendo umas anotações. Alguém bate na porta.
— Entre.
— Com licença, Mr. Samuel!
— Ow, Mr. Craig. Entre, por gentileza.
Craig já está com sua roupa de dormir, entretanto não larga por nada a sua bela carteira de charutos.
— Como estão as coisas da fazenda, senhor Samuel? (Pergunta de costas pra ele, olhando pela janela).
— Tudo em ordem, senhor Craig. E a Melvick S.A?
Ele se vira para ele e diz:
— Tudo em ordem.
Ele abre a carteira de charutos e oferece um a Samuel.
Samuel se levanta, dá a volta no balcão para mais perto de Craig e aceita o charuto. Mas percebe que está sem nenhum fósforo ou isqueiro, então o próprio Craig acende pra ele.
Samuel dá uma tragada, respira, enquanto Craig também acende um charuto pra ele.
— Uhh, esse é dos bons, hein?
— O melhor da região, senhor.
— Escute, doutor… Posso te fazer uma pergunta?
— Claro.
— Há algumas semanas atrás, quando o senhor veio com o seu filho… Me disse que viria mais vezes aqui em Beaconsfield porque estava procurando outras coisas interessantes além dos negócios, não é?
— Exatamente isso.
— Bem… E o senhor encontrou?
Craig se aproxima ainda mais de Samuel. Dá uma baforada bem leve e lenta, e diz:
— O que você acha?
Samuel fica paralisado. Craig coloca o charuto sob a mesa e com uma mão, começa a acariciar o rosto de Samuel. Em seguida ele coloca os dedos em seus lábios.
— Espera. Espera.
— Shh! Shh! Vai ficar tudo bem.
— Elas podem nos ver.
— Não se preocupe… Elas estão dormindo a esta hora.
Craig coloca um dedo nos lábios de Samuel e depois coloca dentro de sua boca. Enquanto Craig o olha com seu olhar sexy, ele, com a outra mão, começa a pegar nas partes íntimas de Samuel para excitá-lo.
Não bastando o feito, Craig começa a beijar o pescoço de Samuel, em seguida ele move os seus lábios até os lábios de Samuel entrelaçando as suas línguas de maneira ardente e sem nenhum pudor.
Craig o para de beijar, agarra forte o seu rosto. Samuel tenta fazer com que Craig tire a sua roupa de dormir. O corpo esbelto e definido de Craig, como se tivesse sido esculpido pelos deuses, ofusca o olhar de Samuel que o deixa ainda mais excitado.
Craig abaixa as calças de Samuel. Se ajoelha. Vemos apenas Samuel olhando pra baixo, na direção de Craig e, em seguida, ele começa a olhar pra cima lentamente revirando os olhos de prazer.
E por assim estendeu essa chama naquele escritório até o amanhecer.
É por volta das 8 da manhã. Samuel chega sorrateiramente no seu quarto a passos cautelosos. Mas se depara com Adelaide sentada à poltrona com um semblante nada amigável.
— Ah! Querida, me assustou.
— Onde você esteve?
— Eu… Eu…
—… Não o vi chegar à noite para deitar. E quando acordei, a cama estava do mesmo jeito de como eu me deitei. Onde dormiu esta noite, Samuel?
— Me desculpe, querida. Eu acabei adormecendo no escritório. Tinha tanto trabalho a fazer, foi ficando tarde e não percebi que acabei caindo no sono. Sinto muito por preocupar-te.
— Hum… Só achei estranho porque você nunca dorme fora de seu quarto.
— Não se preocupe, querida. (Dá um beijo na testa dela)Vamos nos preparar para o café da manhã.
HORAS MAIS TARDE…
Craig está sentado no banco da varanda da casa lendo um jornal. Hilda aproveita que ele está sozinho e se aproxima dele.
— Mr. Craig?
— Oh, Hilda? Tudo bem, querida?
— Sim, eu… Eu queria pedir desculpas por… Bom, por ter me comportado mal com o senhor e com o seu filho. Eu… Eu não sou uma menina ruim.
— Oh, querida. Por favor, ninguém nunca disse que você é uma menina ruim. Está tudo bem, eu também já tive 16 anos, e sei como é chato pra vocês jovens ter que conviver com tantos adultos chatos como nós.
— É que… É que…
— … Tudo bem, eu concordo que você deveria ter sido avisada quanto aos nossos planos de você casar com o meu filho, mas confesso que fiquei surpreso, pois pensava que você estava ciente disso.
— Não, eu… Eu não sabia de nada.
— Ah, querida! Sinto muito, sinto muitíssimo. Dê uma chance de conhecer o Addan, você vai ver como ele é um rapaz respeitoso. Caso contrário… Pode conhecer o Tommy, meu caçula, tenho quase certeza que você se dará muito melhor com ele. A propósito… Você não tem amigos, Hilda?
— Eu… A minha mãe não me deixa sair muito, então…
— Tem… Alguma coisa que você gostaria de me dizer, Hilda?
Hilda fica pensativa. Quer se arriscar a contar dos abusos que sofre dentro de sua própria casa, mas ao mesmo tempo fica temerosa, pois não sabe se Craig é de confiança.
— Ahh, eu…
— HILDA!
— Mamãe?
— O que está fazendo? Por que está incomodando o senhor Melvick?
— Sra. Greenfield, está tudo bem. A Hilda não está me incomodando em hipótese nenhuma, muito pelo contrário, estávamos tendo uma boa e sadia conversa como dois adultos, não é mesmo, Hilda?
— Ahh… Sim, sim, eu… Eu estava conversando com o Mr. Craig sobre o Addan.
— Hum… Se o senhor Craig diz, eu acredito. Suba, deixe-o descansar.
Hilda volta para dentro da casa. Vai para o seu quarto. Ela abre a gaveta do criado mudo e um deles tem um fundo falso. Nesse fundo falso está o cartão que Addan entregou à ela.
Ela começa a ter flashbacks de Addan falando que ela poderia ligar pra ele se precisasse de qualquer coisa. Poderia estar pensando em avisar ao Addan de que sua família está entrando em uma enrascada? De que os Greenfield, não passam de uns sociopatas malucos? Ou ela quer denunciar finalmente os abusos que sofre dentro de casa?
As semanas foram se passando, e o caso de amor tórrido entre Craig e Samuel continuara cada vez mais frequente. Sempre que tinham oportunidade, os dois se encontravam às escondidas para consumar esse desejo carnal.
Não dava pra saber se isso não passava apenas de uma estratégia de um deles, mais precisamente do próprio Craig, ou se não era Samuel que o estava usando.
Não era um amor platônico de sentir borboletas na barriga, era uma paixão selvagem, brutal, ardente. Suas carícias mais se pareciam com torturas sadomasoquistas.
Craig era com certeza um dos homens mais atraentes daquela região, e apesar de Samuel ser bem oposto de seu “affair”, possuía um fogo que incendiava Craig sempre que tinham relações.
Afinal, o sexo e os negócios estavam andando lado a lado? Tudo não passava de um plano diabólico? Será que o conselho que Addan deu a Craig, ele acabou de fato utilizando, mas com o patriarca da família?
Ainda fugindo dos tabus da sexualidade de ambos, eles poderiam levar essa “relação” adiante?
Dois meses mantiveram esse pseudo-romance. As ações para ambas as empresas começaram a crescer. É como se cada vez que eles fizessem sexo, um novo acordo milionário abrangia sob seus negócios.
Mas cedo ou tarde, isso teria um fim. Tania não iria mais aguentar essas viagens esporádicas de seu esposo tanto tempo. As coisas estavam indo teoricamente bem, até que uma noite como qualquer uma outra, Hilda se levantou para tomar água.
A garota não conseguia dormir por algum motivo. Ela toma um copo grande de água na cozinha. Coloca-o de volta na prateleira e volta para os pés da escada.
Mas ela ouve uma movimentação, uns barulhos estranhos vindo do quarto de hóspedes. Ela se aproxima sorrateiramente. Poderia estar acontecendo alguma coisa de muito ruim com o Mr. Craig, talvez tenha pensado dessa forma.
Mas foi entre essas loucuras carnais daqueles dois homens, que eles acabaram esquecendo de trancar a porta. Hilda abre uma brecha pequena e avista, talvez, a cena mais bizarra da sua vida.
E não pelo ato em si, mas pelas pessoas que estavam protagonizando aquele ato.
E ali estava seu pai sentado de costas no colo de Craig, enquanto ele era penetrado lentamente. Craig virando o pescoço de Samuel para sua direção, dando beijos de língua ardentes.
Hilda se assusta. Fecha imediatamente a porta. Os homens sequer notaram a sua presença. Ela fica pálida, gélida em frente ao corredor. Em seguida volta imediatamente para as escadas.
Chega a seu quarto, se embrulha debaixo dos lençóis, está completamente atordoada com o que viu. Agora Hilda esconde um terrível segredo. Ela poderia usar isso como arma para chantagear o seus pais? Ou vai preferir ficar calada para sempre?
É por volta das 4 da tarde, Hilda está sentada debaixo de uma grande árvore um pouco mais distante da frente de sua casa, juntamente com Wes.
— Eu… Eu senti sua falta, Hilda. Onde esteve durante todo esse tempo? Você ficou quase um mês sem ir na escola, fiquei preocupado.
— Tem coisas, Wes, que… É melhor você nunca descobrir.
— Mas por quê? Eu me importo com você, Hilda.
— Wes, os meus pais, eles… Eles não são o que aparentam ser. Eles… (seus olhos começam a lacrimejar) Eles são maus, eles fazem coisas que… Eles fazem coisas ruins e eu estou com tanto medo, tanto medo.
— Ei, ei, ei. Tá tudo bem. Por que não me contou antes?
— Eu não tinha como te contar, eu… (Desaba a chorar) Eu só queria ir embora desse lugar, eu não aguento mais viver aqui.
Wes segura em seu rosto tentando consolá-la.
— Escuta… Eu tenho uma ideia… Vamos fugir.
— Fugir? Mas fugir pra aonde?
— Eu tenho um tio que mora em Sheffield, eu posso pegar a mesada do meu pai, e a gente dá um jeito de ir pra lá. Meu tio é legal e vai nos ajudar. Não precisa mais ficar aqui sofrendo.
— Eles me batem, Wes. Eles… Eles me batem. Eu não aguento mais isso.
Hilda abraça Wes, desconsolada. O jovem faz o possível para trazer conforto a ela.
Enquanto isso, Adelaide está na fazenda procurando Hilda por todos os lados.
— HILDA? HILDA, ONDE VOCÊ ESTÁ?
Ela pergunta pra vários fazendeiros.
— Viu a minha filha?
— Não, senhora.
— E você?
— Também não, senhora.
— MALDIÇÃO! HILDA!
Ela continua procurando por Hilda, até que aquele mesmo capataz negro que estava de olho em Hilda anteriormente, a cessa para dizer:
— Senhora, eu… Eu encontrei a tua filha indo para aquela direção oposta da casa.
— Com quem ela estava?
— Bom, é…
— Eu te fiz uma pergunta, seu capataz de merda. Com quem a Hilda estava?
— Com um garoto! Com um garoto da idade dela, eu acho.
— Um garoto?
— Sim, eu acho que era algum amigo.
— Essa pestinha vai me pagar.
— Eh… Senhora! Senhora, por favor, eu… Eu não quero arrumar problemas, só disse isso porque… Porque é a sua filha e… Me importo com a segurança da filha da patroa.
— Então se importa com a minha filha, não é? Vamos ver o quão longe está disposto a ir com essa tua importância.
Adelaide sai dali furiosa. O capataz sente que deveria não ter contado nada.
Na árvore, Wes continua a consolar Hilda.
— Vai ficar tudo bem. Vamos fugir juntos, seremos felizes. Hilda… Eu te amo!
— Eu também te amo, Wes!
Os dois se beijam apaixonadamente. Aquele mundo só deles durou alguns segundos, até que…
— HILDA!
— Ai, meu Deus! É a minha mãe!
— Você quer vir comigo pra casa? Eu te levo na bicicleta.
— Não, é melhor você sair daqui imediatamente.
Hilda se levanta e vai para a direção da sua mãe.
— Espera, Hilda. Eu posso falar com ela.
— Não, você não entende. Ninguém pode enfrentar a minha mãe. Ninguém!
— Espera…
— FOGE DAQUI, WES! RÁPIDO!
Adelaide se aproxima e grita para Wes.
— FIQUE LONGE DA MINHA FILHA, SEU BASTARDO!
Wes sai imediatamente dali de bicicleta. Hilda se aproxima da mãe ignorando-a completamente e passando por ela.
— O QUE PENSA QUE ESTAVA FAZENDO, SUA PIRANHINHA?
— Não te interessa, mãe. Me deixa em paz!
— NÃO ME RESPONDA DESSA FORMA, SUA ATREVIDA!
As duas se dirigem até o casarão. Quando Hilda passa pela porta, Adelaide puxa seu cabelo e bate em seu rosto.
— SUA PROSTITUTA! VAI TER O QUE MERECE!
Samuel entra na sala no mesmo instante.
— O que está acontecendo aqui?
— A vagabunda da sua filha estava se prostituindo com um garoto medíocre lá fora.
— O quê?
— Ele não é medíocre! O Wes é um homem respeitoso e de bem. Nem se compara com os miseráveis que vocês dois são. EU O AMO! OUVIRAM BEM? EU O AMO!
— SUA PESTE! COMO OUSA MANCHAR A IMAGEM DESTA FAMÍLIA?
— MANCHAR A IMAGEM DESTA FAMÍLIA? Engraçado que você só pensa nisso quando é comigo, mas tapa os olhos pra perceber que o papai transava com o Mr. Craig em sua própria casa.
Baque em Samuel. Adelaide fica possuída por uma fúria incontrolável.
— O QUE VOCÊ DISSE?
— Não julgo o papai, no lugar dele eu também iria preferir o calor de um pênis do que se deitar todos os dias com uma mulher fria como você.
— AAAAAAAAAAAAHHH SUA PESTINHA!
Adelaide dá vários tapas em Hilda, ela se desvencilha e sobe as escadas correndo.
— VOLTA AQUI, HILDA! VOLTA AQUI!
Adelaide se vira e olha fulminante para Samuel. Ela se aproxima e fica com o rosto bem próximo ao dele.
— É verdade?
— Eu…
— É verdade o que a Hilda disse?
— Ah… Eu…
Ela se afasta dele colocando as mãos na cabeça.
— Ai, meu Deus! É verdade, é verdade!
— Querida, calma, eu…
— Eu não acredito nisso, dentro da minha própria casa, você fez isso dentro da minha própria casa, como ousa?
— Querida, espere, espere… Me escuta… (Segurando nos braços dela) Eu realmente precisei me deitar com o Dr. Craig.
— E ainda confessa como se não fosse nada, seu nojento!
— Não, não. Entenda… Entenda… Eu fiz isso por nós. Se eu me deitasse com o Dr. Craig, teríamos metade das ações da Melvick S.A. Eu já meio que tive históricos sobre a sexualidade duvidosa dele, então quis agir. Eu precisava seduzi-lo e funcionou! Hoje estamos mais milionários do que nunca.
— Por que fez isso? Por quê?
— Não é o importante agora, querida… Mas a Hilda precisa de uma lição por ter feito isso. Ela não tinha ideia do que estava acontecendo e tentou nos jogar um contra o outro. Precisamos dar uma lição nessa garota, e creio que uma surra não é o suficiente.
— Sim, não é… Mas… Eu tenho uma ideia.
Meia hora mais tarde, Adelaide vai até a fazenda e chama o capataz em particular.
— Quero te fazer uma pergunta e espero total sinceridade da sua parte.
— Sim, senhora.
— Primeiramente, como se chama?
— Edmund, senhora.
— Me diga, Edmund… Achas a minha filha atraente?
— Senhora, eu…
— Limite-se em apenas responder a minha pergunta, Edmund… Achas a minha filha atraente?
— S… Sim, senhora. Com todo o respeito, eu acho sim.
— Certo, e… O quão disposto você estaria a ir para me ajudar com minha filha?
— Em que sentido, senhora?
— Estou falando de 10 mil dólares em dinheiro vivo, Edmund… Vai nos ajudar ou não?
Edmund fica pensativo sem saber o que responder.
RESIDÊNCIA DOS GREENFIELD, SALA DE ESTAR, 10 DA NOITE.
Há um colchão em formato circular no meio da sala de estar, substituindo a mesa de centro. Adelaide e Samuel estão sentados no sofá com uma roupa de festa.
Hilda se aproxima da sala e estranha completamente a atitude dos pais. Eles deixaram a iluminação fraca, com apenas alguns lampiões e velas acesas.
— O… O que tá acontecendo aqui?
— Oh, Hilda, querida. Que bom que chegou. Estávamos à sua espera para começarmos a cerimônia.- Disse Adelaide.
— Ce… Cerimônia? Sim, querida, passe.
Hilda vai para o meio da sala, seu pai se levanta e fecha a porta da sala de estar e tranca com chave. Ali do lado está Edmund, completamente envergonhado.
— Quem… Quem é você?
— Oh, querida. Quero que conheça Edmund, nosso capataz.
— Sim, mas… O que ele faz aqui?
— Oh, não sabia? Ele é parte fundamental desta cerimônia. Aproxime-se, querido.
Edmund sai do canto da parede e fica mais perto de Hilda. Adelaide se levanta e dá uma bebida com alguma coisa pra ele.
— Tome isso, querido. Vai te ajudar a ter mais vigor e disposição. E também vai quebrar um pouco do seu nervosismo.
— Eu… Eu não sei se consigo.
— Consegue sim, querido. Agora beba! Beba tudo e finja que meu marido e eu não estamos aqui.
Edmund bebe aquela taça. Hilda fica olhando para ele sem entender completamente o que está acontecendo ali.
— Eu… Eu não entendo, o que vocês estão fazendo?
— Nada de mais, querida.
Adelaide aplica uma seringa no pescoço de Hilda.
— Ahh! O que… O que você fez?
— Isso é apenas para deixar você relaxada, não irá dormir, mas ficará mais vulnerável para que a cerimônia seja um sucesso.
Samuel diz:
— Sabe, Hilda. Sua mãe e eu estávamos refletindo muito sobre o que você disse mais cedo ao meu respeito, então… Por que não mostrar à minha filha como é ser mulher na sociedade de hoje? Por tanto trouxemos o Edmund para nos ajudar nesse processo, pois só caberia a um rapaz da nossa confiança pra fazer isso.
Adelaide se senta no sofá, Samuel a acompanha, ela diz a Edmund:
— Pode ir em frente, querido. Logo a substância começa a fazer efeito tanto nela quanto em você.
— Eu… Eu sinto muito.
— O quê?
Edmund pega nos braços dela, ela hesita. Tenta se desvencilhar, mas começa a sentir uma tontura que a deixa fraca.
— Não, não. O que vocês fizeram comigo?
— Não se preocupe, querido Edmund. Esse sedativo vai mantê-la acordada, mas não vai impedir você. Vá em frente.
Edmund pega Hilda nos braços.
— Me desculpe pelo o que eu estou prestes a fazer, mas você é muito gostosa.
Edmund começa a beijar os seios de Hilda. Ele a joga em cima do colchão, começa a lamber seu pescoço.
No sofá, Samuel pergunta à Adelaide:
— Aceita mais uma taça de vinho, querida?
— Claro, querido. A noite está apenas começando.
Ele serve mais uma taça à Adelaide. Enquanto isso, Edmund abaixa as suas calças, levanta o vestido de Hilda e coloca sua genital nela iniciando o ato sexual.
Hilda não consegue se mover, ela pode ver tudo e sentir tudo à sua volta, mas não se mexe. Lágrimas saem de seus olhos enquanto ela é covardemente estuprada pelo capataz, e seus pais brindando e gargalhando no sofá testemunhando o estupro da própria filha.
ATO III
Amanhece o dia, Hilda está na cama totalmente catatônica. Adelaide cumpre a sua promessa e paga o capataz Edmund.
Edmund chega a seu pequeno casebre com o dinheiro guardado em uma bolsa, e de repente cai no chão em desespero sentindo tamanho remorso e culpa por ter feito o que fez.
Uma trégua foi estabelecida durante este período, mas o que os pais de Hilda não esperavam, eram as consequências de tudo isso.
Um médico conversa com Adelaide na frente de Hilda:
— Sua filha está grávida, senhora.
— O… O quê?
O sofrimento de Hilda parecia não ter fim. Ao saber da gravidez, procurou todos os métodos possíveis para tentar abortar a criança. Ela não queria dar a luz a um filho que veio de um estupro.
Os meses foram se passando, a barriga de Hilda já era impossível de disfarçar e ela foi impedida de ir definitivamente para a escola. Edmund percebeu que havia algo errado naquela casa e sem querer, acabou vendo Hilda na varanda da casa sentada na cadeira de balanço com a barriga enorme. Ele imediatamente chegou à conclusão de que aquele filho que ela estava esperando era dele.
Edmund tentou de tudo se aproximar de Hilda, mas Adelaide nunca permitia.
— Por favor, senhora. Essa criança também é minha.
— CALE-SE! Eu não quero que as pessoas descubram que a minha filha engravidou de um capataz negro e pobretão como você.
— Por que a senhora fez isso? Me pagou para ter relações sexuais com a sua filha e ainda de quebra, assistiu tudo com o seu marido. Que tipo de doentes de merda vocês são?
— Alto lá, rapazinho! Nós te pagamos muito bem para manter essa tua boca fechada. E com o dinheiro que demos a você, deveria ter saído daqui pra sempre.
— Não sem o meu filho.
— É uma menina, imbecil! Nem o ventre dessa desgraçada serve pra nos dar um herdeiro homem.
— Não importa! Sou o pai dessa criança que está para nascer e quero ter minha filha por perto. E se não deixar eu ver ela, eu juro por Deus que denuncio vocês e conto tudo o que fizeram.
— Não se atreva, garoto! Não sabe com quem está se metendo.
— Então me deixe ver a minha filha quando ela nascer.
— Está bem, está bem… Vamos fazer um trato. Eu deixo você ver a minha neta assim que nascer. Mas em troca… Te darei 15 mil dólares para você desaparecer das nossas vidas.
— 20.
— O que disse?
— 20 mil dólares ou eu conto tudo pra polícia.
Adelaide viu que não tinha outra alternativa a não ser acatar o pedido de Edmund.
Algumas semanas se passaram e finalmente chegou o momento de Hilda dar a luz. As parteiras estão preparando-a para este grande momento. Hilda faz todos os esforços que estão ao teu alcance e, até que por fim, a criança nasce.
A parteira corta o cordão umbilical, em seguida embrulha a criança em uma toalha e a aproxima de Hilda.
— É uma linda menina, senhorita.
— Tire essa bastarda da minha frente.
— O… O que disse?
Adelaide entra no quarto.
— Pode deixar que daqui eu assumo.
Ela pega a criança no colo e se retira dali. Horas depois, Adelaide atende a porta e se trata de Edmund.
Adelaide, com cara de poucos amigos, sai da casa e mostra a criança para ele.
— Oh, mas como é linda, minha filhota! Parece um anjinho. Já deram o nome pra ela?
— Ainda não, Hilda se recusou a escolher um nome.
— Mas ela não pode ficar sem nome, então…
— … Chega! Temos um trato, não temos?
Ela pega um pacote cheio de dinheiro e entrega pra ele.
— Vinte mil como eu prometi. Te dou um prazo de até um mês para desaparecer desse lugar e nunca mais se aproximar da nossa família. Entendido?
— Tudo bem, eu entendi.
Os dias foram se passando, um ódio sem igual foi crescendo cada vez mais no coração de Hilda. Ela ainda precisava esperar passar o seu resguardo para poder agir.
Durante esse período, sequer pegou a sua filha no colo. Adelaide teve que recorrer a uma ama de leite para amamentar a criança.
O ódio de Hilda estava crescendo de uma maneira assustadora, ela queria se vingar, ela precisava se vingar. Então durante todo esse período de resguardo, pensou em um plano. Plano esse que poderia definir o seu futuro para sempre.
Finalmente Hilda já pode caminhar normalmente, ela nunca mais voltou a dirigir a palavra a seus pais. É como se vivesse com estranhos dentro da própria casa. Mas Hilda estava tranquila, pois algo já se passava em sua mente. Ela finalmente se lembra daquele cartão com um número de telefone que o Addan a deu.
— Alô, Addan? É a Hilda Greenfield. Lembra que teve uma vez que você disse que se eu precisasse de qualquer coisa, eu poderia te ligar? Então… Essa é a hora.
Hilda estava arquitetando algo, mas tinha que fazer às escondidas, não poderia dar nenhuma brecha de desconfiança de seus pais.
Adelaide precisou ir até a cidade pela manhã e Hilda tinha que agir. Esperou que sua mãe saísse e imediatamente foi até os currais procurar algo, mas não esperava se deparar com seu violador ali com uma mochila nas costas.
— HILDA?
— Fica longe de mim, seu monstro!
— Escuta, eu sinto muito, sinto muito mesmo pelo o que aconteceu. Eu juro que não queria. A tua mãe pediu pra que eu fosse embora daqui pra sempre. Como eu sei que nunca mais voltarei a ver minha filha de novo, então… Quis ajudar indiretamente.
Ele pega uma parte do dinheiro que recebeu e entrega a ela.
— Aqui tem 10 mil dólares. É metade do dinheiro que sua mãe me pagou para me afastar de vocês. Eu não acho justo ficar com toda a grana, por isso estou te pedindo para que pegue esse dinheiro e saia daqui, Hilda! Pegue a bebê e fuja para bem longe de sua casa. Seus pais são psicopatas, e eu tenho medo de que eles possam causar alguma coisa contra você e a nossa filha. Por favor, aceite!
Em outras circunstâncias, Hilda jamais teria aceitado alguma coisa deste homem, mas ela viu que aquilo poderia ser útil para executar o seu plano. Ela aceitou, com as condições de que Edmund também fizera algo pra ela: Entregasse uma carta a Wes.
E assim ocorreu. Hilda escreveu uma espécie de “carta de despedida” ao seu amado Wes e pediu para que Edmund entregasse a ele assim que possível.
Anoitece, chega finalmente o momento em que Hilda irá colocar em prática o seu plano.
O relógio aponta pra meia-noite. Os seus pais já estão dormindo. A bebê está em um berço em outro quarto.
Hilda se levanta, coloca uma mochila nas costas e tira debaixo da cama, galões de gasolina.
Ela sai de seu quarto e começa a jogar gasolina por todo o corredor. Em seguida ela entra no quarto de sua filha, joga gasolina ao redor do berço. Ela para por instantes e fica olhando a criança dormir profundamente.
— Eu deveria ter te abortado quando eu tive a chance, sua maldita bastarda. Agora você não será mais uma pedra no meu caminho.
Hilda sai do quarto deixando a porta aberta. Ela continua a jogar gasolina em toda a casa enquanto pensamentos passam por sua cabeça:
— Tiraram tudo de mim… Tiraram o homem que eu amo, tiraram a minha inocência, tiraram a minha vida… E agora… Eu vou tirar a de todos vocês. De todos vocês.
Do lado de fora da casa, Edmund se aproxima pelo matagal, ele ainda não teve coragem de ir embora definitivamente.
Dentro da casa, Hilda finalmente entra no quarto de seus pais.
O ódio que está dentro dela é visível a olho nu, e começa a pensar em todos os abusos que sofreu durante esse período. As surras, os insultos, o estupro, tudo…
Ela joga gasolina em cima do cobertor onde seus pais adormecem e faz um rastro até a porta.
Na casa de Wes, ele acaba de ler a carta de Hilda.
— Não, não. HILDA!
Ele imediatamente sai de casa, pega a sua bicicleta e sai totalmente desesperado de madrugada em busca de Hilda.
— HILDA! PARE!
É chegada a hora do ponto final.
Do fim dos abusos,
Do fim das agressões,
Do fim do sofrimento.
Os pais de Hilda acordam pouco a pouco e se deparam com a filha parada na porta. Adelaide exclama:
— Hilda? O que está fazendo aqui?
Hilda com um olhar diabólico e um sorriso mais obscuro que as trevas do verdadeiro inferno, diz:
— Não se preocupe, mamãe… Tudo o que eu faço por vocês é unicamente por amor.
Hilda pega a caixa de fósforo, dá um passo pra trás. Risca o fósforo, fica admirando aquela chama viva no palito. Seus pais intactos sem saber o que dizer.
— Únicamente… Por amor.
Hilda deixa cair o fósforo. Rapidamente a chama inflama com a gasolina e sobe para os cobertores dos pais de Hilda.
— AAAAAAAAAAAAHHHH! AAAAAAAAAAAAAAAAHHH!
A agonia, os gritos, a morte dando as boas vindas. E Hilda tendo os seus olhos brilhando ao ver os seus pais envolto das chamas.
O fogo querendo se espalhar pela janela. E Edmund percebendo que algo estava errado.
— HILDA!!! NÃAAAAAO!!
A vingança de Hilda era o ápice de todo o seu sofrimento e de tudo o que passou.
E agora…
Tudo será reduzido a cinzas.
Em obscuras cinzas.
PRÓXIMA TERÇA,
NÃO PERCAM A MID SEASON FINALE
DE VALE DICERE