ESTAÇÃO MEDICINA
Capítulo 51
A Sábia Cigana

CENA 01/SÃO PAULO/ESTAÇÃO DA LUZ/EXTERIOR/MADRUGADA

Goram estava incrédulo com as declarações públicas de Mateus. Os flashes continuavam acompanhados de cliques.

REPÓRTER – E então, Goram, a declaração é verdadeira mesmo! Qual o plano do casal depois desse trágico episódio.

A cabeça de Goram rodava. Mateus sorria o encarando esperando uma resposta.

LIGAR FLASHBACK RÁPIDO

Goram se recordou dos gritos dos pais ao serem mortos de surpresa. Ele ainda uma criança, a gargalhada daqueles dois. SOFRIMENTO.

Cortar para:

Goram ainda criança sendo jogado no rio em altas correntezas. Ele se contorcendo para não entrar naquelas águas. Depois sendo atirado sem dó nem piedade e se afogando. P NICO.

Cortar para:

Goram, anos depois, desembarcando no aeroporto. Ele quebrando o copo na mão. Aproximando-se de Mateus. Dizendo para Themise que iria as últimas consequências em nome de seus pais.

Voltou do transe com estrépito. Todos aguardavam sua resposta. Estava sendo televisionado provavelmente para todo país. Forçou um sorriso estampado no rosto. Era pela memória de seus pais, ele precisava ir até o fim da sua volta para São Paulo e aquela era a chance mais do que nunca de concretizar seu intento, vingando-se de seu irmão mais velho, assassino.

Balbuciou com dificuldade, mas depois saiu, meio nauseado.

GORAM – É verdade sim. Quanto aos planos, é com ele.

E fingiu um riso. Mateus o pegou no colo e o roubou um beijo. Ele deixou se levar. Vários registros foram feito e muitos aplaudiram a cena até então romântica.

CENA 02/SÃO PAULO/JD AMÉRICA/MANSÃO DOS MOÇA/INTERIOR/SALA DE ESTAR/MADRUGADA

Rita ia aos prantos assistindo tudo naquele telão que parecia de cinema. Akiko ria comendo pipoca com Cecília enrolada no pescoço. Meire estava passada.

MEIRE – Como ele pode fazer isso com vocês duas? Ele estava esperando a oportunidade para aceitar esse pedido de namoro? Por que o fez com tanta cara de pau em pleno horário nacional?

RITA – Essa foi a maior decepção da minha vida. Como Goram pode fazer isso comigo? E eu ainda aqui, boba, preocupada com ele.

Ela pegou sua bolsa e desatou a correr embora. Meire foi atrás.

MEIRE – Espera amiga.

Sozinho, Akiko beija Cecília na boca.

AKIKO – Eu não disse que essa história iria esquentar, docinho.

CENA 03/SÃO PAULO/RODOVIAS/ MADRUGADA

Confuso, Bernardo dirige até Diadema. Olhou para o ferimento no ombro, doía muito, o ferimento transbordava conteúdo mais espesso, mal cheiroso. No começo das falanges dos dedos das mãos, pequenos estilhaços ardiam na troca de tiros. Transpirava forte, estava ardendo em febre.

CENA04/SÃO PAULO/TATUAPÉ/EXTERIOR PRÉDIO DE VITOR/MADRUGADA

Fabiana desce o cacete na caipira.

FABIANA – ISSO É PARA VOCÊ APRENDER A NÃO ATENTAR CONTRA GENTE DE MIM!

VIVIANE – Me largaaaaaa!

Quando Guto percebe que muitos dos moradores estão saindo na varanda ou descendo, ele aparta briga.

GUTO – Chega, amor. Chega!

FABIANA – Eu preciso ensinar esse diaba, que ela não pode armar contra as pessoas e ficar impune desse jeito.

MORADOR – Mas isso é um absurdo, seu porteiro. O Senhor assistir uma cena de violência dessa e ser conivente.

PORTEIRO – Mas o que é que o senhor queria que eu fizesse, ele me impediu.

VIVIANE – Eu vou te entregar, sua favelada, por AGRESSÃO!

FABIANA – Entrega, aproveita e conta o que você fez comigo na rodoviária. Por que eu não sei se vocês sabem, queridos moradores dessa infeliz…

Vitor chega observando o movimento e se aproxima.

VITOR – VIVI! O que tá acontecendo, gente?

GUTO – Depois te explico cara, essa sua colega de apartamento é uma pilantra de marca maior.

FABIANA – Saibam que essa garota que mora com vocês ela me vendeu uns brincos caros na rodoviária Tietê, alegando que não valiam lá grande coisa, que ela tava sem comer, eu caí que nem um pato e depois ela picou a mula dela e a dona veio com a polícia atrás de mim e eu quase fui presa.

GUTO – Eu sou testemunha!

VITOR – O quê?

VIVIANE – Isso é mentira!

FABIANA – Mentira nada, eu ligo agora para o policial porque eles viram você entrando na rodoviária. Não vai demorar muito para você se estrepar,quis armar para cima de mim, mas quem vai se ferrar nessa história toda, é você!

VITOR – Como você pode fazer uma coisa dessas, Viviane! Eu confiei em você, te recebi na minha casa porque éramos da mesma cidade e você…Cara, eu não te conheço, que vergonha!

E subiu, o prédio vaiou Viviane que se levantou toda marcada.

FABIANA – Se mete comigo outra vez para você ver se não é pior. GOLPISTA!

Guto levou a amada para a moto, eles colocaram o capacete, ele subiu primeiro, depois ela atrás, partiram. Viviane não aguentou as vaias, entrou correndo para dentro de vergonha, apertou o botão do elevador. Estava nervosa, chorando.

O elevador abriu, ela se jogou para dentro. O elevador abriu e o apartamento de Vitor estava entreaberto. Ele a aguardava sério, sentado no sofá. Segurava sua mala.

VIVIANE – O que a minha mala está…

VITOR – Por que você fez isso com ela ?

VIVIANE – Eu não fiz nada, eu…

VITOR – Para de mentir, eu sei que você fez, conheço a Fabi, ela não iria vir até aqui se não tivesse uma boa causa.

VIVIANE – Aquela animal se confundiu, achou que eu era…

VITOR – PARA COM ESSA HISTÓRIA!

Ela o observava trêmula.

VITOR – Cara, eu não nasci ontem. Estou te dando a oportunidade de se explicar, contar a verdade, mas você não quer colaborar.

Viviane ficou magoada com aquele jeito de falar.

VIVIANE – Quer saber, você quer que eu vá embora, eu vou.

Ela pegou sua mala.

VITOR – Fugir dos problemas não vai resolvê-los.

Mas ela não lhe deu ouvidos, bateu a porta do quarto e começou a arrumar suas coisas.

CENA 05/SÃO PAULO/SÃO MATEUS/CASA DE QUITÉRIA/EXTERIOR/MADRUGADA

O corpo acabou de ser ensacado, é levado pelo IML. Afrania chorava.

AFRANIA – Assassina! Assassina!

Um policial se aproxima da jovem sentada na guia. Boina acorda nos braços dela.

BOINA – Onde estou? O que aconteceu?

Ele se levanta meio confuso e coloca a mão no queixo.

BOINA – Onde está aquele brutamonte, vou dar uma surra…

POLICIAL – Ele está morto, meu senhor.

BOINA – MORTO? MAS COMO?

POLICIAL – Isso eu também quero descobrir. Mocinha, você é Quitéria de Jesus, não é?

Ela balança a cabeça ainda abalada.

POLICIAL – Será que posso dar uma palavrinha com você em particular.

QUITÉRIA – Pode falar aqui moço, não há segredo entre mim e ele.

Policial observa o médico meio atônito.

POLICIAL – Como preferir. Bom…São verídicas as informações que sua mãe nos disse?

Um silêncio predomina. Quitéria balança a cabeça positivamente.

POLICIAL – Você empurrou ele direto em frente ao caminhão?

QUITÉRIA – Sim.

POLICIAL – E por que você fez isso contra seu padrasto?

QUITÉRIA – Por que ele ia matar Dr. Boina e por tudo…

POLICIAL – Tudo?

QUITÉRIA – Tudo que ele fez para mim e minha mãe.

POLICIAL – E o que ele fazia para você e sua mãe?

QUITÉRIA – Ele bebia, ficava agressivo e batia nela.

POLICIAL – E para você?

Quitéria hesita um instante.

POLICIAL – Vamos, é importante para tentar amenizar um pouco para o seu lado. A Vizinhança já nos contou que ele batia nas crianças que ficavam jogando bola em frente a casa de vocês, não era uma pessoa muito queria por aqui. Outros escutavam gritos de Dona Afrânia.

QUITÉRIA – Ele…abusava sexualmente de mim. É isso.

Policial fica surpreso.

QUITÉRIA – Ele me engravidou e minha mãe queria que eu levasse a gravidez adiante, a sorte é que…

Ela troca olhares com Boina.

QUITÉRIA – A sorte é que eu perdi.

Policial anota tudo. Boina respira aliviado olhando para ela.

CENA 06/SÃO PAULO/JD AMÉRICA/MANSÃO DOS MOÇA/INTERIOR/SAGUÃO/MADRUGADA

Mateus entra carregando Goram nos braços. Catarina aparece ainda com trajes formais, saudando-os.

CATARINA – Eu assisti a cena pela televisão. Essa casa estava precisando de um novo amor. Felicidades ao casal.

MATEUS – Meu Deus, mulher, você não foi dormir ainda? Vai descansar que hoje a noite promete.

Goram finge satisfação. Mas sente uma angústia tão grande.

Akiko aparece fumando uns baratos, Cecília em seu pescoço. Mateus põe Goram no chão, perdendo a paciência.

MATEUS – Eu já pedi para não fumar perto da minha cobra, o pulmão dela é mais frágil que o nosso, sabia?

Goram surpreendeu com um gesto humano saindo daquele ser.

AKIKO – Parabéns aos pombinhos, agora o país inteiro já sabe. É uma pena que uma certa senhora que estava aqui não tenha gostado e tenha saído correndo.

MATEUS – QUEM? Aquela neurologista tribufu?

CATARINA – Dr. Rita saiu desatinada.

GORAM – Ela estava aqui? Oh, meu Deus!

Instrumental explosivo. Goram tenta sair, mas Mateus o segura pelo braço. O jovem se vira.

MATEUS – Agora você está comigo, deixe essa criatura de lado. Aliás, não pega nada bem um aluno correndo atrás desse jeito de uma professora.

Goram engoliu aquelas palavras. Respirou fundo e consentiu.
Fechar em seu rosto.

CENA 07/DIADEMA/BARRACÃO/EXTERIOR

Bernardo puxa o freio de mão, caindo de cara no volante. Araponga sai toda contente do barraco.

ARAPONGA – Nossa, amor de Araponga! Bernardo, eu aqui estava tão preocupada com você, galalau, que bom que você…

Ela abre a porta do carro e se desespera ao ver que Bernardo cai de supetão para fora, extremamente torporoso.

ARAPONGA – HOMEM DE DEUS! O QUE ESTÁ ACONTECENDO? FALE COMIGO!

Ele bate no rosto dele, tentando acordá-lo, mas ele rebaixa cada vez mais o nível de consciência. Ardia em febre. O Capanga que estava lá dentro aparece.

CAPANGA – Cadê o resto do pessoal?

ARAPONGA – Eu lá quero saber, eu quero saber é do meu homem. Bernardo, amor de Araponga, fala comigo, fale. O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AÍ PARADO, CHAME UM MÉDICO, ANDE!

Assustado com o estado de Bernardo o homem atende.

CENA 08/SÃO PAULO/TATUAPÉ/APARTAMENTO DE VITOR/INTERIOR/MADRUGADA

Viviane arrasta sua mala pesada pela sala.

VITOR – Você realmente vai querer bancar isso!

VIVIANE – Eu sei muito bem quem eu sou, não preciso de pessoas provando o contrário. Ah, não se preocupe, neste mês ainda ajudo com aluguel.

Ela sai, batendo a porta. Vitor respira fundo.

CORTE DESCONTÍNUO:

EXTERIOR – RUAS DE TATUAPÉ

Ao som, Menina Veneno, Viviane arrasta sua mala pelos becos e vielas de Tatuapé, seu semblante abatido não é o suficiente para fazê-la parar, avança sem direção.

CENA 09/SÃO PAULO/IMAGENS AÉREAS
Ao som de CPM 22, Dias Atrás, amanhece na capital…

CENA 10/SÃO PAULO/VILA MADALENA/CLÍNICA PSIQUIATRA/INTERIOR/QUARTO DE HELOÍSA/MANHÃ

Suzy observa Heloísa dormindo, extremamente preocupada. Leopoldina aparece para fazer a sessão.

LEOPOLDINA – Olá, bom dia, bom dia. Ah, ela ainda não acordou?

SUZY – E pelo jeito não vai tem cedo.

LEOPOLDINA – Por quê?
SUZY – Ah, Doutora, ontem ela ficou extremamente agitada, acabou me ouvindo conversar com Meire, uma amiga nossa. Acabei contando para ela que Goram havia sido sequestrado, eu não deveria. Ela ficou extremamente preocupada, agitada. O plantonista não pensou duas vezes, entrou para ela com Diazepam e a bichinha tá assim desde então.

LEOPOLDINA – É bom evitar ficar passando esses problemas para ela. Ela está num tratamento que requer muito foco e determinação. Queremos o menor tempo de hospitalização possível.

SUZY – Eu sei, eu errei.

LEOPOLDINA – Mas olha, eu estava vindo para cá e comprei na banca de jornal, a edição de hoje, do Estadão e está estampado na capa que o sequestro foi resolvido.

SUZY – Ah foi? Acharam Goram?

LEOPOLDINA – Sim, vou te mostrar.

Ela abre sua bolsa e procura o jornal, entregando à japonesa. Suzy abre e se choca com a manchete: Finalmente o romance entre Reitor e aluno de medicina da Universidade Olímpius é assumido publicamente.

SUZY – COMO É QUE É?

CENA 11/SÃO PAULO/JD AMÉRICA/MANSÃO MOÇA/INTERIOR/QUARTO DE MATEUS.

Instrumental explosivo. Goram observa extremamente perdido em cólera seu irmão dormindo profundamente. Ele olha para as cinco garrafas de vinho no chão.

GORAM (V.O.) – Pelo menos mais uma vez escapei.

Ele vai até a varanda, reflexivo. Flashback rápido.

Goram se recorda de quando se declarou para Heloísa na clínica, entregando flores à amada em meio a aplausos da comunidade da clínica.

Cortar para:
Goram se recorda de quando se declarou para a Dra. Rita no apartamento dela, dizendo que a amava.

Desligar flashback

Goram sente uma dor no peito tão grande.

GORAM (V.O.) – Bem que Themise lhe falou, ele tinha se perdido entre seu desejo praticamente uterino por vingança e os laços mais importantes de sua vida. Mas e seu passado e seus pais? E tudo que ele havia passado, não merecia ao menos uma reparação? Goram não queria fazer ninguém sofrer, mas não podia deixar de lado seu principal objetivo de vida desde que seus pais morreram.

Quando se deu conta, Mateus estava esfregando-se nele. Ele se virou enojado. Deixou seus lábios tocarem os de Mateus.

MATEUS – Vamos tomar café da manhã?

GORAM – Claro.

CORTAR PARA:

Quando desceram a escada abraçados. Catarina veio ao encontro deles.

CATARINA – Os policiais já chegaram.

Instrumental explosivo.

GORAM – Policiais?

MATEUS – Eles madrugaram hein? Não pensei que fossem vir tão cedo. Mas sim, policiais, amor, você precisa depor sobre o que aconteceu com você, precisamos achar esses responsáveis.

Goram estremeceu.

GORAM – Égua! É mesmo?

MATEUS – Claro. Pode mandar entrar, Catarina. Manda servir nosso café no escritório, a gente adapta, fazer o quê.
Eles se dirigiram para o escritório. A porta entrou, delegado França os cumprimentou.

DELEGADO FRANÇA – Boa tarde, senhores. Desculpe vim tão cedo, mas precisava cumprir meu ofício, ainda mais depois de toda notoriedade que o caso tomou. Não sabia se era uma boa hora, mas…

MATEUS – Já que está aqui, conclua.

DELEGADO FRANÇA – Gostaria de conversar com jovem Goram a sós, fazer umas perguntas, entender tudo que ocorreu.

MATEUS – Claro, ele só vai tomar um café, aliás junte-se a nós e logo mais estará disponíveis para depoimentos, certo amor?

Goram estava petrificado.

CENA 12/SÃO PAULO/TATUAPÉ/HOSPITAL ORLANDO MOÇA/UTI/INTERIOR/ MANHÃ

Araponga observava o estado de saúde de Bernardo pela janela. Não consegue conter as lágrimas.

ENFERMEIRA – Você está chorando?

ARAPONGA – Eu não posso perdê-lo.

ENFERMEIRA – Não fique assim, ele vai se recuperar.

ARAPONGA – Me disseram que ele está com infecção generalizada, que não tá respondendo ao soro.

ENFERMEIRA – Eu não vou mentir que o quadro dele não é grave, grave é, mas está sob o controle, ele não está respondendo ao ringer, mas está respondendo as drogas vasoativas. E os controles dele estão melhorando.

ARAPONGA – Queria acreditar nisso, mas não sai da minha cabeça aquela imagem de ontem…

LIGAR FLASHBACK

EMERGÊNCIA – HOSPITAL ORLANDO MOÇA.

AMBUL NCIA ESTACIONA RÁPIDO.

Os paramédicos saem. Caio vai ao encontro deles.

CAIO – MAIS UM! ESTAMOS LOTADOS AQUI! VAGA ZERO DE NOVO?

Então o paciente entra em parada cardíaca. Araponga escuta os sons de alarme e desce desesperada do banco do carona, vendo desfibrilarem Bernardo.

ARAPONGA – PELO AMOR DE DEUS, NÃO DEIXEM ELE MORRER!

CAIO – ALGUÉM AFASTA ESSA MULHER DAQUI!

Dois enfermeiros fortes surgem, enquanto o leito é admitido, ela sofre.

DESLIGAR FLASHBACK

ARAPONGA – E tudo isso por conta daquele curumim. Se não tivesse atirado no meu homem, ele não estaria assim. Mas ele me paga. (Ela observa a televisão de teto mostrando sobre o beijo do casal na estação da Luz). Essa felicidade não vai durar por muito tempo.

CENA 13/SÃO PAULO/JD AMÉRICA/MANSÃO MOÇA/INTERIOR/ESCRITÓRIO/MANHÃ

Goram respirou fundo. Queria só fugir daquele interrogatório todo. E se desse bandeira? E se desconfiassem que armou o próprio sequestro?

DELEGADO FRANÇA – Goram, passar por um sequestro desse mesmo que seja por pouco tempo é sempre uma situação assustadora. Por isso preciso que seja o mais detalhista possível comigo. Está bem?

GORAM – Entendo.

DELEGADO FRANÇA – Pois muito bem, você viu quem o levou até o cativeiro?

GORAM – Não me lembro não senhor.

DELEGADO FRANÇA – E onde era esse local? Tinha uma noção.

GORAM – Para dizer a verdade, eu não fazia ideia.

DELEGADO FRANÇA – Havia quantos homens com você lá?

GORAM – Não me lembro.

DELEGADO FRANÇA – Vamos, Goram, faça uma força, é importante tentar se recordar de tudo que puder. Estamos iniciando as investigações.

Instrumental catastrófico. Close no rosto de Goram.

CENA 14/SÃO PAULO/JARDINS/MANSÃO MATOZZO/INTERIOR

A campainha ressoa. Eliane corre para atender descendo a escada. Era ninguém menos que Viviane de mala e cuia.

ELIANE – VIVI?

CENA 15/SÃO PAULO/PARAISÓPOLIS/CASA DE CAROL/INTERIOR

FABIANA – E aí eu dei uma surra naquela desgraçada que ela nunca vai esquecer na vida dela.

CAROL – Filha, você é doida! Como você pode fazer isso a luz das outras pessoas? São testemunhas, você pode se dar mal.

FABIANA – Ela que se atreva a me entregar! Ela vai ter que se explicar com a polícia a história dos brincos e aí que o bicho pega para ela. Por que não é díficil provar que ela e aquela outra patricinha eram mais que amigas.

A centrifugadora começa a soltar a água e Carol corre para ajustar. Nesse instante o telefone residencial toca e Fabiana vai atender. Era Doutor Alembert, o advogado da família.

ALEMBERT – Bom dia, Fabiana. Avise sua mãe que já entrei com pedido de suspeição da ação dela contra a patroa Úrsula por maus tratos.

FABIANA – QUÊ?

CORTE DESCONTÍNUO.

Carol termina de reprogramar a máquina, quando Fabiana lhe dá um baita susto.

FABIANA – Posso saber que história é essa da senhora suspender a ação contra sua patroa. Você enlouqueceu, Dona Carolina?

Close na empregada doméstica encurralada.

CENA 16/SÃO PAULO/TATUAPÉ/CAMPUS UNIVERSITÁRIO OLYMPUS/PRÉDIO ADMINISTRATIVO/REITORIA

Mateus chega de terno alegre e saltitante, quando Albânia lhe oferece um cafezinho. Ele experimenta.

MATEUS – Está muito bom, está melhorando.

Ela sorri sem graça.
Daniela vai ao seu encontro.

DANIELA – Doutor Mateus, tem visita para o senhor.

MATEUS – A sua sorte é que eu estou de bom humor, porque o que a senhora fez ontem é digno de guilhotina.

Ela põe a mão na garganta com medo.

Mateus entra em sua sala. Uma cigana está de costa para ele.

MATEUS – Que isso, Daniele. Deixou essa mulher entrar, por quê?

DANIELA – Eu disse a ela que esse tipo de atividade não lhe agrada, mas ela insistiu, disse que conhecia o senhor.

A mulher se vira em sua direção. Era ninguém menos que Araponga.

MATEUS – Não, não a conheço não.

ARAPONGA – Não se preocupa, meu senhor. Mãe Conceição conhece todos os seus filhos. Vim lhe oferecer os meus serviços, já que é notório a nova etapa em sua vida.

Ele fica meio sem palavra por uns segundos, mas cede.

MATEUS – Está bem, se não for tomar muito tempo.

Daniela os deixa a sós. Ele se senta em sua cadeira giratória de frente para ela.

MATEUS – Olha, eu não sou muito supersticioso, não.

ARAPONGA – Fique tranquilo. Me dê suas mãos, deixe-me lê-las a priori.

Ele fica meio sem graça, mas acaba virando as palmas para ela tatear e ler.

ARAPONGA – Linhas do destino fixas e profundas, isso indica que o senhor sabe muito bem para onde está indo.

MATEUS – Sempre pé no chão.

ARAPONGA – Mas encontros do passado podem ser avassaladores.

MATEUS – Encontros do passado ?

ARAPONGA – A lei do retorno volta quando menos imaginamos.

Ele não gosta do jeito que ela fala. Sente um calafrio.

ARAPONGA – Não tenha medo de reencontrar seu irmão Giovani. Ele está de volta a São Paulo depois de quase vinte anos.

MATEUS – Como é?

Araponga o observa contemplando aquela hiperdimensão. Mateus sua frio. Continua.

A Widcyber está devidamente autorizada pelo autor(a) para publicar este conteúdo. Não copie ou distribua conteúdos originais sem obter os direitos, plágio é crime.

Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

Leia mais Histórias

>
Rolar para o topo