Ao abrir os olhos, a garota se deparou com duas tochas cor de fogo olhando diretamente para ela. Depois do susto repentino, ela se deu conta que havia desmaiado e se encontrava deitada no colo de M’icelus.
O rapaz que aparentava ser bem mais velho que ela, tinha a pele cor de avelã, alto, músculos trabalhados para o combate, tinha os olhos castanho avermelhado e seu semblante cansado lhe dava um ar de sofrimento, a barba por fazer arrancava suspiros por onde ele passava.
— Você está bem? — Ele perguntou ainda em choque, porem com a voz grave porem doce.
— Deu certo? — Ela perguntou meio grogue.
— O que deu certo? — Perguntou ele. — Você pode se levantar? Nós estamos em meio a um ataque.
— Essas coisas não estão voando. — Ela disse pondo-se de pé com um pouco de dificuldade.
— Do que você está falando?
— Essas coisas… Elas não podem voar de verdade.
Com dificuldade, a garota se apoiou no ombro de M’icelus para que ele a ajudasse a levantar. Tirando dos pés o salto e rasgando uma parte daquele encorpado saiote que cobria totalmente seus membros inferiores a princesa simplesmente se pôs a correr para junto da saída.
— Você tem um plano? — Ele perguntou tentando entender o que se passava na cabeça dela. De algum modo, ela sabia o que fazer.
— Nós precisamos de fogo. — Ela respondeu descendo as escadarias com ele a seu lado.
— Para que precisamos de fogo?
— Elas usam o ar frio para voar. — Ela respondeu. — Uma grande fogueira, atrapalharia o voo e nos daria uma pequena vantagem sobre elas.
— Você acha que isso vai dar certo?
— Nós só saberemos se tentarmos.
Para ela, aquele era um caminho sem volta. Perdida em seus pensamentos a princesa Aredhel desejou nunca ter presenciado aquele trágico acontecimento. Agora ela estava realmente sozinha presa a uma promessa suicida.
Encontrar um desconhecido que possivelmente teria a resposta para aquele problema.
— OS REIS FERAS IRAO DESPERTAR! — Ela disse a si mesma. — Só você pode salvar nosso povo.
Em meio a uma floresta cheia de incontáveis perigos a frágil garota lutava desesperadamente para se mantiver viva, em questão de dias ela teve de aprender a se virar sozinha naquele lugar, teve de aprender a sobreviver sem o luxo do palácio.
Quem a visse naquele estado nunca pensaria que se tratava de uma princesa, suas roupas agora estavam rasgadas e sujas, sua pele coberta de lama e os cabelos desgrenhados e coberto por folhas.
Ela tinha subido em arvores, pescado com as próprias mãos e dormido amarrada por cipós para poder se proteger dos perigos noturnos.
Ela teria de percorrer um caminho de mais ou menos um dia de viagem, contando com a melhor e mais bem equipada carruagem atrelada a dois potentes cavalos próprios para uma longa viagem, no entanto Aredhel percorria aquele tortuoso caminho a pé, sem saber se estava seguindo na direção certa. Só o que ela sabia era que tinha de chegar viva a cidade do início, e sua jornada estava longe de terminar.
Sua única motivação para seguir em frente era imagem do pai e do noivo em seu leito de morte. Sua mente lhe pregava peças fazendo-a aquele doloroso momento. Os dois haviam dado suas vidas para que ela sobrevivesse.
“— Salve nossa terra e encontre seu próprio caminho minha querida.” — Essas foram as últimas palavras de seu pai para ela.
Aquelas palavras reverberavam em seu pensamento dia após dia. A imagem de seu pai caído diante daquele monstro era a única coisa que a mantinha viva. Aredhel nutria por aquela coisa um ódio mortal, temperado a sede de vingança.
— Eu vou fazê-la pagar pelo que fez a meu pai e ao Hicaro. — Ela jurou para si mesma enquanto deixava rolar as lagrimas de tristeza até então contidas.
***
Definitivamente esse seria seu fim.
Ela tinha lutado a toa todo esse tempo, sobrevivido a toa. Tudo estava indo por agua abaixo. Acuada no meio da floresta, ela se agarrava a um ultimo fio de esperança para sobreviver. Escondida entre a vegetação rasteira a garota prendeu a respiração e esperou pacientemente a coisa que a perseguia ir embora. Era impossivel acreditar que seu fim havia chegado daquela maneira.
— Tudo não passa de um jogo. — Disse sua caçadora a poucos metros de onde ela estava. — Estou tão certa de que ira falhar que lhe proponho um trato. Se voce conceguir encontrar o que procura ao fim do terceiro dia, eu a deixo viver.
Ela permaneceu imovel por alguns segundos, imaginando se o que aquela mulher dizia era verdade.
— Se até la voce não conseguir, sua cabeça será levada como premio ao senhor das feras.
Não havia duvidas de que Aredhel estava totalmente perdida. Aquela mulher de corpo escultural, seios fartos, abdomem trabalhado e cochas torneadas, não estava ali para brincadeira. Ela usava uma calsa de couro negro colada ao corpo e uma blusa regata com grandes botoes de madeira delineando o colo.
Seu nome era Aracne, eximia caçadora de recompensas do reino de Ezius. Todo o reino conheciam sua fama de mejera e a temiam por isso, diziam as mas linguas que ela sentia um praser sadico em torturar e enlouquecer suas vitimas antes de uma morte dolorosa.
Diante dela estavam dois belissimos lobos de pelo negro e olhos amarelos, cujo tamanho era o triplo do tamanho de um lobo comum. A sentimetros dela, eles farejavam a terra a sua procura.
Aqueles eram lobos diferentes dos normais, criaturas da noite usadas para um fim especifico. Caçar fugitivos.
Isso porque tinham uma habilidade especial propria para esse proposito, eles não farejavam os cheiros das pessoas ou coisas, como os animais comuns de sua especie, eles captavam no ar o medo.
Antes que a princesa pudesse esboçar qualquer reação, ela sentiu em suas costas uma baforada de ar quente que lhe lembrara a morte.
— O que voce quer de mim Aracne? — Ela perguntou saindo de seu esconderijo sendo escoltada pelos dois lobos.
— Bom trabalho meninos. — Disse a caçadora afagando os animais quando eles se aproximaram. — Você me deu trabalho, sabia?
— Quem contratou você?
— Eu não estou aqui por você, se é isso que quer saber. — Ela disse ao seu ouvido, raspando os dentes pontudos em sua jugular.
Ela sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha.
— Estou aqui pela pessoa que voce procura.
— Como assim?
— Nosso acordo é simples, voce me leva ate eles e continua viva.
— E se eu não quiser?
— Se voce não quiser, meus amigos terão carne nobre para o jantar.
As duas criaturas arregalaram os dois pares de olhos amarelos, mostrando os dentes. Um fio espeço, gosmento e mal cheiroso escorreu da boca dos animais.
Tomada pelo medo, ela se viu obrigada a aceitar a proposta. Ao estabelecer aquele acordo, Aredhel conseguiu uma especie de guarda costas do reino do mal. Ou ela encontrava o homem que estava procurando em tres dias ou aquela caçadora mataria a garota no lugar de sua caça primaria.
***
A sua frente uma matilha de lobos raivosos esperava paciente uma chance de atacá-la. Eles pareciam estar à espera de uma ordem para pôr um fim naquela perseguição.
Por uma fração de segundos a moça acuada viu o rosto do pai, sorrindo para ela com um olhar terno e sereno. Viu também o rosto daquela que para ela era como uma mãe. Ela estava feliz ao vê-los em seus últimos segundos de vida. Sem forças para continuar correndo Aredhel se entregou ao cansaço e fechando os olhos a esperou por uma morte rápida.
Ao longe foi possível ouvir um uivo de alerta e o rosnar dos animais prontos para o ataque. O corpo da garota tremia, ela não era capaz de dar mais um único passo à frente, o medo da morte a fez congelar diante do perigo.
— CORRE! — Ela ouviu uma voz desconhecida.
A contra gosto a garota foi puxada em um solavanco na direção oposta a dos lobos.
— Você está bem? — Perguntou o homem que acabara de salvar sua vida.
— Sim. — Ela respondeu aliviada.
— Vá para um local seguro.
Aredhel havia sido salva no último segundo. Ela demorou alguns segundos para entender que o seu salvador não estava sozinho.
Enquanto o rapaz estava com ela, outras cinco pessoas estavam lutando com os lobos em seu lugar.
— Milla. — Ele gritou para a garota que estava escondida a cima das arvores.
Em poucos minutos a garota se mostrou ao lado dele.
— Leve-a para um lugar seguro. E só saia de La quando eu disser está bem.
— Pode deixar Lucca. — Disse Milla tomando a garota pelo braço.
— Está na hora de eu voltar para a batalha.
Tudo acontecera rápido demais. Ele não podia perder tempo com devaneios idiotas sobre quem era aquela garota e o que ela fazia sozinha no meio da floresta. Lucca teria de confiar que Milla e a desconhecida encontrassem um esconderijo seguro o mais rápido possível.
Ele respirou fundo mais uma vez, e com um toque quase que involuntário de suas mãos fez surgir diante dele um estranho pergaminho, cuja escrita estranha não lhe parecia assim tão diferente. Por uma fração de segundos o alquimista observou a batalha, atento a qualquer movimento estranho dos inimigos que pudesse configurar uma brecha que lhes garantisse a vitória.
Ao todo ele contou sessenta lobos, eram dez lobos para cada um deles, uma tremenda de uma desvantagem para aquele pequeno grupo.
— Dez minutos pessoal. — Ele gritou para o grupo sacando a varinha mais uma vez.
— Dez minutos é muito tempo. — Adam gritou de volta, cercado por doze lobos prontos para atacar.
— É o que eu tenho. — Ele retrucou de volta, fazendo o amigo suspirar diante da derrota.
— Formação circular primaria para D&D. — Jimmy ordenou, acertando um dos lobos com suas facas afiadas.
— O que? — Disse Adam sem entender.
— Caverna do Dragão idiota. — Retrucou Drew voltando sua atenção para ele.
— Vai querer que eu rolasse os dados também? — Disse ele sorrindo.
— Anda logo.
Entendendo a gravidade da situação Adam fechou os olhos, erguendo seu machado prateado para o céu, ele pareceu pedir proteção em uma língua desconhecida pelos demais, descendo o braço com toda a força contra o chão batido, fazendo um enorme barulho, seguido de um estrondo que mais parecia um trovão.
Uma enorme cratera se abriu diante dele, engolindo os lobos que os rodeava. Com aquele estrondo foi possível desestabilizar a matilha a ponto de fazê-los cair com o estrondo.
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