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O Vazio que Habita em Mim – Capitulo 13: O Oficio dos Dedos Leves

Morando na rua eu aprendi de um tudo para ganhar algum trocado, desde as coisas mais simples como pedir dinheiro nos sinais da cidade, vender bala, e ate pedir esmolas de porta em porta. Aprendi o oficio dos garotos, como Rubens sempre dizia, tendo como mestres Pepeu e Quim, os senhores da boa enganação.

Os irmãos foram deixados à própria sorte quando tinham apenas seis e sete anos de idade no beco. A mãe os abandonou para viver com um traficante que veio de fora, prometendo a ela céus e estrelas. Um dia ela simplesmente foi embora sem deixar nem um bilhete de despedida sequer.

Os dois passaram a se virar como podiam para sobreviver, Papeu, sendo o mais velho e responsável levava Quim para todos os lados, os dois pediam alguns trocados no sinal, quando um carro quase atropelou Quim, que foi salvo bem em cima da hora por Rubens. E desde então os dois foram acolhidos por ele que os ensinou o oficio de sapateiros e em segredo a profissão dos dedos leves, que fora passada para mim sem muita dificuldade. As ruas são definitivamente seu palco, os dois moleques assim como Leka conhecem todos da cidade, seja pelo trabalho como carroceiro nos fins de semana ou pelo oficio de engraxate no único salão masculino das redondezas.

Mas o que eles mais gostavam eram dos pequenos delitos que cometiam em nome da sobrevivência do grupo eles agiam como os Santos Hobin Hoods das causas impossíveis. Eu sempre achei aquilo uma coisa de gênio. Tirar dos “ricos” para dar aos pobres. 

Vez ou outra a trupe fazia palhaçadas e malabarismos em uma ou outra loja para ganhar um extra. Eu ainda lembro da primeira vez que eles me levaram para ajudar num desses servicinhos.

Era um sábado qualquer, tínhamos acabado de descarregar algumas mercadorias quando uma senhora nos chamou para outro serviço em cima da hora. Era uma das lojas chiques da ci­dade. O trabalho era bem simples, umas quatro horas de palhaçada nos renderiam R$ 30.00 para cada ume mais alguns lanches ao final. Sem pensar duas vezes aceitamos. 

Lá tinha de tudo um pouco, calçados, roupas masculinas e femini­nas, acessórios e eletrônicos. O trabalho era bem simples, anunciar os produtos e promoções enquanto fazíamos alguns truques e malabares. 

— É bem fácil. — Pepeu dizia para que eu tomasse cora­gem. — A três é bem melhor, mas a Leka raramente ajuda a gente

— Ela é uma espécie de grilo falante… — Completou Quim.

— Ela só pega o que precisa, — Retrucou Pepeu. – e fica enchendo o saco com crise de consciência depois.

— Eu sei como é.

— Você passa o chapéu! — Ordenou Quim me entre­gando seu boné surrado. – Eu e o Pepeu cuidamos do resto.

— Ok. Mas, por falar na Leka, vocês sabem onde ela tá?

— Ela foi resolver outras coisas. — Respondeu Pepeu.

— O Rubens que mandou. — Emendou Quim.

— Sei…

— Bora lá, e não esquece de passar o chapéu.

Ficamos ali um bom tempo, Quim e Pepeu se revezavam no show e na entrega de panfletos, enquanto eu passava e re­passava o chapéu de tempos em tempos.

As brincadeiras atraiam a atenção das pessoas, que para­vam na porta da loja, as atendentes faziam questão de chamar os clientes de forma despreocupada. Pedindo sempre para que dessem uma olhadinha em seus produtos.

A medida que o tempo passava e os garotos começaram a ficar cansados, eu fui tomando o lugar deles e foi ai que Pepeu chamou minha atenção.

— Faz o seguinte, — Ele disse baixinho me puxando para um canto, — você distrai eles e a gente tira um extra.

— Isso vai dar problema.

— Vai nada! A gente sempre faz isso. Você nunca roubou?

— Eu não.

— Então eu distraio e você faz.

— Eu?

— É você!

Pepeu fez um sinal para Quim que pediu uma pausa na apresentação de malabares e veio ao nosso encontro.

— Cê acredita que o Micelus aqui nunca fez um extra! — Pepeu tratou logo de me entregar.

— Tu jura? — Quim olhou espantado para mim.

— Sim. — Respondi meio encabulado.

— Vamos mudar isso então. — Animou-me Quim pondo uma das mãos em meu ombro.

Eles me deram uma aula rápida do que eu deveria fazer. Para eles bastava apenas um empurrão para tomar da pessoa a carteira, o celular ou qualquer outra coisa que o alvo tivesse no bolso. Pepeu foi o primeiro a dar o exemplo, enquanto Quim trabalhava entretendo a multidão o garoto gordinho se meteu no meio do povo e esbarrando nas pessoas trouxe con­sigo duas carteiras, um celular e alguns relógios não tão caros assim.

— Viu como é fácil. — Ele me disse mostrando o resul­tado do trabalho. — Agora é a sua vez.

— Não sei…

— Deixa de ser frouxo Mick. Você é um homem ou um rato.

Roubar não me tornaria mais ferrado do que eu já estava perante a lei. Eu apenas respirei fundo e fiz o que precisava.

Eu confesso a vocês, foi uma das melhores coisas que eu fiz na minha vida. 

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