O Vazio que Habita em Mim: Capitulo 21: Perdas e Danos

As coisas não poderiam ter ficado piores…

Depois do castigo a única coisa que eu podia fazer era visitar Alex, e eu o fazia todos os dias sempre no mesmo horário. Era sempre da mesma forma.

Devido ao coma Alex não podia se mexer, então eu apenas chegava e me sentava ao seu lado. Ficava ali por exatas uma hora até a enfermeira Rosa vir me avisar que já era hora de deixar o lugar.

Vez ou outra recebíamos a visita dele. Joana e Martim também vinham com frequência mais para saber das provisões da enfermaria do que dos pacientes.

Não era nem um pouco raro alguém, aparecer machucado, vindo direto para um curativo ou tomar algum antibiótico, as internações eram rápidas ou quase nenhuma. O caso que estava a mais tempo ali era o de Alex, que devido à falta de insulina veio ao coma e agora estava a base de remédios devidamente calculados.

— Quando cê vai acordar? — Perguntei enquanto sentava na cadeira próxima a sua cama.

— É difícil dizer. — Respondeu-me a enfermeira responsável pelo lugar.

— O que aconteceu com ele? — Depois de tanto tempo eu enfim tive coragem de perguntar.

— Não era para ele ter ficado tanto tempo sem os remédios dele. Nessa idade é mais fácil de se controlar.

Rosa era uma mulher muito bonita. Alta e magra, tinha um corpo atlético, típico das mulheres saradas, era uma rata de academia quando não estava em um de seus plantões.

Ela aplicou-lhe alguns preparados, antes de voltar sua atenção para mim.

— Agora nós temos de esperar.

Rosa enfim saiu me deixando sozinho com ele novamente. Eu fiquei ali, fitando aquele garoto por um bom tempo até que no fim eu acabei adormecendo.

 

TUM DUM… TUM DUM… TUM DUM…

PIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII

 

O barulho continuo da máquina me traz de um sono profundo, em poucos segundos chega Rosa mais uma vez carregando uma bandeja de remédios, e depois de checar todos os sinais vitais de Alex, aperta um botão e aplica no peito dele uma injeção.

O médico responsável veio em seu auxilio trazendo com ele uma máquina portátil. Ele rasgou a camisa de Alex ao meio, expondo o peitoral pronto para o que seguiria.

— Carregado em 200. — Rosa anunciou.

— Afastar. — Ele disse pondo a máquina em seu peito.

TUM….

Uma descarga elétrica fez o corpo dele se mexer, para depois voltar ao PIIII inicial.

Nada aconteceu.

— 200… — ela voltou a anunciar.

— Afastar. — Ele disse mais uma vez

TUM…

Mais uma vez… e mais uma… e mais uma até que por fim os dois se deram por vencido. Foi então que eu me dei conta de que Alex estava morto.

— Hora do Óbito, 15:53.

Alex tinha morrido, e eles não tiveram a mínima decência com seu corpo. Depois de declararem o óbito, foi cada um para o seu canto e me deixaram ali, sozinho diante do seu corpo.

Frio e inerte.

— Desculpe querido… não era para você ter visto isso. — Rosa me consolou depois de um tempo. — Ele era seu amigo não era?

Fiz que sim com a cabeça

— Vamos falar com o senhor Adão sobre isso, está bem.

Só de ouvir o nome dele meu corpo já se arrepia por inteiro.

— NÃO! — Eu grito e saio correndo, sabe-se lá Deus para onde. Eu apenas quero fugir.

Santo Cristo.

Seu rosto é a primeira coisa que me vem à cabeça quando o assunto é esquecimento ele tem umas coisas bem boas que ajudam muito.

Fui a ala comunitária, as salas de aula, ao pátio central, passei pelo buraco e nada dele nem de XXX, algo estava acontecendo por debaixo dos panos.

Aquele silencio todo não era normal.

Encontrei todos os garotos amontoados em volta de uma das mesas em silencio. Santo Cristo conversa com a gangue e quando me aproximo ele para de falar e me encara.

— Tem mais ai? — Digo sem rodeios.

— Tem não. — Ele responde sem olhar para mim.

— Só um teco vai, eu pago. — era impossível não notar a minha cara de cachorro pidão.

Todos olharam para mim como se esperassem eu ir embora para só então continuarem a conversa.

— Tu disse que hoje tinha. EU PAGO, é só me dizer o que você quer.

— Tem não porra!

— o pessoal do adão fez a limpa hoje, ta tudo na sala dele. — Um dos garotos sentado do lado dele interrompe:

— QUE MERDA!

—Pois é, é uma merda mesmo. E a culpa é de um dos teus amiguinhos.

— Como assim?

— Alguém do buraco entregou a gente. – Ele me encarou. — Entregaram todo o esquema. Estamos aqui bolando um plano para pegar tudo de volta.

— Nós vamos tomar este lugar. — Completou o garoto que estava ao seu lado

— CALA A BOCA BETO! — Santo Cristo ordenou

— O que? … Quando?

— Logo… Tu quer mesmo ajudar?

— Logico

— Sem o Quim e o Pepeu?

— É por eles que eu vou fazer isso. Quero tirar eles do buraco. Só tenho os dois agora!

— E o gordo?

— O Alex se foi. — Respondi com os olhos cheios d’água.

— É sério?

— É, o Alex ta morto.

— ok, o pessoal do Leo e do Lucas vão ajudar também. Depois que tomarmos o lugar a gente divide tudo.

– Precisamos de uma distração… – Beto parou repentinamente no meio da frase.

– Melhor não. –Santo Cristo interveio. – O Leo ou o Lucas cuidam disso.

-Eu posso fazer. – respondi depressa.

– Distrair o assistente do capeta? Tem certeza?

Um arrepio me percorreu a espinha, eu teria de distrair Adão para que o plano desse certo. Respirei fundo, tomando os últimos resquícios de coragem que tinha dentro de mim.

– É só me dizer o que eu tenho que fazer.

 

 

 

Os meses que se seguiram vieram como a calmaria antes da tormenta.

Tudo era friamente calculado para que nada saísse fora do que foi combinado. Uma trégua foi pactuada em silencio entre Leo, Lucas e João. Nesse período a vida correu tranquila para todos nos.

Aulas pela manhã e a tarde, os horários comuns eram usados para o planejamento. E eu era a parte crucial do plano deles, afinal eu seria a isca, além de, é claro ser o garoto de recado de todas as gangues. Disso eu não podia reclamar, afinal eu podia pedir o barato que quisesse para qualquer um deles e saia tudo de graça.

Eu aprendi um bocado com ele, no tempo em que planejamos a grande ideia, como ficou conhecida entre nos. Apesar de toda a diferença entre eles, os três foram capazes de se unir pelo bem comum.

Tirar aos companheiros do buraco.

O respeito mútuo foi o que fez o nosso plano dar certo. Lucas apesar de ser o mais jovem dos três era o mais centrado. Estava sempre disposto a discutir, planejar e refazer tudo quantas vezes fossem necessárias.

Lucas era o seu completo oposto, apesar da marra que impunha, tinha o coração mole, sonhador, apesar de tudo o que viveu ali ainda tinha esperança de um dia ter uma família e já o Santo Cristo era metódico e bem realista.

Para o João aquilo era um inferno e nada de bom podia sair dali. Nenhum de nós tinha mais salvação.

Pelo menos não depois do que estávamos prestes a fazer.-” ”>-‘.’ ”>

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