O Vazio que Habita em Mim – Capitulo 20: Santo Cristo

Seja um bom garoto!

Por que as pessoas têm mania de dizer isso? Ate agora eu fui um bom garoto, e isso só me causou problemas.

Faz as contas aqui comigo:

Meu pai é alcoólatra (isso supondo que ele ainda esteja vivo.), minha mãe é manipulada por um cara que deveria estar ali para protegê-la. Eu apanhei, fui chamado de burro, doente, mentiroso, fui estuprado, matei meu padrasto, vivi nas ruas roubando para sobreviver, fui preso, e por causa disso acabei nesse inferno.

Conhecer o assistente do diabo foi à gota d’água.

Depois de fazer comigo todas as atrocidades possíveis e imagináveis, que eu aqui não tenho mais coragem para descrever ele simplesmente olhou para mim, acariciou minha bochecha com as costas da mão e me disse:

– Esse é o nosso segredo!

Eu me senti sujo, o pior dos seres humanos.  Como aquele homem era capaz de fazer aquilo num lugar como esse?

Essa era para ser uma casa de apoio as crianças que sofreram algum tipo de trauma assim como eu. Era para a gente estudar, aprender uma profissão, curar nossos males da mente, do corpo e do espírito e nos tornarmos melhores.

Nada disso acontecia.  Eu não era o único naquela situação, e também não seria o ultimo. Aquele lugar era o inferno da terra, despertava o pior dentro de cada um de nós.

Um monstro em potencial, prontos para repetir tudo ao que fomos condicionados a ser: ladrões, assassinos e estupradores a margem da sociedade. Cada um a seu modo gritava por ajuda.

Uma ajuda que nunca veio.

Eu tinha que dar um jeito por conta própria, eu não tinha mais nenhum dos meus amigos para me ajudar. Eu tinha que ser a ajuda para eles agora.

O que você faria no meu lugar? Se a Leka tivesse aqui ela nos daria uma saída mágica para aquela situação.

Leka, eu já não me lembro mais do seu rosto! Onde será que você esta? Onde eu consigo ajuda numa hora como essas?

Nu, sozinho, e me sentindo o pior dos homens fiz a única coisa que eu podia naquele momento. Olhei para o teto, esperando alguma espécie de sinal.

— Se o senhor ainda está aí… eu preciso de ajuda.

 

Um segundo depois como resposta para as minhas preces o Cristo apareceu para mim. O caboclo, Joao de Santo Cristo.

 

La estava eu entregue ao fracasso.

Adão mandou que eu me vestisse e saísse, como se nada tivesse acontecido. Eu sabia que não precisaria contar nada a ninguém, todos já sabiam do ocorrido e logo, logo os monstros que nos assombravam a noite iriam querer um pedacinho da minha alma.

Eu me senti impotente, era como se a felicidade nunca mais pudesse existir na minha vida, não passava de um mero objeto nas mãos dos monstros que me cercavam.

Eu era um poço vazio.

E como tal, eu deixei que este poço me consumisse por completo. Eu estava entregue ao vazio de minha alma. O vazio que habita em mim simplesmente jorrou de meu peito, em um rio infinito de lagrimas.

Não tinha mais forças para resistir. Eu estava sozinho.

Eu contra o mundo, mais uma vez.

“Seria melhor se eu não existisse! ”

 

 

 

Minha cela estava aberta, e Alex não estava lá, também não havia ninguém na cela ao lado, apenas duas camas vazias. Eu não sabia se, ou quando eles voltariam.

Esse era meu destino: a solidão… e ela dói sabia. Eu não tinha ninguém do meu lado.

NINGUEM.

Uma dor que te consome aos poucos, cada pedacinho é cortado, moído e remoído novamente até não sobrar mais nada. Eu virei um zumbi. Ali era a minha fortaleza, o único lugar em que eu estava realmente seguro, eu queria esquecer, mas aquela dor ainda me corroia por dentro. Ter que o visitas algumas vezes durante a semana, mesmo sendo em conjunto com outros presos, fez aumentar ainda mais minha raiva e meu desespero.

Eu queria fugir, me esconder, simplesmente sumir do mapa. Deixar essa existência.

Eu precisava esquecer.

“Cada um de nós tem seus próprios monstros, aos quais deseja esquecer”.

Aquela era a hora certa para eu me entregar, e com a ajuda do santo Cristo eu voltei para o mundo das drogas.

— O que tu tem de bom ai? — Perguntei descaradamente.

— Aqui nada. — Ele respondeu entendendo o que eu queria. — Lá no meu quarto eu tenho bala e brisa, qual tu quer?

— Qualquer um, algo que me faça esquecer.

— Ah… sei.

— Então, qual vai ser?

— Vou te dar um pouco dos dois. Mas vai ter um preço.

— Beleza!

— Olha que eu vou cobrar hem!

Depois da brisa e da bala as coisas mudaram. Eu virei garoto de recados do Santo Cristo.-” ”>-‘.’ ”>

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