A um muro de distância – PARTE FINAL

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1989 – BERLIM – ALEMANHA

-Pai? -gritou Tom, entusiasmado.

-O que há, meu caçulinha? -indaguei-o, enquanto, polia o calçado.

-O muro vai cair, meu pai. O muro vai cair.

Aquilo foi como uma bomba, uma explosão de alegria e amor num elo perfeito. Confesso que sonhei tanto com aquele momento que sequer me preparei, mas enquanto suspirava de felicidade, a Amélie sofria antecipadamente.

-Era isso o que tanto querias, não é? Reencontrar a gordinha lá. -Disse ela, sarcástica.

-Sempre soubeste que eu iria atrás dela caso isso acontecesse.

   Uma lágrima escorria pelo rosto de Amélie. Ela estava sofrendo. Eu a compreendia, mas quem mandava no coração? Esse alguém não era eu…Eu esperei tanto tempo para confessar os meus sentimentos que decorei cada palavra em meu dialeto secreto. Enquanto ela sofria, eu sorria, não por ser maquiavélico mas pelo impossível acontecendo. O vovô estava saltitante, sim, ele esperou vinte e oito anos e jurou que estaria vivo para ver a queda do muro de Berlim, pois bem está vivíssimo. A alma dele estava alegre, o sorriso da alma vem acompanhado com lágrimas e era assim que vovô estava. Demasiadamente feliz!

  Corri contra o tempo. Peguei o meu carro e fui ao muro com vovô, aguardávamos ansiosos pela queda. Muitos estavam ali para redescobrir a Berlim oculta, as inovações, as mudanças mas o meu foco ali não era nada disso. Nada me surpreenderia. Nem carros voadores. O que eu queria era ver o meu amor. Sim, eu descobri que a amava incondicionalmente, independente, de sua aparência, dos modos vexatórios, eu a amava. Quando a última pedra foi derribada, meu olhar alcançou o infinito. Estava tão emocionado. Nervoso, ansioso, muito curioso. Como estaria minha bola de Berlim? Ainda mais robusta do que antes? Será que ela ainda lembrava de mim? Aaaaaaaaaaah. Em poucos milésimos a minha mente recapitulou todos os momentos ao lado dela, todos, inclusive, o dia em que o botão do vestido amarelo estourou. Meu rosto estava desfigurado. Um sorriso na boca e uma lágrima nos olhos. Ah! Ah! Ah! 

-Valentim? -Ao ouvi aquela voz, meu coração acelerou…Era ela. Era a voz dela! Ao me virar, deparei-me com uma senhora de quarenta e poucos anos, magra, cabelo alisado, maquiagem pouca. Donde estava a Evelyn que conheci? Já, não existia mas continuava linda. Ainda mais linda.

-Primo? Não lembra de mim? – Ao dizer aquilo, a abracei tão forte que senti seus músculos estralarem, é, já fiz isso em nossa despedida mas foi tão bom reviver aquele momento. O vovô em prantos abraçava o tio Brokslov. Havia choros e lágrimas, sorrisos e alegrias. Eu estava disposto á me declarar, porém, quando menos esperei o pior aconteceu.

-Evelyn? Não vai apresentar-me? -Disse um sujeito franzino. 

-Ah, claro. Primo, esse é o Joseph, meu esposo.

    Meu coração se despedaçou mas o que eu queria? Até eu estava casado. Seria desigual vê-la como uma donzela à espera de um príncipe que sequer se declarou. Naquele momento me indaguei se valeu a pena esperar tanto tempo e afinal, valeu. Eu precisava descobri se era recíproco. E era. Nós dois estávamos casados e aparentemente felizes. Ela fingia muito bem. Cheguei a acreditar que ela o amava mesmo mas eu precisava concretizar minhas dúvidas e num ato precipitado, a beijei. Para minha surpresa ela desferiu uma bofetada, em seguida. Seria uma autodefesa? Infelizmente não!

-Somos primos. Estamos casados. Se passaram vinte e oito anos. Sabe o que é isso? Uma eternidade! – Disse ela, sendo sincera.

-Boba! Existe um fim para o amor? Pode passar vinte, trinta, quarenta anos, enquanto eu estiver vivo, amarei você.

    Ela se calou e saiu. A pior rejeição é aquela que não se ouve, aquela que não se fala, aquela que apenas se ver e o coração sábio transfere para o cérebro. Eu estava tão triste, voltei para casa chorando. Ah! Amélie aguardava por essa rejeição. Era o que ela mais esperava. Eu estava mal, mas havia aprendido uma lição poderosa, nem sempre será recíproco, mas isso não significa que meu amor foi insincero…eu só sei que para sempre, por todo o sempre e quando digo sempre é sempre mesmo, eu sempre amarei aquela menina robusta de vestido amarelo alaranjado que parecia uma bola de Berlim. Minha bola de Berlim!!!

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