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O Homem Proibido e outros contos

O HOMEM PROIBIDO

No anoitecer daquele dia frio, Rosinha, uma mulher dona de um olhar sedutor e um corpo escultural, saía mas uma vez de sua casa em direção ao centro da pequena cidade na qual vivia.

Andando pelas ruas vazias cobertas por uma pesada neblina, aquela mulher de quase 50 anos não sabia se sentia excitação ou angústia. Não entendia bem seus atos; ora pensava estar pecando, ora não se culpava por nada.

O destino daquela mulher solitária era a casa de um homem proibido. Esse homem, que assim como ela sempre foi uma pessoa sozinha, vivia o mesmo conflito a respeito de seu comportamento. Mas não adiantava; toda vez que avistava aquela mulher maravilhosa, não conseguia se controlar.

– Será que iremos pro inferno? – perguntou Rosinha, deitada no peito do homem proibido.

– Não sei… Provavelmente. Mas o que importa é onde estamos agora. – o homem beijou intensamente aqueles lábios carnudos.

E fizeram amor mais uma vez, naquela noite fria, sem se preocuparem com nada. Apenas o sentimento proibido dos dois que importava naquele momento.

Mais tarde, naquela mesma noite, Rosinha voltou para sua casa, e o homem proibido vestiu sua batina  para realizar mais uma missa na paróquia da cidade.

 

INVASÃO

Deitado num sofá velho e rodeado por garrafas de cerveja vazias, Ricardo assistia ao telejornal, sem prestar muita atenção. O homem de aparentemente 50 anos estava embriagado não só por causa da bebida, mas também pela tristeza. Horas atrás ele esperava ansiosamente a chegada de Luiza, que já estava bastante atrasada, mas agora, é possível que ele nem lembre do próprio nome.

Subitamente, Ricardo se levantou do sofá, assustado, ao ouvir o barulho do portão da casa. Pensando ser uma invasão, passou cambaleando pelo corredor em direção a cozinha e pegou uma faca. “Quem invadiria a casa de pobre bêbado?”, ele pensou. De olhos fechados, apoiado na pia e com a faca na mão, ele finalmente se lembrou que estava esperando por Luiza. Resolveu voltar para onde estava, cambaleando mais ainda.

Na sala, quem adentrava a casa era sua esposa, que parecia mais nova que ele, apesar dos cabelos um pouco grisalhos. Ela lançou seu olhar para a bagunça daquela sala e logo após foi para a cozinha. O casal acabou se encontrando no corredor.

Naquele mesmo momento, uma jovem loira abria o portão da casa e subia calmamente a escadas até à porta. Porém, se apressou ao ouvir gritos vindo da cozinha. Luzia, filha única de Ricardo, a moça por quem aquele bêbado tanto esperava abriu a porta e se espantou ao ver seu pai, caído no chão.

– Pai, pai! Acorda! O que houve? – perguntou a jovem, enquanto ele acordava lentamente.

– A casa foi invadida, filha… pela sua mãe.

– Está tendo visões com a mamãe de novo, pai? Você anda bebendo demais…

A dois quarteirões da casa de Ricardo, uma foto de sua linda esposa de cabelos grisalhos estava fixada no túmulo do cemitério da cidade. Ela já havia falecido há 5 anos.

Do lado direito daquele mesmo túmulo estava escrito o nome de Luiza e em cima uma foto daquela linda jovem loira. Ricardo já esperava ela voltar pra casa há algumas semanas. Aquele pobre homem, realmente, estava bebendo demais…

 

 O DIA EM QUE JOÃO ACORDOU FELIZ

João acordou naquele dia com uma enorme paz interior, sentido- se motivado e de bem com a vida. Geralmente acordava mau humorado, cansado da vida que levava, do emprego que tinha de garçom numa lanchonete e de todo dia ter que acordar cedo, subir em sua moto e ir em direção ao seu local de trabalho.

      Mas aquela segunda feira foi diferente. Teriam sido as bebidas e a companhia dos amigos na noite passada? Ele não tinha certeza. Levantou se, e pela janela do quarto, contemplou a beleza daquele céu azul e das árvores do quintal, que quase invadiam a casa, tendo a sensação de ter dormido ao ar livre.

      Ao chegar na cozinha, viu sua mãe passando o café.

      – Bom dia mãe!

      Ele foi ignorado. Cumprimentou mais uma vez. Silêncio. Por que ela não respondia?

      De início ele não entendeu, mas depois se lembrou o quanto sua mãe ficava furiosa quando ele chegava tarde em casa. Decidiu não insistir e esperar até que a raiva dela passe. Ao sair, pediu desculpas com um sorriso sem graça no rosto foi embora.

      Passando pela rua de sua casa, em direção ao trabalho que ficava a quatro quarteirões, desacelerou um pouco a moto ao ver uma mancha de sangue naquela estrada de pedras. Seria do cachorro da vizinha que foi atropelado ali há algum tempo? Provavelmente.

      Ao chegar na lanchonete, estranhou ao vê-la fechada. Ficou um tempo parado tentando entender o porquê, até que decidiu ligar para o patrão. Caixa postal. Tentou outras vezes e nada. Será que era feriado e ele nem se deu conta? Sem opções, decidiu voltar pra casa.

      Viu sua mãe sentada no sofá, com a TV ligada num volume bem baixo. Se preocupou com a feição de tristeza no rosto dela. Parece que ela ficou realmente magoada por causa da noitada com os amigos.

      De repente, João viu na tv a reportagem sobre um acidente em sua rua. Ficou intrigado, pois ele não se lembrava disso ter acontecido tão perto de sua casa. Ao se aproximar mais da tv, viu sua moto destruída, e um corpo coberto por um plástico preto! O pavor tomou conta do seu corpo.

      A mancha de sangue! A noite com os amigos! As bebidas! A volta pra casa, na moto em alta velocidade! O silêncio e a tristeza de sua mãe! Naquele momento ele se sentiu apavorado, e finalmente entendeu tudo…

 

SOZINHA

O movimento das festas de fim de ano sempre me obriga a trabalhar até tarde, e consequentemente, voltar pra casa só depois de dez horas. Não sou nem um pouco medrosa, mas não posso negar que fico um tanto receosa ao passar pela minha rua nesse horário. Fica tudo tão escuro e deserto…

Nessas horas que sinto falta de um amor, de um companheiro, que estivesse disponível pra cuidar de mim, para me proteger e fazer eu me sentir mais segura. Mas eu não acredito que exista um homem assim. Pra falar a verdade, eu não acredito no amor, paixão ou coisa parecida.

Enfim, acabo sempre indo sozinha, e nunca acontece nada. Chego sempre viva em casa. Porém, houve um dia, em que eu pensei que isso não aconteceria. Assim que deixei as ruas movimentadas do centro e entrei na pequena rua do vilarejo no qual eu morava, percebi que um homem me seguia. Eu tentava não olhar pra trás e apertava o passo, mas ele continuava a vir atrás de mim.

Comecei a me apavorar. Parecia não haver nenhum vizinho acordado para me ajudar. Se eu gritasse, não daria tempo suficiente para que alguém me socorresse e eu ia acabar sendo vitima daquele sequestrador, ou estuprador. Não sei o que ele queria comigo, mas coisa boa não era. Na minha cabeça passavam as situações mais monstruosas possíveis!

Estava suando frio e minha casa parecia não chegar nunca. Tudo que eu queria era entrar e fechar tudo quanto é portas e janelas. Eu conseguia sentir a presença do homem cada vez mais perto e quando ele gritou, “Moça!”, eu senti algo que nunca tinha experimentado. Minha boca ficou seca, minha espinha congelou e eu paralisei. Na minha mente, eu queria correr, mas meu corpo parecia petrificado, como naqueles pesadelos que você luta pra acordar mais não consegue…

Quando o tal homem chegou bem perto de mim… Me contou sobre o dinheiro eu deixara cair na rua, enquanto mexia na minha bolsa e aproveitou para se apresentar, já que acabara de se tornar meu vizinho. Eu ainda não conseguia falar direito. Estava realmente assustada.

Depois daquela noite, acabamos nos conhecendo melhor e ficamos completamente apaixonados um pelo outro. O que eu imaginava ser um criminoso, na verdade era o meu verdadeiro amor, que eu já acreditava não existir pra mim. Até hoje damos gargalhadas sobre esse primeiro encontro…

 

MOTEL

– E agora? O que a gente faz?

Perguntou Marisa, apavorada, com machucados no rosto e cobrindo o corpo nu com um lençol branco, que fazia destacar sua pele negra e seus cabelos castanhos. Gael, que também estava despido, lançou para a amante um olhar que costumava ser de sedução, mas que naquele momento era de pavor. Ele jogou no chão uma faca ensanguentada que estava em sua mão e respondeu Marisa.

– Calma, vamos pensar.

– Você não devia ter feito isso Gael!

– Se eu não tivesse feito isso, você que estaria morta agora!

Há um corpo de bruços no chão. Um homem de aparentemente 40 anos, cabelos grisalhos e um tanto acima no peso, vestindo uma camisa social azul e com uma enorme mancha de sangue causada pelas várias facadas que levou nas costas.

Ainda muito assustado, Gael vai até a porta daquele quarto de motel e a tranca. Depois, rapidamente, veste uma cueca e se aproxima de Marisa.

– Eu já sei! Nós chamamos a polícia, contamos toda a verdade! Foi legítima defesa! Eu não queria matar ele.

– Você tá louco Gael! Nunca que a polícia vai acreditar nisso! – Marisa começou a chorar.

– Claro que vai! Você vai fazer um exame de corpo delito e vai provar que ele te atacou!

Marisa limpa suas lágrimas e anda de um lado pro outro, determinada.

– Não! Nós vamos fugir! Vamos limpar qualquer impressão digital e sair pela janela.

Nesse momento, Marisa grita desesperadamente quando sente uma mão gelada segurando forte sua perna. Era do corpo caído no chão.

Marisa grita novamente ao acordar daquele sonho assustador. Seu amante Gael a acalma, na cama daquele mesmo motel.

– Sonhando com seu marido de novo?

– Sim… Mas dessa vez foi diferente, foi muito real! Eu acho melhor irmos embora

– A essa hora da madrugada? Tá doida?

– Sim, eu estou com medo de…

Marisa foi interrompida por gritos altíssimos de seu marido, que batia na porta incessantemente. Naquele momento ela sabia que seu sonho iria se tornar a pior das realidades…

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