“Então é Natal, e o que você fez?
O ano termina, e nasce outra vez
Então é Natal, a festa Cristã
Do velho e do novo, do amor como um todo
Então bom Natal, e um ano novo também
Que seja feliz quem souber o que é o bem”
Trecho da música “Então é Natal”
Era noite do dia 23 de dezembro… Todas as casas do bairro estavam no clima natalino, recebendo familiares para realizar a famosa ceia, a ceia que todos adoram, a ceia que ume a família que esteve separada durante todo o ano. Mas nesse ano as coisas estavam sendo diferentes na casa de Julie, ela tem apenas sete anos, mas já sofreu muito na vida. Meses atrás os pais de Julie se separaram, e desde lá sua família vive triste, mas ela ainda tem a esperança de um dia poder ser feliz.
Julie mora com sua mãe, Katharine, e seu irmão, John, que tem treze anos. John é uma menino sofredor e desde que seus pais se separaram ele vive no quarto, chorando. Naquela casa, Julie era a única que estava animada com as festas de fim de ano. Julie já havia percebido que as coisas não estavam normais na sua casa, ela já havia encontrado muitas vezes sua mãe chorando pelos cantos e apenas se perguntava o porquê daquilo. Ela nunca foi próxima do pai, sempre preferiu a mãe, talvez por isso não estivesse triste com o divórcio dos dois. Julia só queria saber dos presentes, da ceia, dos pisca-picas e da árvore de natal, mas sua mãe já havia dito que esse ano não teria nada disso, até porque o dinheiro não estava dando para nada. Julie é uma garotinha esperta e decidiu que não ficaria quieta enquanto sua mãe não decidisse comemorar o natal, então decidiu questioná-la.
– Mamãe, me diz a verdade. Por que a senhora está tão desanimada com o natal? – perguntou Julie.
– Eu já te disse, Julie, o dinheiro aqui em casa não está dando para nada! Temos muitas contas para pagar, então esse ano o natal não vai passar por aqui. – respondeu Katharine.
– E porque a senhora não faz uma oração para o papai do céu?! Talvez ele escuta e nos mande um pouco de dinheiro, que pode servir para pagar as contas e ainda fazer uma ceia de natal, nem que seja bem simples. – sugeriu Julie.
– Quem nos dera as coisa fossem assim… Eu não tenho mais fé me nada não, minha filha. E eu vou te pedir pela última vez, me deixa em paz e esquece o natal! – respondeu Katharine.
Katharine saiu zangada e Julie ficou muito triste, ela percebeu que realmente não teria natal na sua casa esse ano. Julia deitou-se no sofá e começou a chorar e lembrar dos tempos em que seu pai ainda morava com a família.
– É, eu nem gostava tanto assim do papai, mas ele faz muita falta, muita mesmo! Eu não posso deixar a vida da minha acabar desse jeito, ela tá tão triste, e eu não vou desistir de tentar ajudá-la, não vou! – disse Julie.
Julie pegou o celular de sua mãe, que estava jogado no sofá, e olha as horas. Ela percebeu que com certeza seu pai ainda estaria acordado, então decidiu que precisava falar com ele. Julie discou uma vez, discou duas vezes, discou três vezes… E nada! Ela sabia o motivo de seu pai não está atendendo, ele achava que era Katharine que estava ligando. Então ela decidiu que precisava encontrá-lo pessoalmente, a qualquer custo. Julie foi para seu quarto e ficou algumas horas trancadas lá dentro.
Katharine saiu de seu quarto, ela estava com os olhos inchados de tanto chorar, até que percebeu que seu celular estava tocando, ela atendeu, era Robert, pai de Julie e John.
– O que você quer? – perguntou a mulher
– O que eu quero? Foi você que me ligou! – disse Robert.
– E por que porcaria eu te ligaria? Eu não quero mais nada com você não! Me deixa em paz! – exclamou Katharine.
Katharine desligou o celular e se jogou no sofá, chorando muito.
– Você não sabe como faz falta, maldita hora que eu decidi ser orgulhosa e querer tudo do meu jeito! Que droga… Me ajuda, Deus, me dar uma luz, desse jeito não dar, eu não consigo mais viver dessse jeito, me ajuda. – disse Katharine.
Katharine passou alguns minutos ali, jogada no sofá, pensativa, até que pegou no chão. Julia que a observava todo esse tempo aproveitou a oportunidade para sair de casa, ela estava com uma bolsa nas costas e decidida que iria encontrar seu pai, ela ouviu tudo o que sua mãe falou e chegou a conclusão de que não só era possível salvar o natal, mas também o casamento de Katharine e Robert.
Julie sabia o endereço de seu pai, ele morava em um prédio, mas o difícil seria convencê-lo a deixar-la subir. Mas Julie não desistiu, e lá estava ela, na frente do prédio que Robert mora. A menina foi até a portaria e disse que queria falar com seu pai. O porteiro, confuso, perguntou quem era o pai dela. Julie diz que ele se chama Robert. O porteiro disse que chamaria o homem para ela, Julia logo se animou e até um abraço deu no porteiro.
John estava lá, em seu quarto, sofrendo, sem conseguir dormir. Frequentemente ele tinha pesadelos horríveis envolvendo sua família, ele era humilhado na escola por ser gordo, ele não estava mais aguentando essa situação. E pra piorar Katharine disse que no próximo ano terá que mandá-lo para um internato, para ver se consegue juntar um pouco de dinheiro sem as dividas dos filhos. Quer saber a verdade? John não tinha mais vontade de viver, para ele a vida não fazia mais sentido e já estava decidido que iria acabar com ela o mais rápido possível.
Julie esperou por muito tempo na portaria do prédio de Robert, até que o homem desceu e ficou surpreso ao ver a menina.
– Julie, o que você tá fazendo aqui? – perguntou Robert.
– Eu preciso da sua ajuda, papai! Por favor, me ajuda! – exclamou Julie.
– Tá bom, minha filha, eu te ajudo! Mas com o quê você quer ajuda? – perguntou o homem.
– Com tudo, com tudo! Desde que o senhor se separou da mamãe, as coisas lá em casa não vão nada bem, a mamãe vive chorando pelos cantos, o John não sai daquele quarto e nem quer ir pra escola, dar pra imaginar? E hoje eu ouvi a mamãe falando algo que eu sei que era do fundo do coração e que pode mudar tudo, mas só depende do senhor. – explicou Julie.
– De mim?! – perguntou Robert.
– Sim… Ela falou que o senhora fazia muita falta e que estava arrependida de ter sido orgulhosa, que ainda amava muito o senhor. – disse Julie.
– Você tá falando sério Julie? – perguntou Robert assustado.
– É claro que sim e o senhor é a única pessoa capaz de ajudar a fazer minha mãe e meu irmão voltarem a ser feliz, eu sei que o senhor ama a mamãe… Mas vamos logo, antes que seja tarde demais. – disse Julie triste.
– Como assim tarde demais, Julie? – perguntou Robert novamente assustado.
– Eu tenho sete anos, tá bom… Mas eu não sou boba não e eu sei muito bem o significado da palavra suicídio, e se a gente não for logo por senhor fazer as pazes com a mamãe e tudo voltar a ser como antes, é isso que vai acontecer lá em casa, um suicídio, ou até dois, porque o John também não tá nas melhores. – contou Julie triste.
– Eu não vou mentir, eu ainda amo sua mãe, mas não sei se seria uma boa voltar pra lá, eu acho que não daria certo. – disse Robert assustado.
– O senhor tá ficando louco? Por acaso não ouviu o que eu disse agora a pouco? Nós temos que ir papai, o senhor não ama a minha mãe? Pois agora é a hora de provar isso, provar isso salvando nossa família. Eu te peço pelo amor de Deus. – Pediu Julie.
– Você tá certa! Eu não posso ficar escondendo meus sentimentos! Eu vou, mas vai depender da sua mãe pra gente voltar! – disse Robert.
– Pois vamos logo que, além disso, o natal já é amanhã e não temos muito tempo para organizar as coisas. – disse Julie animada.
Julie puxou Robert pelos braços e os dois saíram. Ele estava rindo, mas por dentro estava emocionado com a atitude da filha e hoje sabia que chegou a hora de retribuir toda a atenção que não deu a ela quando era casado com Katharine.
Julie e Robert chegaram à casa de Katharine, a menina estava super animada, com o pensamento de que daria tudo certo, e o homem emocionado, pois fazia tempo que não via a amada tão de perto. A mulher ainda estava dormindo, Robert não queria incomodá-la, mas Julia repetiu que eles não tinham nada a perder.
– O senhor espera só um pouquinho que eu vou chamar o John lá no quarto. – pediu Julie.
– Tá bom, não conta que eu tô aqui, vamos fazer uma surpresa pra ele. – pediu Robert.
Julie saiu e foi até o quarto de John, mas ao chegar lá se assustou com o que viu. Ele estava colocando uma corda no teto, com um olhar triste e profundo. Julia sabia que se o pai não voltasse isso iria acontecer, mas não pensava que seria tão cedo.
– O que você está fazendo, John? – perguntou Julie.
– Não é da sua conta, me deixa em paz! – pediu John.
– Você pensa que eu não sei né? Larga já essa corda e vamos até a sala, tem uma pessoa te esperando lá. – disse Julie.
– Pessoa? Mas que pessoa? – perguntou John.
– Ai eu não posso contar, mas tenho certeza que você vai adorar! – disse Julie.
John desceu da cama e jogou a corda no chão. Julia o levou até a sala, ela estava bem animada, e o menino, ao ver o pai, começou a chorar, e os dois se abraçaram Em meio a tudo isso, Katharine ainda estava dormindo. Julie aproximou-se bem devagar da mãe e fez com que ela despertasse. Katharine não estava entendendo nada, e ao ver Robert se levantou assustada.
– O que está acontecendo aqui? E esse homem? O que faz aqui? – perguntou Katharine.
– O papai está aqui para que tudo volte a ser como antes, mamãe. Ele já sabe que a senhora ainda o ama, eu ouvi tudo e contei, e ele me revelou que também ama a senhora, e agora vocês podem ser feliz novamente. – disse Julie animada.
– Larga de besteira, menina. As coisas não são tão fáceis assim não! – disse Katharine.
– O negócio é que você é muito orgulhosa, Katharine! Eu já sei que você ainda me ama, você sabe que eu ainda te amo, porque não deixamos o orgulho de lado e voltamos logo? – disse Robert.
– Eu sei, Robert, não precisa esfregar as coisas na minha cara não! Eu ainda te amo, te amo muito! Mas não daria certo de ficarmos juntos de novo! – disse Katharine desanimada.
– Mamãe, escuta a gente, chegou a hora de vocês voltarem, e todos nós vamos ser felizes novamente! – disse John.
– Deixa, filho! Eu vou embora e nunca mais piso nessa casa, adeus!
Robert se virou e foi andando de devagar na direção da porta, triste. Julie e John estavam decepcionados, ele chorando, ela triste. Até que Katharine decidiu tomar uma atitude e chamou por Robert, dizendo que ainda o amava muito e que eles poderiam ficar juntos, caso ele ainda quisesse. Robert se virou e enxugou as lágrimas, logo um belo sorriso surgiu no seu rosto, ele correu na direção de Katharine e os dois se beijaram. John e Julie ficaram muito felizes e se abraçaram, em seguida foram na direção dos pais e os abraçaram.
Julie ficou muito animada, pois sabia que agora eles teriam um verdadeiro natal em família e seria muito legal. No dia seguinte, eles acordaram bem cedo e começaram os preparativos, no final do dia estava tudo lindo, a sala de jantar toda decorada e mesa prontinha para a ceia. A família logo se reuniu e começou as comemorações, junto com ela vieram muitas promessas, principalmente a de que a família nunca mais se separaria.
E eles foram “Felizes Para Sempre”…