As batidas do meu coração soam como o barulho do tambor. A corrida é cansativa e parece não ter fim, o suor escorre pelo meu rosto. Olho para os lados em busca de distração. Poucas pessoas preenchem o ambiente, elas também estão em busca da perfeição.

Próximo aparelho. Luto contra a vontade de largar tudo e ir para casa. Todos os dias é a mesma rotina que não traz resultados concretos. Olho-me no espelho e vejo aquele ser nojento e enorme. É necessário ficar mais alguns minutos. As últimas pessoas vão embora e me deixam sozinha.

Chega! Caminho até a porta da academia. Está trancada. Chamo por alguém, em vão. A essa hora todos já foram para suas casas.

Uma vertigem me atinge e meu estômago reclama. Tento lembrar qual foi minha última refeição. A comida é o combustível para o monstro que eu carrego dentro de mim.

Volto ao salão e ligo a televisão. Retiro da bolsa o pequeno sanduíche natural e dou uma bela mordida, e me arrependo em seguida.

A propaganda mostra uma linda mulher apresentando uma nova técnica de emagrecimento, talvez essa funcione comigo. A mulher aponta para mim, tentado me alertar de algo, tento compreender o que ela diz. Olho para o sanduíche e vejo que minhocas saem de dentro e uma gosma amarela escorre por meus dedos.

Corro para o banheiro vomitar. Olho meu reflexo que sorri para mim. Ele conhece meus defeitos e acha engraçada minha tentativa frustrada de ser alguém melhor. As luzes se apagam.

Escuto vozes que me chamam. Vou até o salão e vejo que meu reflexo me seguiu. Ele ganhou vida própria e me chama em direção ao espelho, quer me contar um segredo. Eu obedeço e caminho em sua direção, ao chegar próximo ele desaparece, reduzido ao nada.

Alguém toca meu ombro, tenho medo de virar e me defrontar com tudo aquilo que tentei esconder até o momento. A curiosidade é maior que o medo e viro-me. Uma versão perfeita de mim, me encara.

As vozes voltam a me chamar. As reconheço. São as pessoas que passaram por minha vida, cobrando-me a perfeição: ser mais bela, ser mais magra, ser mais inteligente. Sempre mais. Choro desesperada. A minha versão perfeita me estende a mão, e eu entendo o que preciso fazer. Não é hora de parar. Volto ao local de treinamento e continuo meus exercícios. Incansável, até não escutar mais o barulho do tambor e nem minha respiração.

A luz do sol preenche o ambiente, outrora escuro. A porta se abre e passo por um corpo no chão. Vejo uma garota pálida e franzina, morta.

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