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A Oeste do Paraíso

 

Os pecados da carne não são nada: doenças a curar pelos médicos se a cura for possível. Só os pecados da alma são vergonhosos

Oscar Wilde

 

 

-Me deixa em paz!

 

Marcelo gritava ferozmente ao mesmo tempo em que lutava para se desvencilhar das garras de seu pai, que num último esforço tentava segurá-lo pelas costas da camisa.

-Me deixa em paz – ele repetiu entre os dentes – Nunca mais nem você e nem ela vão encostar as mãos em mim, entendeu?

Bruna, a irmã caçula de Marcelo, sentada no chão, completamente assustada, se espremia cada vez mais à parede enquanto assistia aquela discussão violenta sem ter a coragem de mover um músculo sequer; havia poucos minutos tentara se levantar, mas recebera de seu pai um olhar ameaçador, impiedoso…

 

Tropeçando entre os próprios pés e se apoiando ao que via pela frente, Marcelo conseguiu atravessar o batente da porta do quarto como um relâmpago, não parando nem mesmo quando sua mãe surgiu na ponta do corredor, tentando impedir sua passagem.

Sem pestanejar, partiu ao seu encontro, empurrando-a para o lado com toda a força que possuía, pouco se importando se iria machucá-la.

Ao mesmo tempo em que alcançava a rua, sôfrego, ouviu os gritos de seus pais, carregados de cólera, maldizendo-o.

 

Nenhum daquelas ofensas poderia mais atingi-lo, o que o perturbava, naquele instante, era o fato de ter deixado Bruna para trás…

 

*    *    *

Marcelo estava sobrevivendo pelas ruas, becos e calçadas das cidades vizinhas, pernoitando em portas de igrejas, banco de praças e embaixo de marquises já havia duas semanas.

Andava sem destino, ora a passos largos, ora sem qualquer pressa… Estava alheio ao mundo à sua volta: resultado de um reflexo involuntário de seu cérebro que ia deixando de se concatenar com a realidade na medida em que lembranças perturbadoras invadiam cada vez mais e mais sua mente.

 

Um verdadeiro campo de batalha havia se formado dentro de si.

Por um lado Marcelo precisava daquelas amargas recordações para alimentar sua determinação, fazê-lo reunir forças a fim de enfrentar seus pais e resgatar sua irmã de dentro daquela casa, mesmo sabendo que tal empreitada não seria nem um pouco fácil; por outro, o preço a pagar pela presença dessas lembranças, cada punição sofrida, cada humilhação a que fora submetido, tudo, tudo o que havia passado, dilacerava a sua alma, sufocando-o e quase convencendo-o de que extinguir a própria existência seria a única maneira de livrar-se de todas elas.

Será que algum dia ele iria conseguir extirpar as imagens de seu pai lhe surrando com o cinto repetidas vezes para em seguida começar a usá-lo como um mero objeto sexual, desfrutando de cada parte do seu corpo, dolorida ou não, no intuito de satisfazer seus instintos, seu apetite voraz, e também os de sua mãe; ambos embriagados pelos mais sórdidos desejos que a luxúria poderia incitar?

Marcelo havia perdido as contas das vezes a que fora submetido a todo esse constrangimento, e só não abandonou a vida miserável que levava porque não podia deixar Bruna sozinha, desamparada sob as garras daqueles dois verdugos; ele não seria covarde como Juliana, sua irmã mais velha, que desaparecera de casa, há quase seis meses, deixando-os para trás, mesmo sabendo o que os aguardava…

Sim. Marcelo sabia que a depravação moral de seus pais cedo ou tarde recairia sobre a pobre Bruna, assim como recaíra sobre ele, quando completou seus onze anos de vida (a mesma idade com que sua irmãzinha estava agora), e fora obrigado a começar a presenciar, durante alguns meses, Juliana ser vilipendiada de todas as formas antes de ser convocado a se juntar a ela para partilhar a cama de seus genitores…

Definitivamente era preciso voltar para casa antes que fosse tarde demais.

*    *    *

 

Marcelo carregava um semblante de completa apatia e desprezo pela vida quando retornou para a sua cidade após ter se mantido afastado por quase três semanas.

 

Dentro de si, enquanto se aproximava de casa, transitavam as mais diversas e tenebrosas sensações: mágoa, desespero, ansiedade, impotência, loucura… Todas se contrapondo à certeza da decisão que havia tomado: libertar a irmã e em seguida livrar o mundo daqueles dois algozes que o destino lhes dera como pais… E chegaria as últimas consequências para que isso acontecesse, se fosse preciso.

 

Com a respiração ofegante, completou o resto do caminho até estacar a frente do pequeno portão de madeira, de onde vislumbrou sua casa rodeada pelo jardim cultivado e conservado com uma dedicação ímpar por sua mãe.

Puxou todo o ar que podia para dentro dos pulmões antes de continuar.

Com cautela, como se estivesse caminhando em um campo minado, Marcelo chegou, por fim, à varanda, onde, um tanto hesitante, abaixou para apanhar a cópia da chave que ficava escondida sob uma saliência discreta num vaso de planta, à direita da entrada, e a girou na fechadura tomado pela sensação de que estava prestes a disparar um alarme que acusaria sua presença.

Cada músculo do seu corpo estava tomado pela expectativa e pela ansiedade.

Ao abrir a porta, esticou o pescoço e olhou o seu entorno antes de dar o primeiro passo. Um silêncio atroz tomava conta do lugar.

Onde eles estão pelo amor de Deus?

Questionou-se após alguns instantes deduzindo que seus pais e Bruna estivessem fora.

– Então o ingrato resolveu voltar?

Ao ouvir a voz grave do pai reverberar pela sala, Marcelo demorou um pouco antes de se virar.

Lá estava Armando, um homem alto, magro, de uma elegância singular, imponente e com um rosto impassível mirando Marcelo de um modo genuinamente feroz.

Uma besta prestes a atacar a vítima indefesa.

– Não conseguiu ir adiante, seu merdinha? – Armando arqueou uma das sobrancelhas antes de descer o último degrau do lance de escadas que levava ao segundo andar da casa – O mundo aí fora te mostrou que o lar, doce lar, é o melhor lugar para estar, não é mesmo? – completou com um sorriso cínico rasgando os seus lábios.

 

Marcelo respirou fundo e permaneceu imóvel, aguardando a aproximação do pai, que aconteceu sem pressa, enquanto o media de cima a baixo.

Quando, por fim, apenas alguns centímetros os separavam, sentiu a mão pesada de Armando lhe cair sobre um lado da face. Não reagiu de imediato, permanecendo em silêncio, como sempre, entretanto não demorou a levantar o rosto para encarar o pai de maneira firme e decidida, disposto a pagar o preço que fosse por aquele gesto de extrema coragem, na verdade, uma emergencial coragem.

– Por onde você andou seu filho da puta para chegar aqui desse jeito, maltrapilho, cheirando a azedo?

Armando o empurrou com força, e mesmo tentando se equilibrar, Marcelo acabou caindo sentado sobre o sofá, batendo com as costas violentamente em um dos apoios de braços.

– Eu e sua mãe pensamos que tu fosse desaparecer da face da terra como fez a famigerada da sua irmã…

Marcelo recebeu outro tapa no rosto antes mesmo de conseguir alcançar com uma das mãos o lado das costas atingido.

 

A energia que o pai depositara naquele gesto o projetou sobre o encosto do sofá, onde caiu com o rosto virado para a entrada da cozinha, percebendo, então, a mãe parada sob o batente da porta segurando com força os ombros de Bruna.

 

A irmã caçula estava com o rosto inchado, os olhos vermelhos… e seminua.

 

Fechando e abrindo os olhos rapidamente, Marcelo voltou-se na direção do pai, e o encarou, desafiador, ao mesmo tempo em que ensaiava um movimento para se colocar de pé.

– Quem disse que você pode se levantar? – Armando gritou possesso diante daquela afronta – Então é assim que você retribui a mim e à sua mãe depois de tudo o que fizemos por você? – questionou, despejando a mão sobre o peito de Marcelo com tanta força que o fez cair deitado sobre o sofá – Se fizer isso novamente, nunca mais ouse retornar para essa casa, ouviu bem?

O ódio entre pai e filho atingira um patamar inconcebível, e Armando, ao visualizar o semblante de Marcelo carregado de cólera e também desprezo, saltou sobre ele com extrema violência.

Diferente das vezes anteriores, Marcelo decidiu reagir, mas não obteve sucesso diante da fúria quase insana de seu genitor.

Parecia que o pai estava possuído por uma força descomunal.

Em uma questão de segundos, Marcelo se viu indo de encontro ao chão, não demorando a sentir o peso do cinto de Armando lhe cair no meio das costas; teve a impressão de que estava sendo partido ao meio e então juntou os braços e as pernas e se fechou, como uma concha, enquanto continuava a ser surrado.

– Quem você pensa que é pra me desafiar, moleque? – Armando indagou enquanto apertava o pescoço do filho a fim de forçá-lo a levantar o rosto, e após conseguir sua “atenção”, desferiu-lhe um soco sobre a face, sem pestanejar.

 

Marcelo sentiu o gosto de sangue e muco tomar conta de sua garganta.

Mais um soco.

Na boca.

Um grito agudo de Bruna.

Marcelo continuou tentando a duras penas cobrir o rosto enquanto Armando, entre os mais diversos impropérios, se colocava de pé, agarrando os seus cabelos, forçando-o também a se levantar.

 

– Você está fedendo, moleque. Vá se lavar. Agora. E depois suba para o quarto. Vamos estar te esperando – determinou antes de virar o rosto na direção da esposa e da filha.

 

 

 

Marcelo colocou as mãos na pequena mesa de centro buscando apoio para se levantar. Nesse ínterim olhou de soslaio para a Bruna, que chorava copiosamente e então, respirando fundo, apesar das dores que começavam a irradiar de suas costelas, conseguiu, com certa dificuldade, ficar de pé.

 

*    *    *

 

De olhos fechados, Marcelo sentia a água do chuveiro caindo sobre o seu corpo ao mesmo tempo em que lágrimas escorriam pela sua face.

 

Tomado por uma raiva absurda e um sentimento de frustração que lhe invadia a alma sem titubear, começou a esmurrar a parede diante de si.

Queria gritar, mas não podia. Não devia.

Desligou o chuveiro sem pressa deixando escapar um suspiro profundo… Algumas gotas de água ainda caíram sobre seus ombros enquanto terminava de sair de dentro do boxer.

Imagens dos pais tocando o seu corpo, obrigando-o a coisas que não queria fazer, lhe invadiram a mente e então ele respirou fundo, muito fundo e meneou a cabeça a fim de afugentar aquelas recordações.

– Uma aranha…

Balbuciou com os olhos fixos no chão.

– É o que vocês são. Duas aranhas lentas, cruéis e perversas, sequiosas em atingir seus propósitos.

Sentiu o estômago afundar.

Apoiou, então, as mãos firmes sobre a pia e fechou os olhos por alguns segundos, provando o gosto de bile na boca seguida de uma crescente sensação de enjoo.

Abriu os olhos e só teve tempo de se inclinar sobre o vaso sanitário e vomitar.

 

*    *    *

 

Marcelo subiu pé ante pé cada degrau que o levava ao segundo andar da casa, estacando em frente à porta entreaberta do quarto de seus pais, onde permaneceu por alguns segundos, refletindo.

Sabia muito bem o que lhe aguardava e pagaria o preço que fosse necessário para atingir o seu objetivo…

Finalmente abriu a porta da alcova onde o pecado imperava e de pronto se deparou com os pais sentados à beira da cama, nus, enquanto Bruna, também nua, permanecia encolhida num canto.

– Pelo jeito lavou até a alma, caralho – observou seu pai, enquanto o media de cima a baixo ao mesmo tempo em que fazia um sinal para que se aproximasse e sentasse ali, entre ele e sua mãe.

Marcelo seguiu, inicialmente claudicante, mas a visão da irmã, curvada, indefesa, aguardando o inevitável, lhe deu forças para ir adiante.

Com passos firmes alcançou a cama e antes de se sentar, como ordenado, a toalha que trazia envolta à cintura foi arrancada imediatamente, liberando o caminho para que mãos começassem a correr por todo o seu corpo, ora com serenidade, ora com violência…

 

Línguas alcançaram o seu pescoço para depois subir às suas orelhas, descer para o rosto até invadir, como duas serpentes exasperadas, seus lábios.

Mãos lhe abriram as pernas e de um instante para o outro Marcelo enxergou os verdugos ajoelhados à sua frente com olhares extravasando um desejo de cobiça demasiado perturbador.

Suas têmporas começaram a latejar e seu coração parecia que ia saltar pela boca…

Voltou-se, então, para o canto onde estava Bruna, que continuava encolhida, retraída e com o rosto entre as mãos.

Uma fisgada na virilha o fez estremecer. Seu pênis estava sendo disputado, sem titubear, entre movimentos sôfregos, desesperados.

 

– Por favor, sem ela – Marcelo disparou de uma só vez.

Seus pais pararam por um instante e demoraram um pouco para levantar o rosto. Marcelo manteve-se firme, decidido.

– Por favor – ele voltou a pedir – Uma última vez antes que ela…

– Já está na hora de sua irmã fazer parte da família – ironizou o pai, apertando-lhe o órgão genital.

– Eu faço tudo o que quiserem e da forma que quiserem, e sem reclamar, sem contestar – Marcelo barganhou, se controlando para não empurrar os dois malditos e lhes transferir todo o ódio que sentia – Serei extremamente permissivo às suas vontades, prometo, mas quero ter essa experiência sem ela por perto, por favor, – terminou sua súplica inclinando-se um pouco para trás, levantando as duas pernas, apoiando-as sobre o colchão e deixando assim à mostra o caminho livre para as suas nádegas.

 

*    *    *

 

Apertando o passo cada vez mais a fim de se afastar do bairro onde morava, Marcelo puxava Bruna pelo braço de maneira determinada. A menina, com uma estatura pequena para os seus onze anos recém completados, praticamente precisava correr para alcançar a velocidade com que o irmão andava, sem olhar para trás, decidido.

– Por que estamos fugindo? Nossos pais vão ficar loucos atrás da gente assim que derem pela nossa falta.

Marcelo continuava sua trajetória alucinada em total silêncio. O passado literalmente estava sendo deixado para trás. Uma nova vida os aguardava, a ele e à irmã, e nada e nem ninguém o faria desistir.

– Quando o pai e a mãe nos encontrar e nos levar de volta pra casa, vão nos surrar até a morte, tenho certeza…

Bruna repetia, ofegante, não conseguindo controlar o medo no seu tom de voz.

– E dessa vez eu também vou ter a minha parcela do cinto do pai…

Marcelo finalmente estacou e Bruna quase caiu diante da brusca freada não fosse o seu braço estar amparado pelo irmão.

 

– Esqueça nossos pais.

Ele ordenou entre os dentes enquanto se abaixava. Seu rosto estava impassível.

-Estão mortos. Nunca mais irão nos perturbar, perseguir-nos, surrar-nos ou qualquer outra coisa. Entendeu?

Logo se levantou sem se preocupar com o resultado de sua inesperada notícia.

– E tem mais uma coisa…

Disse, continuando a caminhar, mas desistindo e parando abruptamente, como fizera segundos atrás.

– A partir de hoje – se virou e puxou o rosto da irmã para o alto -A partir de agora seremos outras pessoas, teremos outros nomes e um passado bem diferente desse que estamos deixando para trás, entendeu?

Bruna não conseguia esboçar qualquer reação. Estava confusa, assustada…

 

– De agora em diante eu me chamo… – Marcelo olhou para o céu, pensativo, antes de continuar – Thomas. Isso. Eu me chamo Thomas e você, Teresa, entendeu bem? Thomas e Teresa – ele se voltou para frente – E esqueça também o nosso parentesco – ordenou, mas dessa vez sem parar -Esqueça nosso parentesco de uma vez por todas. Nunca, jamais, fomos irmãos…

 

*    *    *

 

Ainda me lembro muito bem dos instantes finais daqueles dois porcos e vou confessar que não sinto nenhum remorso pelo que fiz.

Nada.

Nem uma ponta de arrependimento.

Ainda posso ver aqueles dois, os seus olhares patéticos suplicando pela vida, amarrados à cama, buscando desesperadamente se verem livres dos nós que prendiam suas mãos e seus tornozelos e das fronhas que eu havia enfiado nas suas bocas…

Nada. Exatamente nada. Nenhuma pena, nenhum segundo sequer de pesar diante do medo que eu via estampado em seus rostos, em seus olhos que mais pareciam duas órbitas prestes a saltar das cavidades…

Eu queria que enxergassem todo desprezo, ódio e escárnio que eu lhes desferia.

Que sensação arrebatadora me invadiu quando comuniquei aqueles dois pervertidos que tinha chegado a hora de pagarem pelo o que tinham feito comigo e com minhas irmãs… Mas eu não fui tão perverso, tão insensível… Fiquei em pé na cama, sobre eles, e massageei minha virilha, meu pênis, na verdade me masturbei para os dois, lhes dando um último instante de prazer antes de lhes mostrar a gravata esticada entre as minhas mãos e perguntar qual deles iria ter o privilégio de assistir ao outro morrer.

 

Juliana teria tido orgulho de mim…

 

 

Marcelo, meu irmão, como você está?

Não sei ao certo se ainda se lembra de mim, de sua irmã Juliana… Algum tempo se passou, acredito que muito tempo desde a última vez que nos vimos e infelizmente sem saber que seria a última. Desculpe o pessimismo, mas não me resta quase nenhum motivo para ter esperança dentro deste lugar onde me encontro; na verdade o meu desejo de revê-lo é o que ainda me faz estar consciente no meio de todo esse mar de desespero, onde a degradação da sanidade humana está por toda parte.

Sim. Estou lutando para me manter dentro de um nível considerável de consciência. Preciso lembrar-me de quem eu sou para, quando enfim reencontrá-lo, poder reconhecê-lo e me fazer reconhecer, e a nossa querida Bruna também, que, imagino, deve estar uma bela mocinha.

Não sei ao certo há quanto tempo estou enterrada neste manicômio que eles chamam de casa de repouso e recuperação. Há muito perdi a noção de tempo e espaço. Sem a devida exposição à luz do sol e o mínimo de contato com outro ser humano __ só me é permitido interagir com os enfermeiros e médicos, e sempre recebo de cada um deles, quando recebo, apenas repostas lacônicas __ acabo travando uma luta diária com a loucura.

Não sei se essa carta chegará até você. Perdi as contas das que te enviei praticamente com esse mesmo texto sem nunca ter recebido qualquer resposta. Não sei se minhas cartas foram interceptadas pelo nosso pai ou nossa mãe ou sequer conseguiram atravessar as paredes dessa prisão, independente do motivo, cada vez me vejo mergulhada num desespero atroz por não ter lhe feito saber que nunca o abandonei, e nem sequer tive a intenção de deixá-lo pra trás, sob as garras de nossos pais…

Prometo continuar tentando contato, até não poder mais conseguir papel e lápis para escrever, até não ter mais forças para reunir minhas ideias e coloca-las em ordem…

Perdoe-me a ausência, mas tenha certeza de que estou aqui sem chance de escolha; fui trazida para cá da maneira mais torpe e covarde, e o que mais me dói é a certeza de que o nosso pai está por trás de tudo isso, tanto, que por aqui, sou taxada como louca, completamente alucinada, por me dizer ser filha de um desembargador do Governo…

O sono está chegando. Ele vem forte. É sempre assim depois da medicação…

 

Sua irmã que o ama muito, Juliana.

 

 

Abandonar o paraíso é a única forma
de não esquecê-lo

Fabricio Carpinejar

 

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