CENA 1. CASA DE ODETE. DIA

Hoje era dia de lavar roupa. Odete levantou cedo e aproveitou a oportunidade para apresentar à nova camponesa do bairro as técnicas de lavagem.

ODETE – Hoje terei ajuda de uma rainha para lavar as roupas, olha que fantástico!

Alice, que estava tomando o café da manhã, não entendeu num primeiro momento.

ALICE – O que está falando? Nem acordei completamente ainda.

ODETE – Pois já deveria ter tomado seu café há muito tempo. Já são 10 da manhã. Hoje teremos um longo dia no riacho, lavando roupas.

Alice ri demasiadamente.

ALICE – Isso é a melhor piada de todos os tempos! Olhe bem para o meu rosto. Não tenho cara de quem vai ao riacho lavar roupas. Pff.

ODETE – (irônica) Não, é? Vai usar roupas sujas a partir de agora?

ALICE – Alfredo lavará minhas roupas.

ALFREDO – Não sou mais seu empregado.

ALICE – Você jurou lealdade a mim, não lembra?

ALFREDO – (irritado) Não devo lealdade a ninguém mais! Olha onde fomos parar por sua causa!

ALICE – Olha como fala comigo! Lembre-se de que sei muitas coisas sobre a sua pessoa/

ALFREDO – (corta) E EU TAMBÉM SEI MUITAS SOBRE VOCÊ!

ALICE – Majestade! E não fale comigo nesse tom.

ALFREDO – Eu falo no tom que quiser! Olhe em volta! Repare onde estamos. Não somos mais nada, Alice. Perdemos o trono, seus planos não deram certo. Armando foi mais inteligente e mais rápido.

ODETE – Do que vocês estão falando?

ALICE – Cala a boca, Alfredo!

ALFREDO – Não vou mais me calar! Eu sou um homem livre agora. Fui seu cordeirinho durante anos, agora chega! Você vai conosco até o riacho e vai lavar as próprias roupas.

ODETE – Isso mesmo! Vamos agora mesmo, estamos atrasados.

 

CENA 2. CASA DE RAMIRO. DIA

Padre Luiz já estava perdendo a paciência, de tanto bater à porta e ninguém atender.

LUIZ – Atendam! Preciso falar com o senhor, Ramiro.

RAMIRO – Aguarde um momento, padre. Estou terminando de fazer algo.

LUIZ – O que é mais importante que atender o representante de Deus?

RAMIRO – Sem dramas, padre.

Atende a porta.

LUIZ – Por que tanta demora, tem alguém aqui?

RAMIRO – Somente a Santíssima Trindade, padre.

Padre Luiz entra na casa, sem a permissão de Ramiro. Senta-se em uma cadeira.

LUIZ – Eu quero ter mais uma conversa com o senhor, Ramiro. Estou muito preocupado com o seu relacionamento com Guilhermina.

RAMIRO – (olhando para os lados, expressões de medo) Ah, é sobre isso que quer falar.

LUIZ – Por quê? Teria outro assunto a tratar com o senhor?

RAMIRO – Claro que não. E não tem nada de errado com meu namoro com Guilhermina.

LUIZ – Não seria um noivado?

RAMIRO – Isso, tanto faz.

Luiz franze o cenho.

LUIZ – É claro que faz diferença, meu filho. Eu…

Neste momento a conversa é interrompida por batidas vindas do quarto de Ramiro e pedidos abafados de socorro.

LUIZ – O que está acontecendo? Quem está batendo?

RAMIRO – (se levanta) Não é nada, padre. Acho que é um animal que capturei para fazer um cozido mais tarde.

LUIZ – Um animal não pede socorro, senhor Ramiro.

Ele se levanta e vai em direção ao quarto.

RAMIRO – NÃO! O senhor não pode entrar aí!

LUIZ – E por que não? O que o senhor está escondendo de mim?

RAMIRO – Nada, é que…

Então a porta da casa se escancara e surge uma Maria muito assustada.

MARIA – (gritando) PADRE! PADREEEE!! ME AJUDAAAAA!!!

LUIZ – (tenso) O que foi? O que foi?

Maria diz palavras desconexas e cai desmaiada nos braços do padre.

 

CENA 3. BAR DE VESELI. DIA

A primeira reunião da Liga Camponesa está acontecendo. O líder é Rogério, príncipe da França. Ele foi escolhido pelos próprios camponeses, que viam nele a figura carismática do líder que os livraria da tirania de Armando. Patrício estava participando ativamente da reunião.

PATRÍCIO – Temos que agir rápido! Esse tirano levará nosso reino à ruína!

ROGÉRIO – Sim, temos que agir, mas a estratégia é fundamental. Fundamental é também uma rodada de cerveja, o que acham? Garçom! Uma rodada a todos, por minha conta!

Patrício revira os olhos. Para ele, era mais importante mostrar a Armando que os súditos resistiriam à investida golpista que Armando impôs a Veseli. Mas os outros “soldados” não se importaram de se embriagar na reunião de estratégias.

Após três rodadas de cerveja, ficou definido que Rogério seria o comandante da tropa, e que Patrício teria uma função importante para todos, uma espécie de número 2 desse exército.

PATRÍCIO – Muito bem, vou dar a vida se necessário, pelo reino.

ROGÉRIO – Calma, senhor Patrício, ninguém vai morrer sob minhas ordens. Agora eu proponho um brinde para selar nossa aliança. POR VESELI!

Todos erguem os canecos e gritam POR VESELI!

 

CENA 4. RIACHO. DIA

Esta seria a primeira vez em anos que Alice lavaria roupas. Com certeza perdera a prática após tantos anos vivendo como rainha de Veseli. Odete já perdeu a paciência ao explicar, pela quarta vez, que o modo como ela lavava não era o correto.

ODETE – Assim você desperdiça todo o sabão!

ALICE – Não importa! O que importa é que as roupas fiquem limpas.

ODETE – É, mas não temos condições de desperdiçar dinheiro com muito sabão.

ALICE – Temos, sim! Esqueceu que tem uma verdadeira fortuna dentro da sua casa?

ODETE – Quer calar essa boca?! Já falei que esse dinheiro não será tocado em hipótese alguma.

ALICE – (resmungando) Se eu descubro o esconderijo desse baú não passarei mais por isso.

 

Esse era o horário mais cheio no riacho. Então, o encontro da ex-rainha com as lavadeiras de Veseli foi inevitável. O burburinho estava aumentando, todas comentando a queda social de Alice.

 

CENA 5. IGREJA. DIA

Maria conseguiu o que queria. Desviou a atenção do padre Luiz. O padre a levou para a igreja, e ela fez sua performance de acordar do desmaio.

LUIZ – Está melhor, minha filha?

MARIA – (falsamente sonolenta) Sim… eu… o que aconteceu? Por que estou na igreja?

LUIZ – Você estava muito nervosa, foi ao meu encontro na casa do senhor Ramiro. Disse que estava em perigo ou algo assim, que era para eu salvá-la de alguma coisa. Do que era, Maria? Do que estava falando?

MARIA – Eu… não me lembro. Lembro de estar em casa e… ai, é que estou muito preocupada com Alexandre, padre. Ele estava tendo uma recuperação boa no castelo. Agora que foi expulso de lá não sei o que vai ser dele.

E chora.

LUIZ – Calma, minha filha. Vou visitá-lo hoje mesmo. É bom que rezemos por ele.

MARIA – O senhor não acha melhor Alexandre ficar em minha casa enquanto se recupera? Tenho melhores condições de cuidar dele. A casa de Dona Odete está muito tumultuada ultimamente.

Ramiro faísca os olhos de raiva, olhando ferozmente para Maria.

LUIZ – Como assim?

MARIA – O senhor não soube? A rainha Alice e o mordomo Alfredo estão morando com Dona Odete depois que foram escorraçados do castelo.

LUIZ – Alice morando com Dona Odete? Mas por quê? De onde elas se conhecem a ponto de Odete convidá-la a morar com ela?

MARIA – Isso eu já não sei.

LUIZ – Vou averiguar o que está ocorrendo.

Maria não esconde a felicidade de entregar Odete para o padre.

LUIZ – Mas mesmo assim eu não acho adequado o senhor Alexandre morar com a senhorita antes do casamento. Vai ficar mal falada na vila.

MARIA – (pensando) Como se eu não já fosse mal falada por esses vizinhos hipócritas. (falando) Se o senhor acha isso, tudo bem. Eu só quero o bem do meu noivo.

Maria olha com olhar desafiador para Ramiro, que está se contendo para não esganá-la.

 

CENA 6. MASMORRAS DO CASTELO. DIA

Augusto e Daniela estão muito fracos. E esperançosos. Rogério prometera salvá-los da masmorra. Mas eles deveriam fazer a parte deles. Deveriam encontrar uma passagem secreta para sair daquele lugar.

 

AUGUSTO – Já tentamos de tudo. Simplesmente não existe passagem secreta aqui. E nem deveria existir mesmo, já que esse lugar foi feito para prisioneiros.

DANIELA – Se Rogério falou que há, é porque há. Confio muito nele.

AUGUSTO – Quanta diferença, não é, filha?

DANIELA – O que está insinuando? Que estou gostando de Rogério?

AUGUSTO – Eu não disse nada.

DANIELA – Não disse, mas pensou. E esse sorrisinho na cara não deixa mentir o seu gosto.

AUGUSTO – Não seria nada mal você se casar com ele, filha. Pelo bem do reino.

DANIELA – No momento nem reino temos mais. Precisamos cuidar disso primeiro, aliás. E o primeiro passo é sair dessa masmorra. Mas como vamos fazer isso?

Como se respondesse o apelo de Daniela, algo acontece. Um forte barulho de explosão é ouvido, e o rei e a princesa veem terra entrando na câmara em que eles estão.

DANIELA – (assustada) O que está acontecendo?

AUGUSTO – Não sei. Mas estou sentindo que de duas uma: ou vamos morrer agora ou é a nossa libertação.

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