CENA 1. CASA DE MARIA. NOITE

Aquela cena devastou Guilhermina. Nunca, nem em seus piores pesadelos, ela poderia imaginar que aquilo estava acontecendo. Sua melhor amiga, sua amiga de infância, deitada com seu noivo. Uma traição maior que aquela não existia. Então, uma onda de ódio invadiu Guilhermina de um jeito que ela não conseguiu controlar.

GUILHERMINA – O QUE É ISSO??!!!

Maria e Ramiro estavam em choque. Estavam paralisados, não conseguiram nem se vestir.

GUILHERMINA – Minha melhor amiga, amiga desde a infância, me traindo desse jeito!!!

MARIA – Calma, Guilhermina, não faça escândalo. Por favor!

GUILHERMINA – Você ainda não viu nada, sua vadia! Você sempre achou que eu era inferior a você, não é? A caipira que não tem ambições. Sempre me subestimou, sempre com sonhos megalomaníacos. Ia ser uma rainha, ia sair do povoado e ser rica, reconhecida. E agora está como? Amante de um vagabundo como Ramiro.

RAMIRO – Ei, não me ofenda dessa forma.

GUILHERMINA – Cala a boca! Cala a bocaaaaaaaaaaaaaa!! Eu já deveria ter percebido que não gosta de mim. Nunca me amou, não é, Ramiro? Por que então me iludiu dessa maneira? Por quê?

RAMIRO – Maria mandou eu me aproximar de você. Eu sempre a achei repugnante. Olha só pra você. Acha mesmo que algum homem algum dia se interessará por um ser tão desprezível e medíocre como você?

MARIA – Chega, Ramiro. Não precisa disso.

GUILHERMINA – (corta) Não. Agora eu quero que fale tudo o que acha de mim. Já que a máscara caiu, quero saber quem é Ramiro de verdade.

RAMIRO – (irritado) É isso mesmo! Maria e eu somos amantes. Há muito tempo. Ela queria que eu ficasse noivo de você, para disfarçar nosso relacionamento, já que ela está noiva de Alexandre. Eu relutei até o último segundo, não queria de jeito nenhum me envolver com você. Mas era necessário. Saiba que a cada beijo que dávamos era uma ânsia de vômito que sentia. Tenho nojo de você, Guilhermina. Nojo.

GUILHERMINA – EU QUE TENHO NOJO DE VOCÊ!!

E vai pra cima dele, estapeando-o desesperadamente. Ramiro a segura pelo braço e dá um grande bofetão na cara de Guilhermina. Ela cai no chão.

RAMIRO – Não ouse fazer isso de novo, e o resultado será pior. Agora vá embora daqui. E não volte nunca mais.

GUILHERMINA – Não acabou ainda, Maria. Ainda vamos acertar as contas.

 

CENA 2. POVOADO DE VESELI. NOITE

Guilhermina tentou parecer forte, e conseguiu fazer o melhor que pôde na frente de Maria e Ramiro. Mas quando saiu da casa de Maria não aguentou mais. Desabou e chorou copiosamente. Nesse momento começou a chover, mas Guilhermina pareceu não se importar com isso.

Do outro lado da rua, Patrício voltava da reunião da Liga Camponesa. Ao ver Guilhermina naquele estado, foi correndo para ajudá-la e ver o que tinha acontecido.

PATRÍCIO – Meu Deus, o que houve, Guilhermina?

GUILHERMINA – Não queria que me visse assim.

PATRÍCIO – Estou aqui para ajudar você. Foi vítima de salteadores?

GUILHERMINA – Quem dera. Foi… foi…

Começa a chorar mais.

Patrício abraça-a.

PATRÍCIO – Acalme-se. Conte para mim o que houve.

GUILHERMINA – Ai, Patrício, como eu pude ser tão burra…

PATRÍCIO – É claro que você não é burra. Quem pode dizer uma coisa dessa de você?

GUILHERMINA – Ramiro. Ele me ofendeu de uma forma tão pesada hoje.

PATRÍCIO – (irritado) Aquele troglodita. Não pode falar assim com ninguém, muito menos com a noiva dele!

GUILHERMINA – Ele não é mais meu noivo. Não depois do que aconteceu hoje?

Patrício fica nervoso. Guilhermina descobrira o romance de Maria com Ramiro?

PATRÍCIO – O que houve hoje.

GUILHERMINA – Uma coisa que me dá nojo, asco só de lembrar. Eu peguei… eu peguei Maria e Ramiro juntos, nus, na cama!

PATRÍCIO – E como reagiu?

GUILHERMINA – Como reagiria? É claro que eu fiquei possessa! Espere, você não me pareceu surpreso com essa notícia.

PATRÍCIO – É que… que eu… meio que já sabia disso.

GUILHERMINA – E não me contou? Por que fez isso? Você é como Ramiro que ri de mim nas minhas costas?

PATRÍCIO – Não! É claro que não. Mas não sabia como te contar.

GUILHERMINA – Ah não? Que tal “olá, Guilhermina, seu noivo e sua melhor amiga estão tendo uma relação sórdida pelas suas costas”. Acho que mesmo com a minha burrice e mediocridade eu entenderia o recado.

PATRÍCIO – Por favor, não me entenda mal. É que eu não queria te magoar. Não queria te ver triste. Só o vislumbre de ver você chorar já me deixava angustiado.

GUILHERMINA – E preferiu esconder de mim.

PATRÍCIO – Você não sabe o quanto foi difícil para mim também. Quando contei para Alexandre ele prometeu que não demoraria a acabar com tudo isso.

GUILHERMINA – Alexandre sabe disso tudo também?!

PATRÍCIO – Sabe… mas não fez nada, aparentemente. Mas eu ficava cobrando ele porque… porque… eu te amo.

Aquela revelação pegou Guilhermina totalmente de surpresa. Nunca olhara Patrício com olhos de amor.

PATRÍCIO – Eu sempre te amei. Desde que te vi pela primeira vez, naquele campo de flores em que trabalhamos. Uma verdadeira princesa.

GUILHERMINA – Para com isso! Já falei que sou feia, desajeitada, uma caipira, como diz Ramiro.

PATRÍCIO – Não dê ouvidos a isso, Guilhermina. Você é linda, adorável, meiga, eu…

Era a hora. Patrício tomou a iniciativa e beijou Guilhermina. Ela correspondeu e aceitou a demonstração de amor de Patrício. A chuva, que castigou a revelação da traição de Maria e Ramiro, agora premiava aquele momento de amor.

 

CENA 3. CASA DE MARIA. NOITE

Depois do escândalo, Maria e Ramiro confabulam os próximos passos a tomar.

MARIA – Isso não deveria ter acontecido. Todos os nossos planos podem ir por água abaixo agora.

RAMIRO – Então devemos apressar as coisas.

MARIA – Tem razão. O casamento com Alexandre precisa sair o mais rápido possível. A minha barriga não para de crescer. Se demorar mais todos verão que estou grávida. E agora com Guilhermina, é imprevisível o que pode acontecer.

RAMIRO – Só há um jeito de resolver isso. Vamos matá-la.

 

CENA 4. CASTELO. NOITE

Augusto ainda estava se inteirando dos estragos promovidos por Armando. Ele não só declarara guerra a toda a Europa, a principal preocupação do rei nesse momento. Ele dilapidou as reservas do reino.

AUGUSTO – Aquele desgraçado roubou tudo o que o reino tinha. Estamos na ruína, minha filha.

DANIELA – O que faremos agora.

AUGUSTO – A principal preocupação nesse momento é essa guerra iminente. Só depois que isso acabar poderemos reerguer o reino.

Um guarda entra no castelo.

GUARDA – Majestade, temos visita.

AUGUSTO – A essa hora?

GUARDA – É o príncipe Rogério. Ele disse que é urgente.

AUGUSTO – Faça-o entrar, então.

Rogério entra.

AUGUSTO – Boa noite, príncipe. O que o traz aqui a essa hora?

ROGÉRIO – Desculpe, majestade. É que o assunto que trago é de extrema urgência. Trago más notícias.

AUGUSTO – O que é? Fale logo!

ROGÉRIO – As tropas inimigas já podem ser avistadas da colina. Já invadiram as fronteiras do reino. A guerra começou.

A Widcyber está devidamente autorizada pelo autor(a) para publicar este conteúdo. Não copie ou distribua conteúdos originais sem obter os direitos, plágio é crime.

Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

Leia mais Histórias

>
Rolar para o topo