CENA 1. QUARTO DE ALEXANDRE. NOITE
Depois de todo aquele clima no jantar, Alexandre está em seu quarto, refletindo em como terminar o noivado com Maria.
ALEXANDRE – O que falei ao padre é uma decisão sem volta. Não quero e não vou me casar com Maria somente por causa de um erro. Não…
Seu pensamento foi direto para Daniela. A princesa realmente o fisgara. Ele finalmente caiu em si de uma vez por todas: estava apaixonado.
ALEXANDRE – Preciso resolver isso logo. E será amanhã. Não passará disso, amanhã eu conversarei com Maria e desfarei o noivado.
Neste momento alguém bate à sua janela.
ALEXANDRE – Quem será a uma hora dessa?
Alexandre abre a janela. Patrício está do lado de fora.
ALEXANDRE – Boa noite, Patrício. Como vai?
PATRÍCIO – Vim te chamar para mais uma reunião da Liga Camponesa. Acontecerá em instantes, no bar.
ALEXANDRE – Pode contar comigo. Vamos lá.
CENA 2. CASA DE LEOPOLDO. SALA DE JANTAR. NOITE
Leopoldo Kublovsky e a família estão jantando. Há algum tempo recebiam hóspedes não muito desejados: Carlota e Rogério se instalaram lá desde que foram expulsos do castelo por Armando e não têm a menor pretensão de irem embora tão cedo.
CARLOTA – Tenho que admitir que a estada em sua casa está sendo bem mais agradável que a hospedagem no castelo de Veseli, sr. Kublovsky. Mesmo em tempos tão instáveis aqui em Veseli o senhor e a senhora Madeleine me fazem sentir em casa.
MADELEINE – (falsa) Que bom que está gostando, majestade. Nos sentimos honrados em tê-los aqui.
ROGÉRIO – Eu também agradeço, mas preciso ir agora. Mais uma reunião da Liga Camponesa.
LEOPOLDO – Mas vocês já não cumpriram o objetivo de libertar o rei Augusto?
ROGÉRIO – Temos um objetivo muito mais grandioso agora, senhor!
LEOPOLDO – Que seria…
ROGÉRIO – Lutar bravamente por Veseli contra toda a Europa e…
Regiane interrompe o discurso de Rogério.
REGIANE – Com licença, senhores. Tem um mensageiro à porta.
ROGÉRIO – Como ousas interromper o herói nacional de Veseli!
CARLOTA – Menos, meu filho. Você nem veselino é.
ROGÉRIO – Mas estou aqui me prontificando e…
LEOPOLDO – (corta) Um mensageiro? Mande entrar.
REGIANE – Perfeitamente, senhor. É um mensageiro, mas não parece ser do reino. E aparentemente é um militar.
Regiane vai à porta para mandar o mensageiro entrar. Todos estão curiosos.
LEOPOLDO – Se o mensageiro não é do reino, por que veio até aqui? Não sou o líder do reino.
ROGÉRIO – E é um militar. Com certeza é algo grave.
O soldado entra. Ele tem um forte sotaque húngaro.
SOLDADO – Fiquei perdido quando entrei em Veseli. Fui ao castelo falar com o líder do reino, mas fui informado que a autoridade máxima interina é o senhor.
LEOPOLDO – O quê? Como assim?
SOLDADO – A política de Veseli está… digamos… agitada ultimamente, segundo nossas informações.
LEOPOLDO – Sou o vice-presidente do Conselho dos Anciãos. Não posso dar muitas informações sobre políticas internas do reino, por questões de segurança.
SOLDADO – (sarcástico) Todos sabemos que estão enfrentando um golpe. O senhor Armando deu um golpe e foi derrubado em pouco tempo.
LEOPOLDO – (constrangido) Não deixa de ser verdade. Mas o que o traz aqui.
SOLDADO – Prefiro falar diretamente com o senhor, Leopoldo. Não gosto de discutir política e estratégias militares na frente de senhoras.
CARLOTA – Isso é um insulto! Não sou uma simples senhora. Sou rainha da França, não está reconhecendo?
SOLDADO – E o que faz em Veseli?
CARLOTA – Ora, mas é muito insolente mesmo. Não devo satisfações a um militar de baixa patente da Hungria.
ROGÉRIO – Mamãe, contenha-se. Senhor, se acha mais conveniente podemos conversar reservadamente no escritório do senhor Leopoldo.
LEOPOLDO – E por que o senhor participaria da conversa?
ROGÉRIO – Bem… eu entendi que sou um líder do reino agora. E a França é uma das únicas aliadas de Veseli nesse momento. Então está decidido, eu participarei da reunião.
LEOPOLDO – (resignado) Tudo bem, alteza, pode participar da reunião.
ROGÉRIO – Acabo de ter uma ideia melhor, senhor.
LEOPOLDO – Ai meu Deus, já mudou de ideia? Não quer mais participar da reunião?
ROGÉRIO – Claro que quero. E quero incluir o povo de Veseli nisso. Em vez de nos reunirmos reservadamente no seu escritório, vamos ao bar de Veseli, onde está acontecendo a reunião da Liga Camponesa, e tomamos as decisões junto com o povo guerreiro desse adorável reino!
LEOPOLDO – Vossa Alteza deve estar ficando maluco! Onde já se viu decisões tão importantes serem tomadas em um bar com um bando de camponeses?
ROGÉRIO – Os camponeses foram os únicos que ficaram ao lado do reino quando da tirania de Armando. Eles merecem ser contemplados e participar das decisões que mudam a vida deles e de todo o reino. Uma guerra se aproxima! Não podemos rejeitar a ajuda de ninguém.
LEOPOLDO – Bem… eu fico até constrangido de levar o soldado a ter uma reunião em um bar…
SOLDADO – (corta) Eu adoraria! Depois de tanto tempo marchando, acho que mereço um bom caneco de cerveja.
ROGÉRIO – (levando o soldado para a porta) E prometo que a cerveja daqui é uma das melhores da Europa!
Leopoldo, sem poder mais contestar, acompanha Rogério e o solado húngaro em direção ao bar de Veseli.
CENA 3. CASA DE MARIA. NOITE
Ramiro e Maria estão tendo mais uma discussão.
RAMIRO – Eu não aguento mais essa espera! Precisamos, de uma vez por todas, concluir nossa missão e fugir daqui!
MARIA – É preciso aguardar o meu casamento com Alexandre! Quando eu estiver casada com ele vou ter muito mais acesso à casa da Odete e poder procurar com mais privacidade o tesouro.
RAMIRO – Eu não acredito mais em você! Pra mim de duas uma: ou você está tentando me enganar para ficar com o tesouro só pra você ou está apaixonada de verdade por Alexandre e quer se casar com ele por amor.
MARIA – Quantas provas eu já te dei de que quero ficar com você? Você sabe que toda essa história com Alexandre é só fachada para acharmos o tesouro.
RAMIRO – Então me dê uma prova agora. Quero uma prova de amor. Durma comigo nessa noite.
MARIA – Você sabe que não precisa pedir. É claro que vou dormir com você hoje.
RAMIRO – Então vem cá e me beija.
Maria e Ramiro se beijam ardentemente. O clima esquenta e eles vão direto para a cama de Maria.
CENA 4. BAR DE VESELI. NOITE
Toda a Liga Camponesa já havia chegado ao bar para a reunião. Só faltava Rogério para começarem.
ALEXANDRE – E precisamos esperar esse príncipe metido para começarmos?
PATRÍCIO – Rogério mudou muito, Alexandre. Ele é o nosso líder e comandou todo o processo de queda de Armando.
ALEXANDRE – Realmente mudou muito, então. Porque o que eu via enquanto estava no castelo era só um príncipe mimado.
PATRÍCIO – Acho que está com ciúmes de Rogério.
ALEXANDRE – Ciúmes? Por favor!
PATRÍCIO – É, ciúmes. Já que você era o líder do povoado e também…
ALEXANDRE – Também o quê?
PATRÍCIO – O príncipe Rogério veio a Veseli para se casar com a princesa Daniela.
ALEXANDRE – Está sugerindo o quê? Que Rogério é um rival meu?
PATRÍCIO – Não deixa de ser.
ALEXANDRE – Daniela nunca quis nada com ele. Não tenho medo de Rogério roubar Daniela de mim.
PATRÍCIO – Se você está dizendo…
Nesse momento Rogério, Leopoldo e o soldado húngaro entram no bar.
ROGÉRIO – Homens! Seu líder chegou!
Alexandre revira os olhos.
ROGÉRIO – E trouxe notícias, ou melhor, trouxe alguém que trouxe notícias.
PATRÍCIO – Quem é esse soldado?
ROGÉRIO – Apresente-se e diga a que veio, soldado.
SOLDADO – Sou Quotar, soldado do exército húngaro. Estamos oficialmente em guerra contra Veseli, e meu general, Ferko, ordenou que eu visse avisá-los que iremos exterminar Veseli!
Uma onda de consternação invadiu o bar. Como aquele soldado se atrevia a vir até Veseli e dizer que iria exterminar o reino? Leopoldo tentou acalmar a situação, já que vários camponeses ameaçavam linchar o soldado.
LEOPOLDO – Se acalmem! Devemos ter calma nesse momento para que possamos pensar no que fazer
CAMPONÊS 1 – Tudo isso é culpa sua e de seus amigos do Conselho! Eles declararam guerra a toda a Europa!
LEOPOLDO – Não é verdade, senhor! Armando não fala em nome do Conselho dos Anciãos. Ele deu um golpe e age como tirano.
CAMPONÊS 2 – E o que faremos agora? Como evitaremos esse massacre?
SOLDADO – É inevitável. O exército húngaro já marcha para Veseli. Temos notícias de que a Ucrânia e a Rússia também já estão a caminho do reino. Vocês vão ser reduzidos a pó!
LEOPOLDO – Deve ter alguma coisa que possamos fazer. Armando não está mais no poder, foi derrubado por esses nobres guerreiros.
ROGÉRIO – Isso mesmo. A vontade de Veseli não é a vontade de Armando mais.
SOLDADO – Agora não tem mais volta. Veseli está sem liderança e a ponto de ser varrida do mapa.
ALEXANDRE – Então vão todos para o inferno! Vamos resistir e acabar com todos vocês! Vamos mostrar quem são os guerreiros veselinos.
Todos se chocam com a atitude precipitada de Alexandre. Ele colocou toda a negociação a perder.
CENA 5. CASA DE MARIA. NOITE
Guilhermina fizera um bolo delicioso de cenoura à tarde. Estava testando receitas para surpreender Ramiro quando estivessem casados. Estava com um bom pressentimento de que Ramiro a pediria em casamento a qualquer momento. Mas para saber se o bolo estava gostoso mesmo, precisava de uma opinião de outra pessoa, e ninguém melhor para dar essa opinião que sua melhor amiga Maria.
Então, Guilhermina foi à casa da amiga, levando em suas mãos um tabuleiro de bolo de cenoura. Bateu à porta. Ninguém atendeu.
GUILHERMINA – Estranho. Não tem ninguém em casa?
Bateu novamente. Nada.
GUILHERMINA – Será que Maria saiu?
Girou a maçaneta. A porta estava aberta. Guilhermina adentrou a casa. Estava escura. Aparentemente todos haviam saído. Então, Guilhermina escuta barulhos abafados. Um medo repentino tomou a moça.
GUILHERMINA – (baixinho) Ai, meu Deus. Será que tem um ladrão na casa?
Guilhermina vai até a cozinha, pega uma panela. Precisava se defender de alguma forma, caso o ladrão viesse para cima dela. Então ela prestou mais atenção aos barulhos. Eles continuavam, mas agora pareciam com gemidos para Guilhermina. Guiando-se pelo barulho, ele levava para o quarto de Maria. Guilhermina caminhou em direção ao quarto, abriu a porta e viu. Lá estavam Maria e Ramiro, nus, se amando na cama.