Nota da Autora

Antes de Iniciar a leitura tenha em mente alguns alertas, essa é uma obra de ficção, todos os fatos relatados são meramente entretenimento e não condiz com a realidade e pensamentos da autora.

Caso seja sensível algum desses alertas, por favor não inicie a leitura. Ou se desejar continuar, leia com cautela e boa diversão.

Gênero:

Horror psicológico, Terror e Sobrenatural

Classificação:

+18

Alerta Gatilhos:

Esquizofrenia, orgia, menção de estrupo.

Sinopse:

Maria Elisa, uma recém-ordenada freira, chega ao convento em Tenebras, acreditando ser escolhida por Deus por suas novenas sempre alcançarem as bençãos e graças. Porém, aquelas paredes daquele lugar que horas creem ser santo são dominadas por algo que vai além de sua compreensão. Suas orações serão sua salvação ou condenação?!

“Maria tinha um carneirinho,

carneirinho, carneirinho

Maria tinha um carneirinho

Tão branco como a neve

Sempre que a Maria vai, Maria vai,

Maria vai Sempre que a Maria vai

O carneiro vai também

Para a escola também foi,

também foi, também foi

Para a escola também foi

Sem ninguém saber”

Era verão, pleno carnaval em Tenebra, e a cidade ficava muito festiva com seus blocos arrastando foliões pelas ruas estreitas. Alguns diziam que esse era o período em que as pessoas ficavam mais propícias a atos dos quais iriam se arrepender no futuro. Eu me arrependi e agora pago caro por isso.

Eu estava muito animada, não por ser a época do carnaval, longe disso, pois a festa profana não combinava com uma noviça recém-chegada. Estava animada por, finalmente, ter sido aceita no Convento das Irmãs Carmelitas do Bom Amparo, onde poderia tornar-me freira e, com isso, ajudar mais pessoas.

Eu era conhecida por fazer fortes novenas na minha região, onde ajudava pessoas enfermas ou que precisavam de luz e superar suas dificuldades. Minhas preces eram aceitas, com a graça do Senhor Jesus, e muitos ficavam maravilhados com os feitos através das orações. Fui agraciada pela divina a ser providência.

Quando cheguei ao convento, fui muito bem recebida pelo padre Damião, o qual apresentou-me a madre Piedade, por quem me afeiçoei de imediato. Estava encantada com todos. Em breve, seria ordenada freira e comecei meus estudos em meus aposentos. A primeira noite foi tranquila e silenciosa, como todo local de magnitude divina tem que ser. Pude encontrar paz para minhas novenas, e foi assim que comecei a primeira em minha nova morada, para pedir forças para cumprir minha missão divina na Terra.

Na manhã seguinte, acordei um tanto cansada, mais que o normal, e não entendia o porquê, já que tinha ido me deitar bem. Levantei-me, fiz minhas obrigações matinais e assisti à missa. À tarde, mais estudos e ajuda às pessoas que vinham procurar a palavra de Deus. Aquela era minha rotina diária, mas, todas as manhãs, eu acordava no mesmo estado, cansada. E foi assim durante minha primeira semana no convento. Havia chegado antes da semana do carnaval para evitar o tumulto daquela época do ano, que levava a cidade a um pequeno caos para andar pelas ruas.

Enfim, a época festiva chegou e o convento mantinha – todo ano uma rotina mais reclusa, abrindo as portas somente após aquele período. Fiquei satisfeita, realmente não queria lidar com pessoas bêbadas que fizessem gracinhas. E foi quando meu arrependimento se iniciou, pois, se eu imaginasse o que aconteceria, possivelmente estaria nas ruas, onde era mais seguro.

No sábado, acordei no meio da noite, cansada e sentindo meu corpo febril. Levantei-me, fui até a cozinha do convento e peguei água. Naquele instante, ouvi sussurros e caminhei seguindo o som, pen- sando ser freiras acordadas e conversando baixo para não incomodar os que dormiam. Estranhei e fiquei um pouco apreensiva quando cheguei ao local e deparei-me com a sala vazia, mas com um pequeno baú depositado no chão, no centro do cômodo.

— Irmãs?! Alguém acordada?

Silêncio foi a resposta, pois não havia ninguém. Senti um arrepio na espinha e abracei-me, esfregando os braços. Andei até o baú e o peguei, com o intuito de pôr na estante e voltar ao meu quarto, porém, assim que o deixei na prateleira e me virei, as vozes sussurraram novamente. Assustada, voltei minha cabeça para trás.

— Está vindo do baú…

Caminhei para a porta, e foi quando ela bateu, trancando-me lá dentro. Aturdida, peguei meu rosário, apertando-o firme entre meus dedos, tanto que se podia ver o branco da pele nas juntas entre os ossos.

As vozes ficaram mais intensas e o baú se abriu. Arregalei meus olhos, apavorada ao ponto de as lágrimas escorrerem em um choro desesperado.

— Maria Elisa… O sussurro veio da caixa aberta. Maria Elisssaaa…! Assombrada, involuntariamente, caminhei até a caixa e olhei dentro.

— Um rosário?!

A peça era bela: contas rubras, ligadas por fios dourados, e uma cruz com um esplendor de encher os olhos.

— Quem fala?

— Maria Elisa, é o Senhor quem lhe fala.

Coloquei as mãos sobre os lábios, sem acreditar no que estava vendo e ouvindo.

— Deus…

— Maria, tu és minha maior serva… Tuas novenas são de grande fervor e fé…

A voz era branda e suave, quase como um cântico.

— Maria, esse rosário é meu presente, para que possas usá-lo e propagar as tuas orações.

Olhei o objeto e suspirei. Estava mesmo sendo agraciada com a benção divina? Era como se o Senhor, meu Deus, me entendesse, respondendo-me em seguida:

— És minha maior serva, e agora serás minha voz diante dos homens e mulheres que a buscarem.

Fiquei hesitante, caminhei para perto e peguei o presente. Sentindo algo tão intenso que, excitada com a adrenalina correu minhas veias, olhei em volta tentando entender o que havia me acontecido, baixo olhar para aquele rosário, larguei o meu velho na estante e, em silêncio voltei para o quarto.

Naquela mesma noite, iniciei minha novena com aquele objeto, sentindo-me realizada. Algo mudou dentro de mim quando dizem que “para conhecer o homem, basta dar-lhe poder, de fato, é a mais pura verdade, conheci meu pior lado, comecei a acreditar que era um ser divino e que tinha sido escolhida para ser uma santa. Minhas novenas tinham resultados imediatos, bastava que eu orasse e a graça era alcançada.

No último dia do carnaval, suspirei baixo e me sentei perto da janela em meus aposentos. Com o terço em mãos, comecei a orar e, de repente, a voz do Senhor agraciou-me com sua presença novamente.

— Maria Elisa…

— Sim, meu Senhor, diga-me o que desejas e, como tua serva, realizarei.

— Tuas preces sempre serão atendidas, pois lhe agraciarei com a providência divina e a tornarei santa diante dos homens, mas deverás fazer algo para mim, como prova final de tua fé.

Arregalei os olhos, boquiaberta. Não pensei muito e ajoelhei-me com o rosário entre os dedos, aceitando, sem ao menos saber o que precisaria fazer.

— Farei o que me pedir, meu Senhor.

— Deitarás com todo homem e mulher que aparecer a ti esta noite, sem questionar ou reclamar.

Apavorada com aquele pedido, ergui meu rosto para o alto e neguei.

— Meu Deus, serei santa sendo impura e violada?

— Para alcançar o céu, deverás descer ao inferno.

Logo, ouvi vozes vindas do lado de fora do quarto, a porta se abriu e pessoas fantasiadas entraram rindo e bebendo. Levantei e agarrei o rosário, olhando-as. Os homens foram os primeiros a tocar-me. Fui violada de todas as formas, homens e mulheres fizeram sexo entre eles e comigo, meu corpo foi maculado, e chorei pedindo forças para continuar até a noite terminar.

Na manhã seguinte, saí dos meus aposentos, ferida e impura. Busquei esconder o que havia acontecido limpando o local, o cheiro de bebida e cópula enojava-me. Passei o dia tentando cumprir meus afazeres e, quando anoiteceu, voltei ao meu quarto. As lembranças daquela última noite gritavam em minha mente e chorei outra vez, sufocada por desespero e agonia. Peguei o rosário e orei novamente, pedindo a Deus que limpasse meu coração, apagasse as lembranças ruins e concedesse-me a graça prometida.

Não fui ouvida, o que se repetiu durante todas as outras noites que orava, como se o Senhor não ligasse mais para mim. O que fizera? Por que aceitara?

Cada minuto era um calvário e sentia-me perdendo a sanidade. Certa noite, deitada, após ter feito novamente a oração sem nenhuma resposta, retirei os lençóis da cama e comecei a rasgá-los em tiras. Trancei-as, transformando em uma corda, olhei para a janela e amarrei a ponta bem firme, enrosquei outro nó, formando um laço, e, parada ali, tirei minha roupa.

Lembrei que minha mãe cantava para acalmar meu medo e comecei a tocar-me com aquele rosário entre os dedos. Masturbei-me e depois me feri. Tinha nojo de mim mesma. Cantarolando, enrolei a ponta do lençol no pescoço e subi na janela.

— Maria tinha um carneirinho, carneirinho, carneirinho… Maria tinha um carneirinho…

****

— Mas não se matou, já que está aqui me contando o que aconteceu.

— Eu queria morrer, e nem isso consegui. Daquele dia em dia neguei a Deus e passei a atacar tudo que era divino, ao ponto de destruir até o altar. Ninguém acredita em mim. As freiras relataram que ninguém entrou no convento naquela noite maldita.

—  Anotei tudo e faremos algumas sessões de terapia. Você precisa descansar e tomar seus remédios.

Olhei o homem de jaleco branco e meus olhos brilharam com a lágrimas contidas. Ninguém acreditava que eu havia sido violentada porque Deus mandou.

O homem saiu da sela e pude ouvir suas passadas pesadas pelo corredor. Outros homens vieram e, como eu estava amarrada em uma camisa de força, arrastaram-me para o outro cômodo, deitaram-me numa maca e prenderam meus pulsos e tornozelos, segundo diziam, para minha segurança.

Eu olhava o teto fixamente e fiz minha última oração, desta vez, para dizer a Deus o quanto o odiava por ter me tornado louca. Naquele momento, ouvi sussurros, como na noite que encontrara o terço na caixa. Risos ecoaram pelo local e olhei em redor, rindo junto. Com os olhos arregalados, gargalhava enlouquecida, vendo que, em minha volta, aqueles homens e mulheres fantasiados haviam retornado.

Era novamente carnaval na cidade de Tenebra. E, mais uma vez, eu seria a alegoria das orgias.

******

“Pois nada há de oculto que não venha a ser revelado,

E nada em segredo que não seja trazido a luz do dia.”

– Marcos 4:22 –

Maria Elisa, noviça do Convento das Irmãs Carmelitas do Bom Amparo, foi internada no sanatório com surtos psicóticos de autoflagelação e diagnosticada com esquizofrenia, após destruir o altar e tentar suicídio, alegando que Deus a ordenou que mantivesse relações sexuais com diversos homens e mulheres no último dia de carnaval.

— Satisfeita?

— Eu venci a aposta.

— Criatura má.

— Afinal, nem todos são virtuosos. A vaidade sobrepõe qualquer coisa.

— Madre Piedade, a cada momento fico mais satisfeito com seus préstimos. – Orobas, Príncipe Demônio da Noite que rege 20 legiões de espíritos do inferno, sorriu-lhe elogiando-a.

E a voz dele ainda assombrava os pesadelos de Maria.

Fim!

 

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