Capítulo escrito por: Charlotte Marx

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Continuação do capítulo anterior

A mulher explode jogando as folhas, pastas, portas-caneta, tudo que está sobre sua escrivaninha em cima do inspetor que se defende.

– Cachorro! Traidor! Como você teve coragem de fazer isso comigo?

Marcio tripudia.

– Faça mil favor, né? Elisabeth! Dentro do contexto mundial de neoliberalismo, onde o mundo é dos espertos, cada um por si, você vem dizer em traição! Anda vendo muito desenho infantil da década de noventa, hein? Eu sempre detestei ficar mais de cinco anos cuidando daqueles anões, correndo para lá e para cá, eu não quero mais isso para mim, quero subir, me promover e você pode cuidar disso!

Elisabeth grita.

-Sai da minha sala, sai da minha sala já!

As crianças do lado de fora se escondem.

Marcio avisa antes de sair.

– Okay, eu vou embora! Mas quero esse cargo em 48 horas, se não conto tudo para irmã Malva.

E sai esperançoso, sobre o desespero da mulher.

Ainda no corredor, num canto escondido, Lucas comenta com a turma.

– Eu até teria pena dessa mulher se ela não tivesse mancomunada com essa máfia nazista, mas agora que cheguei aqui, vou até o fim.

***

No Box do chuveiro de um dos banheiros das camareiras, Lucas revela seu plano.

– Nós não podemos chantageá-la assim, sem nenhuma prova concreta. Em Marcio, a Irmã Malva tem credibilidade, confia, em nós não, seria nossa palavra contra de Elisabeth!

Robson fica confuso.

– Mas então o que vamos fazer? Permitir que ela continue agredindo a você, sua irmã ?

Luana interrompe.

– Que estranho Robson! Quando saiu do colégio da Mãe, você jurou que estava fazendo isso pelas crianças, agora diz que é só pelos dois?

O menino fica vermelho. Lucas debate.

– Mas de certa forma é por todos os alunos, é um efeito dominó, Luana! Por que estamos no mesmo barco.

Luana torceu o nariz.

– Eu não estou no mesmo barco que você, moro no colégio dos sonhos!

Batista cessou aquilo.

– Mas como vamos conseguir essa prova, Lucas? Ao que eu saiba ela sai do colégio para ter esse encontro, não há como flagrá-la ou coisa do tipo.

Lucas ri.

– Aí é que encontra a sua ajuda e a de todos os do colégio do sonho! Se eu e Laila nos arriscarmos a sair para rua pela cerca, quando nos pegar, estaremos mortos. Pela frente não dá que tem ao menos dez cabines de segurança até a saída oficial, a vaca Malva nos mostrou numa palestra que deu. Agora, vocês não! É só inventarem uma desculpa para Joaquina e tudo está resolvido!

Luana se levanta revoltada.

– Mas era só o que faltava, você nos dando ordem para enganar a nossa mãe! Quem você pensa que é para sugerir uma coisa dessas? Sabe o que é amor? Amor de verdade? Pois é, meu caro é o que ela sente pela gente, sem chance de a traímos.

Robson tenta acalmá-la.

– Também, não é assim, Luana! É por uma boa causa!

Luana ironiza.

– Boa causa? Eu não estou acreditando no que estou ouvindo, sair da sua boca, Robson! Ela nos tirou da sarjeta, nos recolheu da rua. Você lembra que eu e você quase fomos vendidos por aqueles babões da pensão da cafetina da Lúcia! Eu me recuso a permitir que façamos isso com ela!

Lucas tentou apaziguar.

-Está certo, Luana! Não vamos enganá-la. Já que não há outra chance, vamos revelar toda verdade então. Por mais que ela não nos apóie, pelo menos deixaremos avisada de nossos planos de seguir Elisabeth. Foi até bom, você induzir a isso, temos que tirar Débora daqui, imediatamente!

Serelepe estranhou.

– Mas por quê?

Laila disparou.

– Malva passou dos limites da lucidez, mandou quebrar toda sua arcada dentária!

Luana se assustou.

– O quê?

Lucas confirmou.

– Foi isso mesmo que aconteceu. Minha irmã está com a boca inchada, arrancaram os dentes dela a marteladas.

Robson imaginou a dor que a menina sentira.

– Mas isso é inadmissível! É completamente desumano! Um horror!

Lucas continuou.

– Oxi, se não é?  O importante é tirá-la daqui e dar uma recuperação merecida, ela está tremendo de dores, o pós-operatório dela foi negado, amanhã já começa a trabalhar.

Batista tomou o posto de liderança.

– Mas isso só não vai acontecer, se nos pegarem antes! Nos leve até o quarto dela, Lucas, vamos ajudá-la!

Ele sorriu e seus olhares acabaram cruzando com os de Robson, ambos coraram.

***

Joaquina tentava fechar os olhos na cama, mas não conseguia parar de pensar em seu filho. Onde ele estaria? O que teriam feito com ele naquele manicômio? Ai, qualquer coisa que tivesse feito, Malva iria pagar em dobro, cada momento de dor! Levantou-se e foi até o criado, ali havia um porta-retrato da última foto que registrara dele. Sabia que seu filho tinha desvios comportamentais, ficava impulsivo com facilidade, deveria ter procurado ajuda antes que toda aquela tragédia acontecesse, foi irresponsável, reconhecia isso. Mas Deus tinha mesmo que tirar seu filho de perto dela? Por que permitira que sofresse por mais de vinte anos? Aquela desgraçada! Chutou o criado! Amanhã ela iria procurá-la! Se a pérfida não contasse do paradeiro, iria para a delegacia no mesmo segundo! Retirou a foto e levou-a junto ao peito. Meu menininho! Onde você está? E se ele não a reconhecesse como sua mãe, se a rejeitasse quando a visse, chorou e deitou-se na cama.

***

Chegaram ao dormitório feminino, mas Débora não estava por lá. Laila cogitou.

– Vou olhar no sanitário!

Luana a acompanhou.

– Vou com você!

Gritaram quando viram a mesma menina caída ao pé da pia, tremendo em febre. Os meninos entraram correndo. Lucas se desesperou, abaixando.

– Debby! Debby!

Robson o acompanhou, pondo a mão na cabeça da menina.

– Ela está muito quente, precisa de um banho gelado imediatamente!

Laila e Luana com ajuda de Lucas e Robson a puseram em pé em baixo de uma cabine, Batista mudou a chave para água gelada, Serelepe girou o registro, um jarro de água caiu sobre a cabeça da adolescente que titubeava. Laila e Luana ajudaram com o banho. Lucas esmurrou o espelho, Robson se preocupou.

– Se acalma, cara! Ficar irritado desse jeito, não vai ajudar!

Lucas salivava de raiva.

– Aquela Malva e a Isaltina vão pagar muito caro por isso, ah se vão! Vou mostrá-las que a segunda guerra terminou faz tempo. Nem que eu tenha que matá-las e vê-las agonizar na minha frente, mas eu vou fazer justiça pela minha irmã! Ah vou!

Robson o observava quieto. Os outros se assustaram com sua obsessão.

***

Depois delas ajudaram a trocarem de roupa carregaram-na pelos ombros até a janela onde haviam entrado no reformatório: o corredor das camareiras. Os meninos já estavam do lado de fora observando o movimento na espreita. Fizeram sinal e elas saíram. Lucas orientou.

– Rápido, depressa, antes que alguém o vejam!

Débora sofria com a inflamação em sua boca que tintilavam em seus nervos por meio de nódulos de pus.

Atravessaram a floresta até a cerca, Lucas agradeceu todo o colégio dos sonhos por meio de Robson.

– Nunca vou esquecer o que estão fazendo pela minha irmã!

O menino sorriu e se aproximou.

– Não precisa agradecer isso, é meu dever, nosso dever, se chama humanidade, altruísmo, saber se colocar no lugar do outro, tenho certeza que ela faria o mesmo por nós.

Lucas concordou.

– Com certeza, ela iria!

Um silêncio prevaleceu, perderam-se no fascínio pelo caráter um do outro. Seus vítreos resplandeciam de uma energia incomensurável, apenas sentida e era tão intensa, era como se antes daquele estar junto, faltasse algo dentro, um encanto de viver que agora estava preenchido.

Luana puxou Robson pela gola.

– Vamos logo! Quer que nos pegue?

Ele ficou sem graça e acenou para Lucas e Laila, esta percebeu um clima no ar, mas ficou quieta, chamou o menino que junto voltou para o reformatório.

Quando já entravam pela janela, Marcio Guerra os surpreendeu.

– O que os pestinhas estão fazendo fora da cama?

Eles paralisaram. Laila explicou.

– Só fomos até a madeireira adiantar serviço, sabemos que amanhã teremos muitos troncos a carregar.

Ele estranhou.

– Essa hora da noite?

Lucas confirmou.

– Qual é o problema? Vocês implicam com tudo mesmo, hein? Até quando queremos adiantar serviço, francamente que nazistas de araque vocês são!

Marcio tenta se explicar.

– Mas eu não quis de maneira nenhuma…

Laila completou.

– Mas disse. Vamos Lucas, esse ódio deles pelos alunos ultrapassa o senso crítico, é uma ingratidão sem pudor.

E conseguiram sair de fininho, Marcio ficou com remorso.

Na manhã seguinte…

Mãe Joaquina acordou com o canto de seu galinheiro, tomou uma bela ducha e reuniu as crianças de sua escola no pátio central.

– É com muito orgulho que venho informar a vocês, meus alunos e filhos queridos, que com nosso esforço e dedicação conseguimos vender muito mais legumes e verduras da nossa hortinha do que o mês passado, superando até então nosso recorde, sendo assim a listinha dos pedidos de presentes serão novamente atendidas.

Ela mandou abrir as caixas para a felicidade dos alunos.

– Formem uma fila para receberem seus brinquedos! E Parabéns ao empenho de todos.

A garotada bateu palma, emocionada. Abraçaram de uma só vez em uma rodinha pulando e gritando vivas, Joaquina admirou a cena.

Enquanto atendiam as crianças, junto com outras irmãs, Irmã Letícia a chamou.

– Com licença, Irmã Joaquina, mas Robson, Serelepe, Luana e Batista querem trocar uma palavrinha com a senhora, estão no dormitório feminino.

Joaquina abriu a porta e se surpreendeu ao perceber que estavam rodeando um leito antes vago, o qual agora continha uma menina de cabelos raspados e com a suástica nazista queimada a cabeça, molhavam panos e traziam para conter sua possível febre.

– Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? O que essa aluna do reformatório está fazendo aqui? – Perguntou num tom manso.

Robson respondeu.

– Eu sei mãe da regra das duas instituições, mas não teve como evitar, ela está muito mal, padecendo de febre, o que fizeram com ela foi de uma crueldade.

A mulher se preocupou, aproximando-se da cama.

– Eu pedi para ninguém tomar o caminho de lá, quero que saibam que não gostei nenhum pouco de terem feito isso!

Ela olhou para a menina e a chamou de leve, a garota abriu os olhos.

– Sua face está roxa, o que aconteceu, minha querida?

Luana disparou.

– Malva surtou e mandou quebrar todinha sua arcada dentária!

A freira estacou e mandou a menina abrir a boca.

– Minha nossa senhora de Aparecida, mas o que é isso? Ela precisa ir para o hospital imediatamente, essa infecção está muito grave, ela corre risco de vida.

E saiu disparate pedindo ajuda pelos corredores, o quarteto se entreolhou.

Batista cochichou.

– Acho melhor não comentarmos nada com ela sobre nosso plano de flagrar Elisabeth, foram muitas emoções em pouco tempo, ela pode não suportar.

Luana cruzou os braços, porém, teve que concordar.

***

Professor Garibaldi; de anti-filosofia, ou seja, uma matéria que usava de artigos da internet comprovando que a filosofia era perda de tempo e maldosa, propício a todo governo ou instituição que não quer seres pensantes para questionar a ordem; terminava de fazer chamada oral quando percebeu que Débora não estava ali, ele comunicou a Marcio Guerra que depois de ir atrás ao dormitório feminino e não encontrar pôs Lucas contra a parede.

– Era isso que você e aquela diaba estavam fazendo ontem á noite vindo da cerca, né? Seus pilantras! Ajudando a putinha da sua irmã a escapar dos castigos!

Lucas o enfrentou.

– Minha irmã não é puta nenhuma você dobre essa sua língua para falar dela, seu bosta! Pau mandado que nunca vai subir de cargo por mérito!

Marcio Guerra perde a paciência e ordene que o levem para sala de castração, ele tenta se segurar na parede, mas os homens o puxam com força e o arrastam pelos corredores sobre os olhares frios do inspetor.

***

Laila chega correndo ao colégio dos sonhos, os enfermeiros levam Débora sedada em uma maca para a ambulância, Joaquina se assusta.

– Minha filha você não pode entrar aqui!

Robson a vê e a chama, contrariando a mãe. Ela dispara para o quarteto a que veio.

– Acabei de escutar uma conversa de Elisabeth ao telefone em sua sala com um de seus capangas, eles vão acertar como será sua situação daqui em diante e ela o pediu um cliente para passar a manhã, é um morto, vai sair daqui uns quinze minutos. Chegou a hora de flagrar essa bandida!

Luana se desespera.

– Mas agora?

Laila confirma. Serelepe diz que vai buscar sua câmera fotográfica.

Robson respira fundo, esperançoso.

– É o tempo para chamarmos o taxí.

A ambulância se fecha e parte com Joaquina e outras irmãs.

***

Lucas é jogado na maca enquanto Barnabé prepara a cirurgia para retirada de seus testículos. Os olhos de Marcio faíscam.

– Você nunca vai gerar descendentes abusados feito você! Sua espécie extingue aqui!

No entanto, Malva invade a sala esse momento.

– Para com isso, Marcio! Não faremos mais essa forma de punição!

Todos ficam boquiabertos.

***

O veículo vai embora com Elisabeth e logo em seguida um taxí escondido atrás de um arbusto pega a estrada. Nele, Robson agradece Irmã Letícia por estar indo com eles e pagando a viagem, ela, no entanto, reluta.

– Só espero estar fazendo a coisa certa!

 

***

Lucas e Laila carregam troncos, sofrendo, enquanto Marcio questiona Malva no jardim.

– Realmente, não entendo você! Um dia atrás mandou acabarmos com os dentes da vaquinha e agora impediu de castrá-lo.

Malva esboçou o que estava sentindo.

– Não sei Marcio, depois daquele embate com Joaquina, tudo mudou, estou começando a achar que essas crianças estão pagando além da conta por um sofrimento meu do passado e se isso realmente for verdade, é injusto.

Batendo em seu ombro, saiu pensativa, Marcio não acreditou no que ouviu.

– O que deu nela, gente?

***

Depois de Elisabeth conversar com um homem baixinho e malandro em um bar, ela caminha com ele para um motel próximo, onde sua encomenda a espera. Robson, Serelepe, Luana e Batista descem do taxí, Irmã Letícia se preocupa.

– Tem que certeza que querem ir?

Robson confirmou pelo grupo.

– É nossa única chance de reverter a injustiça que assola àquelas crianças!

Ela sorriu e beijou cada um na testa.

– Que deus os proteja, meus filhos! Verdadeiros anjos justiceiros!

Luana chega à recepção e o dono os impede.

– Aqui não entra menores, precisamos da suas carteirinhas de identidade!

Robson o suborna com algumas notas que Letícia os dera ainda no carro.

– Será que isso aqui não resolva a situação, amigo?

Ele fica meio sem graça e pega a chave de um quarto, mas Batista impede.

– Aqui tem mais grana! Queremos uma chave reserva do quarto dessa mulher que acabou de entrar aqui!

O homem o observa indeciso, eles aumentam as notas e ele finalmente entrega a chave, orientando qual é a outra entrada no quarto, pelos fundos. O quarteto sorri.

***

Elisabeth agradece o seu matador de aluguel e o paga uma quantia, precipitando para acompanhá-lo até a porta. Nesse instante, Robson que entrara pelas portas do fundo e observava tudo por um corredor faz sinal para sua equipe se adentrar e junto com ele se escondem atrás da cortina, próximo a cama. Luana se apavora quando vê o homem morto e nu, totalmente exalando formol em cimo dos lençóis brancos da cama redonda.

– Eu não sabia que os homens eram assim! Que bizarro! Como conseguiram trazer esse defunto para cá, gente?

Batista vai dizer sua hipótese, quando Elisabeth volta apenas de langerie escuras e monta em cima do homem.

– Não se preocupa, paizinho, que eu vou te dar muito prazer!

Ela começa a beijá-lo e Luana se enoja. Serelepe desliga o flash e começa a fotografá-la para alegria de Robson.

Anoitece…

Elisabeth termina mais uma reunião de rotina com os professores e quando acendera a luz de sua sala, ao voltar, se assusta com o que vê: Lucas está sentado em sua cadeira.

– O que está fazendo aqui? Sua peste!  Eu vou ligar agora para Marcio Guerra dar um jeito nessa sua petulância!

O menino gira a cadeira e se levanta magistralmente.

– Eu se fosse você pensava mais um pouco, tenho certeza que não vai gostar do que tem a acontecer se ele vier aqui.

Ela põe o telefone de volta ao gancho e o enfrenta.

– O que está dizendo? Garoto!

Ele tome posse de uma pasta a um canto e a entrega, cínico.

– Veja você mesma! Danadinha!

Ela abre desesperada e se choca ao verificar fotos dela com o defunto no motel. Voltando-se trêmula para ele, o qual completa.

– Essa é apenas um das muitas cópias que tiramos de você! Imagina Malva vendo tudo, o orgulho que ela iria sentir do seu braço direito!

Ele pega o telefone a encarando euforicamente.

– Te atrapalhei, não foi? Você iria fazer uma ligação, não ia?

Elisabeth sente-se encurralada, ele sorri de volta.

 

CONTINUA…-” ”>-‘.’ ”>

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