Capítulo escrito por: Charlotte Marx
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Lucas não se aguenta em pé e cai sobre uma antiga poltrona. Rele o bilhete e começa a chorar.
– Não, não pode ser! Meu pai tinha uma amante? Ele traiu a minha mãe?
O jovem recordou-se dos jantares que seus pais davam para receber Sofia, do quanto seu pai a olhava diferente e ele nunca desconfiara de nada. Burro! O adultério estava ali na sua frente e ele nunca se dera conta! Tudo bem que sua mãe não valia nada, era uma assassina, uma criminosa, mas isso não justificava aquele gesto dele, por que não a largou? Por que não terminou tudo antes? Como ele estava decepcionado com seu herói, tão brilhante na política, mas naquela relação falhara feio! Ah, mas ele iria tirar aquela história a limpo agorinha mesmo!
Saiu disparado do sótão e desceu as escadas até a sala, onde a mulher assistia televisão em silêncio, com a luz apagada. Olhou para o corredor e no reflexo da cozinha no espelho, algo lhe chamou atenção.
Sofia virara o corpo para o outro braço do sofá quase dormindo de tanto bocejar, quando sentiu seu pescoço agarrado e uma faca encostada em seu rosto. Percebeu que era o homem que a abordara mais cedo, ele ofegava de raiva.
– Não adianta negar, eu já descobri que você era amante do meu pai! Pois desembucha logo que eu não tenho paciência, te esburaco inteira com essa faca se for preciso. Quem foi que o matou? Foi você?
E com um empurrão a joga no tapete da sala. Ela fica apavorada e o encara de volta. Era Lucas que estava em sua frente.
***
Em sua sala de atendimento, Jesus caminha de um lado para o outro totalmente transtornado com os relatos de Débora.
– E foi assim que ele conseguiu a identidade falsa e forjou a própria morte. Entende?
Ele a encara revoltado.
– Entende? Que tipo de gente é você e o seu irmão que faz as pessoas mais próximas, que gostam de vocês sofrerem? Por mais que ele tenha aquela obsessão de vingança pela morte do George, o que é totalmente aceitável já que era filho dele e ficou órfão muito cedo, ele não tinha esse direito de enganar as pessoas! Eu estou chocado, ele se passou por igual a esses que ele tanto diz que quer combater! Sinto muito, mas não posso compactuar com isso, Dona Elvira Magro e seu Pedro Magro precisam saber da verdade agora!
Débora se joga na frente da porta.
– Por favor, Jesus, não faça isso. Você pode pôr tudo a perder, se descobrirem que meu irmão está vivo e na cidade onde meu pai faleceu, vai ser um pulo para pegá-lo e nós nunca teremos a chance de descobrir quem matou nosso pai. Por favor!
Jesus é impassível.
– Sinto muito, Débora. Mas isso foi longe demais, eu seria antiético se fechasse com isso. Eu não quero machucá-la, por favor, dá licença!
Débora cruza os braços.
– Pois daqui você não sai!
Ele a olha com piedade.
– Foi você que pediu.
Ele retira o celular do bolso e disca reforço dos enfermeiros. Ela se desespera e joga o celular da sua mão. Mas ele já havia avisado.
– Você sabe o quanto tenho horror a isso, não pode mandar me sedar! Eu te processo!
Os profissionais não tardam a chegar à sala e a levam para o quarto, esperneante. O jovem médico sente remorso pelo que a fez passar, mas não podia permitir aquela farsa. Virou-se e dirigiu para o estacionamento.
***
Sam sai do cinema com Luana de mãos dadas. Na praça central, à frente, eles se distanciam dos casais apaixonados e se recolhem atrás de uma quadra de esportes, sentam-se no chão a contemplar o luar. Ele confessa falsamente.
– Quem diria que a minha rival daria um belo caldo!
Ela ri dando-lhe soquinhos.
– Você me respeita! Senhor Van Gogh! Mas acho que posso dizer o mesmo sobre você, a noite foi muito especial!
Ele a olha teatralmente apaixonado.
– Confesso a você que por certo tempo gostei de Robson, mas ele mostrou-me muito preso ao passado, muito individualista a sua infância, nunca me deixou fazer parte efetivamente da sua vida.
Luana acariciou os cabelos do rapaz.
– Sei como é. Desde o reformatório quando conheceu aquele Lucas Carvalho, parece que se tornou autista, isolou-se do mundo. O destino foi justo em separá-los, mas aquela paixão não o fez bem, já o peguei madrugadas adentro, quando ia o admirar dormindo, sussurrando o nome do coitado, não sabe como aquilo me doía, me corria por dentro.
Sam sentiu suas veias ferverem. Ainda bem que aquele Lucas imbecíl havia sumido no mundo, por que senão seria outro a conhecê-lo de verdade!
Luana cruzou os braços por cima de Sam que fingiu gostar.
– Mas tudo isso não importa mais. Vamos viver o presente e fazer jus o tempo que temos juntos.
Roubou-lhe um beijo e Sam a fim de levar seu plano adiante, deitou-a sobre o gramado.
***
Jesus estaciona o carro em frente à casa dos Magros e bate a porta do seu carro ao sair. Ele caminha até a campainha e respirando fundo pressiona o botão.
***
Fernanda já estava no décimo sono, quando Marcos despertou e vestindo seu roupão, precipitou-se até a sauna, do outro lado do jardim. Dalila, sua filha o aguardava por lá.
– Achei que não vinha mais, papai!
O homem não conteve seu ímpeto sexual e deu-lhe logo um amasso.
***
– Anda logo sua avantesma! Diga de uma vez por todas o que fez com o meu pai!
Ela se levanta apavorada.
– Eu não fiz nada com ele, Lucas! Nada!
Roberto (Lucas) se aproxima dela com o facão.
– Não minta para mim! Vocês dois eram amantes! Ele te deu a caixa de música que era da minha mãe! O que foi? Sofia? Você o matou por um crime passional, foi?
Sofia se desespera.
– Eu nunca faria uma coisa dessas. Acha que eu tinha força para dar nele aquelas machadadas? Eu amava o George, amava. Abaixa essa faca agora, Lucas! Você pode machucar alguém com isso!
Roberto (Lucas) continua firme em sua pontaria.
– Se não foi você, quem foi? Quem foi que fez isso com ele?
Nesse instante alguém chega por trás e o casseta com uma estaca de madeira, ele cai desmaiado no chão. Os olhos da mulher se esbugalham. A cena se apaga.
***
Pedro Magro atende a porta e não encontra ninguém. Olha para os lados e fecha a porta irritado com possíveis vândalos que o incomodaram aquela hora da madrugada . Na esquina, pelo retrovisor, Jesus observava tudo, socando o volante.
– Eu deveria ter contado, mas nunca terei coragem de ferir Debby! Ela nunca iria me perdoar!
Ele pisa no acelerador e vai embora para sua residência.
Na manhã seguinte…
Ele acorda e percebe que está num quarto de hóspede. Sua nuca lateja de doer, recorda-se por um momento da paulada que levara. Quem fizera isso, haveria de pagar. Nesse instante, Sofia entra com uma bandeja no quarto, trazia pães e doces do café da manhã.
– Preparei para você! Pensei que talvez estivesse com fome!
Roberto (Lucas) se levanta contrariado.
– Como posso saber se não tem veneno de rato nessa sua travessa? Se ontem alguém dessa casa me agrediu com uma coronhada na cabeça!
Sofia se envergonhou daquilo.
– Foi apenas meu filho Guto, ele percebeu nossa discussão e achou que era o melhor a ser feito. Você poderia ter me ferido com aquela faca, estava fora de si, mas também não era para menos, descobriu que seu pai tinha-me como sua amante!
O jovem desconfiou por um momento, mas acabou sentando quando ela provou um dos quitutes que estavam na bandeja. Remexeu meio cabreiro em uma pasta verde, ela riu.
– Pode provar, é patê de cebola! Tenho certeza que vai gostar!
Ele pegou uma torrada e experimentou. Estava uma delícia.
– Por que vocês dois fizeram isso com minha mãe?
A bibliotecária corou-se de leve, abaixando a cabeça.
– Quando se ama, não há motivo racional que explique o sentimento. Apenas sabemos que ele está lá dentro, por que ficamos nas nuvens, saímos de si, flutuamos em nossa auto-estima, apenas na companhia da pessoa amada. George havia se decepcionado muito com Carla, havia descoberto um terrível segredo do passado dela, algo envolvendo a morte da própria mãe!
O cardiologista se lembrou.
– Eu sei do que está falando. Cheguei a conhecer Dorotéia! Minha mãe era uma assassina! Eu a vi matando na minha frente, com apenas dez anos de idade. Não sabe como foi um choque para mim e para minha irmã descobrir tudo isso! Até cheguei a pensar na época que ela poderia ter haver com a morte do meu pai!
Sofia estranhou.
– Por que ela havia de ter?
Roberto (Lucas) relatou.
– Ao que sei ela entregou nosso pai para uma família que desejava a cabeça dele por causa de umas fotos comprometedoras que ela recebeu na qual molestava uma criança! De alguma forma ou de outra ela se envolveu e também depois aquele discrição toda em não querer que nós denunciássemos a placa do carro, responsável pelo meu atentado. Parecia que ela sabia mais, não sei.
Sofia se recordou.
– Na época você chegou a fazer um boletim dessa placa?
Ele confirmou
– Sim! Conversei pessoalmente com o delegado Juliano! E depois descobrimos que minha mãe tentou matá-lo a gás!
Sofia se choca.
– Que horror. Por que ela fez uma coisa dessas?
O médico a contou.
– Ela resolveu contar-lhe que havia assassinado sua filha, a Talita, por causa de uma chantagem que a menina havia feito de entregá-la para eu e Debby seu verdadeiro envolvimento na morte do nosso pai, ele resolveu a entregar e ela para se safar o matou!
A concursada contesta.
– Bom, pelo que está me contando, chego à conclusão que ele… Escute Lucas, sua mãe chegou a se desfazer do corpo dessa Talita em algum local?
Lucas pensou por um minuto e se recordou do lençol
– Não tenho tanta certeza, mas acho que foi no largo das pedras no farol!
A mulher sorriu.
– Eureka! Eu sabia! Agora o caso está fechado!
Ele não entendeu nada.
– Do que você está falando?
Ela o narrou.
– Provavelmente ele acordou-se do vazamento e conseguiu de alguma forma livrar-se do gás, depois se dirigiu ao farol para achar o corpo da filha e vendo que não tinha como recuperá-la, se matou!
O menino se levanta assustado.
– Que história é essa? Juliano se matou?
Ela confirma.
– A perícia da época confirmou. Ele se jogou do alto do farol. Meu primo falecido que trabalhava lá na época foi o responsável por chamar a polícia no dia seguinte. O corpo dessa filha estava encostado na parede no terraço do local, ele deve tê-la encontrado presa nas pedras e tentou reanimá-la, mas sem chances, resolveu acabar com a própria vida. Imagina como deve ser encarar a morte de um filho. Não consigo nem me colocar no lugar! Deve doer demais!
O menino sentou-se na cama estupefato. Era muito pior do que deduzira. Não conseguiu conter as lágrimas. Juliano não merecia aquele trágico fim por causa de obra nefasta de sua mãe. A mulher continuou.
– Não tive nada haver com a morte do seu pai, mas o que eu sei que pode contribuir para suas investigações é que havia algo de estranho naquela casa.
Uma interrogação nasceu no rosto do menino.
– Que casa? Onde eu morei?
Ela confirmou.
– Exato. Seu pai, certa vez comentou comigo que descobriu um buraco na parede no porão e a partir dele você tinha acesso a um túnel.
Roberto (Lucas) estranha.
– Túnel? Mas eu nunca soube disso! Por onde esse túnel passava?
Sofia deu de ombros.
– Isso eu nunca soube! Mas sei que seu pai descobriu e foi dias antes dele morrer!
Ela se recordou dele, em uma noite juntos, preocupado na cama dizendo que por enquanto não poderia comentar nada, mas que relacionava-se com o buraco na parede no porão de sua casa. Lucas percebe a hora no relógio do pulso e se despede.
– Ainda tenho que ir para a câmara municipal. Vemos-nos mais tarde no colégio! Inscrevi para o curso de sociologia, vou investigar a morte do meu pai!
Ele sai do quarto, mas volta.
– Não conta para ninguém que sou filho dele! Preciso dessa falsa identidade para poder continuar com meus planos.
Ele sai correndo e ela se emociona com a coragem do rapaz.
– Oh, meu querido George! Agora tudo que fizeram com você, meu amor, vai se esclarecer! Seu filho vai botar os culpados atrás das grades! Eu tenho certeza!
Ela retira uma foto pequena dentre os seios do amado e beija.
***
Débora tenta localizar o irmão e Jesus entra na UTI, ela vira a face.
– Não olhe para mim, você é um traidor! Pôs nossos…
Ele revela.
– Não contei!
Ela se surpreende.
– O quê?
O oncologista continua.
– Não tive coragem! Cheguei à porta, apertei a campainha, mas repensei e não tive coragem!
A menina se felicita com aquela notícia e pula em cima dele o enchendo de beijos no rosto de agradecimento, mas ele se esquiva.
– Não confunda as coisas! Eu ainda não os perdoei pelo que fizeram e sinceramente não sei se um dia conseguirei. Não somos mais amigos, Débora! Agora sou apenas seu médico! Está tudo bem contigo de saúde?
Ela confirma.
– Sim. Mas escute Jesus, nós…
Jesus a interrompe.
– Ótimo. Então vou analisar a próxima paciente, com licença!
Ela tenta chamá-lo, mas ele não a ouve, deixando-a com remorso. Ela retoma a tentativa de ligar para o irmão e consegue deixando a par dos últimos acontecimentos.
***
Sam joga o cabelo para um lado e bate selfie, sobe em cima da cama e bate outra de perfil. Vai para frente do espelho e tira uma panorâmica do corpo inteiro. Retoca a maquiagem, mais rímel, hidratante para suas pernas sedozas, spray na ponta de seus fios, os quais, inclusive, precisavam de um novo up, que tal… Loiro platinado? Bem diabólico. Faltou o botão vermelho berrante! Agora sim, lábios sangrentos ao ponto! Sozinho, ele diz para seu reflexo.
– Chegou o grande dia, bebê! O dia da morte! Preparado gatinha para ajudar a girafona fazer uma viagenzinha até o inferno? Hum? Sempre! Não é mesmo?
E gargalha, puxando debaixo da cama a arma do crime: uma britadeira!
***
Mãe Joaquina acorda depois do choque e se recorda da morte de Lucas, porém, antes que ela possa se lamentar ainda mais, Cassandra entra no quarto trazendo o notebook com uma vídeo-chamada de Lucas.
– Meu filho, você está…
– Eu não posso falar muito, mas Débora já me deixou a par do que aconteceu! Sinto muito por isso Mãe Joaquina, mas era o único jeito de investigar a morte do meu pai, você sabe que isso é um direito meu e da minha irmã. Poucas pessoas sabem disso, por isso não comente com mais ninguém.
A diretora olhou para Cassandra que cerrou os lábios num tom de boca fechada. Tornou-se a olhar para Lucas que perguntou sobre Paçoca, Cassandra os revelou que logo de manhã ele havia partido para São Paulo.
Mais tarde…
Débora está passeando pelo jardim do hospital, quando se senta a um banco para ler mais algumas páginas daquele famoso clássico: Romeu e Julieta. Revivendo aquele amor proibido, relembrou de Bruno. Por onde ele estaria? Será que demoraria para reencontrá-la?
– Talvez ele esteja mais perto do que se imagina!
Ela virou-se surpresa com aquela voz que parecia ler seus pensamentos e se encantou ao vê-lo em sua frente.
– Paçoca?
Ele sorriu e abriu os braços, indo a sua direção. Meio desajeitada, ela tentou se ajeitar, mas ele não se importava com sua aparência, só de estar ali, já era um presente. Tomou-a delicadamente nos braços e a beijou. Ela se apoiou em sua nuca de olhos fechados e tentando ficar da sua altura na ponta dos pés. Do lado de fora, Jesus assistia a tudo, constatando que talvez perdera sua amada para sempre.
***
Roberto (Lucas) bate na porta de Denise Sampaio, a vereadora e líder sindicalista que fizera a manifestação no dia anterior.
– Posso entrar?
Ela o fitou pelo canto dos óculos tortos e torceu o nariz.
– Se não for tentar me convencer a desistir das manifestações como os outros. Álias, quais são seus antecedentes de cargo público? Eu procurei seu nome e não achei nada! Muito menos participou das últimas eleições!
Ele encosta a porta e se senta.
– Nem poderia, esse cargo foi aberto exclusivamente para mim, foi comprado por intermédio de um velho amigo!
A profissional fica boquiaberta.
– Você não tem vergonha de confessar isso na minha cara? Isso é totalmente antidemocrático! É cruel com a população!
Ele riu.
– Calma, a senhora não está entendendo. Estamos do mesmo lado do barco!
Ela estranhou.
– O senhor não é um candidato neoliberal? Republicano?
O cardiologista negou.
– Óbvio que não! Jamais compactuaria com essa corja corrupta e criminosa! Eu estou aqui por um motivo familiar!
– Que motivo?
– Roberto Camargo é uma identidade falsa! Meu nome verdadeiro é Lucas Carvalho, eu era filho do professor morto esquartejado em 6 de Fevereiro de 2017! George Carvalho!
A mulher ficou paralisada.
– Voltei a Doce Recanto para investigar de perto o verdadeiro assassino do meu pai, já que o caso foi arquivado na época! Eu vou fazer um por um dessa elite nojenta pagar cada segundo de sofrimento que meu velho passou! Isso a senhora pode apostar a sua vida se quiser.
Denise esboçou um sorriso de contentamento. Mas não deixara de se assustar com a sede de vingança do rapaz.
***
Robson chega ao colégio mais cedo para estudar, mas não consegue parar de passar um minuto no que descobriu no dia anterior. Por que Mãe Joaquina não lhe revelou quem era o jovem? Por que preferiu esconder a verdade? Resolveu ligar para ela!
– Que gritaria é essa, mãe? Olha aqui, a senhora não tinha o direito de me esconder à informação que Lucas era o rapaz que veio visitá-la, que eu atropelei aquele dia! Agora ele está morto e não tive a chance de reencontrá-lo, de viver esse amor…
Sam que queria fazer uma surpresa, choca-se enfurecido.
– Viver qual amor? Do que você está falando senhor Robson Miguel?
O flautista respira fundo e o puxa para uma mesa, decidindo-lhe contar tudo.
***
Débora e Paçoca sentam-se em uma redoma de rosas inglesas e eles observam por um minuto um beija-flor beber o néctar.
– É lindo, não é Paçoca?
– Sim, minha princesa. Álias, a natureza é bela como você!
Ela ri corando-se.
– Deixa de bobagens! Eu nunca fui bela! Ainda mais agora, careca por causa do câncer! Não minta para mim, nunca foi seu tipo.
Ele a explica.
– Quem disse que estou mentindo? Não estou te reconhecendo! Cadê aquela menina decidida, corajosa em mudar o mundo com sua sensibilidade pelos mais explorados! Ela morreu?
Débora nega.
– Jamais! Ela só está adormecida para cuidar da saúde! Mas meu maninho está aí para fazer jus ao sobrenome dos Carvalho!
Paçoca gargalha.
– Vocês dois continuam os dois pestinhas de sempre! Juro que até agora estou pasmo com a ousadia dele em forjar a própria morte, quando me contou, não acreditei!
– Mas claro, seu moço traficante! A justiça é nossa sentença final!
Ele a corrige carinhosamente.
– É ex-traficante! Acha que o tempo que passei em cana não serviu para reparar isso? Álias aprendi a ler, sabia? Estou bem melhor!
Débora fingiu desconfiar.
– Ah tá, quero só ver!
Ele entra na brincadeira.
– Tá desconfiando, é? Então me dá esse livro, aqui!
Ela fica pasma com a ousadia dele arrancá-lo de suas mãos quando ela estava despreparada. Ele abre a página a começa a recitá-la uma página, ela sobre em seu colo, quando Elvira e Pedro o surpreendem. Elvira grita:
– Mas o que está acontecendo aqui? Por que está beijando esse estranho, filha?
Ela os encara encabulada. Paçoca fecha o livro.
Mais tarde…
Roberto (Lucas) chega atrasado para a aula e se senta na primeira carteira que avista, por coincidência, está na mesma sala que Luana, Robson e Sam.
– Mas essa educação está perdida mesmo! Como é que deixam um novato ter uma regalia de chegar na hora que bem quiser! Vou reclamar isso com a direção! Essa professora nova não sabe nada das regras daqui! É uma marmota mesmo!
Robson o acalma.
– Menos, Sam! Menos!
O vilão se vira e percebe que Luana troca olhares com ele, falsamente, ele os retribui, depois torna a mirar a lousa com asco.
Em dado momento da aula, quando Roberto (Lucas) levanta a mão diversas vezes para participar, o que irrita profundamente Sam, Robson percebe traços sutis do rapaz que lhe eram familiares. De onde o teria visto?
Mais tardar, no momento do trabalho em grupo, Robson sente ainda mais essa impressão. O jovem, inclusive, por um momento e se recorda de que o vira no reformatório, mas nada fala para não levantar suspeita sobre sua identidade. Sam não suporta o espírito de liderança e puxa o papel que ele escrevia a pesquisa, amassando-o com a mão. O flautista se irrita.
– O que significa isso, Sam! Você não tem o direito de atrapalhar a pesquisa que o Roberto estava fazendo! Agora todos nós, cinco, do grupo saímos prejudicados!
– Ele precisa entender que quem manda nessa sala, sou eu, meu amor. Ele não pode ir chegando e esbanjando pseudo-conhecimento para todo lado.
Roberto (Lucas) olha para cima meio cansado de tanta mesquinharia e diz para Robson que vai pedir a professora para fazer o trabalho sozinho. Ele tenta impedi-lo, mas o cardiologista é irredutível.
– Tá vendo o que você fez? Sam? Agora o cara que é um gênio deixou nosso grupo a ver navios!
Sam rebate.
– Não é possível que você não esteja vendo, que você não esteja percebendo o que essa criatura está fazendo? Ele está querendo medir forças comigo, esse novatinho!
Robson perde a paciência e decide mudar de grupo, Sam ordena para que ele volte aqui. Sozinho, ele encara os olhares raivosos dos outros dois integrantes.
– Que que é? Não adianta olhar para mim com essa cara não! Cara feia para mim é fome!
***
Fernanda chega mais cedo em casa e percebe no corredor do segundo andar as roupas de sua filha jogadas no chão em frente ao seu quarto. Ela se aproxima da porta e se desespera ao ouvir gemidos, escancara a porta do quarto e flagra Dalila e Marcos na cama, respectivamente filha e pai!
***
O sinal do fim do dia ressoa estrondosamente, Sam procura Luana em um canto isolado e revela sua intenção para aquela noite.
– Peguei a chave da casa de campo do meu pai! Fica em Aventos! Não demora muito de carro! Que tal passarmos nossa primeira noite lá?
Ela o abraça.
– Perfeito. Mas e Robson, ele não iria desconfiar?
Sam revela.
– Ele estará muito ocupado com o novo grupo, já me avisou! Foi para a casa mais cedo, não está sentindo-se muito bem. Passo que horas para te buscar?
Ela pensa por um minuto.
– Pode ser às nove!
Ele sorri e a abraça. Por entre os ombros da jovem, ele encontra-se maquiavélico.
Roberto (Lucas) volta para sala ao descobrir que esqueceu seu livro que alugou na biblioteca e acaba notando que Robson esqueceu sua mochila.
– Como pôde esquecer a própria mochila? Mas também com aquele namorado perua louca dele, quem não?
Puxou para levá-la ao achados e perdidos, quando a carteira de identidade que estava em um dos bolsos caiu e ela possuía a foto de criança do rapaz. Reconheceu-a na hora.
– Não, não pode ser!
Ele observa de novo e constata era realmente seu namorado de infância.
– Mas como ele veio parar nessa cidade, justamente nessa instituição? Que ironia do destino foi essa? Meu príncipe ladrão de livros aqui?
Levou a mochila para fora da sala, quando Sam apareceu.
– Tentando roubar a mochila do meu namorado, não é? A mim você não me enganou desde o primeiro minuto, senti no ato a baixa índole que possui!
Roberto (Lucas) nem perde seu tempo, entrega logo a mochila e sai ignorando o estudante, o qual o ameaça denunciar por furto.
Sozinho no temporal que começa, ele se relembra dos tempos do colégio dos sonhos, de quando tinham por volta dos dez anos e Robson o levara para conhecer seu castelo na árvore. Quanta inocência, ingenuidade, aquelas deliciosas tortas de chocolate de Mãe Joaquina e eles brincando na hortinha. Depois o beijo naquela floresta, de noite, a fogueira. Quando impediram juntos que o golpe de estado feito por André se instalasse sobre as crianças, de quanto tomaram o reformatório e tentaram salvar as pessoas naquele incêndio. Foram tantas aventuras juntas, tantos momentos e agora, por mais que o reencontrasse, Robson havia mudado e estava gostando de uma bicha maléfica como aquela. Não percebeu que atravessara a rua e quase foi atropelado por Ezequiel.
– Que isso, Lucas! Quer morrer?
O jovem chorava com as vestes ensopadas de chuva.
– Eu não quero ir para minha casa agora, Ezeque! Me leve para algum lugar, bem longe!
– Mas por quê?
– Faça o que eu estou pedindo! Por favor, me tira daqui!
O amigo não entendeu muito bem, mas o acolheu em seu carro e o levou para um bar na cidade vizinha.
***
Sobre os raios da tempestade, Fernanda fica pasma com o que descobriu.
– Eu não estou acreditando no que eu estou vendo. Isso só pode ser um pesadelo, um filme de terror interminável! Vocês dois estão tendo um caso? Pai e filha juntos?
Dalila tenta explicar, mas Fernanda pula para cima do marido o estapeando.
– Seu pedófilo nojento, seu imundo! Como teve coragem de pegar a sua própria filha! Quanto tempo vocês dois estão se esfregando, quanto tempo Dalila?
– Isso não é apenas sexo, mãe! Nós temos uma relação de amor!
– Uma relação de amor? Como você pode dizer uma barbaridade dessas, minha filha!
– Eu descobri desde os treze anos que amava meu pai! Qual o problema, mãe? Os tempos são outros, hoje em dia incesto é normal entre primos, entre…
– Cala essa boca, menina. Eu vou te dar um murro nessa sua cara, sem-vergonha se você não parar!
– Se acalme Fernanda, você está muito agitada!
Dalila a prova dando cara a tapa.
– Então vem! Quer me bater, mamãe? Então vem! Bate na sua filha! Bate!
Fernanda tenta agredir a filha, mas Marcos a segura, ela dá uma cotovelada nele e sai atrás da menina que desata a correr pelo corredor, no meio da confusão a mulher tropeça nos degraus e rola escada abaixo, caindo estirada no tapete, desacordada.
ANOITECE…
Ezequiel para o carro na frente do apartamento que conseguiu para o amigo.
– Tem certeza que está melhor?
Roberto (Lucas) confirma.
– Tenho sim! Obrigado pela ajuda, brother! Amanhã te conto o que aconteceu! Prometo! Agora me deixa ir, vou ver se tomo um bom banho para tirar essa nhaca de chuva e caio no sono, o dia foi dose.
Eles se cumprimentam e assim que o mocinho toma o elevador, o bandido vai embora. Roberto (Lucas) destranca o apartamento e retira os sapatos molhados.
– Essas lentes estão me matando!
Ele as retira rapidamente, seus olhos estão ardendo. Precipita-se para abrir a geladeira quando alguém o agarra por trás, no escuro da cozinha.
– Achou que eu não fosse descobrir? Desde criança eu não consigo apagar a idéia de te encontrar e agora vamos ficar juntos para sempre!
Lucas se vira e descobre estar diante de Robson, sede aos apelos e pula em seu colo, eles se beijam.
CONTINUA…-” ”>-‘.’ ”>