Capítulo escrito por: Charlotte Marx

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Lucas e Débora se desesperam com o reformatório em chamas. Robson os surpreende gritando que Laila está se queimando a um canto, eles correm e se chocam ao vê-la sendo devorada pelas ferozes labaredas aos berros. A heroína grita.

– Depressa! Precisamos fazer alguma coisa! Antes que seja tarde!

Lucas tem idéia de pegar água nos bebedouros.

– Só precisamos de baldes!

De repente, um lustre cai em cima da cabeça de Irmã Letícia e ela morre na hora. Débora não consegue conter as lágrimas.

– Oh, meu Deus! Oh, meu Deus! As pessoas estão morrendo por minha culpa, por minha culpa. Eu que os trouxe para cá!

Lucas abraça a irmã com dificuldade pela bacia fraturada.

– Não! Você fez o certo! Não podíamos nos submeter aquelas regras maníacas e segregacionistas do crápula do André, o qual eu torço muito para que esteja ardendo no inferno nesse momento!

O trio desata a correr até a dispensa, mas são surpreendidos por Barnabé, o homem da metade da face queimada que era o horror dos internos.

– Onde as formiguinhas pensam que vão? Esqueceram quem eu sou? Principalmente você Debby, esqueceu quem arrancou os seus dentes legítimos?

Closet no rosto enojado da menina. Ao fundo escutam-se gritos de socorro das crianças.

***

Malva Rosa, a freira do mal, desata a correr para o seu carro, vitoriosa por ter conseguido trancar aqueles malditos fedelhos no grande caldeirão que transformara o local. Pisou no acelerador e voou pegando o caminho, passando pelas pontes de vistoria da própria instituição até desembocar na estrada principal.

– Livre! Finalmente livre dessa aldeia de índios! Longe daqueles pentelhos insuportáveis! Vou estar bem longe, longe! Que virem para nossa alegria um bando de carvão!

A vilã tira do porta-luvas e coloca seu cd de Rouge para tocar. Põe no track 3 e se diverte com o ritmo ragatanga. Cantalorando alto.

–  ♪ Olha lá quem vem virando a esquina! Vem Diego com toda alegria, festejando! Com a lua em seus olhos, roupa de água marinha e seu jeito de malandro! Aserehe ra de re, de Hebe tu de hebere seibiuonda mahabi an de bugui na de budidipi. ♫

Ela se empolga tanto que se esquece que está dirigindo um carro e acaba invadindo a pista contrária, não percebendo em uma curva que outro carro está a todo vapor na sua direção. Quando volta a si, é tarde demais, um choque frontal a joga para um desfiladeiro, o carro capota várias vezes sobre seus gritos, em vão de socorro e explode.

O casal que levara um susto por ter se chocado com aquele carro, sai, desatinado do veículo amassado e se precipitam para o penhasco, mas não há nada mais que possa ser feito. Elvira chora.

– Nós matamos uma pessoa, Pedro!

O homem a abraça.

– Calma, meu amor. Um acidente fatal, sem nenhuma mais consideração a ser feita. Não tivemos culpa de nada, ela estava em contra mão… Foi apenas o amargo destino!

– Ah, mas o que é isso? – Ela aponta.

– O que foi? – Ele se vira assustado e se desespera também. Tinham acabado de ver o incêndio do reformatório. Chamaram no exato momento o corpo de bombeiros.

***

Débora se irrita com a impertinência de Barnabé.

– Eu não tenho medo de você se é isso que quer saber. O tempo que fiquei naquele hospital, recuperando da infecção nojenta que você me causou, me fortaleceu Barnabé, me fez renascer, ser uma mulher muito mais forte do que eu já sou! Só para eu ter o prazer de estar aqui hoje, prestes a acabar com você!

Barnabé tripudia.

– Você? Acabar comigo? É uma piada e eu não sei?

A ira dos olhos da menina é transmitido pelas suas artérias para o corpo todo. Enfurecida ela chuta o saco do homem e mete uma joelhada no meio da sua cara. Ele urra de dor, segurando o “passarinho”.

Débora ironiza.

– Acha que é só isso? Não! Vem mais chumbo grosso! Toma, seu carniceiro desgraçado, filho da mãe!

Ele tenta reagir, mas Robson entra no meio e parte para cima dele, Lucas assiste a tudo querendo participar, mas seu estado não permite. Serelepe e Batista chegam ao encontro deles e se envolvem na briga. O quádruplo joga o grandalhão para dentro da despensa e ele desliza sobre o impulso do empurrão, batendo a cabeça na parede. Débora monta por cima dele sobre ajuda dos meninos e mete várias vezes a nuca do torturador no concreto até ele perder os sentidos e desmaiar. A mocinha se alivia.

– Pronto! Esse tá controlado! Agora, vamos, depressa, peguem os baldes, temos que salvar Laila e o pessoal vítima do incêndio. Vamos! Depressa!

O grupo enche rapidamente os recipientes nos bebedouros, com ajuda de outros alunos do próprio reformatório. Outros de ambas as instituições, a poucos metros dali, conseguem finalmente quebrar a janela e uma multidão quase que ferrenha escapa entre os cacos quebrados. Lucas grita.

– Cuidado, vão com calma! Para não correr o risco de serem pisoteados!

As labaredas aumentam e sobem repentinamente onde eles estão. Débora leva um susto ao ver sua mão pegando fogo e imediatamente Serelepe joga água para conter, deixando-a aliviada. Eles apagam o fogo que se iniciou por ali e desatam a correr para os cômodos. Quando voltam à sala principal levam um susto com o estado de Laila, as costas da menina está em chamas e ela já perdera os sentidos de tanto inalar a fumaça. Robson e Lucas se aproximam tentando reanimá-la.

– Laila! Laila! – Chama o flautista.

– Por favor, acorda Laila! Você tem que resistir princesa. – Grita o órfão.

Nesse instante uma equipe de bombeiros invade o local e retiram as crianças machucadas com cautela. Enquanto outra equipe contém o fogo com extintores e mangueiras d’água. Quando um dos profissionais se aproxima para ajudar o casal, Robson o avisa.

– Cuidado com ele, está muito machucado! Fraturou a bacia.

– Pode deixar! – Devolve o homem.

Lucas, no entanto, chora ao ver o estrago que o fogo fez no corpo da menina.

– Será que ela vai resistir? Meu amor!

Robson o olha com compaixão e abraça o parceiro.

– Vamos com ele, ela vai se recuperar vai dar tudo certo, eu tenho certeza!

Lucas o beija forte e enxuga as lágrimas, ambos saem de mãos dadas com ajuda do homem, logo atrás outro profissional carrega Laila.

Já no jardim do reformatório, os irmãos Carvalho ouvem gritos do terceiro andar e quando olham para a janela da diretoria percebem que Elisabeth e Luana estão presas. Outros bombeiros estugam pelas escadas para resgatá-las.

Sentados na porta de uma ambulância, dentre as várias do local que estão atendendo as demais crianças, o trio se recupera do incidente. Débora não crê que passou por aquele sufoco.

– Obrigada, querida. (Uma enfermeira passa pomada anti-queimadura em sua mão). Até agora, estou tentando entender! Como isso foi acontecer?

Robson estranha.

– Cadê a Malva? Não era para ela estar na diretoria, clamando por ajuda, que nem as duas?

Nesse exato momento, Elisabeth que fora socorrida entrega para o delegado tudo que aconteceu, eles escutam, por estarem próximos.

– A Malva Rosa surtou, botou fogo no reformatório inteiro, depois de nos trancar dentro da vice-diretoria. Eu a vi a poucos metros jogando o isqueiro no gramado, imediatamente as chamas subiram e dominaram tudo.

O profissional questiona

– Mas por qual motivo ela fez isso? Tinha a sanidade mental comprometida?

Elisabeth confirma.

– Isso, ela tinha. Não batia muito bem com os miolos! Era uma pobre coitada, descontava em mim e nos funcionários tudo que sofria!

Lucas sai da maca com dificuldade e a enfrenta.

– Isso é mentira, seu delegado. Malva era desse jeito sim, mas essa senhora aqui também. Ela era comparsa dessa diretora fascistona, ajudava a ditadora com os castigos físicos e trabalho forçado nos alunos, uma verdadeira hipócrita e deturpadora dos ideais cristãs que ela veste.

Elisabeth se irrita.

– Escuta aqui, sua peste, não venha querendo subverter as coisas, não. Eu sempre fui uma mulher santa, servente a Deus, jamais me sujeitaria à laia daquela bruxa.

Débora a contesta.

– Para de mentir, sua vaca! Todos nós aqui estamos carecas de saber que você estava metida no meio de toda essa calhordisse!

Lucas ri.

– Jamais se sujeitaria? Faça-me rir Elisabeth! E o seu segredinho imundo que você faz questão de esconder de todo mundo? Vai negar que gosta da coisa proibida e criminosa?

A mulher embranquece. O delegado interage.

– Que segredo criminoso?

Elisabeth explode.

– Cala boca, seu filhote de cobra criada!

Lucas dispara.

– Ela tem uma tara, seu delegado. Tem um matador de aluguel a serviço dela que assassina pessoas para ela poder ter um momento de prazer. Essa desgraçada transa com defuntos, é uma necrófila!

A mulher fica roxa de vergonha com a afirmação. O profissional a encara com desprezo. Luana que acabara de chegar se intromete na situação.

– É mentira dele, seu delegado. Esse garoto não diz coisa com coisa. Drogava-se quando foi morar no colégio dos sonhos.

Débora se irrita.

– O quê? Como você ousa falar isso do meu irmão? Sua boneca de porcelana, maldita! (e a estapeia)

Luana tenta inverter os pontos, fazendo-se de vítima.

– Tá vendo? delegado, os dois são doidos! Ela acabou de me agredir sem motivo.

Débora não acredita na cara-de-pau da vilã mirim.

– Sem motivo?

Lucas ri e balança a cabeça num tom de menosprezo.

– Ai, ai, Luana! Sua atuação barata chega a me dar pena. (seu timbre muda) Eu tenho provas, seu delegado!

Robson que acabara de se juntar a conversa entrega uma foto que guardara muito bem escondida e resgatara no meio da luta dos alunos para o garoto. Lucas toma a palavra, depois de entregar a fotografia ao delegado.

– Você achou mesmo, né? Catraia! Que tudo estava ganho! O meu amor foi mais sagaz do que eu e separou uma das fotos do bolo que o mandei esconder. Como pode ver seu delegado, essa bandida ordinária que atende pelo nome de Irmã Elisabeth tem noite de amores com defuntos sobre encomendas.

O Delegado se volta furioso para ela, chama pelo rádio-escuta seus policiais.

– A senhora está presa, Elisabeth!

Com medo que mais alguma coisa pudesse cair sobre suas costas, à beata expediu.

– Quero que saiba seu delegado, que não fui eu que entreguei as manifestações desses jovens para Malva atear fogo no reformatório, foi essa menina aqui que deu com a língua nos dentes e surtou a megera!

Luana fica incrédula com a traição, esmurra várias vezes a freira.

– Sua cachorra! Eu te protegendo para a culpa não cair para você e você me entrega! Você merece pegar uma boa cana, tá ouvindo?

Lucas avança mais uma vez para Luana.

– Luana! Eu me esqueci de te dizer uma coisa!

A menina se vira e ele cospe em sua cara, limpando os lábios. Ela treme de nojo, ele é irônico.

– Treme não! O nojo dessa história aqui é você! Traiu seu irmão, como você teve coragem? (Ele berra) Sua Judas!

Débora e Robson seguram para não rirem. O menino se volta para o delegado, deixando a menina xingá-lo, sozinha.

– A situação é muito pior do que possa imaginar, delegado!  Esse local é um cenário de horror, os castigos físicos beiravam a morte, isso quando, não matavam as vítimas, minha irmã mesma ficou trancafiada num porão com cadáveres de ex-alunos rebeldes.

Débora confirma.

– Eu mesma quase morri de uma infecção fruto de um ato de tortura após confrontar a diretora. Fui parar no hospital! O sujeito que arrancou todos os meus dentes a marteladas está desmaiado na despensa, tivemos que desacordá-los para encher os baldes e começar a apagar as chamas.

O homem não entende.

– Mas você possui dentes!

Luana tenta a última tentativa.

– Eu não disse que os dois são birutas? Delegado!

Débora perde a paciência.

– Com licença! Só um instante! Delegado! Você não vai parar, não é mesmo? Sua diaba! (Volta-se para a menina)

Luana balança a cabeça negativamente de olhos fechados.

Débora ri.

– Que pena, então a viagem vai ser grátis! (e a joga numa poça de lama próxima. A garota grita com as vestes encharcadas, durante o ato da mocinha limpar as mãos) Isso é para você para mexer com gente do seu tamanho, seu cabo de piaçaba!

O delegado intervém.

– Vamos parar com essas demonstrações de violência, se não, todo mundo vai para a delegacia aqui!

Débora se defende.

– Essa piranha me tira do sério! Tem que dar um desconto, poxa. Só possuo dentes, por que uma mulher, uma alma muito caridosa, que a polícia dessa cidade fez questão de prender, permitiu fundos públicos do reformatório por meio de uma votação dos alunos para pagar um implante para mim, sem ela, hoje eu estaria sofrendo com a realidade imposta por esses maníacos que nunca souberam outra linguagem na vida, a não ser destruir a infância dos outros.

O homem questionou.

– E quem seria essa mulher?

Ela dispara.

– Mãe Joaquina Malbec! Simplesmente uma das melhores pessoas que já existiu!  E se duvida da minha palavra, por eu ser apenas uma garotinha de treze anos, que pareço sabichona e prepotente, então pergunte a todos os alunos do colégio dos sonhos que estão sendo atendidos aqui! Todos, exceto por essa lamacenta aí, votaram pelo sim, pelo sim em me ajudar. Todos concordaram e depois iríamos repor, ficando sem brinquedo por um tempo e nos dedicando melhor a horta de orgânicos e a reciclagem de resíduos! Não é justo que ela pague pelo crime de pedalada fiscal, por dar calote as contas públicas, ela apenas quis me ajudar e isso não é um ato humano, então eu não sei o que é ser humano!

Aquelas palavras tocaram o coração peludo de José, por mais que ele fosse delegado e tivesse que ter uma conduta firme. Encarou-a um momento em silêncio e sentenciou.

– Prometo que vou averiguar essa situação! E se tiver injustiças, elas serão reparadas, pode ter certeza disso!

Os irmãos se entreolharam esperançosos. Débora agradeceu.

– Obrigada, o senhor é um homem muito bom!

Ouviram adiante o grito de dor de Laila, precipitaram até o local e se emocionaram ao ver que ela estava viva. Débora segurou na mão da melhor amiga num gesto de carinho.

– Eu te prometo Laila!  Você vai continuar sendo a donzela que sempre foi!

A menina se sentiu melhor por tê-los ali e esboçou um sorriso. Lucas sentiu dores na coluna e Robson ajudou-o a voltar para a ambulância, despediram-se do delegado, Elisabeth foi algemada e Luana encaminhada para outra ambulância. Robson acariciou o rosto do amado.

– Quer que eu vá com você?

Lucas riu.

– Ainda pergunta? Seu bobo! Se depender de mim a gente não vai se desgrudar nunca mais! É meu príncipe ladrão de livros, não tem jeito!

Robson sorriu

– Pelo visto não sou só ladrão de livros, sou de certos corações também, hehe. Você é o meu duque Guimarães Junior!

E o beijou apaixonado. Débora observava tudo, cheia de graça e feliz pelos dois.

***

Os dias se passaram e José cumpriu a promessa que havia feito aos irmãos, tratou logo de ir a cada leito no hospital e ir questionando os alunos já recuperados da existência ou não da votação pelo investimento de Mãe Joaquina no implante da menina, ao obter a confirmação unânime da galera, entrou com pedido de aval de soltura da idosa. Os juízes que cuidavam do caso logo foram denunciados num escândalo de corrupção e substituídos por pessoas honestas que analisaram o caso e expediram a liberdade da mulher.

Assim que saiu da prisão, a dona do Colégio dos Sonhos foi recepcionada com abraços e aplausos dos alunos presentes, os quais tomaram a rua em um gesto de carinho. Infelizmente, nem tudo fora um mar de rosas! No mesmo dia, foi visitar o túmulo de seu filho construído sobre intermédios da prefeitura e sofreu demais com o ocorrido. Por mais que ele fosse um golpista ordinário, ela jamais queria perdê-lo, afinal foram tão poucos os tempos juntos depois do conhecimento de sua sobrevida. Aproveitou a clareza ainda naquele entardecer e passou no túmulo da irmã onde encontrou o casal que acidentalmente provocara a fatalidade. Abraçou a mulher que chorava tendo posse de um lenço encharcado e os convidou para tomar um café no Colégio dos Sonhos.

Os alunos estavam brincando no pátio quando ela chegou convidando o casal para sentar em uma das mesas. Gertrude, como sempre, receptiva, trouxe as xícaras e com elas a garrafa de café fresquinha acompanhada de uma travessa de pães de queijo. Elvira sorriu.

– É muita gentileza sua! Se preocupar conosco depois do acidente!

Joaquina puxou suas mãos para junto das dela.

– Eu sei que vocês não tiveram culpa de nada! Minha irmã criou o próprio destino, cavou a própria cova. Era uma pessoa horrível, tenho que admitir. Vocês fizeram um bem a essas crianças, salvando-as de sua perversidade!

A mulher desviou o olhar e foi de encontro ao carinho que os dois irmãos trocavam, sentados no palco, era uma cena muito íntegra de companheirismo, não tinha como não se emocionar.

– Eu e Pedro, somos de São Paulo, sabe? Estamos a férias aqui! Aquela noite, na estrada, estávamos procurando seu endereço, ficamos sabendo por uma agência no centro da cidade onde ficava o grande ponto de adoções daqui. Eu não posso ter filhos e nós estamos pensando em adotar.

Joaquina sorriu, batendo carinhosamente em suas mãos.

– É um gesto muito lindo e nobre. Tenho certeza que não irão se arrepender.

Elvira perder-se mais uma vez no amor dos irmãos Carvalho e chamara atenção de seu amor.

– Olha, Pedro! Aqueles dois não são uma gracinha. Veja só que laços de afeto, possuem um com o outro. São irmãos, obviamente?

O mirar da freira foi de encontro aos dois, felicitou-se por eles.

– São sim! Ela se chama Débora e ele Lucas, uns amores. Espertos, sem medo de errar, foram os grandes responsáveis por cuidar de seus irmãozinhos quando meu filho assumiu a diretoria e minha irmã provocou o incêndio. Verdadeiros heróis.

Elvira se encantou e se levantando aproximou dos dois. Pedro a acompanhou ansioso por conhecê-los, Joaquina assistia a cena ao longe.

– Olá mocinhos! Eu me chamo Elvira, Elvira Magro e esse é meu marido Pedro Magro!

As crianças cumprimentaram juntas.

– Oi!

Débora foi logo ficando em pé e estendeu a mão para um aperto.

– Chamo-me Débora Carvalho e esse é meu maninho: Lucas!

O menino estava tímido, acertou os óculos.

– Como vão?

Elvira sorriu para o marido.

– Olha que encanto, Pedro. (Voltou-se as crianças). Vocês têm pais, meus amores?

Débora se entristeceu com aquelas palavras, olhou para o irmão e percebeu que ele sentira o mesmo, cabisbaixa, respondeu a pergunta.

– Não! Infelizmente não! Nossos pais foram assassinados!

Aquilo cortou o coração do casal. A mulher abaixou para ficar da estatura da menina.

– Eu sinto muito por isso, minha querida. Vocês tão jovens, com uma vida inteira pela frente, saber que não podem contar com seus pais, isso deve doer e muito. Mas acredite tudo que se vai nessa vida, por mérito da injustiça, volta em dobro depois, muito melhor.

Aquelas palavras confortaram tanto Débora que ela a abraçou. Elvira chorou. Pedro sentou e deitou o menino em seu ombro, abraçando-o. Elvira continuou.

– Nós nunca tivemos a oportunidade de ter filhos biológicos. Porém, nunca perdemos a esperança de encontrá-los, em outra forma. Assim como hoje, vocês dois não tem pais, vão ter a chance de recomeçar, por que merecem, por que são vencedores.

Débora a olha sem entender.

– O que a senhora está dizendo?

Elvira a observa.

– Vamos combinar uma coisa, antes deu falar. Senhora está no céu! Pode a partir de agora, se quiser, me chamar de mãe e esse moço aí de pai!

Lucas se levanta incrédulo de felicidade.

– Mãe? Pai?

Débora concluíra a intenção dos dois e volta com um sorriso estampado no rosto para a matriarca, a qual anuncia.

– Sim, meu amor. Agora todos nós seremos uma grande família. Estou adotando vocês dois!

Eles sorriem em lágrimas e se abraçam, saltando de alegria, rodeando o casal. Ao fundo, mãe Joaquina chora de alegria.

***

A papelada da adoção não demora a sair semanas mais tardes, quando finalmente vão buscá-los. Robson, todavia, encontra-se mal. Ele corre e pega nas mãos do menino.

– Por favor, não vá! O que vai ser de mim, sem você, Lucas?

Joaquina assiste à cena com piedade. Lucas pergunta aos pais.

– A gente não pode levá-lo junto? Mãe! Eu queria tanto que ele fosse!

Débora tenta dar apoio ao pedido do irmão, implorando com o olhar para que acatassem sua decisão. Elvira é carinhosa:

– Como eu queria! Como eu queria poder levar o seu namoradinho, meu filho!  Eu tenho certeza que ele ficaria muito bem lá em casa, seria tão confortável criá-lo como filho também e vê-lo promovendo um sorriso nesse seu rostinho angelical, álias, os dois são uns anjinhos.  Mas eu e seu pai não temos condições para abrigar mais uma pessoa, nossas condições financeiras não permitem. Eu queria tanto ajudar de alguma forma, mas esse seu desejo eu não posso escolher, por mais que seja contra minha vontade.

Robson chorou e o abraçou forte. Os alunos que ali estavam pararam para ver a cena, sentidos pela separação do casal. Lucas tentou controlar suas lágrimas, mas não conseguiu.

– Escute Robson! Escute, por favor! Isso não é um adeus, você pode ter certeza disso! Nosso amor é forte como uma fênix, ele se reinventa a cada dia, aprofundando cada vez mais nosso sentimento um pelo outro. Não é a distância que vai nos separar, você está ouvindo? Nada tem força para isso! Nada! Olha para mim, meu amor!

O flautista o observa tristonho, Lucas sente um aperto no coração ao ver aquele cristalino, totalmente avermelhado de sofrimento.

– Eu te amo tanto Lucas! Vai ser tão difícil quando você se for!

Lucas o abraça forte, envolvendo-o com os braços.

– Eu também te amo, Robson, muito, muito.

Débora saiu de cena, não agüentaria ver aquilo, era pesado demais para ela. Lucas continuou.

– Escute! Um certo príncipe me disse uma vez que amar é paciente, é benigno, não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece. Não é rude, não é egoísta, não se exaspera e não se ressente do mal, não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade. Está sempre pronto para perdoar, para crer, para esperar e suportar o que vier.

Robson se emocionou.

– Um amor para Recordar, Nicholas Sparks. Você não se esqueceu!

Lucas sorri com os olhos encharcados.

– Como poderia se esquecer! É a nossa história!

O outro não o espera dizer mais nada, o puxa para perto de si e o beija desesperadamente. Não estou pedindo uma segunda chance, eu estou gritando no topo da minha voz, me dê razão, mas não me dê escolhas, por que eu farei tudo outra vez. Ooooooooo! Oooooooo! E talvez um dia nós encontraremos e iremos conversar e não apenas falar… E a minha reflexão me incomoda, aqui vou eu.

E o medo de nunca mais sentir aqueles lábios ternos nos seus?  Aquela sincronia afetuosa tão sincera? Aquele abraço tão abrasador? Desejava que o tempo parasse ali, que não avançasse nunca mais. A falta de Robson em sua vida seria um luto, mas não um luto tradicional que passa com o tempo, seria uma fenda, uma cicatriz marcada a brasa em sua alma. Olharam mais uma vez para o outro e beijaram-se pela última vez sobre os aplausos dos alunos.

Ao término, Lucas pegou sua mala de rodinhas e observou mais uma vez Robson aos braços de Mãe Joaquina, quem o acalentava. Tocou os dedos nos lábios e com um gesto mandou-lhe um beijo, Robson fez o mesmo. Passado isso, o mocinho virou-se para mãe.

– Vamos! Acho que estou pronto!

Elvira o abraçou, decepcionada com a situação que proporcionara e o levou para o carro. Cada instante que antecipava o ligar do motor por Pedro, era como se fosse uma batida para o coração daqueles dois jovens. Assim que deu a partida, Robson escapou dos braços de Joaquina e desatou a correr atrás do veículo clamando pelo nome do amado, até se cansar. Aquela imagem ficaria registrada na mente de Lucas para sempre.

Pegaram a estrada, onde apenas podia-se ouvir o som daquelas rodas. O horizonte escurecia lentamente e alaranjado como o término de uma doce melancolia ao piano, enquanto eu me perguntava onde foi que eu errei?

QUINZE ANOS DEPOIS…

 

CONTINUA…-” ”>-‘.’ ”>

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